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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO - PUC-SP Programa de Estudos Pós-Graduados em Comunicação e Semiótica Antonio Marcos da Silva

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Antonio Marcos da Silva

A imagem nos sites institucionais:

Um estudo semiótico sobre interfaces digitais interativas em ambientes hipermídia.

Mestrado em Comunicação e Semiótica

(2)

A imagem nos sites institucionais:

Um estudo semiótico sobre interfaces digitais interativas em ambientes hipermídia.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Semiótica da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Comunicação e Semiótica, sob a orientação da Professora Dra. Lucia Isaltina Clemente Leão.

Mestrado em Comunicação e Semiótica

(3)

1   

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO – PUC/SP 

PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS‐GRADUADOS EM COMUNICAÇÃO E SEMIÓTICA   

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO  ANTONIO MARCOS DA SILVA 

ORIENTADOR: LÚCIA ISALTINA CLEMENTE LEÃO 

TEMA: A IMAGEM NOS SITES INSTITUCIONAIS: UM ESTUDO SEMIÓTICO SOBRE INTERFACES  DIGITAIS INTERATIVAS EM AMBIENTES HIPERMÍDIA. 

 

ERRATAS   

ABREVIATURAS E SIGLAS UTILIZADAS 

 

MS – Manuscritos citados de acordo com a paginação do Institute for Studies in Pragmaticism  (Peirce, 1931‐1958). Errata: retirar informações em parêntesis. 

 

INTRODUÇÃO   

Pg. 15, parágrafo 1. Onde descodificar, leia‐se decodificar; parágrafo 2. Onde Essa, leia‐se  Esta; onde esse, leia‐se este; parágrafo 4. Onde essa, leia‐se esta; parágrafo 5. Onde Essa, leia‐ se Esta

Pg. 16, parágrafo 4. Onde “Uma das grandes preocupações de Peirce era com a taxonomia das  ciências e com as categorias gerais do pensamento”, leia‐se: “Das grandes preocupações de  Peirce,  uma  era  com  a  taxonomia  das  ciências  e  outra  com  as  categorias  gerais  da  experiência”.         

CAPÍTULO 1 

  

Pg. 23, parágrafo 2. Onde significante, leia‐se signo.     

Pg. 27, parágrafo 2.   Onde (...) mas em relação às máquinas (...), acrescentar: (...) mas em  relação às máquinas.  Quando a comunicação se dá no universo humano, Eco afirma:      Pg. 31, parágrafo 3. Onde (...) aos conceitos, leia‐se ao conceito; parágrafo 4. Onde Isso está  de acordo com Fidalgo, leia‐se: Isso está de acordo com Morris. 

Pg. 33, parágrafo 3. Onde (...) a mesma disciplina, leia‐se Lógica. 

Pg. 35, parágrafo 1. Onde ideias, leia‐se ideais; parágrafo 5. Onde (...) está voltada para o que  belo, leia‐se (...) está voltada para o que é belo. 

Pg. 43, parágrafo 3. Onde meio, leia‐se mediação.  Pg. 48, citação. Onde Lasbeck, leia‐se Iasbeck.  Pg. 49, parágrafo 1. Onde Esse, leia‐se Este.   

CAPÍTULO 2 

 

Pg. 54, parágrafo 1. Onde “A máquina continha uma vasta biblioteca com notas pessoais,  fotografias e projetos. Possuía inúmeras telas (...)”, leia‐se: “A máquina continha uma vasta  biblioteca com notas pessoais, fotografias e projetos; possuía inúmeras telas (...)”. 

Pg. 80, parágrafo 4. Onde “(...) como uma referência á conexão humana (...)”, leia‐se: “(...)  como uma referência à conexão humana (...)”.  

Pg. 81, parágrafo 1. Onde maquinas, leia‐se máquinas.   

