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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP

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Academic year: 2018

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

Anselmo Matias Limberger

Sentidos da experiência do trabalho voluntário em uma instituição religiosa

DOUTORADO EM PSICOLOGIA CLÍNICA

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

Anselmo Matias Limberger

Sentidos da experiência do trabalho voluntário em uma instituição religiosa

DOUTORADO EM PSICOLOGIA CLÍNICA

Tese apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de Doutor em Psicologia Clínica, no Programa de Pós-Graduação em Psicologia Clínica, sob orientação da Profª Drª Marília Ancona-Lopez.

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Banca Examinadora

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Agradecimentos

Chegou o momento de trazer à memória a gratidão a pessoas e instituições que contribuíram para essa realização.

Para conquistar a meta planejada, precisei acreditar em mim mesmo, acreditar nos que estudaram e trabalharam comigo, acreditar nos familiares, nos amigos, nos colegas, nos professores, nas instituições, nos padres, nos bispos e acima de tudo acreditar em Deus.

Neste empreendimento, o estudo é compreendido como um meio de aperfeiçoamento. Compreendo que ele reúne vantagens, diminui necessidades, consola nas perdas, distrai nas penas, adoça os sofrimentos e multiplica os prazeres. Tenho a consciência de que pelo estudo se prepara a viagem para a velhice, a fim de minimizar o enfado que costuma acompanhá-la.

Saber viver com os homens é uma arte tão difícil que muita gente morre sem tê-la aprendido. A vida é um caminho cheio de surpresas, de encantos, de belezas, dificuldades e riscos. E nós mesmos construímos o caminho a percorrer. Não é fácil construir o caminho da vida. Não é fácil construir o próprio caminho.

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os cipós, as pedras, as rochas, os vales, os morros e passar por cima, por baixo, pelos lados e por onde der, deixando aos outros o trabalho de derrubar e de construir.

É preciso coragem para ser. Coragem para assumir o risco de ser homem, o risco de viver, o risco de construir o caminho, o risco de ser.

O percurso feito leva-me a manifestar gratidão a todos que colaboraram para que eu pudesse alcançar a meta planejada.

Manifesto minha gratidão aos meus pais, Nelson Limberger (em memória) e Gerti Schneider Limberger; aos meus irmãos; Olegário, Olemira, Oldemar, Ademar, Tere, Salete, Ninha, Val e Sandra; aos meus cunhados/as João, Aloísio, Sinésio, Rudi, Ricardo, Vilmar, Dulce, Lourdes e Maria e a todos os meus 23 sobrinhos e sobrinhas.

Gratidão aos amigos Padres Marcelo Mendonça Rossi, Amaro Avelino, Osvaldo José, Mauro Pasinato, Devanir, Adilvo, Franco Alberti e Frei Ivan.

Gratidão a todos os Padres da Diocese de Toledo, da Diocese de Santo Amaro e aos Frades Menores Missionários.

Reverencia e gratidão aos amigos Bispos Dom Fernando Antônio Figueiredo, Dom Francisco Carlos Bach, Dom Irineu Roque Sherer, Dom Lúcio Ignácio Baumgaertner, Dom Anuar Batisti, Dom João de Avis e Dom Odilo Pedro Cardeal Sherer.

A todos os Professores do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Clínica da PUCSP, em especial à Professora Maria Lúcia Vieira Violante e à Professora Ivete Gohara Yeia.

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Tereza, Telma, Patricia, Guilherme, Rubia, Pastor Merlington, Beatriz, Marília, Padre João, Frei Gerson, Simone, Padre Vandro, Aline, Marta, Ana Lúcia, Irene, Maria Cristina, Padre Vanildo, Carine, Rafaela, Lénia, Analu, João e Leidelene.

À banca examinadora da qualificação: gratidão pelas sugestões e contribuições das professoras Marlise Aparecida Bassani, Maria Betânia Norgen, Maria Elizabeth Montagna e Marília Ancona-Lopez.

À secretaria da PUCSP pela atenção dispensada, Deus lhes pague. À biblioteca da PUCSP pelo atendimento recebido.

À CAPES, pelo apoio financeiro.

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Epígrafe

Conta-se que, quando da descoberta de Nínive, um soberano árabe, estupefato ao visitar as escavações e visualizar as ruínas de antigos palácios, dirigiu, a um dos arqueólogos da equipe, as seguintes palavras:

Meu pai e o pai de meu pai assentaram aqui as suas tendas antes de mim (...) há doze séculos que os verdadeiros crentes (...) vivem nestas terras e nenhum deles ouviu falar de um palácio subterrâneo. E olhai! Chega um estrangeiro, de um país que está a muitos dias de caminho e vai diretamente ao seu objetivo, pega numa vara e traça uma linha aqui outra acolá. Aqui, diz, estava o palácio e além a porta. E mostra o que toda a vida jazera sob os nossos pés e desconhecíamos. Maravilha das maravilhas! Aprendeste isto pelos livros, pela magia ou pelos teus profetas? (PIJOAN, 1978).

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Dedicatória

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1- Sumário

Agradecimentos iv

Epígrafe vii

Dedicatória viii

Resumo 12

Abstract 13

Résumé 14

Introdução

1. Aproximação ao tema da tese 15

2. Problematização 22

Capítulo I- O Voluntariado na Igreja Católica

1. Fundamentos bíblicos para o servir 25 2. Alguns elementos do voluntariado na Igreja Católica 29

Capítulo II- O voluntariado no Santuário Theotókos

1. A Igreja Católica e o Padre Marcelo M. Rossi 36 2. Origem do voluntariado no Santuário Theotókos 44

(10)

4. Objetivo do voluntariado no Santuário Theotókos 48 5. A postura solicitada ao voluntário 49

Capítulo III- O caminho da pesquisa

1. A psicologia fenomenológica 51

2. Objetivo 58

3. Percurso realizado 58

3.1 - A entrevista semi-dirigida 62

3.2 - A escolha do colaborador 63

3.3 - Cuidados éticos 66

3.4 – Procedimentos para análise da entrevista 66

Capítulo IV- A entrevista com Doroty

1. Realização da entrevista com Doroty 70 2. Síntese da entrevista com Doroty 71

Capítulo V - Análise e Discussão da entrevista com Doroty 1. Primeiro momento da análise 76

2. Segundo momento da análise 77 3. Análise e Discussão da entrevista com Doroty 79

3.1 - A crise 79

3.2 - O acolhimento 82

3.3- O Viver autêntico 86

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Capítulo VII – Considerações Finais 95

Capítulo VIII – Referência Bibliográfica 99

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LIMBERGER, Anselmo Matias. Sentidos da experiência do trabalho voluntário em uma instituição religiosa. Tese de doutorado. Programa de Pós-Graduação em Psicologia Clínica. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, SP, Brasil, 118p.

RESUMO

Em uma perspectiva fenomenológica, o objetivo nessa tese é buscar compreender os sentidos da experiência do trabalho dos voluntários em uma instituição religiosa, para quem os executa. Para atingi-lo, identifica-se o modo de compreender o servir na perspectiva católica e o modo como o trabalho voluntário é organizado no Santuário Theotókos. Foi realizado o estudo aprofundado de uma colaboradora que trabalha no Santuário Theotókos há catorze anos. A entrevista foi gravada, transcrita, sintetizada, analisada e discutida na abordagem da psicologia fenomenológica. A análise do caso permitiu reconhecer os sentidos da experiência de acolhimento, da pertença, de re-visão da própria vida, de disponibilidade para servir, de sustentação e fortalecimento da identidade, entre outros. A compreensão do caso estudado permitiu propor a realização de grupos de crescimento, para facilitar aos que realizam serviço voluntário no Santuário Theotókos, refletir sobre o sentido de suas experiências ao realizarem esse trabalho, visando seu crescimento, a organização do voluntariado e o seu acompanhamento.

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LIMBERGER, Matias Anselmo. The meanings of volunteering experience in a religious institution. PhD thesis. Post-graduation Program in Clinical Psychology. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Brazil, 118p.

