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4. QUESTÕES DE SEGURANÇA NA VENEZUELA

4.3 SEGURANÇA SOCIOAMBIENTAL

O sistema geopolítico na América Latina perpassa por preceitos de soberania interna e externa, com uma rede de atores que se debatem pelo poder no espaço internacional, onde se insere a discussão de uma ecopolítica construída por visões conflitantes e opostas. Há

147 MAYA, Margarita Lopes e LANDER, Luís E., idem, p. 8.

148 SCHAPOSNIK, Eduardo C. As Teorias da Integração e o Mercosul: estratégias. Florianópolis: Ed. da UFSC, 1997, p. 17.

contradições evidentes entre desenvolvimento e proteção ambiental que adentram na área dos conservacionistas e preservacionistas.

Do ponto de vista neoliberal ressaltam-se as empresas multinacionais, que exploram os recursos naturais de forma autônoma, constroem obras de infraestrutura transregionais, aumentam cada vez mais sua representação junto a governos e organizações por meio do exercício do lobby149.

Ao longo das últimas décadas reforçou-se o papel das Organizações Internacionais Supra-Governamentais na América do Sul, assim como dos bancos de desenvolvimento como a CAF. Banco de Desenvolvimento da América Latina, FONPLATA, Fundo Financeiro para o Desenvolvimento da Bacia do Prata, e BID, Banco Interamericano de Desenvolvimento, que influenciam mais diretamente sobre a formulação das políticas nacionais e sobre a própria regionalização transnacional da IIRSA.

A defesa do meio ambiente adentra a transnacionalização das organizações não- governamentais. O papel da sociedade civil, em paralelo ao movimento ambientalista, critica a lógica imediatista de crescimento econômico, com visão clara e contundente de paraísos intocados, e que foram pouco a pouco sendo invadidos, degradados pelos agentes de mercado e pelos Estados Nacionais à custa da degradação ambiental, e da expulsão de comunidades indígenas que habitavam terras milenares, especialmente na Região Amazônica.

Schaposnik doutrina que “a riqueza potencial de suas reservas naturais de pouco serviram frente à aplicação de técnicas que as relegam estrategicamente a um plano secundário” 150. A apropriação de recursos naturais na América do Sul afeta a segurança

socioambiental, engendra conflitos, particularmente no que concerne aos hidrocarbonetos que assumem crescente relevância nas políticas nacionais.

Na Venezuela, a empresa Petróleos de Venezuela (PDVSA) passou por um processo inicial de privatização, mas foi estatizada quando Hugo Chávez tomou posse em 1999, elencando um movimento de reapropriação de uma série de ativos “estratégicos para o país” de empresas estrangeiras151.

Os contenciosos ligados a recursos naturais se estendem pela Bolívia, como a guerra

149 SENHORAS, Elói Martins. Geopolítica dos conflitos socioambientais na América do Sul, Brasília: Boletim

Mundorama, América do Sul, 19.02.2010. Disponível em: http://mundorama.net/2010/02/19/geopolitica-dos- conflitos-socioambientais-na-america-do-sul-por-eloi-martins-senhoras/, 31/10/2014.

150 SCHAPOSNIK, Eduardo C. As Teorias da Integração e o Mercosul: estratégias. Florianópolis: Ed. da UFSC, 1997, p. 18.

151 SENHORAS, Elói Martins. Geopolítica dos conflitos socioambientais na América do Sul, Brasília: Boletim

Mundorama, América do Sul, 19.02.2010. Disponível em: http://mundorama.net/2010/02/19/geopolitica-dos- conflitos-socioambientais-na-america-do-sul-por-eloi-martins-senhoras/, 31/10/2014.

