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Segundo momento da investigação – Análise das concepções usando fotografias

B) Perspectiva Ecológica do desenvolvimento humano

4.4. Caracterização das concepções das crianças do Jardim de Infância

4.4.2. Segundo momento da investigação – Análise das concepções usando fotografias

dados, o grupo focal e como instrumento, um conjunto de dez fotografias de cientistas em actividade e ainda questões abertas, como: Pode ser um cientista? Porquê? Ou, porque não? Seguido de desenho produzido individualmente. Este momento foi realizado no Jardim de Infância a 22/03/2006.

Para melhor extrair a compreensão das crianças de ciência e de cientista, far-se-á inferências por fotografia (que se encontram numeradas, em anexo). As inferências parcelares darão origem a uma conclusão geral das concepções e imagens que as crianças têm de ciência e cientista.

Em relação à fotografia numerada com o número um, poder-se-á dizer que as crianças acham que pode ser um cientista porque tem equipamento de cientista e faz coisas de cientista.

E – está a trabalhar

B – [está a trabalhar] num restaurante F – [está a trabalhar] em casa

H – está a cozinhar

C – não! [não está a trabalhar num restaurante, em casa, a cozinhar] está a fazer coisas de cientistas

A – [está a trabalhar] no Jardim de Infância

B – [não trabalha no Jardim de Infância] porque o Jardim de Infância não tem isto [este equipamento]

F – [no Jardim de Infância] eu já fui [cientista no faz-de-conta]

Quanto à segunda fotografia pode tratar-se de cientista porque ele usa um microscópio, tem roupa ou bata branca e tem óculos.

H – eu sei o que é isso . é um microscópio D – está a filmar

T – [acham que] é um microscópio H – está numa sala

C e B – os bichos .

T – [concordam que está a ver os bichos com o microscópio] B – [pode ser um cientista] porque tem esta roupa

T – [a roupa] é dos cientistas

B – [a roupa dos cientistas é especial] é sim senhor C – [os cientistas] usam roupa nova

B – [a roupa dos cientistas] é branca

H – [os cientistas usam roupa branca] usam no trabalho C – [os cientistas usam roupa branca no trabalho] uma bata

A – e tem uns óculos de cientista e tem assim uma coisa [microscópio] T – pode [ser um cientista]

Em relação à fotografia número três, podem ser cientistas porque usam bata branca e tratam de plantas. Por outro lado, o cientista asiático também pode ser porque tem óculos e bata branca.

F – [são] médicos . B – [usam] bata branca .

H – [são] médicos de arranjar as plantas . C – são cientistas de flores .

H – são médicos de cuidar das plantas .

A – [podem ser cientistas] porque têm bata branca .

T – sim [todas as crianças acham que podem ser cientistas] e [o cientista asiático] também pode ser

B – [o cientista asiático também pode ser] porque tem óculos e isto [a bata branca]

Para algumas crianças, para se ser cientista tem que se usar somente bata branca (até pode ser camisola desde que seja branca). Para outras crianças, é possível ser cientista usando bata azul, mais óculos e luvas. Escrever, parece ser uma das funções da actividade dos cientistas, outra é ‘trabalhar’. Evidencia-se que a criança B foi alterando o seu discurso, conforme foi descobrindo possíveis atributos e somando-os à figura do cientista, isto aconteceu ao longo da discussão.

H – [pode ser cientista] porque está a escrever

B – [não é um cientista] porque não tem bata branca . tem bata azul F e E – [pode ser um cientista porque tem] óculos

A – os cientistas só têm bata branca . não têm azul F – [pode ser cientista] porque tem uma camisola branca

B – [pode ser cientista] este aqui atrás [de camisola branca] este aqui [o de bata azul não pode ser]

C – [o cientista de bata azul] tem óculos diferentes e não pode [ser cientista] H – [o individuo de bata azul] é médico de computadores [não é cientista] B – [o individuo de bata azul é médico de computadores] e tem luvas

B – tem de ser [cientista] tem que trabalhar [pode ser cientista porque tem óculos e tem luvas] e escreve .

F – ele [individuo de bata azul não pode ser cientista] está a escrever . dá uma receita E – [individuo de bata azul não pode ser cientista] porque não tem bata branca

Para este grupo o astronauta representado na fotografia número 5, não pode ser cientista, justificando que o astronauta é um salvador o espaço e do mundo e não fazem coisas de cientista. Por outro lado os cientistas não usam um fato como o dos astronautas, não vão para o espaço, nem para a água. Ressalva-se que a criança com o código C mudou a sua posição durante a na discussão.