ABSTRACT

From a phenomenological perspective, the goal in this thesis is to comprehend the meanings of the volunteering experience in a religious institution according to the volunteers. To achieve that goal, the Catholic perspective on volunteerism was outlined, as well as how the volunteering is organized in the Santuário Theotókos. A thorough study over a collaborator who works in the Santuário Theotókos for fourteen years was conducted. The interview was taped, transcribed, synthesized, analyzed and discussed from the phenomenological-psychology approach. The case analysis allowed recognizing the meanings of acceptance experience, belonging, life review, willingness to serve, support, strengthening of identity, among others. The understanding of the case study permitted the creation of growth groups in order to facilitate the volunteering at the Santuário Theotókos and to reflect on the meaning of their own experiences while performing volunteer work focusing on their growth, on the volunteering organization and on its monitoring.

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LIMBERGER, Anselmo Matias. Sens des expériences du travail volontaire dans une Institution Religieuse. Thèse de Doctorat. Programme de Post-Graduation en Psychologie Clinique. Université Pontificie Catholique de São Paulo, SP. Brésil. 118 p.

RÉSUMÉ

Dans une perspective phénoménologique, l’objectif de cette thèse est de chercher à comprendre les sens de l´expérience des volontaires qui font un travail d’écoute dans une institution religieuse. Afin de l´atteindre, on identifie le mode de comprendre le servir dans la perspective catholique et le mode dont le travail benévole est organisé dans le Sanctuaire Theotókos. Une étude approfondie a été réalisée avec une collaboratrice qui travaille dans le Sanctuaire Theotókos il y´a quatorze ans. L´entrevue a été enregistrée, transcrite, synthétisée, analysée et discutée dans l´abordage de la Psychologie Phénoménologique. L´analyse du cas a permis de reconnaître les sens de l´expérience de la réception, de l´appartenance, de révision de la vie elle même, de la disponibilité pour servir, du maintien et consolidation de l’identié, entre autres. La compréhension du cas étudié a permis de proposer la réalisation des groupes de dévoloppement, afin de faciliter à ceux qui réalisent ce travail benévole dans le Sanctuaire Theotókos, la réflection sur les sens de leurs expériences en faisant le travail volontaire, visant leur croissance, l´organisation du benévolat et son accompagnement.

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Introdução

1. Aproximação ao tema da tese

Terminei o curso de Filosofia1 em 1983 e o curso de Teologia em 1987,

ordenando-me presbítero no mesmo ano. Completei o mestrado em Filosofia, em 19902, na Pontifícia Studiorum Universitas A S. Thoma Aq. In Urbe, em

Roma, na Itália e ao voltar para o Brasil, os meus diplomas não me davam o direito de lecionar, no entanto, por meio de uma licença especial do Ministério de Educação e Cultura - MEC, fui autorizado a dar aulas de Filosofia em diferentes cursos de graduação. A partir do contato com os alunos na União das Faculdades do Oeste do Estado do Paraná - UNIOESTE, assim como no trabalho pastoral, desenvolvido na Diocese de Toledo, no mesmo Estado, senti a necessidade de legalizar definitivamente a minha situação profissional no país. A ela, somou-se o desejo de fazer o curso de Psicologia, o qual poderia ajudar na minha formação pessoal, levando em conta os questionamentos que surgiam na atividade pastoral nas Paróquias onde trabalhei, bem como questionamentos que surgiam no meio acadêmico.

Para fazer o curso de Psicologia, encontrei apoio em documentos da Igreja Católica Apostólica Romana, bem como da parte de meus superiores. O

1 Filosofia e Teologia. Cursos seminarísticos, portanto sem o reconhecimento do Ministério de Educação

e Cultura – MEC, cursados no Instituto Superior São Francisco, em Ponta Grossa - PR.

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Concílio Vaticano II, na Constituição Gaudium et Spes3, Sobre a Igreja no Mundo de Hoje, nº 62, destaca que:

Na pastoral sejam suficientemente conhecidos e usados não somente os princípios teológicos, mas também as descobertas das ciências profanas, sobretudo da psicologia e da sociologia de tal modo que também os fiéis sejam encaminhados a uma vida de fé mais pura e amadurecida (...) aqueles que se dedicam às disciplinas teológicas nos Seminários e Universidades procurem colaborar com os homens que sobressaem nas outras ciências, colocando em comum suas energias e opiniões. A pesquisa teológica, ao mesmo tempo que aprofunda o conhecimento da verdade revelada, não negligencie o contato com o próprio tempo, para que possa fornecer um conhecimento mais completo da fé aos homens preparados nos diversos ramos do saber (p. 214).

Existe na Diocese de Toledo-PR a prática de, a cada dois anos, enviar dois padres para estudarem no curso e local que escolherem. Eu me informei sobre as diferentes possibilidades e, em 1997, cheguei em São Paulo para fazer o Curso de Psicologia na Universidade São Marcos. Ao mesmo tempo, através de Dom Fernando Antônio Figueiredo, fui convidado para os trabalhos pastorais da Diocese de Santo Amaro. Já tinha participado de dois retiros conduzidos por expoentes internacionais da Renovação Carismática, os Teólogos Cantalamessa4 e DeGrandis5 e me senti atraído para esta

espiritualidade, que propõe uma renovação espiritual. As colocações dos teólogos me satisfaziam, aumentando as motivações para continuar minha missão. Fiquei, portanto, satisfeito com o convite de Dom Fernando, o que

3 CONSTITUIÇÃO DOGMÁTICA GAUDIUM ET SPES, nº 62.

4 Raniero CANTALAMESSA, Retiro de uma semana realizado em São Paulo em 1994.

5 Robert DEGRANDIS, Retiro de uma semana realizado na Catedral Diocesana de São José dos Campos

(17)

possibilitou a oportunidade de acompanhar o desenvolvimento e crescimento do trabalho realizado pelo Padre Marcelo Mendonça Rossi, que eu já conhecia pela programação da Rede Vida de Televisão.

Mais tarde, como seu colaborador, auxiliei-o no atendimento aos fiéis, primeiro no Santuário Terço Bizantino e depois na Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro e Santa Rosalia, na zona sul de São Paulo. Padre Marcelo era Pároco dessa Paróquia e reitor do Santuário Terço Bizantino e, tendo muito trabalho, solicitou-me que celebrasse duas missas por semana na sua Paróquia, para que ele pudesse ter todo o tempo disponível para o Santuário Terço Bizantino. Essa colaboração se estendeu de 1998 a 2002, depois disso, centralizei meus trabalhos pastorais na Paróquia São Galvão e Santo Antônio, confiada a meus cuidados e também voltei a dar aulas de Filosofia no Instituto Superior de Filosofia e Ciências Religiosas São Boaventura e de Psicologia no Centro Universitário Assunção - UNIFAI. Ao mesmo tempo, continuei a frequentar e a colaborar com o Santuário Terço Bizantino por ocasião de solenidades e retiros.

Na Revista do Santuário intitulada “Revista Terço Bizantino6”, na edição

que corresponde aos meses de fevereiro e março de 2005 o Padre Marcelo registra mudança do nome do Santuário que passou a se chamar de Santuário Theotókos, ou seja, Maria Mãe de Deus. Registra, também mudança do endereço do Santuário que tem novo prédio, ainda em construção, que terá a capacidade para acolher cem mil pessoas e é propriedade da Diocese de Santo Amaro.

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Ao mesmo tempo em que trabalhava na Diocese de Santo Amaro, fazia o Curso de Psicologia. Estava atento a todas as disciplinas e me empenhei muito para absorver as teorias e aprender as técnicas do trabalho psicológico.

Notava, durante o curso de psicologia, que o assunto “religião” não era abordado em nenhuma disciplina. Notava, também, no estudo das teorias psicológicas, que as religiões não eram mencionadas, e pensava que isso talvez ocorresse, por falta de conhecimento dos professores sobre o assunto.

Ao concluir o Curso de Psicologia comecei a atender pacientes em meu consultório. Para aprofundar o meu conhecimento teórico e aprimorar a prática, fui em busca de mais informações e formação. Fiz um curso de especialização em Psicoterapia Breve Psicodinâmica, orientando-me por essa proposta no atendimento aos pacientes.

