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Segundo o estudo, a obediência às regras de paridade é muito maior no Canadá, o que

A EXPERIÊNCIA NO SEGMENTO DE AGÊNCIAS DE VIAGEM ON-LINE (OTAs)

76 Segundo o estudo, a obediência às regras de paridade é muito maior no Canadá, o que

poderia sugerir que cláusulas de paridade ampla são mais eficientes em disciplinar os preços ofertados por hotéis do que cláusulas de paridade mais restrita. Ver: HUNOLD, Matthias; KESLER, Reinhold; LAITENBERGER, Ulrich; SCHLÜTTER, Frank. Evalu- ation of best price clauses in hotel booking. Discussion Paper, n. 16-066, Leibniz Centre for European Economic Research (ZEW), 2017, p. 40.

no monitoramento das autoridades europeias, as taxas de comissão média das principais OTAs não sofreram redução após as restrições de paridade. Segundo os autores do estudo do ZEW, isso poderia ser justificado pelo fato de que, considerando o alto nível de descumprimento das obrigações de MFN, as alterações nas cláusulas teriam efeito prático limitado. Outra pos- sível razão seria que OTAs incumbentes teriam poder para impedir a redu- ção do valor da taxa de comissão no curto prazo.77

Especificamente com relação à Alemanha, onde Booking.com e HRS foram proibidas de aplicar qualquer cláusula de paridade, os resultados do estudo do ZEW indicam impactos mais evidentes. Após tal proibição, segundo esse estudo, mais hotéis passaram a publicar preços no Booking. com, e hotéis que já o faziam passaram a publicar com mais frequência.78

Com relação ao canal direto (website dos próprios hotéis), percebeu-se que mais hotéis passaram a publicar preços de seus canais diretos no site de comparação de preços Kayak e que, com maior frequência, os preços dos canais diretos desses hotéis disponíveis no Kayak eram inferiores aos preços para os mesmos hotéis publicados no Kayak por OTAs. De acordo com os autores, isso seria um indício de que, ausente qualquer restrição de paridade, hotéis tendem a promover mais seus próprios ca- nais de venda.79

Um estudo mais recente realizado pelo Networks, Electronic Commerce and Telecommunications Institute (NET Institute) também colabora para

77 HUNOLD, Matthias; KESLER, Reinhold; LAITENBERGER, Ulrich; SCHLÜTTER,

Frank. Evaluation of best price clauses in hotel booking. Discussion Paper, n. 16-066, Leibniz Centre for European Economic Research (ZEW), 2017, p. 11.

78 HUNOLD, Matthias; KESLER, Reinhold; LAITENBERGER, Ulrich; SCHLÜTTER,

Frank. Evaluation of best price clauses in hotel booking. Discussion Paper, n. 16-066, Leibniz Centre for European Economic Research (ZEW), 2017, p. 39.

79 HUNOLD, Matthias; KESLER, Reinhold; LAITENBERGER, Ulrich; SCHLÜTTER,

Frank. Evaluation of best price clauses in hotel booking. Discussion Paper, n. 16-066, Leibniz Centre for European Economic Research (ZEW), 2017, p. 39.

uma melhor compreensão dos efeitos das restrições às cláusulas MFN no setor de OTAs na Europa. O estudo comparou preços de quartos de hotéis em regiões turísticas da França, Itália e Espanha no período de 2014 a 2016 e foi capaz de verificar uma queda nos preços médios de acomoda- ções entre 2014 e 2015, seguida por um aumento nos preços médios de 2015 a 2016.80 Embora diversos fatores possam ter contribuído para as

variações nos preços dos hotéis das regiões analisadas, a pesquisa indica que a queda nos preços coincide com o início das restrições às cláusulas MFN, enquanto o aumento nos preços coincide com o surgimento de no- vas funcionalidades na plataforma da Booking.com, principal OTA no mercado europeu.81

O estudo realizado pelo NET Institute aponta também para um indício interessante: a queda de preços entre 2014 e 2015 observada no estudo foi mais acentuada na França e na Itália, países que foram mais enfáticos em suas restrições à MFN, do que o ocorrido na Espanha.82 Da mesma forma,

o aumento de preços observado entre 2015 e 2016 foi menor na França e na Itália, quando comparado ao aumento de preços na Espanha.83 Embora di-

versos fatores possam ter influenciado as diferentes curvas de redução e aumento de preços, é possível que isso seja um indício de um efeito benéfi- co das restrições de MFN nos preços finais de quartos de hotéis.

80 MANTOVANI, Andrea; PIGA, Claudio A.; REGGIANI, Carlo. The dynamics of online

hotel prices and the EU Booking.com case. NET Institute Working Paper, n. 17-04, 2017, p. 1.

