Nesta seção avaliam-se os instrumentos de gestão identificados e definidos neste trabalho, referenciado na literatura do Capítulo 3, e faz-se uma comparação com os instrumentos indicados por Marinato (2008).
Instrumentos Identificados
Planos de Recursos Hídricos
• Plano Nacional (PNRH) • Plano Estadual (PERH) • Plano de Bacia Hidrográfica
(PRH) Enquadramento de corpos d'água
Outorga de direitos de uso de Recursos Hídricos Cobrança pelo uso de Recursos Hídricos
Sistemas de Informações sobre Recursos Hídricos
• Sistema Nacional de Informações (SNIRH) • Sistema Estadual de Informações (SERH) • Sistema de Bacia Hidrográfica (SRH) Outras formas de compensação
Compensação a Municípios Fiscalização
Fundos de Recursos
Hídricos • Fundo Estadual para aplicação em bacia Penalidades
Rateio de custos de obras de uso múltiplo Pagamento por Serviços
Ambientais • Produtores de Água • Florestas para a Vida
Instrumentos Selecionados
Plano de Recursos Hídricos de Bacia Hidrográfica (PRH)
Enquadramento de corpos d'água Outorga de direitos de uso de Recursos Hídricos
Cobrança pelo uso de Recursos Hídricos
Sistemas de Informações sobre
Recursos Hídricos de Bacia Hidrográfica (SRH)
Quadro 6 - Instrumentos Seleciona-dos de Gestão de Recursos Hídricos
Quadro 7 – Instrumentos Identificados de Gestão de Recursos Hídricos
O quadro 6 mostra os instrumentos de gestão selecionados para este estudo. Os principais instrumentos de gestão de recursos hídricos identificados na fundamentação teórica, pesquisados no âmbito das políticas nacional e estadual, estão apresentados sumariamente no Quadro 7.
Embora tenham sidos identificados diversos instrumentos de gestão de recursos hídricos na literatura, a definição de instrumentos ficou restrita:
• a Política Nacional de Recursos Hídricos (Lei 9.433/97), considerando-se apenas os cinco instrumentos cujas disposições foram regulamentadas, excluindo portanto a Compensação a Municípios, por tratar-se de instrumento com as suas disposições vetadas no texto dessa Lei. Assim, instrumentos identificados nas políticas estaduais, tais como: Fundos, Pagamento por Serviços Ambientais, Fiscalização, Rateio, entre outros, não fazem parte do escopo deste estudo.
• aos instrumentos Planos de Recursos Hídricos (PRH) e Sistema de
Informações sobre Recursos Hídricos, considerados aplicados a bacias
hidrográficas. No entanto, busca-se examinar estes instrumentos em consonância com os planos e sistemas de informação aplicados no âmbito nacional e estadual.
Assinala-se que os instrumentos de gestão de recursos hídricos selecionados coincidem com os apontados no trabalho científico de Marinato (2008), intitulado “Integração entre a gestão de recursos hídricos e a gestão municipal urbana: estudo da inter-relação entre instrumentos de gestão”.
Vale lembrar que esse estudo realizou um levantamento dos instrumentos de gestão, organizando-os em grupos de acordo com seus objetivos afins, e criou uma matriz lógica, representando por meio de diagrama a interconexão da gestão de recursos hídricos e a urbana municipal, com o objetivo de integrar os instrumentos agrupados.
Assim, na análise do estudo de Marinato (2008), com a literatura examinada, observa-se:
• o caráter prospectivo exploratório do trabalho que levou à identificação e seleção de instrumentos de gestão que, apesar de limitados ao aspecto legal e à esfera nacional, são convergentes com as estratégias36 para implantação da Política Nacional de Recursos Hídricos e da Política de Desenvolvimento Urbano37;
• a importância da temática, ampliando o debate quanto à inserção e envolvimento do município na concretização da gestão sustentável das águas na bacia hidrográfica, conforme apontado na revisão bibliográfica;
• a apresentação das múltiplas inter-relações entre os instrumentos de gestão das águas e das cidades, mesmo se restrita à afinidade entre os seus objetivos, promovendo avanços quanto às possibilidades das articulações38.