Continuei a minha formação e participei, também, de três cursos sobre Winnicott, dois na Escola Paulista de Psicologia e um na PUC de São Paulo. A participação nestes cursos visou o aprofundamento de estudos que já havia feito na graduação para alcançar maior conhecimento dessa proposta visando sua utilização na clínica.

Estudando a teoria psicanalítica e a técnica da psicoterapia breve psicodinâmica, desde o seu surgimento até os dias atuais, notei que o assunto religião e tudo que a envolve, não foi abordado.

Através das aulas desenvolvidas por Coelho Filho7 no curso de especialização do IPPESP8, retomei a possibilidade de pensar nas teorias

psicológicas a partir dos paradigmas psicanalítico, behaviorista, cognitivo e

7 Prof. Dr.Joaquim Gonçalves COELHO FILHO, Diretor Presidente da Escola de Psicologia de São Paulo

e Prof. da Universidade São Marcos.

8 INSTITUTO PAULISTA DE PSICOLOGIA, ESTUDOS SOCIAIS E PESQUISA. Rua Luis Góis, 1185

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humanista, diferenciando as concepções de homem, de personalidade, desenvolvimento subjacentes, assim como as diferentes práticas resultantes desses paradigmas. O que me chamou a atenção foi o lugar que o conceito de liberdade ocupa nesses paradigmas. Enquanto que para a psicanálise, o comportamento humano é, em grande parte, regido pelo inconsciente e, para as abordagens decorrentes do behaviorismo, é determinado pelo ambiente, a perspectiva fenomenológica e humanista salienta a liberdade do ser humano.

O humanismo diferencia-se dos paradigmas da psicanálise e do behaviorismo, por apoiar-se em uma visão de homem que enfatiza sua liberdade criativa, tendo propensão inata à auto-realização, capacidade de atualizar seus potenciais, tomar decisões e fazer escolhas.

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A consideração dos diferentes paradigmas subjacentes às teorias psicológicas levou-me a pensar na possibilidade de fazer uma pesquisa na interface da Psicologia e da Religião. No meio acadêmico por onde andei as questões espirituais não eram abordadas. Ao estudar Psicologia, muitas vezes sentia-me interpelado como padre pelas visões de homem presentes nas diferentes abordagens assim como nas várias correntes da filosofia que lhes dão sustentação teórica. Enfrentei esses momentos, colocando entre parênteses o meu conhecimento filosófico e o conhecimento teológico para melhor compreender o que era proposto em Psicologia. Ao conhecer melhor a abordagem fenomenológica, reconheci que minha atitude e meu modo de pensar coincidiam com a proposta desta abordagem. É próprio da atitude fenomenológica, colocar entre parênteses, e suspender o julgamento. Eu me empenhava em suspender meus pressupostos para melhor apreender o objeto de estudo, o método, a técnica e o objetivo de cada abordagem psicológica estudada.

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coerente com a visão cristã do ser humano. Posso dizer que pelos estudos realizados e pela leitura de autores da psicologia fenomenológica fui dando expressão à visão de homem, de mundo e de conhecimento com as quais eu concordava, como padre e psicólogo.

Assim, quando, durante a especialização em Psicoterapia Breve Psicodinâmica, Coelho Filho9 comentou sobre os trabalhos desenvolvidos pela Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Psicologia – ANPEPP, e disse que Ancona-Lopez10 desenvolvia um trabalho de orientação de pesquisa em nível de mestrado e doutorado sobre questões que abrangiam a psicologia e a religião na PUC de São Paulo, eu me vi diante do caminho que buscava há muito tempo, ou seja, a possibilidade real de fazer uma pesquisa sobre questões situadas na interface entre a psicologia e a religião.

Busquei informações na secretaria de Pós-Graduação da PUC de São Paulo com o objetivo de conhecer a dinâmica do Programa de Estudos Pós-Graduados em Psicologia Clínica para desenvolver um projeto de pesquisa em nível de Doutorado. Foi assim que me inscrevi no referido programa, para trabalhar minha tese no tema Psicologia e Religião. Os estudos neste programa me proporcionaram o aprofundamento da abordagem da psicologia fenomenológica que possibilitou rever o percurso realizado e formular o tema, o problema e o objetivo que expressam a minha busca.

Simultaneamente, continuei a prática pastoral, trabalhei na Diocese de Santo Amaro em minha Paróquia, dei aulas de filosofia e de psicologia, no Santuário atendi como padre, as pessoas que me procuravam e no consultório psicológico continuei a atender os meus clientes.

9 Prof. Dr. Joaquim Gonçalves COELHO FILHO, Diretor Presidente da Escola de Psicologia de São

Paulo e Professor da Universidade São Marcos.

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2. Problematização

Neste tempo todo em que acompanho os trabalhos desenvolvidos pelo Padre Marcelo Rossi, os colaboradores voluntários do Santuário Theotókos despertaram minha atenção. São pessoas de todas as idades, de todas as profissões, de condições financeiras diversas e com diferentes histórias de vida.

Pude observar que o serviço voluntário muitas vezes é vivido como dom gracioso em favor da pessoa do próximo, outras vezes é vivido numa atitude de sacrifício na qual o trabalhador tem constantemente presente a figura de Jesus com sua cruz, e outras, ainda, é vivido na busca não de servir, mas, de ser servido. Nestes últimos casos, o voluntário busca, por meio de seu trabalho, vantagens de ordem social, profissional e afetiva, entre outras. Informalmente, observei esses sentidos no comportamento dos voluntários do Santuário e interessei-me para conhecer, de modo sistemático, os sentidos que eles atribuem ao trabalho voluntário.

Fui, assim, formulando uma questão indagadora. Como compreender os diferentes sentidos da experiência do trabalho voluntário para quem realiza esse trabalho no Santuário Theotókos?

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Minhas reflexões iniciais sobre esta questão conduziram-me a considerar o conceito de “servir” como referencial inicial para as reflexões

sobre o trabalho voluntário.

Aurélio (2004)11 apresenta o termo serviço como substantivo próprio e indica vários significados, entre os quais a noção de “celebração de atos religiosos” e “desempenho de qualquer trabalho”. Referente ao termo “servir”, o autor diz que se trata de um verbo intransitivo, o que significa que a ação, a força, está no próprio verbo. O dicionário indica os empregos que o verbo permite, entre os quais destaco “prestar serviços de qualquer natureza, ser prestável, útil a, ajudar, auxiliar; gostar de servir os pobres”. Referente ao termo

“servido” Aurélio afirma que se trata do particípio do verbo servir. Pelas regras gramaticais, “servido” indica aquele sujeito que recebe a ação do servir.

Tomando o verbo “servir” e o seu particípio “servido”, focalizo minha tese no serviço voluntário a partir da pessoa que realiza a ação.

A fim de atingir o objetivo de buscar compreender os sentidos da experiência do trabalho dos voluntários em uma instituição religiosa, para quem os executa, em uma perspectiva fenomenológica, iniciei o trabalho expondo o trajeto pessoal que levantou em mim o interesse pelo tema. Apresento, também, as reflexões que possibilitaram a formulação desse objetivo.

Seguindo na mesma perspectiva, apresento, no capítulo I, alguns pressupostos do serviço voluntário para a Igreja Católica Apostólica Romana, à qual pertence o Santuário Theotókos.

Apresento, em seguida, o Santuário, o modo como o Padre Marcelo serve e a história do voluntariado nesta instituição. Para obter estes dados

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me de informações da mídia, documentos do Santuário, do relato do próprio Padre Marcelo Rossi, assim como de outros responsáveis pelo voluntariado, além de minhas próprias observações e experiências no local. Para esclarecer o funcionamento do voluntariado no Santuário Theotókos, entrevistei uma das responsáveis pelo mesmo desde o seu início, a Sra. Ana12.

Entrei em contato com a Sra. Ana, expus meu interesse e o tema do meu doutorado e solicitei sua colaboração, através de um contato pessoal. Ao encontrá-la obtive o termo de consentimento conforme as normas éticas13.

A Sra. Ana dispôs-se a colaborar comigo dando-me as informações sobre o voluntariado no Santuário Theotókos. Eu a entrevistei em um ambiente tranqüilo e ela foi falando sobre o voluntariado de forma espontânea. O trabalho de transcrição e as repetidas escutas, as minhas experiências no local e os documentos e informações que obtive, permitiram apresentar descritivamente como o Padre Marcelo serve no Santuário Theotókos, o que faço no capítulo II.

