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RV COMO FERRAMENTA NO ENSINO DE DESIGN DE INTERIORES

Como última categorização de análise das entrevistas, foi questionado junto aos professores se e como eles entendiam que a RV poderia ser utilizada no ensino, e por quais motivos ela não era utilizada.

Todos os professores acreditam que a RV tem um grande potencial de ser utilizado em sala de aula. Alguns motivos elencados para essa crença são do aluno ―entregar o projeto dele nesse formato e a gente entrar dentro pra ver se funciona‖ (ENTREVISTADO 1) e ―desenvolver habilidades que antes ficavam à cargo do desenho manual‖ (ENTREVISTADO 8). Alguns docentes acreditam no uso para apresentação para clientes, como citaram os entrevistados 3 e 8. Os entrevistados 2 e 5 citam possíveis ganhos na compreensão dos espaços projetados pelos alunos:

O momento que tu põe um óculos e te coloca realmente como observador do espaço e não mais o projetista, então talvez como uma autocrítica, conseguir trabalhar uma metodologia até de percurso, de sensações, acho que isso pode auxiliar na didática. Coisas que talvez os alunos de uma forma abstrata não consigam entender inicialmente tão bem como a gente que está há vinte anos trabalhando na área (ENTREVISTADO 2).

Então, o aluno eu tenho a impressão que ele entra sem conseguir enxergar aquilo que ele está projetando. Muito eu já acabei tentando fazer um croqui pro aluno pra mostrar o que ele está me dizendo. Ou está me mostrando em planta e corte, e não está enxergando aquilo em 3D. Ou ele está me mostrando uma referência que não se aplica aquele espaço da forma que ele tá me explicando. Eu tenho a impressão de que se a gente trabalhasse com a RV nesse nível, no nível de tu realmente entrar no espaço, seria mais fácil da gente conseguir essa troca (ENTREVISTADO 5).

81 Para efeitos das respostas dos docentes, as etapas dentro do processo de projeto em sala de aula serão divididas em inicial, que é o momento de pesquisa antes de iniciar o projeto, equivalente às etapas pesquisa, planejamento e desenvolvimento de conceito de Ponzio e Piardi (2017); intermediária, a partir do lançamento do partido do projeto e desenvolvimento do mesmo e equivalente à etapa de projetação (PONZIO; PIARDI, 2017); e final, que seria uma etapa de desfecho da projetação, compreendendo momentos de entrega e produção de renderizações. O entrevistado 4 entende que na etapa inicial não seria interessante de usar a RV ao dizer que ―no início ela não ajuda, ela atrapalha. (...) essa primeira etapa é de pesquisa, de repertório. Porém, três (2, 5 e 6) professores já vislumbram que poderia ser usada desde nesta fase de projeto, principalmente para visualização do espaço de interiores que sofrerá a interferência projetual. Enquanto o entrevistado 5 explica que ―só em uma ou duas disciplinas a gente consegue visitar espaços existentes pra eles projetarem‖, o entrevistado 2 completa:

Seria interessante de imaginar até desde o início, essa questão do espaço, do percurso, de conseguir entrar e simular iluminação natural, ventilação, o vento batendo numa cortina, uma coisa mais virtual trazer aquilo que é a sensação do ambiente que ali no processo da planta baixa às vezes se perde. (...) E a RV acho que poderia auxiliar nesse sentido de mostrar num primeiro momento esses ambientes, que às vezes nem sempre a gente consegue visitar os espaços que a gente está projetando como exercício (ENTREVISTADO 2).

Apesar de todos os entrevistados identificarem que a RV tenha um grande potencial de utilização na etapa final, apenas um (3) entendeu que teria uma utilização restrita a este momento. Metade dos professores (1, 4, 7 e 8) entende que a RV poderia ser utilizada principalmente a partir da etapa intermediária em diante. O entrevistado 7 comenta que ―com modelagem simples ela deveria ser utilizada no partido, (...) nem que fosse apenas volumétrica, (...) para eu perceber como eu me movimento por entre esses objetos, sejam eles móveis, sejam eles edifícios‖. O mesmo docente completa dizendo que ―o aluno tem muita dificuldade de se colocar na posição de usuário do espaço‖.

