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Síntese da entrevista com Doroty

A entrevista com Doroty

2. Síntese da entrevista com Doroty

Natural do Estado de Minas Gerais, Doroty, 71 anos de idade, veio morar em São Paulo Capital, em 1970. Estudou em colégio católico e considera que teve boa formação cultural e religiosa. Doroty completou o magistério, casou-se e teve três filhos. Depois de vinte e cinco anos de casada, divorciou-se. Seu marido faleceu alguns anos depois.

Doroty diz que é católica conservadora e conta que, por isso, aceitou as dificuldades do casamento, pois o relacionamento com o seu marido foi muito difícil. Diz que se anulava, era serviçal e doméstica e fazia tudo isto para salvar a família. Conta que o seu marido não colaborava, era dominador, não permitia que ela opinasse nas decisões da vida familiar. Ele bebia constantemente e brigavam com freqüência. Doroty diz que percebeu que perdia a sua identidade

e então, “passou a abrir os olhos para o mundo”. Foi buscar ajuda na sua

paróquia, que freqüentava aos domingos quando ia à missa com os seus filhos. Aconselhou-se com o padre de lá e conta que as conversas com ele fizeram com que se sentisse fortalecida para continuar as suas buscas. Passou, então, a participar de um grupo da Renovação Carismática Católica. Nesse grupo, conheceu o Padre Marcelo, que era, ainda, seminarista, assim como pessoas de sua família e outras com as quais fez amizade. Juntos, eles participaram de retiros, encontros e eventos de formação. Depois da ordenação do Padre Marcelo, freqüentou as suas missas e ele a convidou para ingressar no voluntariado. Conta que a partir das experiências vividas no voluntariado tomou decisões que implicaram na reorganização de toda a sua vida. Separou-se do marido e o fim do casamento significou para ela, a sua libertação. Diz que

“cresceu junto com os filhos”. Superaram os problemas, contudo, sofreram

muito, porque “pai é pai e as conseqüências das brigas entre os pais são grandes para os filhos”. Comenta que às vezes não consegue se expressar

muito, pois não estava acostumada a falar com outras pessoas. Doroty continuou no voluntariado do Santuário Theotókos e também foi trabalhar como recepcionista em uma empresa.

Doroty atua no voluntariado aproximadamente há dez anos. Relata que essa atividade preenche a sua vida, o seu coração, diz que “Jesus lhe mostra que o caminho é Ele e é a Ele que deve servir”. Compreende o voluntariado

como algo que não faz para si, para preencher a sua vida, mas, para servir a Jesus e por essa razão vivencia o voluntariado com muito amor e com muito empenho. Diz que o voluntariado para ela é trabalhar, servir, servir sempre e

no que for preciso. Sente prazer no trabalho voluntário e conta que não escolhe tarefa, dispõe-se a servir em tudo que for preciso.

Doroty diz que no voluntariado encontra-se com pessoas que já conhecem a Jesus, com outras que vem procurá-lo e, ainda, com outras que vão à igreja em busca de apoio, auxílio econômico, cuidado à saúde, entre outros.

Doroty relata que muitas pessoas vão ao Santuário em busca de socorro financeiro e acabam, por meio do trabalho voluntário, descobrindo que o caminho não é o dinheiro, mas Jesus. Conta, como exemplo, que atendeu por telefone ao pedido de socorro de uma pessoa e a encaminhou para a sua paróquia para confessar e assistir a missa. A pessoa foi e hoje é “uma católica de verdade, a situação financeira não mudou, mas encontrou Jesus na vida dela”. As pessoas chegam em busca de solução para seus problemas e lá são

evangelizadas, amadurecem na fé e dão um novo rumo às suas vidas.

Doroty estabelece uma diferença entre conhecer Jesus e encontrar-se com Ele. Diz que conhecia Jesus através de livros e do catecismo pois estudou em um colégio católico. Disse que recebeu um bom ensinamento sobre religião e que o seguiu, mas, nunca tinha sentido Jesus na sua vida. Conta que ela perguntava a si mesma porque não ocorriam milagres se Jesus continua presente na Eucaristia. Esta questão “ficava muito em sua cabeça” e diz que,

de tanto procurar, um dia abriu seu coração para Ele e encontrou Jesus presente em sua vida, agindo. Fala que antes, por conta de seus estudos, conhecia Jesus, mas não tinha o contato, a experiência. Comenta que é diferente conhecer e encontrar, e diz que é como conhecer alguns personagens da história, mas nunca ter-se encontrado com eles. Assim,

comenta que, conhecia Jesus, mas apenas muito tempo depois encontrou-se com Ele. Compreende o seu trabalho voluntário como fruto de seu encontro com Jesus que lhe mostra que o caminho é Ele. Diz que é a Ele que deve servir, servindo as pessoas que vão ao santuário. Fala que o voluntariado é muito importante, pois as pessoas que procuram a igreja são muitas e os padres não conseguem atender a todos. Os voluntários que se dispõe a ajudar no atendimento também são poucos e por isso há muito trabalho a ser feito.

A relação de Doroty com os outros voluntários é boa. Diz que tem uma boa convivência com todos, procura viver bem com eles. Ela observa que cada um tem o seu jeito, tem os seus problemas, que os voluntários não são todos iguais e comenta que aprendeu a conviver bem com todos. Ela também observa que alguns colaboradores tem dificuldades para compreender e aceitar o trabalho voluntário. Fala que há voluntários que logo entendem o que se diz, há outros que não compreendem ou entendem errado o que é dito e que isto causa desconforto na convivência do grupo e comenta que, por isso “é preciso ter cuidado com o que se fala”. Para Doroty, conviver com as pessoas implica

em entender os problemas de cada um, e ela acha isto muito difícil. Fala que cada um trás seus problemas e a solução depende da abertura e do entendimento individual. Comenta que uns aceitam mais facilmente o que é dito, e outros demoram a entender. Neste contexto, o voluntariado é um exercício de amor para ela. Por meio do trabalho voluntário aprendeu a amar, um amor concreto no qual faz algo pelo outro. Diz que isto torna o voluntariado muito gratificante e os voluntários “aprendem mais do que ensinam”, porque

Doroty vive o seu dia-a-dia para servir, está sempre disponível para servir e procura fazê-lo a cada momento. Diz que “vive a vida comum a todas as pessoas”, sempre norteada pelo sentido que Jesus colocou em sua vida.

Está sempre disponível para servir, aberta ao outro, e procura enxergar e amar o outro como Jesus enxergava e amava. O que a leva a agir assim é o amor, amando as pessoas faz tudo sempre com muito amor.

Doroty conta que quando sente dificuldades na experiência prática, encontra forças na oração e na entrega. Diz que a oração é “arma da batalha”

e que a entrega, para ela, é estar a disposição para o serviço. Fala que a oração fortalece e a entrega é a disposição de fazer o que o outro precisa e não aquilo que ela quer.

Doroty dispõe-se a continuar a servir enquanto puder, para fazer o máximo que puder e dar o máximo de si.

Capítulo V

Análise e Discussão da entrevista com

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