O Padre Marcelo, por sua vez, consentiu com a divulgação das informações sobre o Santuário Theotókos e sobre o seu serviço, considerando que, neste caso, o sigilo era desnecessário.

Após a apresentação do Santuário Theotókos e dos voluntários, iniciei a pesquisa propriamente dita. O caminho percorrido está descrito no capítulo III, seguido pelo relato da entrevista, análise, discussão e pelas conclusões a que foi possível chegar.

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Capítulo I

O Voluntariado na Igreja Católica

1. Fundamentos bíblicos para o servir

Na pessoa de Jesus Cristo existe um equilíbrio maravilhoso entre o que Ele é e o que Ele faz. Os Evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João, bem como as cartas apostólicas e o Apocalipse, evidenciam essa harmonia e, na medida em que os leio, posso observar seu Ser e seu Ministério. Das muitas qualidades relacionadas nos livros sagrados, destaca-se a atitude de serviço de Jesus para com todos os que entram em contato com Ele. Verifico que Jesus deu importância aos mínimos detalhes, bem como à totalidade das qualidades envolvidas no seu relacionamento com as pessoas.

O serviço de Jesus Cristo nasce de quem Ele é. “Vós chamais-me

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verdade, em verdade vos digo: O servo não é maior do seu senhor, nem o enviado é maior do que aquele que o enviou”1.

Identifico o modo como Jesus serve e como com sua prática e doutrina enfatizou o binômio do servir e do ser servido. A temática do Evangelho escrito por Mateus é o Reino de Deus. O Reino que Jesus pregava “manifesta-se

claramente aos homens nas palavras, nas obras e na pessoa de Cristo”2.

Tomando como referência o “Sermão da Montanha, as Bem-aventuranças” percebo como Jesus em sua pregação apresentou os critérios do Reino, que parecem paradoxais com as máximas do mundo. Jesus disse: “ Bem-aventurados os pobres de espírito, os mansos, os que choram, os que tem fome, os misericordiosos, os pacíficos, os que sofrem”. Concluindo cada bem-aventurança, Jesus refere-se a uma realização: “porque deles é o reino dos céus, possuirão a terra, serão consolados, serão saciados, alcançarão misericórdia, serão chamados filhos de Deus, deles é o reino dos céus”3.

O fundamento do serviço voluntário na Igreja Católica Apostólica Romana remete à vida e ensinamentos de Jesus e dos apóstolos e sobretudo a uma visão de homem e de mundo. O homem é corpo, alma e espírito. Quanto ao corpo e alma o homem vive a dimensão da vida temporal e terrena. Quanto à dimensão espiritual, o homem abre-se para o sobrenatural e eterno. Contudo, corpo, alma e espírito são compreendidos como formando uma unidade que é o homem, criado à imagem e semelhança de Deus.

A noção de servir e ser servido aparece no episódio em que a mãe dos filhos de Zebedeu se dirige a Jesus e pede que um sente-se à sua direita e

1 BÍBLIA, N. T. João. Português. Bíblia Sagrada: Edição Popular. Trad. de: Pe. Matos Soares. 4. Ed. São

Paulo: Edições Paulinas, 1977. Cap. 13, vers. 13-16.

2 CONSTITUIÇÃO DOGMÁTICA LÚMEN GENTIUM, n. 5. e 6.

3 BÍBLIA, N. T. Mateus. Português. Bíblia Sagrada: Edição Popular. Trad. de: Pe. Matos Soares. 4. Ed.

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outro à sua esquerda no seu Reino. Jesus percebendo o descontentamento dos demais apóstolos disse: “vós sabeis que os príncipes das nações as

subjugam e que os grandes as governam com autoridade. Não será assim entre vós, mas todo o que quiser ser entre vós o maior, seja vosso servo; e o que quiser ser entre vós o primeiro, seja vosso escravo; assim como o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida para a redenção de muitos”4.

Jesus também deixa o exemplo de serviço na Última Ceia. As características do serviço não são destacadas como exercício de poder, de fama, de sucesso, de resultados, de dons, de milagres a serem almejados, mas como uma doação generosa e gratuita, expressa na atitude do divino mestre. O lava-pés representa uma das disposições de quem se põe a servir imitando a atitude de Jesus.

O serviço de Jesus é identificado pelo seu amor, “ama-os até o fim” a ponto de entregar a si mesmo, a própria vida. Porque fruto do amor, o serviço de Jesus foi incondicional e sem discriminação.

Jesus dá o exemplo perfeito de serviço. Ele lembra “O Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e para dar a sua vida para redenção de muitos”5.

O registro de Mateus6 sobre o juízo final ilustra a identificação de Jesus com as pessoas em diferentes situações existenciais e destaca: “... tive fome e me destes de comer; tive sede, e destes-me de beber; era peregrino, e

4BÍBLIA, N. T. Mateus. Português. Bíblia Sagrada: Edição Popular. Trad. de: Pe. Matos Soares. 4. Ed.

São Paulo: Edições Paulinas, 1977. Cap. 20, vers. 24-28.

5 BÍBLIA, N. T. Marcos. Português. Bíblia Sagrada: Edição Popular. Trad. de: Pe. Matos Soares. 4. Ed.

São Paulo: Edições Paulinas, 1977. Cap. 10, ver. 45.

6 BÍBLIA, N. T. Mateus. Português. Bíblia Sagrada: Edição Popular. Trad. de: Pe. Matos Soares. 4. Ed.

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recolhestes-me; nu, e me vestistes; enfermo e me visitastes; estava na prisão e fostes me visitar...”, Jesus explica “tudo que fizestes a um desses irmãos, foi a

mim que o fizestes”. Nesta tônica o servir ao próximo significa servir a Jesus.

O evangelista Lucas7 registra como Jesus serve anunciando a Palavra no episódio em que Jesus é hospedado por Marta. Maria se põe a ouvir Jesus, enquanto Marta se ocupa em servi-lo. O serviço de Marta impede-a de estar com Jesus. Este exemplo apresenta o relacionamento com Jesus como o centro e fundamento do desejo de servir os outros. O episódio de Jesus em Betania na casa de Marta, aponta para diferenças na atitude de serviço, há quem serve estando em sintonia com Jesus, e há aqueles que trabalham apenas executando tarefas. Marta, agitada e preocupada com Jesus, perde-se no meio das tarefas e esquece-se de ouvir as suas palavras.

Jesus instituiu a igreja e enviou os apóstolos para pregar o Reino de Deus. Os que são chamados a trabalhar pelo Reino são incentivados pela igreja a imitar a Jesus, servindo.

Os serviços na igreja são especificados por São Paulo quando escreve aos Coríntios8 “assim a alguns constitui Deus na igreja: em primeiro lugar, apóstolos; em segundo lugar, profetas; em terceiro lugar, doutores; depois, os que tem o poder de operar milagres; depois, os que tem o dom de curar, de assistir, de governar, de falar diversas línguas, de interpretar as línguas”.

Na carta aos Romanos9, o apóstolo Paulo enfatiza os serviços através da metáfora do corpo e afirma: “assim como num só corpo temos muitos

7 BÍBLIA, N. T. Lucas. Português. Bíblia Sagrada: Edição Popular. Trad. de: Pe. Matos Soares. 4. Ed.

São Paulo: Edições Paulinas, 1977. Cap. 10, vers. 38-42.

8 BÍBLIA, N. T. 1 Carta aos Coríntios. Português. Bíblia Sagrada: Edição Popular. Trad. de: Pe. Matos

Soares. 4. Ed. São Paulo: Edições Paulinas, 1977. Cap. 12, ver. 29.

9 BÍBLIA, N. T. Carta aos Romanos. Português. Bíblia Sagrada: Edição Popular. Trad. de: Pe. Matos

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membros, e nem todos os membros tem a mesma função, assim ainda que muitos, somos um só corpo em Cristo, e cada um de nós membros uns dos outros. Mas temos dons diferentes, segundo a graça que nos foi dada; quem tem o dom da profecia, use-o segundo a regra da fé; quem tem o ministério, exerça o ministério; quem tem o dom de ensinar, ensine; quem tem o de exortar, exorte; o que reparte, faça-o com simplicidade; o que preside, seja solícito; o que faz obras de misericórdia, faça-as com alegria”.

