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Segunda fase do Direito Processual Civil: Processualismo

2. INFLUÊNCIA CONSTITUCIONAL NO PROCESSO COMO SUPEDÂNEO PARA O

2.1 NEOPROCESSUALISMO O INÍCIO DE UM NOVO PROCESSO

2.1.2 Segunda fase do Direito Processual Civil: Processualismo

Pois bem, com o passar do tempo, segundo Mitidiero201, a fase atécnica

do direito processual foi superada pelo processualismo, momento em que foi criado o conceito de relação jurídica processual, que passa a ser o objeto da ciência processual, aliás, momento em que o processo passa a ser cientifico.

198 OLIVEIRA, Carlos Alberto Álvaro de; MITIDIERO, Daniel. Curso de Processo Civil: Teoria geral do processo civil e parte geral do direito processual civil. Vol. I. Atlas: São Paulo, 2010. p.13.

199 OLIVEIRA, Carlos Alberto Álvaro. Do Formalismo no Processo Civil :proposta de um formalismo- valorativo. 4ª Ed. Saraiva: São Paulo. 2010. p.18.

200 BEDAQUE, José Roberto dos Santos. Direito e Processo: influência do direito material sobre o processo. 6. ed., rev. e ampl. São Paulo: Malheiros, 2011. p. 33.

201 MITIDIERO, Daniel. Bases Para a Construção de um Processo Civil Cooperativo: o Direito Processual Civil no Marco Teórico do Formalismo-Valorativo. Tese do Doutorado defendida perante a Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre 2007. p.20.

Nesta senda, o processo deixa de ser mero procedimento para ganhar autonomia, com a obra de Oskar Von Bülow202, em 1868, convertendo-se na

abstrata relação jurídica, passando a obedecer a critérios próprios de existência e validade.

Por isso, a obra do referido autor é tida como germe do direito processual, pois promoveu sua separação do direito material, proclamando a existência de uma relação jurídica especial entre os sujeitos do processo, juiz, autor e réu, com a inclusão do juiz, diferente do direito material, tendo por objeto o provimento jurisdicional e pressupostos próprios203.

Para Bülow a relação jurídica processual não se confundia com a relação jurídica de direito material em debate no processo, isto porque, poderia existir uma, sem que a outra existisse204, por consequência, o processo separou-se do direito material, ganhando autonomia.

Nessa fase a ação passa a ser um direito público subjetivo autônomo de ir à justiça em busca de uma decisão205. Desta forma, há a evolução do direito

processual de pura técnica para uma ciência, de mero procedimento para o verdadeiro direito processual206. Para tanto, deveria o jurisdicionado cumprir os

pressupostos processuais de existência e validade do processo, bem como superar o óbice da carência de ação.

Outrossim, de acordo com Dinamarco207, o direito processual civil teve

seu objeto específico definido e foi estabelecido um método próprio pra ele. Todavia,

202 BÜLLOW, Oscar von. La teoría de las excepciones procesales y los presupuestos procesales.

Trad. Miguel Angel Rosas Lichtschein. Buenos Aires: Ediciones Jurídicas Europa – América, 1964.

203 BAGGIO, Lucas Pereira.. Formas de Tutela Jurisdicional e a Tutela Condenatória: estudos em homenagem ao professor Araken de Assis. TESHEINER, José Maria Rosa; MILHORNZA, Mariângela Guerreiro e PORTO, Sérgio Gilberto (coord). Instrumentos de Coerção e Outros Temas de Direito Processual Civil: estudos em homenagem aos 25 anos da docência do professor Dr. Araken de Assis. Forense: Rio de Janeiro. 2007. p. 433.

204 BÜLLOW, Oscar von. La teoría de las excepciones procesales y los presupuestos procesales.

Trad. Miguel Angel Rosas Lichtschein. Buenos Aires: Ediciones Jurídicas Europa – América, 1964.

205 MITIDIERO, Daniel. Bases Para a Construção de um Processo Civil Cooperativo: o Direito Processual Civil no Marco Teórico do Formalismo-Valorativo. Tese do Doutorado defendida perante a Faculdade de Direito

da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre 2007. p.22.

206 BEDAQUE, José Roberto dos Santos. Direito e Processo: influência do direito material sobre o processo. 6. ed., rev. e ampl. São Paulo: Malheiros, 2011. p. 34.

207 DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de Direito Processual Civil. Vol. I. Malheiros: São

segundo Mitidiero208, a caracterização de inúmeros institutos processuais dominou a

atenção dos processualistas, que acreditavam estar diante de uma ciência pura, infensa a valores, uma ciência eminentemente técnica.

Por evidente, como alerta Lourenço209, essa busca intensa pela autonomia do processo, com um culto exagerado das formas processuais, acabou por isolar o direito processual civil do direito material (substancial) e por consequência da realidade social.

Deste modo, foi expulso da ciência processual qualquer resíduo de direito material, para justificar o Direito Processual como um ramo autônomo do Direito. Ao passo que, como afirma Oliveira210, se por um lado, o direito processual civil torna-se uma ciência autônoma, por outro, desligou-se do direito material afastando-se da realidade social.