(4)

2   

CAPÍTULO 3 

 

Pg. 96. Citação sem aspas (corrigir).  Pg. 99, citação 1, retirar (repetida).  Pg. 100, citação 2 – retirar aspas. 

Pg. 104, parágrafo 4. Onde “O site é composto primordialmente pelas cores vermelho e  branco (...)”, leia‐se: “O site é composto primordialmente pelas cores vermelha e branca (...)”.  Pg. 108, parágrafo 2. Onde “Um detalhe interessante á a nuance (...)”, leia‐se “Um detalhe  interessante é a nuance (...)”. 

Pg.  125,  citação.  Onde  (COLAPIETRO,  1993:  34),  leia‐se:  (COLAPIETRO,  1993:34  Apud  SANTAELLA, 2004:168). 

 

BIBLIOGRAFIA 

 

Pg. 147. Onde REFERÊNCIAS BIBILIOGRÁFICAS, leia‐se REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.  Pg. 148. Acrescentar: 

COLAPIETRO, Vincent. Immediacy, opposition, mediation: Peirce on irreducible aspects of the  communicative process. Em: Recovering Pragmatism’s voice: The classical tradition, Rorty, and  the philosophy of communication, Lenore Langsdorf e Andrew Smith (orgs.). Albany: N. York.:  SUNY Press, 1983. 

Pg. 150. Onde (…) On linguistic aspects of translation, in language in literature (…), leia‐se: (…)  On linguistic aspects of translation, in language & literature (…). 

Pg. 152. Acrescentar:  

PLATON, Cratyle, Paris: Les Belles Lettres, 1969.  

Pg. 153. Onde (…) Lógica como ciência (…), leia‐se: (…) Lógica como semiótica (…). Onde (…)  Matrizes  da  linguagem  e  pensamento,  sonoro,  visual,  verbal  (...),  leia‐se:  Matrizes  da  linguagem e pensamento, sonora, visual, verbal (...). 

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digitais interativas em ambientes hipermídia, como exigência parcial para a obtenção do título de Mestre em Comunicação e Semiótica, sob a orientação da professora Dra. Lúcia Isaltina Clemente Leão, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

Parecer:

São Paulo, _____ de _____________________ de 2012

Banca Examinadora:

Prof. Dra. Lúcia Isaltina Clemente Leão (Orientador) ___________________________

Prof. Dr. Antonio Roberto Chiachiri Filho ____________________________________

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À minha orientadora, Profª Dra. Lucia Isaltina Clemente Leão, por acompanhar meu trajeto, respeitando o tempo e o ritmo da minha produção e por proporcionar momentos de discussão enriquecedores e de aprendizagem.

Aos convidados para compor a comissão examinadora, Prof. Dr. Antonio Roberto Chiachiri Filho e Prof. Dr. Cassiano Terra Rodrigues, que, por ocasião da banca de qualificação, ofereceram importantes contribuições para este estudo.

Aos funcionários da secretaria do Programa de Estudos Pós-Graduados em Comunicação e Semiótica, pela atenção e eficiência como atenderam às minhas solicitações. À Cida, carinhosamente.

Aos meus colegas de sala e à Profª. Dra. Lucia Santaella, por ter despertado especialmente o desejo de me aproximar dos estudos relacionados à Semiótica Peirceana.

Aos meus familiares, especialmente a minha avó materna, já falecida.

À coordenação de aperfeiçoamento de pessoal de nível superior – CAPES, por ter permitido e contribuído significativamente para que essa pesquisa se efetivasse.

(7)

“Assim, vemos surgir a nossa esperança naquilo que provoca o desespero do pensamento simplificativo: o paradoxo, a antinomia, o círculo vicioso. Entrevemos a possibilidade de transformar os círculos viciosos em ciclos virtuosos, que se tornem reflexivos e geradores dum pensamento complexo. Donde a ideia que nos guiará à partida: não devemos romper as nossas circularidades, devemos, pelo contrário, ter o cuidado de não nos desprendermos delas. O círculo será a nossa roda, a nossa estrada será uma espiral”.

