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3 OS “PALAVRÕES” INTERSETORIALIDADE, DESCENTRALIZAÇÃO E

4.2 MINISTÉRIO DO ESPORTE E OS ORDENAMENTOS LEGAIS

4.2.1 Secretaria Nacional de Esporte de Alto Rendimento

À Secretaria Nacional de Esporte de Alto Rendimento (SNEAR) tem como função incentivar o esporte de desempenho, bem como a caracterização de regras nacionais e internacionais, com o escopo de obter resultados voltados para integração dos países e comunidades. As principais políticas da SNEAR são: Programa Descoberta do Talento Esportivo; Programa Bolsa Atleta; Calendário Esportivo Nacional; Rede CENESP; Jogos Olímpicos Rio 2016; e Jogos Escolares Brasileiros (TABELA 1) (BRASIL, 2011).

Tabela 1 – Políticas da Secretaria Nacional de Esporte de Alto Rendimento Políticas da SENEAR Objetivo/público-alvo Caraterísticas Programa Descoberta do Talento Esportivo Identificar adolescentes e jovens matriculados na rede escolar que tenham desempenho motor compatíveis com a prática do esporte de competição, com o objetivo de aumentar a qualidade da base esportiva nacional.

A metodologiade avaliação conta com padrões técnicos testados por pesquisadores, que considera as seguintes medidas para avaliar os alunos: estatura; massa corporal; envergadura; teste de flexibilidade; teste de força e resistência; teste de força explosiva; teste de arremesso; teste de agilidade; teste de velocidade; e teste de resistência geral. Os dados avaliados ficam disponíveis para confederações, federações e demais instituições esportivas.

Programa Bolsa Atleta

Garantir uma manutenção pessoal mínima aos atletas de rendimento, para que os mesmos se dediquem ao treinamento esportivo e a participação em competições visando o desenvolvimento

Ação de incentivo financeiro ao esporte, instituída pela lei n. 10.891/04 e decreto-lei n. 5.342/05. A bolsa varia de acordo com a categoria do atleta: Bolsa-Atleta Categoria Base e Bolsa-Atleta Categoria Estudantil recebem o valor mensal de R$ 370,00; Bolsa-Atleta Categoria Nacional, recebe R$ 925,00; Bolsa-Atleta Categoria Internacional, recebe R$ 1.850,00; e, Bolsa-

pleno. Atleta Categoria Olímpico ou Paraolímpico recebe R$ 3.100,00.42 Calendário Esportivo Nacional Reunir em um único documento os principais eventos esportivos nacionais e internacionais de diversas modalidades.

O calendário contará com duas versões: a primeira digitalizada e disponibilizada via internet; e a segunda de forma impressa no formato de livro e com versão anual.

Rede Cenesp (Centro de Excelência Esportiva) Detectar, selecionar e desenvolver talentos esportivos, por meio de um núcleo de desenvolvimento de pesquisa científica tecnológica na área do esporte e treinamento de atletas.

Ação criada em 2002 (governo FHC) por meio do Ministério Extraordinário de Esporte e Turismo. Articula o Ministério de Esporte, com o COB, o Comitê Paraolímpico Brasileiro, entidades de esporte, inciativa privada e as Instituições de Ensino Superior.43

Jogos Olímpicos de 2016

Deixar uma herança positiva para cidade do Rio de Janeiro por meio dos três cadernos de legados: Caderno de Legado Urbano e Ambiental; Caderno de Legado Social; e Caderno Brasil.

Ação aprovada em 2009 (governo Lula) pelo governo federal, articulada com o COI e prefeitura do Rio de Janeiro. São três os cadernos de legado: a) caderno de Legado Urbano, que reafirma a revitalização da zona portuária, regeneração das áreas do Maracanã, Engenhão e do Sambódromo ligando as diversas regiões do Rio com o transporte de massa Bus Rapid Transit (BRTs); b) caderno de Legado Social, que destaca o programa socioesportivo Segundo Tempo como meta para atingir três milhões de jovens beneficiados até 2016; e c) caderno Brasil, “Este é o País”, que contém dados do Brasil e do Rio de Janeiro, demonstrando a economia nacional, consolidação da democracia, crescimento científico e tecnológico do país.

