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CAPÍTULO I – CAMINHOS SEMIÓTICOS 20 

1.3.  Semiótica das Imagens 44 

A Semiótica, vista como a Teoria Geral dos Signos, tem sido utilizada em áreas específicas. Por exemplo, é possível falar a respeito da semiótica da cultura, semiótica da canção, semiótica da cultura, biossemiótica (semiótica aplicada à biologia) etc. A partir daí, seria possível falar de uma semiótica da imagem, disciplina que trataria das relações signicas referentes a sistemas onde a imagem seria compreendida como uma linguagem.

Assim como os conceitos de representação, a imagem também foi definida historicamente de formas bastante diferenciadas, sendo mesmo a ser identificada como um tipo de representação. Santaella afirma que as imagens fazem parte de dois domínios, o visual e o mental e, em qualquer um deles a imagem necessariamente tem a condição de representar ou querer representar algo:

O mundo das imagens se divide em dois domínios. O primeiro é o domínio das imagens como representações visuais: desenhos, pinturas, gravuras, fotografias e as imagens cinematográficas, televisivas, holo e infográficas pertencem a esse domínio. Imagens, nesse sentido, são objetos materiais, signos que representam o nosso meio ambiente visual. O segundo é o domínio imaterial das imagens em nossa mente. Neste domínio, imagens aparecem como visões, fantasias, imaginações, esquemas, modelos ou, em geral, como representações mentais. (SANTAELLA e NÖTH, 2007, p. 15).

Os dois domínios, o visual, material ou físico, por assim dizer e o mental ou imaterial estão inexoravelmente ligados, não podendo um existir sem o outro, pois para uma imagem existir, primeiro precisou existir no nível mental. Para Peirce, a noção de imagem passa necessariamente pela compreensão de suas categorias; dessa forma, uma imagem teria todo o potencial em si para ser entendida como um signo, pois um signo na visão peirceana, pode ser qualquer fenômeno presente que se apropria do lugar de um ausente. O relacionamento dos signos com os seus objetos de representação tem a sua dinâmica própria, além disso, o processo de significação do signo peirceano passa por uma série de sucessivas interpretações ad infinitum, em um encadeamento compreendido como semiose. Tendo em vista a tricotomia de Peirce: ícone, índice, símbolo; uma imagem poderia estar mais ou menos identificada com algum desses

elementos. Como é possível aplicar os conceitos da semiótica peirceana nas imagens? A partir da figura abaixo “pegadas na areia”, introduzo alguns conceitos semióticos e procurarei dar uma visão panorâmica da aplicação das classes de signos.

Figura 3 - Pegadas na Areia

Fonte: “Pegadas na areia”-http://www.oocities.org/br/veve1109/pegadas/pegadas.html.

O primeiro elemento da tricotomia a ser mencionado será o índice. De acordo com Peirce, um índice é um signo que se refere ao objeto em virtude de ser afetado pelo mesmo (CP 2.247). Existe, portanto, certa materialidade nessa relação. Na figura acima, as marcas deixadas na areia indicam que alguém passou por aquele local. Percebe-se, então, que existe certo grau de conexão física do signo como o seu objeto. Na figura acima, as pegadas representadas são um gesto estritamente físico.

Em relação ao próximo elemento da tricotomia a ser comentado, não existe uma conexão física em sua natureza. O ícone, segundo Peirce, é um tipo de signo que mantém uma relação com o seu objeto em virtude de sua aparência, ou seja, relação por semelhança: as qualidades formais do signo a qual o ícone se refere assemelham-se às qualidades formais do objeto. De acordo com Peirce,

“Um ícone é um signo que se refere ao objeto que denota apenas em virtude dos seus caracteres próprios, caracteres que ele realmente possui, quer um tal objeto realmente exista ou não. Um índice é um signo que se refere ao objeto que denota em virtude de ser realmente afetado por esse objeto. Um símbolo é um signo que se refere ao objeto que denota em virtude de uma lei”. (CP 2.247: 248-249)

Figura 4 – imagem da obra Natureza-Morta com maçãs e laranjas, 1895-1900, de Paul Cézanne. Óleo

sobre tela, 74 x 93 cm. Musée d’Orsay, Paris – França.

Fonte: “Musée d’Orsay”- www.musee-orsay.fr (padronização)

Inevitável não fazer uma associação quase que imediata dos objetos representados na pintura de Cézanne com os objetos reais. As maçãs e laranjas nessa pintura podem ser entendidas como ícones ou hipoícones, pois cumprem com o conceito de representar por semelhança. Peirce fala a respeito de três níveis de iconicidade, para ele hipoícones. Segundo Chiachiri (2010), pesquisador com vários trabalhos publicados na área de semiótica e professor da Faculdade Cásper Líbero:

Hipoícone-imagético – de primeiro nível (ou ícone-imagem): é um signo que representa um objeto porque possui um conjunto de qualidades aparentes, similares à de seu objeto [...] Hipoícone-diagramático – de segundo nível (ou ícone-diagrama): é um signo que representa seu objeto porque apresenta semelhança com as relações internas dele [...] Hipoícone-metafórico – de terceiro nível (ou ícone-metáfora): é um signo que apresenta uma relação de semelhança de significado, conceitual. (CHIACHIRI, 2010, p. 39-40).

No primeiro nível, ou seja, o signo como hipoícone-imagético, a semelhança se dá por causa da representação das frutas, os traços, as cores; desenhos e pinturas figurativas por si só, já são imagens. As relações internas da pintura caracterizam o segundo nível, ou hipoícone-diagramático, os gráficos em geral são tidos como diagramas. O segundo nível é o nível do existente, nesse caso são as relações internas da pintura que se relacionam com as relações internas do objeto representado. O terceiro nível, ou hipoícone-metafórico, referem-se às questões do significado ou conceitos, comparações, metáforas ou analogias.

O terceiro elemento da tricotomia em questão é o símbolo. O símbolo na concepção peirceana é um signo que carrega em si o caráter do convencional, que significa por pura convenção, traz o aspecto da lei, não representa por semelhança ou possui conexões físicas com o objeto.

  Figura 5 - Trecho de uma Partitura de Beethoven

Fonte: “Sem corpo nenhum” - http://semcorponenhum.blogspot.com.br/2011_02_01_archive.html

A figura acima mostra um sistema de notação musical tradicional. Trata-se de um símbolo no mais estrito conceito peirceano. Uma das características do símbolo é que este tipo de signo precisa ser uma convenção cultural, precisa ser aprendido, aceito e reconhecido. A partitura mostrada acima, não só pode ser entendida como um símbolo ela mesma, como carrega em si uma série de outros símbolos: clave, armadura, acidentes, figuras musicais, sinais de dinâmica e outros símbolos que caracterizam um sistema musical tradicional (pentagrama ou uma pauta musical).

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