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A Imagem nos sites institucionais: um estudo semiótico sobre interfaces digitais interativas em ambientes hipermídia.

A imagem é tema de pesquisa em diversos campos do saber. História da arte, estética, antropologia, teoria da mídia, cultura e iconologia são alguns dos territórios que discutem a prevalência da imagem na cultura contemporânea, ou “Picture turn”, nas palavras de W.J.T. Mitchell. Nos estudos da comunicação e semiótica, a imagem é compreendida como um tipo de signo (Santaella e Nöth). O objetivo principal dessa pesquisa é estudar o papel das imagens nos processos comunicacionais de sites institucionais, discutindo, especificamente, questões referentes aos processos de criação de interfaces digitais interativas. Como as imagens auxiliam no processo de construção de significado e na eficácia comunicacional de uma instituição? O trabalho tem natureza interdisciplinar e se fundamenta em dois vetores: 1- conceitos de hipermídia e interfaces digitais, na leitura de Lucia Leão, Lúcia Santaella, Marcus e Engelbart, considerados fundamentais para a natureza desta pesquisa por se tratar do objeto de análise; 2- a semiótica de linha peirceana, para o estudo analítico de seus objetos empíricos (sites institucionais), em conformidade com seus comentadores críticos: Cassiano Terra Rodrigues, Roberto Chiachiri, Santaella, Colapietro, Andersen e Eco.

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The Image in institutional sites: a semiotic study on interactive digital interfaces in hypermedia environments.

The image is the subject of research in various fields of knowledge. Art history, aesthetics, anthropology, media theory, culture and iconology are some of the territories that discuss the prevalence of the image in contemporary culture, or "Picture turn" in the words of WJT Mitchell. In studies of communication and semiotics, the image is understood as a kind of sign (Santaella and Nöth). The main objective of this research is to study the role of images in the communication processes of institutional sites, discussing, specifically, issues related to the processes of creating digital interactive interfaces. How do images assist in the construction of meaning and communication effectively in an institution? The work has an interdisciplinary nature and is based on two vectors: 1 - concepts of hypermedia and digital interfaces, according to Lucia Leão, Lucia Santaella, Marcus and Engelbart, considered fundamental to the nature of this research because it is the object of analysis, 2 - Peircean semiotics for the analytical study of its empirical objects (institutional sites) in accordance with their critical commentators: Cassiano Rodrigues Terra, Roberto Chiachiri, Santaella, Colapietro, Andersen and Eco.

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Figura 1 - O signo linguístico saussureano ... 24

Figura 2- Gráfico Utilizado por Santaella ... 41

Figura 3 - Pegadas na Areia ... 45

Figura 4 – imagem da obra Natureza-Morta com maçãs e laranjas, 1895-1900, de Paul Cézanne. Óleo sobre tela, 74 x 93 cm. Musée d’Orsay, Paris – França. ... 46

Figura 5 - Trecho de uma Partitura de Beethoven ... 47

Figura 6 – Interface – Arte Digital ... 51

Figura 7 - Esboço do dispositivo MEMEX proposto por Vannevar Bush em 1945 ... 54

Figura 8 - Esquema do H-LAM/T ... 57

Figura 9 – Modelo de documento do Xanadu ... 59

Figura 10 - modelo básico de dados de hipermídia aberta ... 61

Figura 11 - Esquema de hipermídia mostrado por Rivinl, 1994 ... 67

Figura 12 – Gráfico Modelo de Hipermídia ... 69

Figura 13 - Quadro proposto pelo professor Daniel Schwabe (Dep. de Informática, PUC-Rio) ... 71

