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O segmento além de moradia (último parágrafo) não pode ser isolado por vírgulas, pois acarretaria uma separação entre sujeito e verbo

Questões comentadas pelo professor

III. O segmento além de moradia (último parágrafo) não pode ser isolado por vírgulas, pois acarretaria uma separação entre sujeito e verbo

É correto o que consta APENAS em a) II e III.

b) II.

c) I.

d) I e II.

e) III.

RESOLUÇÃO:

A alternativa I está errada, pois “escala”, “preocupação”, “policromia”, “conexão”, “integração” e

“paisagismo” não são exemplos de “materiais improváveis”. São sim núcleos do sujeito em enumeração, assim como “reunião”. Portanto, a inserção dos dois-pontos geraria uma confusão de entendimento, pois não ficaria claro o que faz parte do sujeito ou o que é exemplificação de “materiais improváveis”.

A alternativa II é correta, pois os parênteses podem servir para isolar uma informação que busca apenas complementar uma situação, como é o caso de “São Paulo-SP”, que não é uma informação essencial nem semântica nem gramaticalmente, sendo apenas um aprofundamento informacional.

Por fim, a alternativa III está errada, pois o segmento “além de moradia” é uma expressão interpositiva de valor inclusivo, podendo ser isolada por vírgulas.

Resposta: B

28.

FCC - DP RS/DPE RS/2018

Tomando resolutamente a sério as narrativas dos “selvagens”, a análise estrutural nos ensina, já há alguns anos, que tais narrativas são precisamente muito sérias e que nelas se articula um sistema de interrogações que elevam o pensamento mítico ao plano do pensamento propriamente dito. Sabendo a partir de agora, graças às Mitológicas, de Claude Lévi-Strauss, que os mitos não falam para nada dizerem, eles adquirem a nossos olhos um novo prestígio; e, certamente, investi-los assim de tal gravidade não é atribuir-lhes demasiada honra.

Talvez, entretanto, o interesse muito recente que suscitam os mitos corra o risco de nos levar a tomá-los muito

“a sério” desta vez e, por assim dizer, a avaliar mal sua dimensão de pensamento. Se, em suma, deixássemos na sombra seus aspectos mais acentuados, veríamos difundir-se uma espécie de mitomania esquecida de um traço todavia comum a muitos mitos, e não exclusivo de sua gravidade: o seu humor.

Não menos sérios para os que narram (os índios, por exemplo) do que para os que os recolhem ou leem, os mitos podem, entretanto, desenvolver uma intensa impressão de cômico; eles desempenham às vezes a função explícita de divertir os ouvintes, de desencadear sua hilaridade. Se estamos preocupados em preservar integralmente a verdade dos mitos, não devemos subestimar o alcance real do riso que eles provocam e considerar que um mito pode ao mesmo tempo falar de coisas solenes e fazer rir aqueles que o escutam.

A vida cotidiana dos “primitivos”, apesar de sua dureza, não se desenvolve sempre sob o signo do esforço ou da inquietude; também eles sabem propiciar-se verdadeiros momentos de distensão, e seu senso agudo do

ridículo os faz várias vezes caçoar de seus próprios temores. Ora, não raro essas culturas confiam a seus mitos a tarefa de distrair os homens, desdramatizando, de certa forma, sua existência.

Essas narrativas, ora burlescas, ora libertinas, mas nem por isso desprovidas de alguma poesia, são bem conhecidas de todos os membros da tribo, jovens e velhos; mas, quando eles têm vontade de rir realmente, pedem a algum velho versado no saber tradicional para contá-las mais uma vez. O efeito nunca se desmente:

os sorrisos do início passam a cacarejos mal reprimidos, o riso explode em francas gargalhadas que acabam transformando-se em uivos de alegria.

(Adaptado de: CLASTRES, Pierre. A Sociedade contra o Estado. São Paulo, Ubu, 2017) As frases abaixo dizem respeito à pontuação do texto.

I. No segmento ... não exclusivo de sua gravidade: o seu humor... (2º parágrafo), os dois-pontos podem ser substituídos por travessão, uma vez que se segue um aposto relativo ao termo “traço”, presente na mesma frase.

II. No segmento ... para os que narram (os índios, por exemplo)... (3º parágrafo), os parênteses podem ser suprimidos, mantendo-se a correção, desde que se acrescente uma vírgula imediatamente após “exemplo”.

III. No segmento ... do esforço ou da inquietude; também eles sabem... (4º parágrafo), o ponto e vírgula pode ser substituído por dois-pontos, sem prejuízo da correção, uma vez que a ele se segue uma explicação.

Está correto o que consta APENAS de:

a) III.

b) I e III.

c) I e II.

d) I.

e) II e III.

RESOLUÇÃO:

A alternativa I está correta, pois o termo “seu humor” desempenha papel de aposto especificador. Cabe, portanto, o emprego dos dois pontos ou do travessão para introduzi-lo.