C – pode [ser um cientista]

A – [não pode ser um cientista] é um salvador do espaço B – [não pode ser um cientista porque] é um boneco H – o salvador do espaço não é assim

C – os cientistas não são assim . [os cientistas] não fazem isso [descobertas no espaço] A – não [é cientista] porque os astronautas não são cientistas

F – [os cientistas] não fazem isso . nem vão para a água A – os astronautas não são cientistas . salvam o mundo H – os cientistas não têm um fato assim

A e B – [os astronautas] salvam o mundo e [os cientistas] trabalham (...) a fazer as coisas que eles têm que fazer

H – ele não pode ser cientista

Decididamente a aparência define tratar-se ou não de cientistas. As crianças acham que os cientistas não usam capuz. As pessoas presentes na fotografia com o número seis, não podem ser cientistas porque não usam bata, nem roupa de cientista. Para a criança D, podem ser cientistas porque têm uma máquina que serve para medir a neve (talvez medir seja uma actividade dos cientistas ou a máquina poderá sugerir o equipamento utilizado na actividade). A criança designada por H mudou a sua posição. Admitia no início que se tratava de cientistas porque estava presente uma máquina e no fim já afirmava que não, porque eles tinham casacos.

H – [podem ser cientistas] porque tem ali uma máquina e eu estou a ver ali alguma coisa . um choque .

F – é uma mulher e um homem .

B – [não podem ser cientistas] porque os cientistas não têm capuz .

H – [não podem ser cientistas] porque têm casaco .

D – [podem ser cientistas] porque isto é uma máquina [e essa máquina] e serve para medir a neve .

Relativamente à fotografia número sete, o mergulhador pode ser um cientista porque, e para a criança H ele tem uma camisola branca (que não é visível, pois tem um fato de mergulhador). Outra razão da escolha prende-se com o facto de salvar e tratar dos peixes. Para as crianças designadas por E e F, não podem ser cientistas porque os cientistas não andam na água, a sua actividade é desenvolvida noutro meio que não no aquático por isso o mergulhador não é cientista.

H – pode ser um cientista (...) porque está a nadar e tem uma camisola que é branca . H – [tem uma camisola branca] mas só que tem outra cor por causa disto que está escuro .

F – [pode ser um cientista] para salvar .

C – [são cientistas porque] eles vão para dentro de água . para verem os peixes . como é que eles estão (...) cientistas de peixes

D – [pode ser cientista] porque está a apanhar peixes

C – [os cientistas apanham peixes] para verem se eles estão bem . e depois deita-os à água

E – [não podem ser cientistas] porque os cientistas não andam na água (...) só trabalham (...) no trabalho .

B – [não pode ser um cientista porque] é um mergulhador .

Mais uma vez o atributo, camisola branca, serve para escolher ser ou não cientista. Para as crianças, duas das quatro pessoas que estão presentes na fotografia número oito, podem ser cientistas porque têm bata branca (trata-se efectivamente de camisa branca). Os outros dois indivíduos não podem ser cientistas porque não têm bata branca.

Nesta fotografia pode estar presente uma família ou, poderão ser pessoas que atendem ao público num banco.

C – estes não são cientistas [porque] atendem as pessoas que vão ao banco . D – acho que estes dois homens são cientistas (...) [porque] têm bata branca . B – [são cientistas, os dois homens] porque têm bata branca .

E – [duas destas pessoas não podem ser cientistas] porque não têm bata branca . H – só podem ser [cientistas] aqueles de camisola branca .

passarinhos e animais. Há outras crianças que acham que não podem ser cientistas exactamente porque os cientistas não tratam de passarinhos e animais, justificando em última estância que não usam bata branca. Para os defensores da versão podem ser, a bata ou a cor não é impeditivo desde que seja azul ou branca.

C – podem [ser cientistas porque estão a tratar do passarinho]

E – [não podem ser cientistas porque] eles não tratam dos passarinhos .

C – também há cientistas de animais [estes podem ser cientistas de animais] (...) estão a tratar deles [passarinhos] (...) vão há caça de animais para tratarem deles . para eles ficarem bem .