Figura 14 - Sound Forge 9.0 - Software de edição de áudio ... 73

Figura 15 - IRIDAS FrameCycler - Software para Edição de Vídeos ... 73

Figura 16 - Quick Time X, da Apple ... 74

Figura 17 - Utilitário de Configuração de áudio MIDI ... 74

Figura 18 - X 11 - Dispositivo para acesso a ferramentas em ambiente UNIX ... 75

Figura 19 - Aplicativo Bluetooth da Apple ... 75

Figura 20 - Synfig Studio - Software de edição de Imagens ... 76

Figura 21 - Free Video - Editor de Video ... 77 

Figura 22 - Game Tekken 3D Prime Edition ... 79

Figura 23 - G-Speak – ambiente operacional espacial – MIT’s media laboratory – homem interagindo com interface. ... 82

Figura 24 - Configuração de variáveis em ambiente Windows para instalação do Java.83 Figura 25 – Gravação de áudio por meio do software Pro Tools ... 84

Figura 26 – Interface do OXS Lion, da Apple ... 85

Figura 27 – Interface do Windows 8 (2011)... 85

Figura 28 - Interface do Ubuntu 11.04 “Natty Narwhal” ... 86

Figura 29 - Dispositivo programado para explodir (Dinamite) ... Erro! Indicador não definido. Figura 30 – Linksys (Cisco) Wired Router ... 87

Figura 31 - Belkin - Dlink/broadband wireless router ... 88

Figura 32 - Página Inicial do Site Oficial do Bradesco...103

Figura 33 - Imagem: Bradesco Internet Banking ... Erro! Indicador não definido. Figura 34 – Imagem referente ao item financiamento de veículos Bradesco ... 109

Figura 35 - Serviços Bradesco ... 113

Figura 36 - Web Page oficial da Coca-Cola Brasil ... 114

Figura 37 - 1º Recorte do site da Coca-Cola ... 115

(11)

Figura 41 - 5º Recorte do site da Coca-Cola ... 117

Figura 42 - 6º Recorte do site da Coca-Cola ... 117

Figura 43 - 7º Recorte do site da Coca-Cola ... 117

Figura 44 - 8º Recorte do site da Coca-Cola ... 118

Figura 45 - 9º Recorte do site da Coca-Cola ... 120

Figura 46 - 10º Recorte do site da Coca-Cola ... 122

Figura 47 - 11º Recorte do site da Coca-Cola ... 125

Figura 48 – Web Page oficial da Apple Store ... 127

Figura 49 - 1º Recorte do site da Apple Store ... 128

Figura 50 - 2º Recorte do site da Apple Store ... 129

Figura 51 - 3º Recorte do site da Apple Store ... 130

Figura 52 - 4º Recorte do site da Apple Store ... 130

Figura 53 - 5º Recorte do site da Apple Store ... 131

Figura 54 - 6º Recorte do site da Apple Store ... 131

Figura 55 - 7º Recorte do site da Apple Store ... 132

(12)

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Categorias Peirceanas ... 38

Quadro 2 - Tipologia Sígnica Peirceana ... 39

Quadro 3 - Síntese da tipologia da imagem para os gregos e ocidente atual...96

(13)

LISTA DE TABELAS

(14)

ABREVIATURAS E SIGLAS UTILIZADAS CP – The Collected Papers (Peirce, 1931-1958)

MS – Manuscritos citados de acordo com a paginação do Institute for Studies in Pragmaticism (Peirce, 1931-1958)

NEM – The New Elements of Mathematics (Peirce, 1976).

 

(15)