Percebe-se que os resultados de Marinato (2008) são representativos com relação aos instrumentos de gestão e suas inter-relações, propiciando subsídios para aprofundar e detalhar os aspectos legais e institucionais dos mesmos, conforme estabelecido no Objetivo Específico (Capítulo 2).
Cabe destacar que a definição dos vários instrumentos de gestão urbana baseou-se primordialmente na Lei Federal 10257/2001, e ficou restrita:
• a Política Urbana, expressa no Estatuto das Cidades, excluindo os instrumentos regulados ou regulamentados pelas Políticas Nacionais de Meio Ambiente, de Saneamento Ambiental e outras políticas intervenientes na gestão de recursos hídricos. Decorrentes disto, alguns instrumentos relevantes não foram abordados, como o Estudo de Impacto Ambiental – EIA (meio ambiente local) e a Unidade de Conservação (UC), entre outros.
36 Cf. MMA. Plano Nacional de Recursos Hídricos: Estratégias de Implementação do PNRH. Brasília, 2006b. p. 28 e 29.
37 A 3a Conferência Nacional das Cidades aprovou, entre outras, a seguinte proposta para as Intervenções Urbanas e a Integração de Políticas: “Fortalecer e incentivar parcerias e consórcios intermunicipais, viabilizando recursos para o desenvolvimento de políticas públicas integradas, tais como: planejamento, recursos hídricos, [...]” (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2008). p. 29
38 Constatação do professor doutor Oscar de Moraes Cordeiro Netto da UnB, que ressaltou, entre outras, a pertinência do tema, o valor científico do trabalho e a originalidade das proposições, durante avaliação da defesa em 29.08.08 (informação verbal).
O Quadro 8 apresenta os instrumentos de gestão urbana, indicados e agrupados por Marinato (2008); em paralelo, mostram-se as alterações e reagrupamentos dos instrumentos utilizados na presente pesquisa em relação ao referido trabalho.
Na análise dos instrumentos de gestão urbana, adotaram-se tanto os instrumentos quanto os agrupamentos estabelecidos por Marinato (2008) por julgá-los pertinentes aos objetivos do presente trabalho e devidamente respaldados pela ampla bibliografia.
No entanto, foram necessárias alterações específicas, destacando-se:
• eliminação do instrumento Operações Interligadas do grupo Ordenamento Territorial, pois não consta como instituto no artigo 4 da Lei Federal 10.257/01, delimitada na abrangência39 da pesquisa;
• inclusão do instrumento Concessão de Direito Real De Uso (CDRU) no grupo Regularização Fundiária por se tratar de instituto importante do estatuto da cidade, foco deste trabalho;
• união do Zoneamento e Lei de Uso e Ocupação, por se tratar de um único
instrumento;
• exclusão das Zonas Especiais de Interesse Social (ZEIS), como instrumento
do Grupo Regularização Fundiária, pois o mesmo é detalhamento do instrumento Zoneamento. Embora as ZEIS sejam de grande relevância para este grupo;
• renomeação do grupo 5 – Ordenamento Territorial para Indução do
Desenvolvimento Urbano – retificação de nome estabelecido por Marinato
(2008) devido à pertinência e unanimidade na literatura em adotar o nome atual para este grupo de instrumentos.
Consideraram-se os instrumentos de gestão democrática estabelecidos no Estatuto da Cidade contemplados neste trabalho, por serem premissas à participação social e a descentralização.
