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4. A pintura no Museu Romântico da Quinta da Macieirinha

4.2. Sala do Bilhar

A Sala do Bilhar encontra-se revestida por quatro pinturas de paisagem topográficas454, PEMR11 a PEMR15. Estas pinturas foram anteriormente pinturas

murais, tendo sido retiradas da sua morada original e transladadas para o MRQM, conforme nos elucida o artigo já citado de Flórido de Vasconcelos:

“Cito, de um belo armário de sala de jantar de um prédio da Rua do Infante D. Henrique, cuja proprietária não só nos permitiu a sua retirada, como a de quatro grandes pinturas murais da mesma sala, (…) – e que representavam o Porto de Hamburgo, a Ponte de Londres, o «Christian Sund» e um poço de petróleo (oil creek) na Pensilvânia.”455.

451 FRANÇA, 1966, Vol. 1, 195 452 Idem

453 De acordo com dados internos MRQM

454 CHU, 2012, 188 e Vd. Capítulo 5, subcapítulo 5.1. 455 VASCONCELOS, 1997, 230

Tal como no caso das pinturas da Sala das Telas, não conseguimos encontrar nenhum dado sobre o comitente deste programa, contudo, e como vimos, sabemos que a doação terá sido realizada por uma residente na Rua do Infante D. Henrique, no Porto456.

Encontrando-se, segundo Flórido de Vasconcelos, a forrar uma sala de jantar, no edifício colocado de frente para a Feitoria Inglesa457.

Conseguimos assim, e novamente, concluir que as pinturas foram modificadas em relação ao seu sentido inicial, onde se encontravam a revestir uma sala de jantar. Constatamos, ainda, que esta tipologia de pintura era encontrada com alguma regularidade a figurar nas casas portuenses de oitocentos, tratando por norma locais para onde eram realizadas trocas comerciais458, contando todas as pinturas expostas no MRQM

com a denominação do local que representam.

As pinturas da Sala do Bilhar foram inauguradas no MRQM, no dia 18 de Maio de 1983, em virtude da comemoração do dia internacional dos museus. Contudo, consideramos de particular relevância o facto de possuirmos dados sobre todo o processo de restauro de que foram alvo, antes desta inauguração, no artigo supracitado. Os quatro painéis executados a óleo sobre estuque, foram serrados da sua parede original e transladados para o museu. Flórido de Vasconcelos em conjunto com o estucador Domingos Enes Baganha, procuraram uma forma de aligeirar o peso das peças para as colocar nas paredes do museu459. O processo de recuperação das pinturas passou por

colocar a superfície pintada num caixilho, retirando do seu verso todas as tábuas que possuía de modo a que se tornassem mais leves desbastando ainda a argamassa nos limites possíveis, ocorrendo este processo durante dois meses460. O artigo descreve-nos ainda que

só após este tratamento é que as telas voltaram a ser colocadas de forma vertical, passando neste momento a ser limpas e tratadas pelo pintor-restaurador António Pinto Sousa, que faleceu dias depois de concluir o restauro461.

456 Ficha de Inventário MRQM, Apêndice D, Documento 3 457 VASCONCELOS, 1997, 230

458 Idem, 230

459 Idem, 232 e nota nº 7 460 Idem

PEMR11 – Ponte de Londres (à esquerda); PEMR12 – Porto de Hamburgo (à direita)

Apesar de não encontrarmos dados concretos sobre a encomenda do plano iconográfico, acreditamos que estas pinturas tenham tido como base “álbuns de visitas” e gravuras dos locais que representam, o que nos permite compreender algumas falhas de técnicas de perspetiva e localização dos sítios, como no caso da pintura PEMR11, que apresenta a “Ponte de Londres”. Algumas das pinturas também poderão ter como base clichés fotográficos, dado que a sua entrada em Portugal, que se encontra no extremo ocidental na Europa, acontece pouco tempo depois, nomeadamente a circulação de paisagens, podemos assumir que esta possa ser uma das bases do artista, nomeadamente na pintura PEMR14, que nos apresenta o Estreito de Sund, de forma muito mais aproximada da realidade.

A qualidade das pinturas presentes na Sala do Bilhar leva-nos ainda a supor que o seu comitente não procurava as propriedades estéticas dos locais, mas sim a sua representação aproximada, podendo esta escolha documentar apenas uma carte de visite para potenciais negociantes que visitassem a sua residência compreenderem que os seus negócios seriam transatlânticos, representando a pintura PEMR13, um poço de petróleo na Pensilvânia. Consideramos ainda a escolha dos locais representados algo atípica, pelo que esta escolha de paisagens faria, muito provavelmente, apenas sentido no quotidiano do comitente e prováveis sócios ou parceiros de negócios.

Conforme mencionamos anteriormente, todas as pinturas estão datadas e constam de uma inscrição sobre o local que representam. Contudo, a pintura PEMR12, que representa o Porto de Hamburgo, possui uma assinatura em formato de monograma: JMGI. Esta autoria foi atribuída aos restantes painéis que compõem esta série, dadas as aproximações estilísticas e proveniência de um mesmo local.

Não conseguimos, porém, discernir quem foi o seu pintor, nem os nomes equivalentes a este monograma no panorama da pintura portuguesa dos séculos XIX e XX. Contudo, acreditamos numa tese que ainda não havia sido lançada por nenhum estudo anterior, que é o facto de o autor destas pinturas poder ser espanhol. O que nos leva a avançar com esta hipótese é o facto da pintura PEMR12, contar na placa de um dos edifícios de comércio com a inscrição “restauracion”, um dado que não apresenta qualquer sentido ao verificarmos que representa uma cidade alemã e no caso de esta pintura ter sido realizada por um pintor português poderia constar da denominação restaurante ou restauração. Cremos ainda que esta pista possa ainda justificar o porquê de

não encontrarmos correspondência para este monograma em Portugal, contudo salientamos a carência de fundamentação da hipótese que avançamos.