Em outras palavras, nesse período, a tecnicidade era tamanha que o processo passou a perder seu contato com os valores sociais, na medida em que mais preciso ficavam seus conceitos, mais elaboradas as suas teorias, com mais força o processo se distanciava dos seus escopos211, ou seja, como afirma Oliveira212, a ―absoluta separação do direito material e do direito processual acabou comprometendo a finalidade central do processo – servir à realização do direito material com justiça‖.

208 MITIDIERO, Daniel. Bases Para a Construção de um Processo Civil Cooperativo: o Direito Processual Civil no Marco Teórico do Formalismo-Valorativo. Tese do Doutorado defendida perante a Faculdade de Direito

da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre 2007. p.21.

209 LOURENÇO, Haroldo. O neoprocessualismo, o formalismo-valorativo e suas influências no novo CPC. Revista eletrônica. V. 2. N. 2. Fevereiro de 2012. Disponível em: <http://www.temasatuaisprocessocivil.com.br/edicoes-anteriores/55-volume-2-n-2-fevereiro-de-2012>. Acesso em: 20 de abril. 2013. p. 43.

210 OLIVEIRA, Carlos Alberto Álvaro. Do Formalismo no Processo Civil :proposta de um formalismo- valorativo. 4ª Ed. Saraiva: São Paulo. 2010. p. 20.

211 MITIDIERO, Daniel. Bases Para a Construção de um Processo Civil Cooperativo: o Direito Processual Civil no Marco Teórico do Formalismo-Valorativo. Tese do Doutorado defendida perante a Faculdade de Direito

da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre 2007. p.22.

212 OLIVEIRA, Carlos Alberto Álvaro. Do Formalismo no Processo Civil: proposta de um formalismo- valorativo. 4ª Ed. Saraiva: São Paulo. 2010. p. 20.

Ademais, a postura processualista extremada incorreu no grave erro de vislumbrar o processo como medida de todas as coisas, fazendo com que a forma prevalecesse sobre a matéria, fechando o processo em si mesmo213.

Sobre o tema, Sousa Santos214 afirma que, de início, o debate a respeito do direito era se ele se limitava a acompanhar e incorporar os valores sociais e os padrões de condutas da sociedade ou se o direito era uma variável independente, pela qual o direito era um ativo promotor da mudança social, no domínio material, cultural e das mentalidades (acepção do período processualista), contudo, o debate evoluiu, para os que concebem o direito como indicador dos padrões de solidariedade social, garantindo composições harmoniosas dos conflitos, maximizando a integração social para realizar o bem comum, e, de outro lado, os que concebiam o direito como um instrumento de dominação política e econômica, in verbis:

Sem recuarmos aos precursores dos precursores, Giambattista Vico e Montesquieu, é notório que a visão normativista e substantivista do direito domina no século XIX a produção e as discussões teóricas, quer de juristas, quer de cientistas sociais, como hoje lhes chamaríamos, interessados pelo direito. Assim, e quanto aos primeiros, de todos os debates que na época são portadores de uma perspectiva sociológica do direito, ou seja, de uma perspectiva que explicitamente tematiza as articulações do direito com as condições e as estruturas sociais em que opera, o debate sem dúvida mais polarizado é o que opõe os que defendem uma concepção de direito enquanto variável dependente, nos termos da qual o direito se deve limitar a acompanhar e a incorporar os valores sociais e os padrões de conduta espontâneos e paulatinamente constituídos na sociedade, e os que defendem uma concepção do direito enquanto variável independentemente, nos termos da qual o direito deve ser um ativo promotor de mudança social tanto no domínio material como no da cultura e das mentalidades, um debate que, para lembrar posições extremas e subsidiárias de universos intelectuais muito distintos, se pode simbolizar o nomes de Savigny e de Bentham. O mesmo se pode dizer quanto ao debate oitocentista sobre o direito no âmbito da sociologia emergente. Se é certo que se acorda em que o direito reflete as condições sociais prevalecentes e ao mesmo tempo atua conformadoramente sobre elas, o debate polariza-se entre os que concebem o direito como indicador privilegiado dos padrões de solidariedade social, garante da composição harmoniosa dos conflitos por via da qual se maximiza a integração social e realiza

213 OLIVEIRA, Carlos Alberto Álvaro. Do Formalismo no Processo Civil: proposta de um formalismo- valorativo. 4ª Ed. Saraiva: São Paulo. 2010. p. 19.

214 SOUSA SANTOS, Boaventura. Introdução à Sociologia da Administração da Justiça. FARIA, José

o bem comum, e os que concebem o direito como expressão última de interesses de classes, um instrumento de dominação econômica e política que por via de sua forma enunciativa (geral e abstrata) opera a transformação ideológica dos interesses particularísticos da classe dominante em interesse coletivo universal, um debate que se pode simbolizar nos nomes de Durkheim e de Marx.

Portanto, Sousa Santos traz ao debate a situação sociológica do direito (processual), no século XIX, alertando que já começava a surgir uma corrente que se contrapunha as características mais formais do direito.

Por isso, Mitidiero215 afirma que por não conseguir alcançar

concretamente os escopos do processo (social, político e jurídico) a fase do processualismo foi superada pela fase instrumentalista que transformou o processo em método em prol do direito material, visando atender as necessidades sociais e políticas de seu tempo, colocando a jurisdição, não mais a ação ou a relação jurídica, no centro de sua teoria.