• Nenhum resultado encontrado

A Tecnologia e a Natureza da Tecnologia

2.3. Orientações CTS e as suas implicações na educação

2.3.2. A Tecnologia e a Natureza da Tecnologia

A reflexão sobre a Tecnologia é relativamente recente, embora muitos afirmem que a existência desta é tão longa quanto a do ser humano. Na verdade, o que desde sempre existiu foram objectos, artefactos e técnicas de fabrico e de uso (Martins, 2003).

A tecnologia tem sido um motor do desenvolvimento das civilizações, sobretudo desde que se forjou a sua ligação com a ciência. A ciência e a tecnologia modelam as nossas expectativas e formas de pensar (Cachapuz et al., 2002).

Rutherford e Ahlgren (1995) escrevem em “Ciência para todos” que a tecnologia é um empreendimento social complexo, que inclui a investigação, o design, o artesanato, a economia, a gestão a mão-de-obra, o marketing e a manutenção. Usamos a tecnologia para tornar o mundo ao nosso gosto e jeito e neste sentido, a tecnologia amplia as nossas capacidades para mudar o mundo.

Actualmente as sociedades estão repletas de produtos técnicos e “será muito difícil

mesmo identificar algo cuja existência esteja totalmente liberta da influência da tecnologia” Martins, 2003).

É cada vez mais exigido aos cidadãos, a compreensão de fenómenos técnicos que atravessam o quotidiano, o que pressupõe uma cultura tecnológica. A cultura tecnológica designa o conjunto de saberes e de atitudes que permite a incorporação de elementos da tecnologia na cultura socialmente aceite de modo a torná-los relevantes para a vida (Batista, 1991, in Martins, 2003).

Há diferentes maneiras de definir a noção de tecnologia, tratando-se de um conceito cada vez mais complexo, a que se deve ter em conta as mudanças ao longo dos tempos.

Kline (1985) (in Acevedo et al., 2003b) refere diversos significados de tecnologia, tais como: a) o conjunto de produtos artificiais elaborados pelas pessoas; b) os processos de produção; c) os conhecimentos, metodologias, capacidades e destrezas necessárias para

realizar tarefas produtivas; d) o sistema sócio/técnico necessário para poder utilizar os produtos fabricados. Os supracitados investigadores afirmam que a maioria das pessoas só têm em conta as três primeiras acepções e ignoram a importância da última. Nas primeiras visões o que é conhecido é a visão instrumental e de artefactos da tecnologia.

Outras definições mais adequadas contemplam a tecnologia como um sistema complexo, com uma série de componentes heterogéneas que se relacionam entre si (instrumentos e artefactos técnicos, processos de produção, controle e manutenção, questões organizativas, aspectos científicos, assuntos legais, recursos naturais e artificiais, etc.), com as pessoas e o meio ambiente.

Compreender fenómenos técnicos, evidenciados nos artefactos que impregnam a vida diária, tornou-se um imperativo das sociedades modernas pelo que uma cultura científica inclui e deve pressupor uma cultura tecnológica para todos (Martins, 2003).

O conhecimento tecnológico pressupõe uma altitude reflectida que fundamenta a actividade e propõe uma base argumentativa que permite a sua explicação. O conhecimento tecnológico contém uma indissolúvel relação entre teoria e prática que permite novas formas, técnicas e resultados.

Actualmente o conhecimento científico e o conhecimento tecnológico interrelacionam-se. No entanto Niiniluoto (1997) (in Acevedo et al., 2003b) propõe cinco modelos sobre as relações entre ciência e tecnologia, sendo: i) a tecnologia subordina-se à ciência, reduz-se a ela e depende da ciência; ii) a ciência subordina-se à tecnologia reduz- se a ela e depende da tecnologia; iii) a ciência e a tecnologia são mais ou menos o mesmo (conduz ao conceito de tecnociência); iv) a ciência e a tecnologia são ontologicamente independentes; v) a ciência e a tecnologia interagem casualmente, mas são ontologicamente independentes.

Também neste caso, as duas primeiras concepções são, aquelas que representam os estereótipos mais comuns. Em particular a segunda, atribui à tecnologia o valor de uma ciência aplicada, cujos princípios e conceitos derivam e dependem dos princípios, leis e conceitos científicos, remetendo, inevitavelmente, o desenvolvimento tecnológico para uma relação de subalternidade da investigação científica. Esta ideia não é, no entanto, apenas remota. Ela está patente de forma implícita em algumas correntes da filosofia das ciências, em designações ainda frequentes como “ciência pura” e em muitas estratégias

didácticas e livros de texto que após a abordagem de determinados tópicos/conceitos/teorias apresentam os chamados “exemplos de aplicação”. Daí que continue a perdurar a imagem de ciência neutra, estando o conhecimento científico isento de juízos valorativos remetendo-se as questões éticas apenas para as suas aplicações (Acevedo et al., 2003b). É nesta linha que aparecem os críticos da “sociedade tecnológica” que a consideram “desumanizada” (Martins, 2003).