O entrevistado 1 leva adiante essa ideia do aluno ter dificuldade de se colocar na posição do usuário e explica sobre a necessidade do aluno precisar ter uma compreensão em três dimensões do espaço:

82 Num estágio intermediário se tiver o mínimo ali de exposição, de mobiliário, alguma coisa de layout, se a coisa funciona ou não funciona, talvez sim. Acho que sempre ajuda né cara... No mínimo tu complementas, é verdade. Mesmo tu insistindo nas disciplinas de projeto que tu tem que ter a planta baixa, vistas, de repente um corte, tu precisa entender o 3D antes do 2D pra depois a gente partir; Com certeza se tivesse isso conseguiria agregar compreensão da parte de quem tivesse olhando (ENTREVISTADO 1). Conforme visto previamente, apenas dois dos oito docentes identificaram ter contato com a tecnologia de RV em sala de aula. Mesmo assim, esse contato foi feito a partir dos próprios alunos e não instituído pelos professores. Quando questionados que barreiras os docentes viam para a utilização em sala de aula, as respostas principais foram sobre a falta de conhecimento por parte dos professores e uma possível falta de estrutura.

Os entrevistados 1, 2, 3 e 8 abordaram a falta de conhecimento próprio e de colegas de como seria a melhor forma de utilização da tecnologia em sala de aula. O entrevistado 3 comenta sobre o assunto, afirmando que ―não sabe muito bem como lidar (...), não sabe muito bem como usar essa tecnologia‖. A outra possível causa para a não utilização é uma possível falta de estrutura e de investimento, citada por cinco docentes (1, 2, 3, 7 e 8). Todos estes, porém, admitem não ter conhecimento se há necessidade ―de um equipamento específico, se a universidade tem como fornecer, se eu preciso disponibilizar‖ (ENTREVISTADO 8). O entrevistado 2 cita os dois motivos ao explanar:

Acho que número um é o conhecimento da gente mesmo, coisas simples como programas e softwares; talvez número dois seja o investimento do lugar que tu trabalhas: não sei se teria que ter algum tipo de estrutura de informática, talvez computadores melhores, ou os próprios óculos... (...) Então acho que é isso, a barreira é meio que material, talvez (ENTREVISTADO 2).

Outras possíveis barreiras identificadas pelos professores foram uma possível rejeição da entidade educacional e dos docentes (ENTREVISTADO 5) e uma falta de apresentação das próprias empresas que tem esses produtos às faculdades (ENTREVISTADO 6). Um dos entrevistados diz não ter barreiras, pelo menos por parte dele próprio (ENTREVISTADO 4).

A partir daí, os docentes foram questionados sobre os ganhos que se teria ao utilizar a tecnologia em sala de aula. Todos identificaram ganhos principalmente na representação e compreensão das ideias dos projetos de interiores dos alunos. Os

83 entrevistados entendem que a RV ajudaria a ―fazer ver as coisas‖ (ENTREVISTADO 1), traria ―facilidade na demonstração das ideias deles em relação à nós‖ (ENTREVISTADO 5) e também faria ―o aluno poder visualizar rapidamente ou entender e compreender o espaço rapidamente‖ (ENTREVISTADO 4). Ao citar a experiência que teve em sala de aula, o entrevistado 2 comenta:

Então acho que isso ficaria talvez mais evidente de ser até como uma orientação, tu consegues mostrar melhor para o aluno que o projeto dele pode melhorar, talvez tu tenha uma visualização... Até nessa experiência (de RV) eu consegui ver uma coisa lá do projeto do aluno e "bah, mas olha ali esse detalhe, se fosse assim e tal, aqui da pra ver bem" e ele "ah, é verdade", e daí ele fez assim. Então ajudou, sabe? (ENTREVISTADO 2). Outros ganhos que os docentes disseram que poderia se ter com a RV seria na possibilidade de ―trabalhar justamente com a sensibilidade, o que a gente sente naquele espaço‖ (ENTREVISTADO 5). Novamente o entrevistado 2 indica que trabalhando isso em ateliê, seria possível vivenciar e entender formas e iluminação natural, dando a possibilidade de ―projetar melhor‖. O entrevistado 6 finaliza, citando que a representação e compreensão dos participantes são formas de comunicação dentro do processo de ensino de projeto de design de interiores: