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3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

3.3 SELEÇÃO DAS EMPRESAS

Esta pesquisa é um estudo de múltiplos casos (MERRIAM, 1998), sendo que os casos deverão ter relacionamentos interorganizacionais do tipo terceirização de ERPs. A escolha desta área para estudo baseia-se no fato de que muitas empresas estão utilizando sistemas de ERP para cortar custos, padronizar as operações e alavancar processos comuns em toda a organização. ERPs permitem que as empresas tenham visões mais convergentes de suas informações através da integração de processos, utilizando um banco de dados centralizado e conjuntos integrados de módulos de softwares (SCOTT; KAINDL, 2000). Assim sendo, o primeiro critério para seleção dos casos foi a existência do processo de compartilhamento do conhecimento entre a fornecedora de ERP e as empresas clientes. Ou seja, o critério de seleção dos casos deve-se ao fato que estes deveriam ser formados por duas ou mais empresas envolvidas em um projeto ou processo de compartilhamento do conhecimento.

Outro critério para a seleção dos casos foi a diversidade de segmentos de atuação das empresas clientes de ERPs para, com isso, tentar evitar a contaminação pelas características especiais de cada segmento de atuação, ou seja, buscou-se reduzir algum eventual viés relacionado aos segmentos de atuação das empresas. Associado a isso, o último critério utilizado para a seleção das empresas clientes de ERPs foi a existência de alguma dependência destas empresas em relação ao software ERP para a implementação de suas estratégias ou operações.

3.4 COLETA DE DADOS E ANÁLISE DOS DADOS

As fontes de informações da pesquisa desta tese foram: entrevistas semiestruturadas, documentos de interesse da pesquisa, tais como: sites, organograma, manuais, documentos sobre política da empresa, código de conduta e ética, entre outros, além da observação direta, visando à triangulação (DUBÉ; PARÉ, 2003), pois a triangulação oferece oportunidades para o pesquisador buscar a convergência dos resultados e observar a sua sobreposição, caso ocorra, e as diferentes facetas de um fenômeno que surgem de várias fontes (CRESWELL, 2007). Ou seja, a observação direta nas empresas, assim como a pesquisa documental, ajuda na complementação das informações coletadas em um estudo de caso (TRIVIÑOS, 1987).

De acordo com Creswell (2008, p. 552), “entrevistas abertas oferecem palavras reais das pessoas no estudo e pode oferecer muitas perspectivas diferentes sobre o tema de estudo e fornecer uma imagem complexa da situação”. Stake (1995, p. 64) sugere que “a entrevista é a estrada principal para múltiplas realidades”, e Simons (2009, p. 43) sugere que as entrevistas permitem que as pessoas “revelem mais do que pode ser detectado ou assumido de forma confiável a partir da observação de uma situação”. Portanto, a entrevista semiestruturada torna-se acessível à interpretação no momento em que é permitido ao entrevistado expressar na forma de resposta aberta o conhecimento existente (FLICK, 2009).

Foram entrevistados CEOs, CIOs e profissionais da área de negócios das empresas pesquisadas, envolvidos com os processos de terceirização da TI. Foram no total, quatro casos com doze empresas e 38 entrevistados, ou seja, cada caso possui três empresas, sendo uma a empresa fornecedora do ERP e duas empresas clientes. As descrições dos perfis das empresas e dos participantes da pesquisa são apresentadas no capítulo 4. As entrevistas foram realizadas durante o período de setembro de 2013 a março de 2014, com duração média de 120 minutos, sendo que a entrevista com duração mínima foi de 86 minutos e a máxima de 3 horas e 11 minutos. As entrevistas, seguiram o roteiro validado pelos especialistas/pesquisadores e o

CIO da Grendene, o mesmo é apresentado no Apêndice C. Todas as entrevistas foram gravadas, com a autorização dos entrevistados e, posteriormente transcritas literalmente.

Quanto à pesquisa documental, Yin (2001) ressalta que esta técnica é importante para corroborar e valorizar as evidências de outras fontes de coleta de dados. A observação segundo Yin (2001) é a técnica de coleta de dados na qual o pesquisador observa, registra e avalia comportamentos ou condições ambientais relevantes, tal como ocorrem, de forma quase simultânea, durante certos períodos de tempo. Num estudo exploratório, a observação é relativamente não estruturada e o pesquisador tende a participar mais da atividade do grupo, enquanto que num estudo descritivo esta situação se inverte (SELLTIZ et al., 1974).

