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DESENVOLVIMENTO DE TECNOLOGIA COM E SEM FINS LUCRATIVOS

2 REVISÃO DE LITERATURA

2.4 Síntese da revisão de literatura

Esta revisão de literatura abordou três temas: a tecnologia (com ênfase na sua transferência e nas chamadas tecnologias sociais), as cooperações interorganizacionais e as capacidades relacionais.

Tendo diversas definições, a tecnologia, nesta tese, foi entendida de acordo com o expresso em Sánchez e Paula (2001), como conhecimentos científicos e empíricos (tais como habilidades, know how, métodos, experiências, meios físicos e

procedimentos produtivos, gerenciais e organizacionais), que permitem produzir, distribuir, comercializar e utilizar bens e serviços.

A produção e a difusão de tecnologia são feitas pelo SNI, uma rede de instituições (universidades, escolas técnicas e IP, agências governamentais de fomento, empresas de consultoria, indústrias, associações empresariais e agências reguladoras) que se relacionam para gerar, difundir e utilizar a ciência, a inovação e a tecnologia de um país.

Ainda no tópico de tecnologia, abordou-se sua transferência, que pode ser um atalho no desenvolvimento de capacidades tecnológicas, para melhorar a eficiência econômica. Para ocorrer, necessita de capacidade de absorção de tecnologia, de capacidade gerencial, de cultura de aprendizagem, dos modos de transferência e da natureza das tecnologias transferidas.

A relação entre tecnologia e o ambiente social pode ser observada sob diversas perspectivas. Em alguns contextos, a tecnologia (incluindo suas aplicações ou produtos) pode ser considerada socialmente útil e respeitada. No entanto, também pode ser rejeitada por conta de seus impactos no meio ambiente (ACEVEDO, 1998). Dentre das tecnologias socialmente construídas, destacou-se, nesta tese, as tecnologias sociais, que são tecnologias, metodologias, técnicas, produtos ou apropriações (aplicações) de conhecimento, reaplicáveis, que transformam e realizam inclusão, inovação e emancipação social, a fim de resolver problemas ou apresentar soluções sociais e/ou ambientais, gerando desenvolvimento sustentável e melhoria das condições de vida, pela interação com a comunidade ou dinâmicas sociais. Pela sua característica de ausência de fins lucrativos, foram as tecnologias sociais as escolhidas como foco de trabalho desta tese, no grupo das cooperações para desenvolvimento de tecnologia sem fins lucrativos.

Ainda nesta revisão de literatura, salientou-se a diferença conceitual entre tecnologia social e a inovação social e as tecnologias convencional, apropriada e assistiva, bem como as soluções baseadas em desenvolvimento de mercados para a base da pirâmide.

A segunda seção deste capítulo abordou conceitos, objetivos e fatores de sucesso e fracasso das cooperações interorganizacionais e ainda as particularidades das alianças com organizações sem fins lucrativos. Por serem relações cada vez mais comuns, que trazem experiência, competência, recursos e conhecimentos para as organizações, elas precisam ser cada vez mais estudadas.

Para esta tese, as cooperações interorganizacionais foram compreendidas como relações verticais ou horizontais, de curto ou longo prazo, entre duas ou mais organizações, que decidem conjugar esforços e recursos para perseguir um objetivo estratégico comum (CUNHA; MELO, 2006; TINOCO, MACEDO-SOARES, VAN, 2008;

EIRIZ, 2001; CISZEWSKA-MLINARIČ, OBŁÓJ, MLINARIČ, 2012).

A revisão de literatura também abordou fatores que influenciam a formação e o sucesso (ou fracasso) das alianças. Fortalecimento da posição competitiva, aprendizagem, redução de incerteza, minimização dos custos de transação e compartilhamento de riscos foram citados pelos autores consultados como exemplos de argumentos para se estabelecer uma parceria.

Percebeu-se que os objetivos das cooperações interorganizacionais eram similares aos benefícios obtidos com as capacidades relacionais: melhorar o desempenho mútuo, a partir da colaboração, sendo necessário, para sua consecução, combinar recursos e trocar conhecimentos.

Este capítulo também abordou as cooperações interorganizacionais realizadas com instituições sem fins lucrativos, nas quais é necessária compatibilidade de valores, missão e identidade para se obter sucesso. Citaram-se seus tipos, suas fases, seus benefícios, suas contribuições para a sociedade, alguns problemas que podem ser enfrentados, forma de resolução e atores influenciadores de seu sucesso.

As cooperações interorganizacionais estimulam a inovação pela transferência de conhecimento e legitimidade, alavancando e trocando recursos de organizações e proporcionando oportunidades de aprendizagem compartilhada. Mas é necessária uma preocupação com a gestão das relações nessas parcerias interorganizacionais, para que o conhecimento e a informação sejam transferidos, os conflitos gerenciados e os valores criados, com a finalidade maior de alcançar os objetivos da aliança.

O terceiro tema da revisão de literatura foram as capacidades relacionais, e para isso discutiram-se os conceitos de capacidade, competência e capacidade relacional; o desenvolvimento das capacidades relacionais e seus benefícios numa parceria; as perspectivas de estudo no tema e as possibilidades de mensuração desta capacidade.

Nesta tese, utilizou-se a visão de que os termos competências e capacidades são equivalentes. Dentre os vários tipos de capacidades, estão as capacidades relacionais. Para definir o conceito utilizado por essa tese, apresentaram-se as considerações de diversos estudos. Assim, entendeu-se que as capacidades

relacionais são a criação proposital e a combinação, a partir de recursos comuns, de estruturas (tais como conhecimentos, rotinas, procedimentos e políticas) intra e interfirmas, para em conjunto, gerenciar conflitos, promover a confiança, transferir conhecimentos e informação, a fim de gerar valor e aprendizagem entre as empresas e alcançar melhorias de processo, adaptações e/ou inovações em cooperações interorganizacionais.

A revisão de literatura ainda apresentou diferentes perspectivas para o estudo das capacidades relacionais, algumas motivações para seu estabelecimento, seus benefícios (que, como já mencionado, se aproximam dos objetivos das cooperações interorganizacionais). Por fim, apresentou-se formas de identificar, mensurar e analisar as capacidades relacionais, propostas por outros estudos que já discutiram o tema.

Percebeu-se assim, que o constructo ‘Capacidade Relacional’ é de grande importância para as cooperações interorganizacionais e pode contribuir para a transferência de tecnologia e conhecimento entre as empresas. Como os modelos de medição analisados não indicaram comunicação entre si e fragmentavam o tema, percebeu-se a necessidade de criar um modelo de avaliação mais abrangente do fenômeno, pois de acordo com Czakon (2009), mais discussões são necessárias na área para compreender seus componentes, seus processos de aprendizagem e seu impacto no desempenho da empresa.

Desta forma, o próximo capítulo desta tese, com base nos objetivos definidos no capítulo um e no embasamento teórico exposto no capítulo dois, apresentou um esquema teórico, ao congregar informações de diversos estudos, para explicar o constructo ‘Capacidade Relacional’ a partir dos conceitos de Quivy e Campenhoudt (2005), a partir de dimensões, componentes e atributos.