E – [não podem ser cientistas] porque eles não tratam de animais . D – não [podem ser cientistas] porque não têm bata branca .

H – o senhor pode [ser cientista, a senhora não pode porque] não tem camisola branca . C – [o cientista] pode ter camisola azul ou branca

H – [o cientista] pode ter camisola azul ou branca

C e H – [os cientistas] podem [tratar dos passarinhos e dos animais]

A última fotografia sugere às crianças, que pode tratar-se de uma cientista, e justificam que ela está a ver bichinhos através do microscópio, usa bata branca, luvas brancas, e, a etnia não é problema porque também há cientistas no Japão.

B – está a ver num telescópio .

F – tem uma coisinha [microscópio] assim

C – há alguma coisinha . e agora está a ver os micróbios H – pode [ser cientista porque] tem bata branca

F – [pode ser cientista porque tem bata branca] e luvas brancas

C – [os cientistas] podem [ser chineses] (...) também há cientistas chineses . também há cientistas no Japão .

Sintetizando: as concepções das crianças sugerem que a ciência e a actividade do cientista apresenta-se quando ele ou ela a praticam e dependem da aparência (óculos, bata branca mas podendo ser azul e luvas), do local de trabalho (exclusivamente laboratório) e do equipamento (laboratório de química e física).

4.4.2.1. Análise do DAST e do que as crianças dizem dos seus desenhos após a implementação das fotografias.

De seguida mostram-se os desenhos de cada criança e as descrições que acompanharam cada desenho, respeitando sempre a linguagem verbal utilizada pelas mesmas. Este momento foi realizado no Jardim de Infância a 22/03/2006.

Ilustração 9 – Desenho de cientistas da criança F, realizado após as fotografias

Ilustração 10 – Desenho de cientistas da criança A, realizado após as fotografias

É uma cientista que vê os dentes dos outros. E depois faz muitas coisas. E depois vai para casa. O fumo sai da casa.

Eu fiz um cientista. Ele está a ouvir música.

Ilustração 11 – Desenho de cientistas da criança G, realizado após as fotografias

Ilustração 12 – Desenho de cientistas da criança D, realizado após as fotografias

O meu cientista está a trabalhar com flores. Ele trabalha fora de casa, no Jardim.

O meu cientista é um homem que está apaixonado.

Ilustração 13 – Desenho de cientistas da criança B, realizado após as fotografias

Ilustração 14 – Desenho de cientistas da criança C, realizado após as fotografias

É um cientista que vai trabalhar para o trabalho dele. Ele vai ver no microscópio.

O meu cientista está a tratar das pessoas.

Ilustração 15 – Desenho de cientistas da criança E, realizado após as fotografias

Ilustração 16 - Desenho de cientistas da criança H, realizado após as fotografias

Para a análise dos desenhos e tomando como referência os indicadores da imagem estereotipada, decorrentes do quadro teórico de referência, não sobressai nenhum estereótipo. Mais uma vez as crianças fizeram desenhos generalistas e aproximado das suas vivências imediatas. Dos comentários que as crianças fizeram dos seus desenhos de

O meu cientista pinta. Está na casa dele a pintar.

É uma mulher cientista e está a regar. Rega sempre, sempre, sempre.

cientistas, sobressai que os cientistas são compreendidos de uma forma muito humana, trabalham, arrumam, pintam e são capazes de se apaixonarem e crêem que os cientistas desenvolvem uma actividade. A actividade desenvolvida pelos cientistas poderá ser, ajudar os outros ou eventualmente, ajudar a crescer uma planta. Há uma criança que refere o microscópio como instrumento de trabalho. No entanto, a actividade científica é sempre desenvolvida de uma forma isolada.

Podendo-se concluir que para este grupo de crianças, a representação gráfica não legitima a descrição feita através do uso das fotografias. Contudo, na descrição verbal sobre as fotografias feita pelas crianças, já se observavam alguns indicadores da imagem estereotipada como: bata branca (nem sempre bata e nem sempre branca, poderia ser também azul), óculos e luvas.

Um outro aspecto relevante no “desenha cientistas” é, a quase duplicação dos desenhos. Isto é, o desenho produzido no segundo momento da recolha de dados é praticamente igual ao primeiro desenho elaborado por cada criança.

4.4.3. Terceiro momento da investigação – Concepções das crianças