A alterativa II está errada. Havendo a exclusão dos parênteses e a inclusão de uma vírgula depois de “por exemplo”, teríamos uma modificação do sentido e da estrutura gramatical do trecho. O segmento entre parênteses mostra originalmente um exemplo de pessoas “que narram”. Caso sejam feitas as alterações, os índios passariam a ser narrados, tornando-se objeto direto do verbo “narram”.

A alternativa III está correta, pois vemos no segmento depois do ponto e vírgula uma explicação para aquilo que foi dito anteriormente (oração coordenada explicativa). Sendo assim, poderia haver a substituição dessa pontuação por dois-pontos.

Resposta: B

29.

FCC - DP RS/DPE RS/2018

O pintor Carlos Scliar atinge no momento presente uma serenidade que é característica simples e pura de um artista sem ansiedades e sem inquietações, serenidade que esteve sempre presente num José Pancetti e que permanece também unanimemente na obra de um Milton Dacosta, de um Guignard ou Iberê Camargo, serenidade que é uma espécie de densidade, de conteúdo irredutível e inalienável, símbolo de uma fatalidade e de uma vontade de arte que deixa de ser esforço para ser personalidade e natureza.

Na hora exata em que os pintores, na sua maioria, se comprazem com o exame tão só das derivações da cor, a apreciação de um pintor que leva as suas indagações mais além, isto é, às derivações da luz, da semelhança, das formas objetiva ou indeterminada merece ser meditada dentro de uma avaliação mais detida e menos sumária.

Scliar faz parte do número desses artistas que não dão à ocupação com as artes um sentido partidário, não é

“concretista”, nem “figurista”, nem “geométrico”, nem “informal”, quero crer que também em sua vida habitual não torce pelo Flamengo ou pelo Vasco, e sendo assim apartidário é bem o exemplo daquele pintor que leva as suas indagações além da fixação das diferenciações de um único atributo da pintura. Diz Ortega y Gasset, com boa parte de verdade, que o homem é uma máquina de preferir; apenas com boa parte de verdade, digo eu, porque esta preferência não é constante e imutável, mas sofre incessantemente as flutuações do desejo, da esperança e da curiosidade.

A insistência numa única e determinada coisa preferida revela um espírito de ascese e solidão, de hermetismo e alheamento que se distancia da vida − e a maior parte da pintura moderna se distancia da vida! Por isso o pintor Carlos Scliar, revalorizando certas qualidades estéticas, fazendo novamente e humanamente respeitar os valores da exatidão, da virtuosidade e da dificuldade, procura reintegrar a pintura na sua totalidade e na sua grandeza. Procura reintegrá-la numa verdade da qual nunca se afastou, podemos afirmar, a arte musical, tantas vezes tomada como exemplo ou paradigma para as outras artes.

As preferências de Scliar, entretanto, não fogem de ser limitadas apenas nesses valores específicos e abstratos, também se realizam em termos mais genéricos: na natureza-morta, na paisagem, no retrato. As variações de cor, de luz, de tonalidades das suas naturezas-mortas demonstram uma intimidade com os objetos, uma variável constância, uma assiduidade, uma vigília; os seres prediletos dos seus quadros de natureza-morta dão a impressão de que estão velando, de que estão assistindo ao pintor no trabalho e no cuidado da obra elaborada, estão ali prestando-lhe o conforto da sua utilidade, trazendo-lhe a evidência do seu mutismo e docilidade, confiando-lhe, silenciosamente, os segredos de Morandi.

(CARDOZO, J. “Carlos Scliar”, Habitat, SP, 1961)

A respeito da pontuação do texto, está INCORRETO o que consta de:

a) Em e sendo assim apartidário é bem o exemplo daquele pintor (3º parágrafo), o segmento sublinhado pode ser isolado por vírgulas, uma vez que se trata de oração intercalada.

b) Em e a maior parte da pintura moderna se distancia da vida! (4º parágrafo), o ponto de exclamação, por ser justamente pontuação expressiva, torna evidente que o aposto em questão guarda uma opinião do autor do texto.

c) Em esteve sempre presente num José Pancetti e que permanece também (1º parágrafo), pode-se acrescentar uma vírgula imediatamente após “Pancetti”, uma vez que o “e” subsequente liga duas orações de sujeitos diferentes.

d) Em das formas objetiva ou indeterminada merece ser meditada (2º parágrafo), pode-se acrescentar uma vírgula imediatamente após o termo “indeterminada”, por questão de clareza do enunciado.

e) No 3º parágrafo, o uso das aspas denota o afastamento do autor do texto quanto às agremiações artísticas presas a um único atributo pictórico.

RESOLUÇÃO:

ALTERNATIVA A: Alternativa correta. Por ser oração subordinada adverbial deslocada, “sendo assim apartidário” pode ser separado por vírgulas.

ALTERNATIVA B: Alternativa correta. O travessão que isola o segmento mostrado já nos dá pistas de que se trata de um aposto. Além disso, a expressividade marcada pela exclamação associada ao contexto do trecho mostra efetivamente que se trata da opinião do autor sobre o alheamento que se distancia da vida concreta praticado pelas obras artísticas, especialmente as modernas.