Sendo assim, os documentos analisados foram: sites, organograma, sistemas utilizados, contratos, manuais de procedimentos, normas internas, formalizações de processos, entre outros. Já a observação direta se deu durante as visitas às empresas onde foram observados os processos, as rotinas, enfim as atividades e o funcionamento da mesma.

O desafio da análise de dados qualitativos é dar sentido a grandes quantidades de dados (PATTON, 2002). De acordo com Creswell (2008), análise de dados envolve a coleta de dados em aberto, com base em perguntas gerais para desenvolver uma análise das informações fornecidas pelos participantes. Soy (2010) argumenta que o pesquisador analisa os dados brutos utilizando muitas interpretações para encontrar ligações entre o objeto de pesquisa e os resultados, com referência às questões de investigação originais.

Além disso, a análise de conteúdo é um conjunto de técnicas de análise das comunicações que, pelos procedimentos sistemáticos e objetivos da descrição do conteúdo das mensagens, visa a obter indicadores que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção e de recepção destas mensagens (BARDIN, 2006). Assim, são analisadas as entrelinhas das opiniões das pessoas, não se restringindo unicamente às palavras expressas diretamente, mas também as que estão subentendidas no discurso, na fala ou resposta de um entrevistado (MAYRING, 2001).

A análise de conteúdo deve seguir uma série de etapas precisas, que se inicia pela determinação do universo que será estudado, delimitando e definindo o que estará e o que não estará envolvido (FREITAS; JANISSEK, 2000). A análise de conteúdo seguiu as três etapas da técnica de Bardin (2006): 1) pré-análise: a escolha dos documentos a serem submetidos à análise, a formulação das hipóteses e dos objetivos, e a elaboração de indicadores que fundamentem a interpretação final; 2) exploração do material: os dados brutos são codificados e classificados para que se agrupem os conteúdos; e 3) tratamento dos resultados, inferência e interpretação: os resultados brutos são tratados de maneira a serem significativos e válidos.

Nessa fase é que o pesquisador infere as conclusões. As categorias consideradas foram as dimensões e os elementos identificados com base na estrutura conceitual preliminar (Quadro 17). Sendo assim, esta pesquisa utilizou, para analisar as informações obtidas nas entrevistas, a técnica de análise de conteúdo temática, seguindo o proposto por Bardin (2006).

Neste sentido, após a coleta dos dados, os casos foram analisados individualmente, e posteriormente comparados, buscando convergências e divergências, tentando estabelecer um perfil de comportamento quanto ao compartilhamento do conhecimento, a capacidade absortiva e a inovação nos relacionamentos interorganizacionais. Assim sendo, para operacionalização do tratamento dos dados foi utilizado o software de análise qualitativa dos dados chamado MAXQDA® for Mac, pois o software tem ferramentas para produzir relatórios e resumos, tornando a análise mais precisa, confiável e transparente, sem é claro, fazer a leitura, a reflexão e a interpretação pelo pesquisador (GIBBS, 2009). Os resultados desta fase da pesquisa estão descritos no capítulo 4 deste trabalho.

3.5 CONSIDERAÇÕES SOBRE A VALIDADE E CONFIABILIDADE DA PESQUISA

Nesta tese, com a intenção de sanar eventuais problemas na realização da pesquisa, foram tomados alguns cuidados e procedimentos que aumentarão a validade e a confiabilidade da pesquisa. Foram utilizados os critérios de validade do constructo, validade externa e confiabilidade. A validade interna não foi utilizada, pois não se aplica, uma vez que esta pesquisa é exploratória e a validade interna, segundo Yin (2001), é específica para estudos explanatórios ou causais. O Quadro 18 apresenta os critérios e as ações utilizadas para atendê-los.

Quadro 18 - Validade e Confiabilidade da Pesquisa

Critérios Ações

Validade do constructo  Uso de múltiplas fontes de evidências: entrevista, análise de documentos e observação direta;

 Estabelecimento do encadeamento de evidências: expressado por meio da problemática e oportunidade, estrutura conceitual preliminar, roteiro de entrevista da pesquisa, resultados dos casos e considerações finais;

 Revisão do relatório do estudo de cada caso pelos entrevistados.

Validade Externa  Utilização da lógica de replicação em estudos de casos múltiplos: foram realizados quatro estudos de casos nesta pesquisa.

Confiabilidade  Desenvolvimento de um protocolo do estudo de caso (Apêndice A);

 Desenvolvimento de um banco de dados: no software MAXQDA® para as entrevistas transcritas e codificadas. Pastas específicas da tese para os áudios e textos das entrevistas, documentos e relatos de observações.