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Segundo encontro 02 horas/aula

No documento 2009AndreaBonaUghini (páginas 65-69)

2 DANÇA DE RUA E PROCESSOS EDUCATIVOS

2.4 Primeiro encontro: 02 horas/aula

2.4.1 Segundo encontro 02 horas/aula

Desenvolvimento

Este segundo encontro apresentou uma grande surpresa: quando cheguei ao ginásio, não encontrei ninguém. Preocupada, pensei no que eu poderia ter feito que tivesse assustado o grupo. No entanto, coloquei um CD de hip-hop e comecei a organizar o material. Então, passados alguns minutos, entrou um grupo animado, cujos alunos me cumprimentaram e dirigiram-se ao banco onde deixavam seu material e seus tênis; organizaram-se e dirigiram-se a mim pedindo que eu guardasse seus objetos. Assim como eu fora surpreendida, os meninos também parecerem ter sido, pois questionaram de imediato se não havia vindo mais ninguém. Eu disse que até o momento somente eles estavam ali, mas que, provavelmente, deveria ter acontecido alguma coisa, ou os outros grupos estariam atrasados.

Convidei-os, então, para iniciarmos a aula, formando um círculo para iniciar o aquecimento, e falei sobre o andamento da aula e a sequência de atividades. Iniciamos aquecendo com circunduções e movimentos de soltura de diferentes segmentos corporais. Durante a execução tive de explicar a importância do alongamento –aquecimento, pois o grupo presente era aquele que na aula anterior também reclamara dessa atividade. Contudo, observei que, apesar de questionar, eles o faziam e gostavam. Enfatizei também que, à medida

que eles fossem realizando todas as aulas e que esses movimentos fossem repetidos, a execução iria sendo facilitada e eles, consequentemente, obteriam os benefícios de uma melhor flexibilidade.

Percebi que esse grupo se preparara para vir à aula, o que eles mostraram desde o momento que chegaram, pois estavam “arrumadinhos”, com sua mochila; ao largarem o seu material, tiveram o cuidado de deixá-lo junto, tênis um ao lado do outro, e de colocá-lo embaixo do banco. Alguns estavam de boné, mas não o tiraram; um deles tinha gel no cabelo, sobre o que eles mesmos faziam comentários e brincadeiras, apontando a preocupação do colega com a aparência.

Quando estávamos no final do alongamento, chegou Mortal, que se sentou no banco ao lado do solo. Fui até ele e o convidei para realizar a aula. Ele, acanhadamente, explicou: “Não consegui chegar antes”. Convidei-o, então, para que se juntasse ao grupo; em resposta, ele cumprimentou os meninos e iniciou os movimentos que estavam realizando. Terminada essa etapa da aula, orientei-os para formarem uma coluna como na aula anterior. Expliquei- lhes que repetiríamos o educativo do rolamento e iniciaríamos o educativo para o rodante18, que facilitaria a execução dos movimentos acrobáticos19 da dança.

18 Rodante: movimento de solo da ginástica artística realizado também na dança de rua. 19

Figura 2 - Execução do movimento rodante

Então o grupo iniciou o exercício de rolamento realizando-o algumas vezes. Posteriormente, mostrei-lhes as diversas possibilidades de rolamento corporal e perguntei se conheciam outras, ao que Break declarou: “Não conheço”. Então, orientei-os a realizar aqueles que eu havia mostrado, o que eles fizeram; enquanto isso eu ia corrigindo os movimentos ao mesmo tempo em que verbalmente os incentivava. Depois de experenciados esses movimentos, montei com o material da ginástica a estação para o educativo do rodante. Demonstrei o rodante, enfatizando que era um movimento que na aula anterior eu havia observado que eles já realizavam. Contudo, era preciso melhorar a técnica para que eles economizassem energia e dispusessem dela para se manter mais tempo em atividade. Eles me que o demonstrasse mais uma vez, o que fiz, motivando-os, então, a que o executassem, pois eu os auxiliaria. Posteriormente, organizei-os uma coluna para a realização da atividade, que eles executaram várias vezes.

Depois de realizado o exercício, solicitei ao grupo que mostrasse o trabalho da aula anterior, ou seja, os movimentos que haviam criado para a coreografia. Eles realizaram exercícios de solo individuais e desconectados, não apresentando uma sequência. Mortal, que estava “sozinho”, não quis apresentar nenhum movimento, pois seu grupo não estava presente, porém mostrou interesse pelos movimentos demonstrados pelos colegas e fez várias tentativas de execução destes. Então, propus aos meninos que tentássemos fazer a união de

alguns movimentos acrobáticos com outros mais dançados. Como eles aceitaram, formamos uma meia lua (forma que utilizam para apresentarem o hip-hop), e Break de Chão me deu o CD que havia trazido, do qual escolhemos a música. Assim, um a um ia ao centro e fazia seu movimento; os que ficavam no meio círculo marcavam o movimento com os pés batendo forte, primeiro o direito e depois, o esquerdo, movimento criado ali no momento da aula pelo grupo.

Improvisar consiste na liberação da imaginação durante o processo educacional. O improviso é fundamental para que o indivíduo tome contato e aprenda a lidar com os seus questionamentos, idéias, pensamentos, fantasias, sonhos e com todo o universo simbólico que é ele próprio. A atitude de improvisar seria mais que uma problematização [...]. Enquanto improvisa, o vaivém de sentimentos, pensamentos e ações coloca o indivíduo diante de sua essência e dos caminhos da sua existência. (BARRETO, 2004, p. 45-46).

Depois dessa vivência e finalizando, formamos um círculo e alongamos novamente, momento em que enfatizei o porquê dessa organização de aula. Abri espaço para que eles comentassem do que haviam gostado, o que poderia ser mudado, como imaginavam que poderíamos trabalhar os momentos coreográficos e se havia algum movimento específico da dança de rua que gostariam de treinar para aperfeiçoar.

Somente Giro de Cabeça se manifestou dizendo: “Hoje aproveitei mais a aula, mas a parte dos alongamentos não precisava existir. Eu não gosto dos alongamentos, acho que precisava ter mais tempo para treinar o mortal e a coreografia”. Fiz alguns comentários finais referentes à fala do menino, ressaltando a importância de saber o que eles pensavam para poder atender às expectativas do grupo. Contudo, salientei que algumas atividades eram essenciais, principalmente enquanto estivéssemos treinando os movimentos da dança com os recursos da ginástica, em razão do alto risco de lesões. Eles escutaram, e Mortal com meio Giro perguntou: “Estamos liberados?” Despedindo-me deles, enfatizei que os esperava para o próximo encontro; e entreguei-lhes as passagens; e eles se vestiram, organizaram suas coisas na mochila, se despediram e saíram.

No documento 2009AndreaBonaUghini (páginas 65-69)