da água e guerra do gás; pelo Equador com a luta contra a contaminação, os abusos e a apropriação assimétrica de benefícios advindos da exploração petrolífera por grandes empresas multinacionais; no Peru, com a importante mobilização de ativistas indígenas e dos movimentos campesinos conhecidos como “cocaleros” em 2005, com a geração de greves e protestos, em virtude de pressões externas para a erradicação dos cultivos de coca e a assinatura de um tratado de livre comércio com os Estados Unidos152. Na Argentina e Chile os projetos de mineração trouxeram no seu bojo uma série de conflitos socioambientais, em face da dinamização da economia mundial, dos marcos jurídicos do setor na década de 1990. No Brasil o maior destaque para as questões ambientais é o Movimento dos Sem-Terra (MST), trabalhadores rurais, que realizam protestos e ocupações de terra em diversos Estados da federação. É através da mobilização social que denunciam o descompasso do programa de Reforma Agrária e das políticas que beneficiam o agronegócio voltado para a exportação; em contraposição ao descaso com a segurança alimentar doméstica, que valoriza a pequena e média produção agrícola. No Paraguai os conflitos sociais envolvem questões de reforma agrária e plantadores brasiguaios que lutam por seus direitos como plantadores de soja; essas tensões afetam as relações entre o Brasil e esse país.

O modelo de desenvolvimento exógeno junto aos países do Mercosul revela uma menor intensidade nos conflitos mas, denuncia um modelo de exportação de commodities dos complexos de mineração e agronegócios, com impactos no meio ambiente. Na análise do processo de integração que se instrumentalizou na América Latina, percebe-se, claramente, que as negociações comerciais não revelam praticidade em países subdesenvolvidos que já mantinham tarifas baixas em produtos que não produziam e superiores a 500% naqueles que se produziam internamente. A Venezuela insere-se nesse contexto, devido aos poucos incentivos, derivados da ausência de políticas comerciais.

É nesse universo amplo de países da América do Sul que se destaca a necessidade do estabelecimento de um modelo de desenvolvimento capaz de articular o crescimento e a geração de emprego; a erradicação da pobreza e a redução das desigualdades; a participação social e ampliação de direitos, a educação e a inovação tecnológica; o uso sustentável e a preservação dos recursos ambientais.

Pensou-se, erroneamente, num só modelo para o mercado comum, calcado numa ideologia reformista conservadora com mudanças muito superficiais, com critérios

152 SENHORAS, Elói Martins. Geopolítica dos conflitos socioambientais na América do Sul, Brasília: Boletim

Mundorama, América do Sul, 19.02.2010. Disponível em: http://mundorama.net/2010/02/19/geopolitica-dos- conflitos-socioambientais-na-america-do-sul-por-eloi-martins-senhoras/, 31/10/2014.

economicistas, desprezando-se o social e o politico, as diferenças regionais, a cultura camponesa, a herança indígena, e os valores da população. Marcos Kaplan destaca que “nesse modelo não se define o significado e o conteúdo da integração, o sistema de valores que se adota, as alternativas possíveis a enfrentar, as opções possíveis, os objetivos e meios, os requisitos internos e externos, os agentes e as resistências, os instrumentos e as consequências” 153.

As crises ideológicas vivenciadas na América Latina atingem os Estados-parte, e pressionam mudanças no alto comando político, e não se restringem unicamente às decisões técnicas dos membros do Mercosul, como é o caso do Brasil.

No que se refere à economia política do desenvolvimento, o Estado brasileiro é o responsável pelo desenvolvimento do setor de energia e, cabe a ele elaborar o planejamento de metas do crescimento energético, assegurando aos consumidores qualidade ímpar nos serviços ofertados, justiça tarifária; inclusive com a construção de novas hidrelétricas. No que tange aos investidores privados, o Estado deve oferecer a segurança jurídica desejada para a aplicação segura de seus recursos financeiros.

Contradições são evidenciadas no discurso governamental, mostrando de um lado, a intenção de renovar seu compromisso com o desenvolvimento sustentável, com metas estratégicas para “crescer e incluir”, articulando o crescimento e a ampliação de direitos. O escopo dessas metas aproveitaria os benefícios da cooperação regional, permitiria a formação de parceiros internacionais, mediante a integração dos países com proximidade geográfica, como forma alternativa para a otimização do setor elétrico brasileiro.

153 KAPLAN, Marcos. El sistema de relaciones políticas y económicas entre los países latino-americanos: tendencias y evolución futura. Revista Integración Latino Americano, n. 108, Diciembre 1985, in: SCHAPOSNIK, Eduardo C. As Teorias da Integração e o Mercosul: estratégias. Florianópolis: Ed. da UFSC, 1997, p. 19.

5. DESAFIOS DO MODELO INTEGRACIONISTA: MOVIMENTO BOLIVARIANO