Jogos Escolares Brasileiros

Identificar e promover a prática esportiva dos atletas matriculados na rede pública ou particular de ensino no Brasil, com escopo de formação de atleta.

Ações criadas em 1969, das quais podemos incluir: Jogos da Juventude44, Olímpiadas Escolares45, Jogos Universitários Brasileiros46, dentre outros. Os jogos articulam o Ministério do Esporte, com o COB e a Confederação Brasileira de Desportos Universitários. Fonte: Ministério do Esporte (2011)

Os programas da SENEAR são coerentes com o objetivo da instituição e buscaram a descoberta de atletas para representarem o país em competições internacionais, como percebidos no Programa Descoberta do Talento Esportivo, Rede Cenesp e Jogos Escolares Brasileiros. Apesar de a instituição atender o esporte educacional, o escopo dos

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42 Portaria n. 164, de 06 de outubro de 2011, estabelece as fases do pleito, os critérios para indicação de eventos

esportivos e os critérios para concessão da Bolsa-Atleta. Disponível em: <http://portal.esporte.gov.br/snear/bolsaAtleta/legislacao.jsp> Acesso em: 14. Dez. 2011.

43 Portaria n. 221, de 01 de Outubro de 2002. Disponível em: <http://www.esporte.gov.br/> Acesso em: 14. Dez.

2011.

44 O evento data de 1995 (governo de FHC) e representa a base do desenvolvimento do setor na tentativa da

descoberta de novos talentos esportivos na rede pública ou particular de ensino.

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Envolve oito modalidades: futsal, handebol, vôlei, basquete, atletismo, natação, judô, tênis-de-mesa e xadrez. A partir de 2005 as Olimpíadas Escolares passaram a ser realizadas em duas fases: a primeira entre adolescentes de 12 a 14 anos de idade e a segunda com adolescentes entre 15 e 17 anos de idade.

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O JUBs no Brasil pode ser dividido em quatro etapas: a) a primeira fase foi iniciada em 1916 e envolvia apenas os universitários do Rio de Janeiro e São Paulo; b) a segunda fase do JUBs deu-se em 1941, quando o Estado passou a investir no esporte universitário; c) a terceira fase foi iniciada na década de 1980, com a separação entre esporte amador e profissional e perdurou até a década de 1990, quando o JUBs começou a ser utilizado como lucro financeiro; e d) a quarta fase e última foi iniciada em 2004, quando o esporte adquiriu

status de Ministério, optando por um modelo híbrido de gestão, envolvendo o CBDU, COB, além do incentivo

jogos em âmbito escolar sempre foi à formação de atletas, corroborando com o que foi apresentado por Bracht (2003), ao afirmar que as atividades esportivas em âmbito escolar buscam atender o esporte de rendimento, influenciando na esportivização da Educação Física escolar.

Podemos destacar ainda que as ações da SENEAR concentram no acesso ao direito individual, isto é, os benefícios são direcionados apenas no público dos atletas, com destaque para o Programa Bolsa Atleta, que transfere os recursos do governo federal para os atletas que alcançaram resultados significativos em âmbito nacional e internacional. Ao beneficiarem apenas os atletas, o Ministério do Esporte não garante o princípio básico das políticas públicas universalizantes.

Verificou-se que a ação central da SENEAR são os Jogos Olímpicos de 2016 e todas as políticas internas da instituição estão voltadas para a nova agenda esportiva brasileira, de sediar os principais megaeventos esportivos. As políticas não podem ser caracterizadas como intersetorial, como discutidas por Junqueira et al. (1997), uma vez que as ações são setorializadas, focalizadas e não articuladas com a sociedade civil. Além disso, não existe um programa que associe o esporte de rendimento ao processo educacional, o que nos mostra que a preocupação do poder público está na formação de atletas (durante o período de competição), desconsiderando o exercício de cidadania, que pode garantir a autonomia dos cidadãos após o fim da carreira esportiva.