Nesta mesma carta10, Paulo apresenta os efeitos do batismo e diz que nos “incorpora na igreja, nos torna filhos de Deus, irmãos em Jesus Cristo,

herdeiros da vida eterna”. O magistério da Igreja nos afirma que do batismo

nasce a missão de anunciar o Evangelho, de testemunhar Jesus Cristo, de dialogar com as religiões e com as culturas e de servir a Jesus no irmão.

De acordo com Atos dos Apóstolos11 os cristãos das primeiras comunidades “perseveravam na doutrina dos apóstolos, nas reuniões comuns, na fração do pão e nas orações”.

Dois milênios de história mudaram diversas vezes o mundo em sua organização política, econômica, tecnológica e social. Essas mudanças influenciaram os cristãos católicos presentes em quase todos os países do mundo. No entanto, eles sempre valorizam a comunidade simbolizada pela Eucaristia e a proposta cristã continua a ser a de doar-se de diferentes formas, entre elas a do serviço voluntário.

2. Alguns elementos do voluntariado na Igreja Católica

10 BÍBLIA, N. T. Carta aos Romanos. Português. Bíblia Sagrada: Edição Popular. Trad. de: Pe. Matos

Soares. 4. Ed. São Paulo: Edições Paulinas, 1977. Cap. 8, vers. 15-17.

11 BÍBLIA, N. T. Livro de Atos dos Apóstolos. Português. Bíblia Sagrada: Edição Popular. Trad. de: Pe.

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A igreja como instituição social se organiza em dioceses, paróquias e comunidades. Cada diocese é presidida por pelo menos um bispo. A diocese compreende numerosas paróquias, cada qual com um pároco e padres auxiliares quando necessário. A paróquia pode ou não ter comunidades, que são chamadas de capelas. Elas são atendidas pastoralmente pelo pároco. Muitos trabalhos nas dioceses, paróquias e comunidades em diferentes níveis, são realizados por pessoas voluntárias.

O voluntariado na Igreja Católica fundamenta-se no ensino e na prática de Jesus e dos apóstolos que percorre toda a história da Igreja assumindo diferentes papéis e importância ao longo dos séculos, e que, foi a partir do Concílio Vaticano II, que assumiu os contornos atuais e a forma como se apresenta no Brasil.

O Concílio Vaticano II teve início no dia 11 de outubro de 1962 e foi concluído no dia 7 de dezembro de 1965. A finalidade pastoral do Concílio foi proclamada pelo seu idealizador, o Papa João XXIII, no discurso inaugural. O Papa assegurou que a doutrina já era de conhecimento dos padres conciliares e que eles deveriam achar uma forma de traduzi-la em linguagem acessível a todos os cristãos. Por outro lado, “todos os cristãos em virtude do múnus

ministerial que brota do batismo são convocados a colocar-se a serviço do

Evangelho” (LG, n. 11)12.

Mais adiante destaca:

“os leigos são congregados no Povo de Deus e constituídos num

só Corpo de Cristo sob uma só cabeça. Quem quer que seja, todos são chamados a empregar todas as forças recebidas por bondade do Criador e graça do Redentor, como membros vivos,

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para o incremento e perene santificação da Igreja. O apostolado dos leigos é participação na própria missão salvífica da Igreja. A este apostolado todos são destinados pelo próprio Senhor

através do batismo e da confirmação” (L.G. n. 33)13.

Durante os intervalos das sessões do Concílio Vaticano II, em 1963, os bispos do Brasil que estavam hospedados em uma mesma casa, em Roma, traçaram um primeiro Plano de Pastoral Conjunto - PPC a ser implementado na igreja em nosso país. A elaboração do PPC, resultou do esforço comum da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB que foi criada e regulamentada em 1952, no Rio de Janeiro14. Para viabilizar a aplicação do

PPC, os bispos utilizaram a experiência da Campanha da Fraternidade – CF. Ela teve início em 1961 e visava arrecadar dinheiro para tornar autônoma a Caritas Brasileira, fundada em 1957 para atender às necessidades da igreja no Brasil. Inicialmente, o resultado econômico da CF foi pequeno, contudo, o resultado pastoral foi muito bom, pois unificou as dioceses em torno de um mesmo objetivo. Esse fato contribuiu para os bispos adotarem a CF como momento para divulgar a mensagem da Igreja. Para a realização da CF, a cada ano, os bispos oferecem um documento base e outros subsídios ao redor de um tema. Na primeira fase da CF foi tratado o tema “da renovação da igreja e da renovação do cristão”, na segunda fase, “a igreja preocupou-se com a

realidade social do povo, denunciando o pecado social e promovendo a justiça”

e na terceira fase “a igreja volta-se para situações existenciais do povo

brasileiro”15.

13 CONSTITUIÇÃO DOGMÁTICA LUMEN GENTIUM, n. 33.

14 História da CNBB. Disponível em: <http://www.arquidiocesecampinas.org.br/cnbb_história.htm>

Acesso em: 29 jun. 2010.

15 Campanha da Fraternidade. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Campanha_da_Fraternidade>

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A elaboração do PPC e da CF levou os bispos do Brasil a se reunirem para estudarem os temas escolhidos e a forma de executar as propostas assumidas em conjunto. Dessas reuniões, em consonância com os documentos do Concílio Vaticano II, nasceram as Diretrizes de Pastoral para a Igreja no Brasil, hoje conhecidas como Diretrizes da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil, que dão continuidade ao PPC. As Diretrizes são revisadas, renovadas e transformadas a cada quatro anos. Nas Diretrizes, encontram-se a tradução das orientações conciliares e do magistério da igreja para iluminar a sua prática pastoral e doutrinal. Em todos os documentos oficiais da CNBB o trabalho dos leigos, ou seja, o protagonismo dos leigos na igreja, é tema central.

Além das Diretrizes advindas da Igreja, que orientam o voluntariado, é importante lembrar que no Brasil, ele obedece, também às leis civis.

O Estado regulamentou o voluntariado visando proteger as instituições públicas e privadas de encargos tributários e da retribuição salarial. Em 18 de fevereiro de 1998 foi aprovada Lei Federal nº 9.60816, que dispõe sobre o serviço voluntário.

Art. 1º- Considera-se serviço voluntário, para fins desta Lei, a atividade não remunerada, prestada por pessoa física a entidade pública de qualquer natureza, ou a Instituição privada de fins não lucrativos, que tenha objetivos cívicos, culturais, educacionais, científicos, recreativos ou de assistência social, inclusive mutualidade. Parágrafo único. O serviço voluntário não gera vínculo empregatício, nem obrigação de natureza trabalhista, previdenciária ou afim. Art. 2º- O serviço voluntário será exercido

16 BRASIL. Lei n. 9.608, de 18 de fevereiro de 1998. Dispõe sobre o serviço voluntário e dá outras

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mediante a celebração de Termo de Adesão entre a entidade, pública ou privada, e o prestador de serviço voluntário, dele devendo constar o objeto e as condições de seu exercício. Art. 3º- O prestador de serviço voluntário poderá ser ressarcido pelas despesas que comprovadamente realizar no desempenho das atividades voluntárias. Parágrafo único. As despesas a serem ressarcidas deverão estar expressamente autorizadas pela entidade a que for prestado o serviço voluntário.

A Lei n. 9.608 favorece as iniciativas do terceiro setor que é formado por instituições públicas de qualquer natureza e instituições privadas, sem fim lucrativo, que prestam diversos tipos de serviços, executados por pessoas voluntárias.

O primeiro setor é o público, ocupado pelo Estado e pelo Governo; o segundo é o setor privado, ocupado pelo mercado com suas empresas. O terceiro setor é ocupado por organizações públicas ou privadas, sem fim lucrativo e ocupa o espaço entre o primeiro e segundo setor como forma de redistribuir e aplicar as riquezas. É ocupado por fundações, associações, institutos e entidades que mediante recursos próprios ou em parceria com o Estado prestam serviços de natureza diversa.