81 MANTOVANI, Andrea; PIGA, Claudio A.; REGGIANI, Carlo. The dynamics of online

hotel prices and the EU Booking.com case. NET Institute Working Paper, n. 17-04, 2017, p. 5.

82 MANTOVANI, Andrea; PIGA, Claudio A.; REGGIANI, Carlo. The dynamics of online

hotel prices and the EU Booking.com case. NET Institute Working Paper, n. 17-04, 2017, p. 36.

83 MANTOVANI, Andrea; PIGA, Claudio A.; REGGIANI, Carlo. The dynamics of online

hotel prices and the EU Booking.com case. NET Institute Working Paper, n. 17-04, 2017, p. 36.

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Análise da teoria de dano de MFN

em plataformas

Os estudos realizados até agora sobre possíveis alterações no comporta- mento do setor de OTAs após as restrições de paridade que proliferaram por diversos países da Europa são um interessante ponto de partida para avaliar a eficácia de tais medidas. Contudo, cada estudo possui um recorte e pre- missas distintos, assim como diferentes limitações. Por enquanto, ainda não é possível fazer uma análise distanciada, por exemplo, considerando o com- portamento de preços de hotéis e taxas de comissão a longo prazo antes e depois das alterações. Além disso, também não resta claro o poder de OTAs dominantes reagirem a essas alterações, seja pela manutenção das taxas im- postas ou pelo surgimento de novas funcionalidades em suas plataformas. De fato, os elementos trazidos não são contundentes no sentido de indicar se houve ou não um benefício inquestionável ao ambiente concorrencial especificamente por conta das restrições às MFNs.

Diante da atuação incisiva das autoridades antitruste na Europa em re- lação às MFN em plataformas digitais, diversos economistas se propuse- ram a elaborar modelos para testar a teoria de dano implícita na lógica de restrições de paridade, descrita nas seções anteriores. Em modelo elabo- rado por Andre Boik e Kenneth Corts, no qual clientes podem apenas ad- quirir produtos e serviços por meio de plataformas (e não diretamente dos fornecedores), verifica-se que as cláusulas MFN tendem a aumentar as taxas de comissão e o preço final dos consumidores, pois as plataformas possuem incentivos limitados para competir pelos termos que ofertam aos fornecedores (como taxa de comissão).84 Verifica-se também que a entra-

da de novas plataformas se torna mais improvável.85 Esse modelo, apesar

84 Ver: BOIK, Andre; CORTS, Kenneth S. The effects of platform most-favored-nation

clauses on competition and entry. The Journal of Law and Economics, v. 59, n. 1, 2016.

85 BOIK, Andre; CORTS, Kenneth S. The effects of platform most-favored-nation clauses

de suas limitações, corrobora a lógica por trás das diversas intervenções antitruste no setor de OTAs.86

Benjamin G. Edelman e Julian Wright elaboraram um modelo similar ao dos autores supra, porém incluindo a possibilidade de que fornecedores ofertem seus bens ou serviços diretamente ou por meio de uma platafor- ma.87 Esse modelo está mais alinhado ao cenário das OTAs, dado que

hotéis também podem ofertar reservas em seus canais diretos. Os autores verificam que, nos termos de seu modelo, plataformas possuem excessi- vos incentivos para investir em benefícios acessórios e impedir que consumi dores utilizem canais de vendas diretos, ao passo que os preços ten dem a aumentar.88

Ao estudar o tema, Chengsi Wang e Julian Wright consideraram em seu modelo econômico a possibilidade de que consumidores possam fazer pes- quisas em uma plataforma e adquirir o bem ou serviço por meio de outro canal de venda, prática que denominam de showrooming.89 Como visto,

uma das racionalidades econômicas de cláusulas de paridade em platafor- mas seria justamente evitar esse tipo de free-riding por fornecedores e con- sumidores finais. Em seu modelo, os autores demonstram que, não fossem as cláusulas MFN, a possibilidade de que consumidores comprem o bem ou serviço diretamente por um preço inferior reduz o incentivo das plata- formas de cobrar comissões altas, porém pode inviabilizar a existência de tais plataformas. Assim, cláusulas de paridade ampla preveniriam show-

rooming ao custo de reduzir a concorrência entre as OTAs, enquanto cláu-

sulas de paridade restrita poderiam evitar o showrooming e preservar a

86 JOHANSEN, Bjørn Olav; VERGÉ, Thibaud. Platform price parity clauses with direct

sales. Working Papers in Economics, n. 1, 2017, p. 5.