INSTRUMENTO DA GESTÃO URBANA IDENTIFICADO POR MARINATO (2008) GRUPO Instrumentos de gestão PLANEJAMENTO ● Plano de Governo ● Plano Estratégico ● Plano Setorial ● Plano Diretor ● Plano Plurianual ACOMPANHAMENTO DAS AÇÕES DO GOVERNO
● Lei de Diretrizes Orçamentárias - LDO ● Lei de Orçamento Anual -LOA ● Orçamento Participativo
CONTROLE DAS AÇÕES DE
GOVERNO
● Lei de Responsabilidade Fiscal - LRF ESTRUTURAÇÃO E QUALIFICAÇÃO TERRITORIAL ● Macrozoneamento ● Zoneamento ● Lei de Parcelamento do Solo ● Lei de Uso e Ocupação do Solo
ORDENAMENTO TERRITORIAL
● Parcelamento, Edificação ou Utilização Compulsórios ● IPTU Progressivo ● Desapropriação para Fins de Reforma Urbana ● Consórcio Imobiliário ● Direito de Superfície ● Outorga Onerosa do Direito de Construir - Solo Criado ● Operações Interligadas ● Transferência do Direito de Construir ● Operações Urbanas Consorciadas ● Direito de Preempção ● Estudo de Impacto de Vizinhança - EIV REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA
● Zonas Especiais de Interesse Social - ZEIS ● Usucapião Especial de Imóvel Urbano ● Concessão de uso especial para fins de moradia- CUEM
REGULAÇÃO DA OCUPAÇÃO PARA O
USO
● Código de Obras ● Código de Posturas ● Código de Vigilância Sanitária
TRIBUTÁRIO
● IPTU ● ITBI ● ISS ● Taxas de Polícia e de Serviços ● Contribuição de Melhorias
Quadro 8 - Instrumentos da Gestão Urbana
INSTRUMENTO DA GESTÃO URBANA UTILIZADO NO PRESENTE TRABALHO GRUPO Instrumentos de gestão PLANEJAMENTO ● Plano de Governo ● Plano Estratégico ● Plano Setorial ● Plano Diretor ● Plano Plurianual ACOMPANHAMENTO DAS AÇÕES DO GOVERNO ● Lei de Diretrizes Orçamentárias - LDO ● Lei de Orçamento Anual LOA ● Orçamento Participativo
CONTROLE DAS AÇÕES
DE GOVERNO ● Lei de Responsabilidade Fiscal - LRF
ORDENA- MENTO TERRITO- RIAL Estruturação e Qualificação ● Macrozoneamento ● Zoneamento / Lei de Uso e Ocupação do Solo e ● Lei de Parcelamento do Solo Ambiental
Urbano ● Estudo de Impacto de Vizinhança - EIV Regulação
da Ocupação para o Uso
● Código de Obras - Edificação ● Código de Posturas-Costumes ● Código de Vigilância Sanitária
INDUÇÃO DO DESENVOLVIMENTO URBANO ● Parcelamento, Edificação ou Utilização Compulsórios ● IPTU Progressivo ● Desapropriação para Fins de Reforma Urbana ● Consórcio Imobiliário ● Direito de Superfície ● Outorga Onerosa do Direito de Construir - Solo Criado ● Transferência do Direito de Construir ● Operações Urbanas Consorciadas ● Direito de Preempção REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA ● Usucapião Especial de Imóvel Urbano ● Concessão de uso especial para fins de moradia - CUEM ● Concessão de direito real de uso - CDRU TRIBUTÁRIO ● IPTU ● ITBI ● ISS ● Taxas de Polícia e de Serviços ● Contribuição de Melhorias
Foram realizadas outras alterações, baseadas nas sugestões de especialistas com atuação na gestão das águas e na gestão urbana, como resultado de suas participações durante a fase de avaliação do modelo conceitual. As considerações feitas por esses profissionais, de vasta experiência, referem-se à forma e à reordenação de um dos grupos de instrumentos urbanísticos, refletindo uma visão mais apurada e uma abordagem voltada à aplicação prática.
Em decorrência disto, foram incorporados ao trabalho alguns ajustes que contribuíram para aprimorar os agrupamentos e reposicionar o grupo Ordenamento
Territorial, subdividindo-o em Estruturação e Qualificação, Ambiental Urbano e
Regulação da Ocupação para o Uso.
Assim, a análise comparativa forneceu subsídios para a definição dos cinco instrumentos de gestão de recursos hídricos e dos trinta e quatro da gestão urbana, bem como seu agrupamento. Essa seleção mostrou-se adequada aos objetivos de aprofundar o conhecimento dos instrumentos de gestão, tendo em vista sua integração. E ainda apresenta-se ratificada pela literatura e em convergência com as estratégias para implementação de instrumentos de ambas as políticas.