Um dos problemas que enfrentam hoje os nossos jovens e crianças, tem a ver com o que lhes é exigido em termos de compreensão sobre a complexidade e profundidade do mundo, se pensarmos que a grande parte do conhecimento humano foi doado nas últimas décadas.

No sentido de melhorar as práticas de educação tecnológica Acevedo (1998) propõe três dimensões: a técnica, a organizativa e a ideológico-cultural. Sendo que a inclusão das duas últimas dimensões reflectem o significado social da ciência. E é nesta forma social de abordar os problemas tecnológicos que afectam a sociedade, que pode favorecer a participação social para a sua resolução.

Para este investigador, existem três maneiras de abordar o ensino da tecnologia: ensino para a tecnologia (aspectos técnicos como: conhecimentos disponíveis; capacidades e destrezas; técnicas de fabricação e manutenção; ferramentas, instrumentos e máquinas; matérias primas, recursos físicos, etc.). Ensino sobre a tecnologia (ocupam-se de questões socio-tecnológicas, como por exemplo: política tecnológica, mercado, economia, sistemas de recompensa das comunidades de tecnólogos, sistemas de relação entre agentes sociais, distribuição de produtos, usuários e consumidores dos produtos tecnológicos, e ainda finalidades e objectivos da tecnologia, sistema de valores, de códigos e ética, crenças sobre a técnica e o progresso, o papel da criatividade na tecnologia) e o ensino em tecnologia que toma em linha de conta todas as dimensões anteriores (Acevedo, 1998).

Tomando em conta as orientações propostas de Acevedo, a educação tecnológica poder-se-á esquematizar de seguinte forma:

Figura 4. Educação Tecnológica Escolar

Espera-se que com esta proposta de educação CTS, seja capaz de proporcionar aos alunos mais conhecimento, informação e competências para enfrentar a vida. Nesta linha de educação estão contidas o manejo de informação, o trabalho de equipa, a capacidade comunicativa, a resolução de problemas e a tomada de decisões. De forma que os alunos adquiram uma visão mais cientifica e tecnológica do mundo e que seja relevante e ligada à sua vida pessoal e social.

Também o Currículo Nacional – na área da Educação Tecnológica, dá uma particular atenção ao desenvolvimento de uma cultura tecnológica orientada para a promoção da cidadania enquanto utilizador tecnologicamente competente a nível individual, profissional e social, capaz de relevar as dimensões sociais, culturais, económicas, produtivas e ambientais do desenvolvimento tecnológico. Uma análise das competências propostos para cada ciclo de ensino permite-nos concluir que o preconizado para a escolaridade básica em Portugal, segue as orientações duma educação tecnológica com vista a uma cultura tecnológica.

Ciência e Tecnologia são hoje domínios distintos, com profundas inter-relações, influenciando-se mutuamente na forma como consolidam os saberes que lhes são próprios. Do ponto de vista epistemológico e ontológico não é legítimo admitir-se a dominância de um sobre o outro. Resta pois que a ciência escolar saiba como tornar compreensível a inter relação Ciência/Tecnologia.

Convém dar uma olhadela ao que se vem designando pelas novas tecnologias. Pois

Educação sobre tecnologia - Ocupa-se dos aspectos socioculturais.

Educação para a tecnologia - Ocupa-se dos aspectos técnicos.

as novas tecnologias têm sido relacionadas unicamente com os avanças da informática e das telecomunicações. Contudo, os avanços que se expressam socialmente como “novas” têm a sua história e derivam de um amadurecimento cultural e cognitivo. Também se pode considerar novas tecnologias a micro electrónica, a biotecnologia, os novos materiais, a tecnologia química e a mecânica de precisão.

Se o avanço da ciência possibilitou o desenvolvimento de novas tecnologias, fornecendo bases para prever o comportamento de objectos e sistemas técnicos, por outro lado, as novas descobertas científicas aconselham, por exemplo, o fabrico de novos materiais, dando origem a inovações tecnológicas. Neste sentido, a ciência e a tecnologia são campos de trabalho que se cruzam e em muitos casos, convivem intimamente ligadas, verificando-se actualmente uma interdependência entre ciência e tecnologia.