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Entre as motivações para o voluntariado, de acordo com Corullón (2010)17 destacam-se a consciência fundamentada em valores éticos que

mobilizam as pessoas a realizarem ações socialmente úteis, como forma de retribuir os conhecimentos e experiências adquiridos.

Conforme Martins (2010)18 os voluntários tem o direito de conhecer a

finalidade das ações a serem executadas, bem como o estatuto que rege a instituição; de receber formação específica e apoio para atividade que irão exercer; conhecer as habilidades e competências necessárias para o voluntariado. Eles devem aceitar os estatutos e as normas que regem a associação; cumprir os compromissos assumidos; ser atentos, responsáveis e solidários; ter disposição para trabalhar em equipe e quando a função o exigir, guardar sigilo. A autora supracitada conclui afirmando que toda a ação voluntária fundamenta-se no comprometimento e na responsabilidade.

Já o serviço voluntário prestado por instituições religiosas, no caso a Igreja Católica, como já dito, encontra seu fundamento em Jesus Cristo, em sua pessoa e ensinamento, bem como no ensinamento dos apóstolos e do magistério da igreja, sem deixar de respeitar os ditames da lei civil.

Para diferenciar o serviço voluntário das instituições religiosas e civis, há na língua alemã dois conceitos que permitem vislumbrar o fundamento último que as motiva. Gemeinschaft (comunidade) significa que o fundamento da ação voluntária é a caridade, que remete a essa virtude teologal. Gesellschaft (sociedade) significa que o fundamento da ação voluntária é a filantropia.

17 Mônica CORULLÓN, O Trabalho Voluntário. Manual elaborado para o Programa de Promoção do

Voluntariado do Conselho Comunidade Solidária, p. 2.

18 Renata de Freitas MARTINS (Advogada Ambientalista). Cidadania, Voluntariado e Ética: bases para o

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Capítulo II

O voluntariado no Santuário Theotókos

1. A Igreja Católica e o Padre Marcelo M. Rossi

A Igreja Católica enquanto instituição social tem sua forma própria de se organizar. A criação de uma diocese e a nomeação do bispo é feita pelo Papa.

O Papa João Paulo II, em 1989, criou a Diocese de Santo Amaro e nomeou como bispo Dom Fernando Antônio Figueiredo19, que tomou posse no mesmo ano. Na época, a Diocese contava com 64 padres, distribuídos em 37 paróquias. Preocupado com a formação de novos padres, Dom Fernando criou o Seminário São Boaventura - Instituto Superior de Filosofia e Ciências Religiosas com a função de oferecer um curso de Filosofia e um de Teologia.

Em 22 anos de existência da Diocese, Dom Fernando ordenou 173 novos padres, convidou 10 padres para trabalharem na Diocese e criou 71 novas paróquias. Em 2011, a Diocese conta com 247 padres e 108 paróquias. A população de católicos na Diocese é estimada em 3.208.439 habitantes20. Na Diocese de Santo Amaro, nota-se que há em média 29.707 pessoas para cada padre atender.

19 Anuário Católico do Brasil. Rio de Janeiro: CERIS, 2009/2010. Disponível em

<www.guiacatolico.com>. Acesso em: 1 jul. 2010.

20 Cúria Diocesana de Santo Amaro. Disponível em: <www.diocesedesantoamaro.com.br>. Acesso em: 1

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No Decreto do Concílio Vaticano II, Apostolicam Actuositatem sobre o Apostolado dos Leigos21 a Igreja reconhece a impossibilidade para o clero dar

conta do atendimento a todos os fiéis católicos e apresenta a proposta do Apostolado dos Leigos. Refere que “o Santo Concílio, desejando tornar mais

intensa a atividade apostólica do Povo de Deus, volta-se de maneira solícita aos cristãos leigos. Pois, o apostolado dos leigos, decorrente de sua vocação

cristã, nunca pode faltar na Igreja”. Mais adiante informa que “o aumento

constante da população, o progresso da ciência e da técnica, as relações

humanas mais estreitas, aumentam o campo de ação do apostolado”. A Igreja

tem consciência de que a vocação cristã é por sua natureza vocação ao apostolado, e reconhece que no seu interior há “diversidade de serviços, mas

unidade de missão” (n. 2). O objetivo comum para o clero e para os leigos é

testemunhar e anunciar a Boa Nova do Evangelho.

O Papa João Paulo II em 1988, com a Exortação Apostólica Christifideles Laici22, sobre a vocação e missão dos leigos na Igreja e no mundo, também reconhece a insuficiência do clero para atender a demanda da evangelização e do atendimento às pessoas que procuram a igreja e convoca os leigos a assumirem a sua vocação e missão e repete para eles as palavras de Jesus: “Ide vós também para a minha vinha”23.

Em 1994, Dom Fernando ordenou para o sacerdócio o Padre Marcelo Mendonça Rossi que começou seus trabalhos pastorais na Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro e Santa Rosalia.

21 APOSTOLICAM ACTUOSITATEM. Decreto do Concílio Vaticano II, p. 529-564. 22 JOÃO PAULO II, Exortação Apostólica Christifideles Laici, n. 119.

23 BÍBLIA, N. T. Mateus. Português. Bíblia Sagrada: Edição Popular. Trad. de: Pe. Matos Soares. 4. Ed.

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Quando o Padre Marcelo assumiu a Paróquia, esta estava em construção, o que levou as celebrações para o auditório da Cúria Diocesana. O trabalho foi iniciado com celebrações de missas, novenas, atendimento aos fiéis e programas de rádio. Todo ele foi desenvolvido dentro da espiritualidade da Renovação Carismática, à qual o Padre Marcelo aderiu desde a sua formação como seminarista.

A origem da Renovação Carismática Católica24 remete ao Congresso

Nacional de Cursilhos de Cristandade realizado em 1966, e ao retiro espiritual, realizado em 1967, no mesmo local, na Universidade de Duquesne, em Pittsburgh, Pensilvânia, nos Estados Unidos da América. Esse Movimento Carismático apresenta uma raiz ecumênica na sua origem e espalhou-se rapidamente nas igrejas católica e protestantes da América.

Informações disponíveis nos registros do Monge Beneditino Dom Cipriano Chagas25 relatam que em 1970 a Renovação Carismática Católica no Brasil, começou em Telêmaco Borba, no Paraná, com o Padre Daniel Kiakarski, que a conheceu nos Estados Unidos em 1969. Contudo, foi em Campinas, São Paulo, em 1972, que os padres jesuítas americanos Haroldo Joseph Rahm e Eduardo Dougherty deram vários retiros e formaram grupos de oração que contribuíram para a divulgação dessa forma de viver a espiritualidade no país. Em vista da extensão que a Renovação tomou no Brasil desde 1973, anualmente, realizam-se Congressos e Retiros de Espiritualidade nacionais e locais.

24História da Renovação Carismática Católica. Disponível em:

<http://pt.wikipedia.org/wiki/Renov%C3%A7%C3%A3o_Carism%C3%A1tica_Cat%C3%B3lica>. Acesso em 6 jul. 2010.

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O Padre Marcelo dá alento à forma de viver a espiritualidade da Renovação Carismática desenvolvendo a alegria, o louvor, a confiança em Deus e enfatizando os dons do Espírito Santo. Suas missas são chamadas de missa de louvor, missa de cura, missa de libertação. Com o lema: “quem canta

bem, reza duas vezes”26, o Padre Marcelo motiva os fiéis a tomarem parte ativa

nas celebrações, rezando, cantando, dançando e fazendo coreografias. Um grupo formado por músicos e cantores fornece a sustentação dos cânticos. Para o povo participar, o Padre Marcelo canta e antecipa em voz alta, ou projeta a letra do canto para as pessoas cantarem junto com ele. Essa prática é comum nos grupos da Renovação Carismática Católica.

O Padre Marcelo motiva o povo para cantar e rezar, fazendo gestos, batendo palmas, aclamando a Palavra de Deus, acolhendo os fiéis, homenageando aniversariantes, rezando pelos doentes ou pelos que tem outras necessidades. No desenvolvimento dos dons do Espírito Santo, ele instrui os fiéis, reza em línguas, faz orações de cura e busca desenvolver o dom da profecia e da ciência, entre outros.