ALTERNATIVA C: Alternativa INCORRETA. Como existem orações coordenadas por mesmo sujeito (serenidade), o uso de vírgula após “Pancetti” é uma incorreção.

ALTERNATIVA D: Alternativa correta. O segmento iniciado em “isto é” e terminado em “indeterminada”

expressa uma explicação, devendo, para conferir maior clareza ao que se escreve, ser isolado por vírgulas. Com o emprego da vírgula proposta, fica mais claro que o sujeito da forma “merece” tem como núcleo “apreciação”.

ALTERNATIVA E: Alternativa correta. As aspas revelam a citação do discurso que outrem fala sobre Scliar, adjetivos com os quais o autor não concorda ao deixar claro, com o uso das aspas, que esses termos representam opiniões que não compatibilizam com o seu texto.

Resposta: C

30.

FCC - TJ TRT15/TRT 15/Administrativa/"Sem Especialidade"/2018

1. A neurocientista Suzana Herculano-Houzel é autora da coletânea de textos O cérebro nosso de cada dia, que tratam de curiosidades como o mito de que usamos apenas 10% do cérebro, por que bocejo contagia, se café vicia, o endereço do senso de humor, os efeitos dos antidepressivos. A escrita é acessível e descontraída e os exemplos são tirados do cotidiano. Mesmo assim, Suzana descreve o processo de realização de cada pesquisa e discute as questões mais complexas, como a relação entre herança e ambiente, as origens fisiológicas de determinados comportamentos e o conceito de consciência.

Leia a entrevista abaixo.

2. Muitos se queixam da ausência de uma “teoria da mente” satisfatória e dizem que a consciência humana é um mistério que não se poderia resolver – mesmo porque caberia à própria consciência humana resolvê-lo. O que acha?

Acho que, na ciência, mais difícil do que encontrar respostas é formular perguntas boas. A ciência precisa de hipóteses testáveis, e somente agora, quando a neurociência chega perto dos 150 anos de vida, começam a aparecer hipóteses testáveis sobre os mecanismos da consciência. Mas “teorias da mente” bem construídas e perfeitamente testáveis já existem. A própria alegação de que deve ser impossível à mente humana desvendar a si mesma, aliás, não passa de uma hipótese esperando ser posta por terra. É uma afirmação desafiadora, e com um apelo intuitivo muito forte. Mas não tem fundamento. De qualquer forma, a neurociência conta hoje com um leque de ferramentas que permite ao pesquisador, se ele assim desejar, investigar por exemplo a ativação em seu cérebro enquanto ele mesmo pensa, lembra, faz contas, adormece e, em seguida, acorda. O fato de que o objeto de estudo está situado dentro da cabeça do próprio pesquisador não é necessariamente um empecilho.

3. Há várias pesquisas descritas em seu livro sobre a influência da fisiologia no comportamento. Você concorda com Edward O. Wilson que “a natureza humana é um conjunto de predisposições genéticas”?

Acredito que predisposições genéticas existem, mas, na grande maioria dos casos, não passam de exatamente isso: predisposições. Exceto em alguns casos especiais, genética não é destino. A meu ver, fatores genéticos, temperados por acontecimentos ao acaso ao longo do desenvolvimento, fornecem apenas uma base de trabalho, a matéria bruta a partir da qual cérebro e comportamento serão esculpidos. Somadas a isso influências do ambiente e da própria experiência de vida de cada um, é possível transcender as potencialidades de apenas 30 mil genes – a estimativa atual do número de genes necessários para “montar” um cérebro humano – para montar os trilhões e trilhões de conexões entre as células nervosas, criando o arco-íris de possibilidades da natureza humana.

4. Uma dessas influências diz respeito às diferenças entre homens e mulheres, que seu livro menciona.

Como evitar que isso se torne motivação de preconceitos ou de generalizações vulgares, como no fato de as mulheres terem menos neurônios?

Se diferenças entre homens e mulheres são evidentes pelo lado de fora, é natural que elas também existam no cérebro. Na parte externa do cérebro, o córtex, homens possuem em média uns quatro bilhões de neurônios a mais. Mas o simples número de neurônios em si não é sinônimo de maior ou menor habilidade. A não ser quando concentrado em estruturas pequenas com função bastante precisa. Em média, a região do cérebro que produz a fala tende a ser maior em mulheres do que em homens, enquanto neles a região responsável por operações espaciais, como julgar o tamanho de um objeto, é maior do que nelas. Essa diferença casa bem com observações da psicologia: elas costumam falar melhor (e não mais!), eles costumam fazer operações espaciais com mais facilidade. O realmente importante é reconhecer que essas diferenças não são limitações, e sim pontos de partida, sobre os quais o aprendizado e a experiência podem agir.

(Adaptado de: PIZA, Daniel. Perfis & Entrevistas. São Paulo, Contexto, 2004) As frases abaixo referem-se à pontuação do texto.

I. A vírgula antes da conjunção “e”, no segmento precisa de hipóteses testáveis, e somente agora deve-se à