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SÍNDROMES VEGETATIVAS

No documento Viktor Frankl - Teoria e Terapia Das Neuroses (páginas 119-122)

I TEORIA DAS NEUROSES COMO PROBLEMA

D) SÍNDROMES VEGETATIVAS

G. von Bergmann cunhou o termo "estigmatização vegetativà: e Siebeck, "la­ bilidade vegetativà'; hoje falamos de distonia vegetativa, conceito criado em 1934 por Wichmann. Os sintomas vegetativos também ocupam de tal maneira o primeiro plano dos estados depressivos psicóticos, quer dizer, endógenos, que se fala com ra­ zão de uma depressão vegetativa. Ao contrário da latência escrupulosa da depressão endógena larvada na geração anterior, encontramos agora, no quadro dessa doença, principalmente danos vegetativos e queixas hipocondríacas-reativas.

Enquanto se trata de estados neuróticos ou pseudoneuróticos, preferimos falar de síndromes vegetativas e não de uma distonia vegetativa. Do ponto de vista terapêutico, entretanto, é necessário diferenciar os sintomas vegetativos. Nesse sentido, por exemplo, W. Birkmayer tem razão em contrapor sintomas simpatotônicos aos vagotônicos.

É

sabido também que F. Hoff advoga em favor dessa separação e diferenciação, e F. Curtius diz expressamente: "Os tipos da va­ gotonia e da simpaticotonia têm se justificado, apesar de algumas limitações de ordem clínica". O fato de encontrarmos repetidamente na prática superposições dos dois grupos vegetativos é natural e não muda em nada a possibilidade diag­ nóstica e a necessidade terapêutica de se definir o que prevalece em cada caso: simpaticotonia ou vagotonia.

Parece-nos que conhecer os estados simpatotônicos ou vagotônicos é mais importante quando estamos lidando com ataques vegetativos, principalmente ata­ ques vegetativos do coração. Nesse sentido, temos muito a agradecer à pesquisa de K. Polzer e W Schober, que avançaram muito na diferenciação das síndromes simpático-vagai e vasovagal. Não nos furtaremos de afirmar que os pacientes so­ frem injustiças, diariamente e em todas suas consultas, ao serem estigmatizados e etiquetados como neuróticos ou histéricos, quando na realidade seu diagnóstico é errôneo, visto que se trata de ataques vegetativos.

1 2 0 T E O R I A E T E R A P I A D A S N E U R O S E S

Como ressaltamos de início, nos guiamos por pontos de vista da práti­ ca clínica ao diferenciar os três grupos das pseudoneuroses do tipo Basedow, Addison e tetanoide.

É

claro que não apenas os distúrbios funcionais do siste­ ma endócrino e do sistema nervoso vegetativo podem transcorrer sob o qua­ dro de neuroses, como também lesões orgânicas e afecções do sistema nervoso central. O exemplo mais clássico é o estado prodrômico da assim chamada "pseudoneurastenia" da paralisia progressiva. O clínico sabe e está familiari­ zado com o fato de que também outros sistemas orgânicos - e não somente o sistema nervoso - podem adoecer no sentido de distúrbios funcionais pseudo­ neuroticamente larvados.

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N e u ro s e s r e at i vas

Inicialmente vimos que a s neuroses podem ser definidas como doenças psi­ cogênicas. Em seguida, mostrou-se que elas precisam ser separadas das pseudo­ neuroses; essas últimas, embora transcorram sob o quadro das neuroses, devem ser classificadas como somatogênicas. Agora, vamos contrapor a essas neuroses outras neuroses que são psicogênicas no sentido lato - ou seja, neuroses no senti­ do mais amplo da palavra.

No caso das pseudoneuroses somatogênicas em que temos efeitos psíquicos

de causas somáticas, vemos constantemente que devido a esses efeitos se produzem

efeitos psíquicos reativos - reações neuróticas, que também podemos chamar de

neuroses reativas. Como essas reações são psíquicas, as doenças correspondentes também serão psicogênicas.

Há entre as reações neuróticas em questão também as reações típicas. O denominador comum desse padrão de reações é a ansiedade antecipatória (medo do medo).

Como o clínico desprovido de preconceitos sabe, a ansiedade antecipatória

não raro é o verdadeiro patogênico na etiologia da neurose, de maneira a se fixar num sintoma fugaz e, portanto, inofensivo, fazendo com que a atenção do paciente se mantenha facada nesse sintoma.

FIGURA 9 produz reforça E S Q U E M A DA T E O R I A D A S N E U RO S E S 1 2 1 sintoma fobia intensifica

O mecanismo da ansiedade antecipatória é conhecido pelo clínico: o sin­ toma produz uma fobia correspondente, a fobia correspondente intensifica o sin­ toma, e esse sintoma intensificado reforça o temor do paciente a um retorno do sintoma (Figura 9).

O paciente se enreda nesse círculo vicioso - como se estivesse num casulo. Um caso concreto pode explicar isso:

Um jovem colega se dirige a nós; sofre de hidrofobia grave. Tem uma la­ bilidade vegetativa congênita. Certo dia, ao apertar a mão de um superior, observa como literalmente se empapa de suor. A próxima vez, numa situação análoga, ele já está esperando pela suadeira, e a ansiedade antecipatória Já faz com que o suor desponte de seus poros, fechando-se o círculo vicioso. A hi­ peridrose provoca a hidrofobia, e a hidrofobia fixa a hiperidrose (Figura 10).

FIGURA 10

hiperidrose hidrofobia

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fixa

+11(---'�

Visto que as neuroses podem surgir de um processo circular, sua terapia precisa corresponder a um movimento de pinças. Numa aproximação concêntrica, temos de atacar tanto o sintoma quanto a fobia. Em outras palavras: no sentido de uma terapia simultânea somatopsíquica, um dos braços da pinça terapêutica - aquela que consegue quebrar e explodir o círculo neurótico - tem de ser aplicado na labilidade vegetativa na qualidade de polo somático, e o outro braço deve diri­ gir-se à ansiedade antecipatória reativa, na qualidade de polo psíquico (Figura 1 1 ).

1 2 2 T E O R I A E T E R A P I A D A S N E U R O S E S

FIGURA 1 1

(J círculo neurótico 'l'

pinça terapêutica

terapia simultânea somatopsíquica

A partir do exemplo da ansiedade antecipatória fica claro que o temor con­ cretiza aquilo que teme. Resumindo: se o desejo é o verdadeiro pai do pensamento,

o temor é a mãe do evento, ou seja, do processo da doença. Muitas vezes a neurose

aparece apenas quando a ansiedade antecipatória se apodera do processo patológico.

No documento Viktor Frankl - Teoria e Terapia Das Neuroses (páginas 119-122)