Inicialmente em programas de rádio e mais tarde também na televisão, o Padre Marcelo desenvolveu a oração do Terço Bizantino, que remete à espiritualidade dos primeiros séculos da Igreja. A cada dezena do Terço Bizantino, repete-se uma breve oração que se inicia sempre com Jesus. A cada dez repetições, a oração muda. Na primeira dezena do Terço Bizantino diz-se “Jesus”, na outra “Jesus eu te amo”, na outra “Jesus perdão”, na outra “Jesus

cura-me”, e na última “obrigado Jesus”. Os ouvintes são capturados pela forma

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que vêem como nova e diferente de rezar, embora seja muito antiga na história da Igreja.

Na oração o Padre Marcelo e a comunidade invocam o Espírito Santo para que exercite os seus dons: sabedoria, inteligência, conselho, fortaleza, ciência, piedade e temor de Deus27 e, além desses, os dons de orar em

línguas, realizar curas, discernir espíritos, falar com sabedoria, profetizar e interpretar, entre outros. Essa invocação orienta-se pela afirmação de que “o Espírito Santo distribui seus dons aos fiéis, de tal forma que ninguém possui todos eles, como ninguém está totalmente privado deles”28. Os Bispos do Brasil

no Documento referente às Orientações Pastorais sobre a Renovação Carismática Católica29 recomendam que na formação dos agentes haja prudente discernimento quanto aos dons do Espírito Santo.

O Padre Marcelo ora e suplica o dom da profecia e em programa de rádio declarou que Deus lhe revela situações nas quais os ouvintes se encontram descrevendo seus problemas e ele intercede por essas pessoas. São freqüentes os testemunhos de fiéis que declaram que a revelação foi feita para eles, pois se identificam com a situação descrita. No desenvolvimento do dom de cura, pelo rádio e no santuário, o Padre Marcelo faz a oração com a comunidade, canta, reza em línguas e intercede pela cura dos fiéis. A seguir, relata, muitas vezes com precisão, a cura realizada por Deus. Os fiéis, quando percebem que o Padre Marcelo descreve seus sentimentos e reconhecem a cura, ficam muito emocionados e confirmam com seu testemunho o que o Padre falou.

27 CATECISMO da Igreja Católica, p. 429.

28 ORIENTAÇÕES Pastorais sobre a Renovação Carismática Católica. Documento 53. São Paulo:

Paulinas, 1994: 13.

29 ORIENTAÇÕES Pastorais sobre a Renovação Carismática Católica. Documento 53. São Paulo:

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No início dos trabalhos de evangelização promovidos pelo Padre Marcelo, ele contava com um pequeno grupo de colaboradores. O aumento do número de fiéis levou-o a convidar voluntários para auxiliá-lo nas orações, cânticos, acolhida e orientação dos fiéis, na sua acomodação no auditório, depois na igreja, no Ginásio de Esportes Gonzagão e mais tarde no Santuário. O grande número de fiéis que participavam das celebrações do Padre Marcelo chamou a atenção da televisão. O primeiro aparecimento do Padre Marcelo foi em 1999, ao vivo, em programa da Rede Globo de Televisão. Na seqüência, esteve em programas do Sistema Brasileiro de Televisão – SBT, na TV Bandeirantes, na TV Gazeta e na Rede Vida. Em 1999, o Padre Marcelo aceitou o convite da PolyGram e gravou o primeiro CD, o que o levou a receber mais convites para programas de televisão, para divulgar o CD e também para falar da espiritualidade desenvolvida por ele. Seu lema foi “evangelizar por

todos os meios”. O programa Momento de Fé, iniciou-se em 1997 na Rádio

América e a partir de 2001, teve seqüência na Rádio Globo. Hoje, ele é transmitido em cadeia de 146 Rádios para todo o território nacional, diariamente. Além do programa veiculado pelo rádio, atualmente em 2011, o Padre Marcelo faz três aparições diárias na Rede Vida de Televisão para a reza do Terço Bizantino. Uma das suas missas é transmitida pela Rede Vida de Televisão aos sábados e outra transmitida pela Rede Globo, aos domingos. Elas também são transmitidas on-line pela internet.

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entusiasmo para viver a vida, a despeito dos problemas, sofrimentos, doenças e morte, que fazem parte da nossa existência.

Parte da população que procura o Padre Marcelo o faz por acreditar na possibilidade de resolver seus problemas através de milagres. De fato, acontecem curas na família de alguns fiéis que freqüentam o Santuário Theotókos, e eles atribuem o milagre ao Padre Marcelo. Isso fez com que a sua fama crescesse muito.

Simas Filho, na revista “Isto É” em (1997)30, informou que o Padre

Marcelo liderava a Renovação Carismática e somava, na ocasião, oito milhões de fiéis em todo território nacional. Utilizando dos meios de comunicação para divulgar o seu trabalho, ele atraia cada vez mais fiéis.

Na reportagem “Igreja Católica que faz Milagres”, o jornalista diz que os

carismáticos curam doenças e lotam missas usando a mesma técnica dos evangélicos e chama a atenção dos leitores para este fenômeno na Igreja Católica. Simas Filho perguntou ao Padre Marcelo se ele era milagreiro. Ele respondeu: “Não sou milagreiro. Sou apenas a placa sinalizadora de um caminho”. Simas Filho comentou: “Mas as pessoas o procuram em busca de milagres”. O Padre Marcelo respondeu: “Sempre faço questão de enfatizar que

curas não são milagres. O homem é composto pelo físico, pelo psíquico e pelo espiritual. A fé traz harmonia entre esses elementos e isso é capaz de acelerar processos naturais de cura. Não é milagre. Mesmo assim, essa harmonia só é

possível pela força de Deus” (1997)31. Mesmo assim, a fama de milagreiro do

Padre Marcelo é um dos fatores que contribuiu para o aumento considerável de pessoas que procuram as celebrações.

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Em 1997, o Padre Marcelo juntamente com Dom Fernando alugou o pavilhão de uma antiga fábrica metalúrgica desativada na zona sul de São Paulo, onde passou a celebrar as Missas de Libertação. Um ano depois, Junqueira, na revista VEJA (1998)32, disse que o Padre Marcelo atraia 500 mil fiéis por mês em suas celebrações.

Arruda, em 199933, no jornal o “Estado de São Paulo” com o título “A Renovação Conservadora” destaca que, com idéias tradicionais e formas de

comunicação inovadoras, licenciado em Educação Física, o ex-professor que resolveu se dedicar ao sacerdócio, já vendeu quase 3 milhões de CDs com músicas religiosas, que fazem sucesso no rádio e atraem milhares de fiéis às suas missas, marcadas por rituais da religiosidade popular.

Estas e outras notícias, veiculadas pela imprensa geraram um grande número de opiniões, nem sempre unânimes, sobre o Padre Marcelo, sobre a forma como ele serve e sobre os procedimentos por ele utilizados.

Carranza (2005)34 em sua tese “Movimentos do catolicismo brasileiro: cultura, mídia e instituição” retoma a história do movimento do Padre Marcelo,

e mostra que o número de fiéis continuou a crescer. Consequentemente, cresceu também a necessidade de colaboradores voluntários.

Junqueira, na revista VEJA (1998)35, destacou que 940 pessoas trabalhavam como voluntários na equipe do Santuário em serviços de acolhimento das pessoas, encaminhamento para confissões, grupos de oração,

32 VEJA. JUNQUEIRA, Eduardo. São Paulo: Editora Abril, 1998: 115.

33 Roldão ARRUDA, Jornal O Estado de São Paulo. Caderno 2. Especial de Domingo. 24/01/1999. 34 Brenda CARRANZA. Movimentos do catolicismo brasileiro: cultura, mídia e instituição. Tese,

Defendida junto ao programa de Ciências Sociais do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas: Agosto, 2005.

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atendimento médico, psicológico e outros, todos prestados no local. Hoje em 2011, calcula-se que 1200 pessoas são cadastradas como voluntárias.

2. Origem do voluntariado no Santuário Theotókos

O voluntariado no Santuário Theotókos tem aproximadamente 16 anos, o que remete sua origem para a primeira Missa de Libertação, celebrada no auditório da Cúria Diocesana de Santo Amaro, em março de 1995. Apresento a sua história e modo de funcionamento como foram relatados pela Sra. Ana36, que cuida do voluntariado no Santuário Theotókos desde o seu início.

Segundo a encarregada do voluntariado, para atender ao grande número de fiéis que compareciam às suas celebrações, o Padre Marcelo aumentou o número de missas rezadas no mesmo dia. Pensava dividir o povo em várias celebrações para resolver o problema do grande fluxo de pessoas.

Várias pessoas foram convidadas e aceitas como voluntárias para compor equipes que ajudariam nos ministérios da música, da palavra, da Eucaristia e da acolhida. O início do trabalho voluntário dessas pessoas ocorreu em um ritmo acelerado de forma que não houve tempo suficiente para preparar e treinar esses colaboradores. Contudo, o Padre Marcelo exorta-os a servirem com as mesmas disposições com as quais Jesus servia. Antes de iniciar cada celebração o Padre Marcelo se reúne rapidamente com os cantores para escolherem as músicas. Para os colaboradores do ministério da Palavra, explicou os Tempos Litúrgicos solicitando que tomassem o cuidado de preparar com antecedência a leitura a ser anunciada, seguindo o Lecionário

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Litúrgico. Para auxiliar na distribuição da Eucaristia, escolheu colaboradores que informaram não ter impedimentos referentes às normas sacramentais.

O Padre Marcelo organizou, também, uma equipe de acolhida para receber os fiéis na porta do auditório, com a função de informar as pessoas quanto ao horário das celebrações e acompanhá-las até um lugar onde possam se sentar.

Além disso, o aumento das celebrações no mesmo dia exigiu outra equipe de voluntários para limpeza e organização do espaço para a celebração seguinte.

O Padre Marcelo serve a comunidade celebrando a missa com orações de cura e libertação, fazia diversas novenas e dava a benção individual para os fiéis com imposição das mãos. Escutava os fiéis nas suas necessidades e intercedia por eles. Sensibilizava-os para confiarem em Deus para quem tudo é possível. O ambiente das celebrações começou a ficar tomado por tal número de pessoas que a falta de ventilação em dias de calor contribuía para que muitas delas passassem mal ou desmaiassem. Assim, surgiu a necessidade de uma equipe de voluntários para acudir essas pessoas e compareceram, para ajudar, auxiliares de enfermagem, enfermeiros e médicos. Muitas pessoas eram medicadas, e os casos mais graves eram encaminhados para um hospital. Com o tempo, foi montado um pronto atendimento, e uma ambulância passou a ficar de plantão no local.

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intercessão. Ela foi formada pelo Padre Marcelo, convidando pessoas da comunidade que já haviam freqüentado retiros espirituais da renovação carismática. A equipe de intercessão acolhe as pessoas com desejo de oração pessoal em uma sala, preparada para tal. Nela, realizam-se as intercessões com imposição das mãos e orações, incluindo oração em línguas, oração de cura, oração pela libertação e outras.

Muitos doentes e pessoas idosas solicitam o sacramento da unção dos enfermos. Para esse serviço, com o objetivo de prepará-los para esse momento, surgiu outra equipe de voluntários. Informam que este sacramento perdoa os pecados da vida toda, fortalece espiritualmente o enfermo e muitas vezes Deus cura a pessoa que o recebe com fé. A unção dos enfermos sempre é conferida pelo Padre Marcelo ou por um dos seus padres colaboradores.

Um grande número de pessoas que vem ao Santuário Theotókos é proveniente de outras cidades ou Estados. Dado o afluxo de gente, muitos começaram a vender objetos sagrados, como terços, Bíblias, imagens, escapulários, bebidas e alimentos. A Vigilância Sanitária passou a controlar o manejo de alimentos e bebidas e responsabilizou o Padre Marcelo pela falta de assepsia. Para atender às exigências da Vigilância Sanitária, o Padre Marcelo criou um espaço próprio para venda de alimentos e de bebidas e treinou uma equipe de cozinha e atendimento para atender aos fiéis em suas necessidades. Destinou, também, uma equipe de voluntários e um espaço próprio para venda de objetos sagrados.

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Segundo a encarregada pelo voluntariado, “a pessoa que deseja ser

voluntária se aproxima do primeiro voluntário atuante e manifesta seu desejo”. Os voluntários já existentes estão instruídos para acolher o pedido e encaminhar o candidato para uma equipe que foi devidamente preparada para recebê-los, a “equipe do social”. Ela foi formada e capacitada pelo Padre Marcelo e faz a triagem dos candidatos.

Ana informa que “o fato de receber pessoas bem intencionadas e com o

desejo de trabalhar voluntariamente, embora seja bem vinda, assusta, pelo desconforto que a gente sente de não ter a certeza de aproveitá-las bem, porque muitas vezes, você pode estar fazendo um dês-serviço à pessoa bem intencionada”.

A triagem dos candidatos que aspiram o voluntariado segue alguns critérios. A equipe verifica “sobre os sacramentos daquela pessoa, se ela é

efetivamente católica, se ela freqüenta a missa, com que freqüência se confessa, se ela faz oração, se ela lê a Bíblia, se ela tem aquele algo mais na ”. Ana destaca, ainda, que “a pessoa casada deve estar acompanhada do cônjuge. O voluntariado querido por apenas um dos cônjuges pode representar a desagregação familiar, pode representar fuga”. Refere-se a outra situação que considera “negativa”, aquela na qual o candidato busca o voluntariado apenas por não ter como passar o tempo. “Ele quer passar o tempo no „clube‟,

então vem para o clube, não serve”, ou seja, há pessoas “que vem não para servir e sim para serem servidos” (sic).

Após a triagem o candidato ao voluntariado que é aprovado, “passa a

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participando de diferentes atividades até chegar a uma com a qual se identifique, para nela prestar serviços” (sic).

4. Objetivo do voluntariado no Santuário Theotókos

O objetivo do voluntariado é evangelizar, é colocar-se a serviço do outro de forma gratuita e generosa. Dado que milhares de pessoas vão ao Santuário e que a Igreja tem a função social de evangelizá-las, o Padre Marcelo busca abrir o coração dos voluntários para este serviço.

Ana destaca que “a nossa equipe é realmente de muita entrega, realmente trabalha, eu acho que ainda pode melhorar. E acendendo no coração de cada um nesta família dos voluntários a tônica do serviço, quer dizer, a gente tem que entender que se você acabou o que você estava se propondo fazer, vai e pega o primeiro fiel que passa e dá um sorriso e um abraço, dali vão sair grandes coisas, entendeu! Este tipo de bem! (sic)”.

Nos dias de celebração no Santuário Theotókos, os voluntários ficam muito envolvidos com os seus trabalhos e não tem tempo para participarem da celebração. Por esse motivo o Padre Marcelo faz uma celebração especial todas as semanas só para eles.

Segundo Ana, “uma dificuldade que a gente sinta na pele, venha servir e não venha para ser servido, não espere nada em troca, entendeu? Ah, eu queria aquilo, eu queria ficar aqui, queria estar ali. Não! Você vem para trabalhar. O voluntário ele tem que entender que ele vai trabalhar, é num momento que ele está se propondo independente do que está acontecendo na vida dele, é uma responsabilidade que ele assumiu que acho que tem que ser

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Sintetizando suas colocações, Ana diz “se eu tivesse que lhe dizer mais alguma coisa, eu voltaria à mesma coisa, eu acho, que a gente sempre divide esta experiência. A gente encontra voluntários maravilhosos, quase indispensáveis, apesar de que ninguém é dono do cargo, nem de lugar, nem nada, todo mundo é substituível. Mas, a gente ainda toma muito cuidado com o voluntário que vem para ser servido ou tirar alguma vantagem do fato de estar teoricamente se entregando a um trabalho voluntário em uma instituição religiosa, eu acho isso coisa muito delicada” (sic).

5. A postura solicitada ao voluntário

A postura que se solicita ao voluntário, no Santuário Theotókos, une a polaridade das concepções da instituição religiosa e do contexto social no qual está inserido.

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Referências

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