INTRODUÇÃO...15

CAPÍTULO I – CAMINHOS SEMIÓTICOS ... 20 

1.1.  Correntes e linhas semióticas ... 23 

1.1.1.  Síntese das principais correntes semióticas e o conceito de signo ... 25 

1.1.1.1.  Ferdinand de Saussure ... 25 

1.1.1.2.  Charles Sanders Peirce ... 26 

1.1.1.3.  Umberto Eco ... 27 

1.1.1.4.  Roman Jakobson ... 28 

1.1.1.5.  Greimas ... 29 

1.1.1.6.  Roland Barthes ... 31 

1.1.1.7.  Demais pensadores ... 31 

1.2.  Charles Sanders Peirce ... 32 

1.2.1.  Posição da semiótica nas ciências ... 34 

1.2.2.  O Signo peirceano e as suas tríades ... 38 

1.2.3.  O Objeto ... 39 

1.2.4.  O Interpretante ... 41 

1.3.  Semiótica das Imagens ... 44 

1.4.  A Semiótica atualmente ... 48 

CAPÍTULO II - NOS INTERSTÍCIOS DA HIPERMÍDIA ... 50 

2.1.  Multimídia e Hipermídia ... 53 

2.2.  Os nós da hipermídia ... 64 

2.3.  Mídias e Hipermídia ... 76 

2.4.  Um estudo sobre as interfaces ... 79 

2.4.1.  Interfaces e suas aplicações ... 83 

CAPÍTULO III - SITES INSTITUCIONAIS: O DISCURSO DAS IMAGENS...90 

3.1.  Imagem – Conceitos ... 95

3.2. A imagem na semiótica peirceana...97

3.3.  O papel das imagens nos Sites Institucionais ... 98 

3.3.1.  Interface do Website do Bradesco ... 100 

3.3.1.1.  Visão geral das categorias peirceanas no site do Bradesco ... 104 

(16)

Cola...122 

3.3.3.  Projeto de Interface da Apple Store ... 126 

3.3.3.1.  Visão geral das categorias peirceanas no site da Apple Store ... 132 

3.3.3.2.  Referencial icônico-imagético no site da Apple Store ... 133 

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 135 

(17)

INTRODUÇÃO

Vivemos cercados de informação por todos os lados. O mundo está repleto de sinais e sugestões. Há muito tempo alguns pensadores estão atentos a questões como essas. A busca pelo entendimento dos fenômenos naturais e a tentativa de descodificar ou trazer sentido aos sistemas simbólico-culturais são objetivos claros que ainda permeiam as mentes de muitos pesquisadores e homens de ciência. Os métodos de observação têm sido convocados para a tarefa árdua em busca de explicações plausíveis, aquelas que podem trazer respostas mais satisfatórias aos diversos campos científicos.

Essa dissertação de mestrado foi pensada e elaborada imbuída pelo mesmo sentimento: o desejo da descoberta, o desejo de soluções. Nesse ponto um estranho paradoxo se apresenta: a busca por respostas não necessariamente leva a elas, e acaba trazendo mais questionamentos num processo infinito; as soluções não são definitivas, pois isso nunca será possível, ou seja, chegar a um resultado final em todas as coisas. Por quê? A resposta surge da seguinte forma: o conhecimento não pode ser depositado em uma caixa, portanto não tem o seu espaço delimitado; o conhecimento (e, por consequência, a ciência ou os estudos científicos) existe(m) para que o homem possa desvendá-lo(s) e inferir soluções aos muitos problemas que se apresentam a sua frente. Sendo assim, esse trabalho não traz soluções definitivas, entretanto, traz contribuições e aponta para caminhos.

Esta dissertação traz como seu objetivo procurar entender como as imagens veiculadas em sites institucionais contribuem nos processos de construção de sentido. Será que essas imagens têm o poder de sugestionar ou induzir os usuários/clientes/internautas a consumir os produtos que estão sendo oferecidos através dos sites? Quais níveis ou dimensões podem essas imagens afetar? As imagens carregariam um potencial para determinar ou moldar a imagem da instituição?

Assim sendo, essa pesquisa procurou trazer conceitos com objetivo de responder a esses questionamentos, conceitos esses responsáveis pela fundamentação de todas as etapas do trabalho. São eles: os conceitos de imagem (como representação visual e mental, hipermídia e interfaces digitais e a semiótica de linha peirceana). Foram realizados processos de análise de mídias (no caso, sites institucionais).

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aos estudos semióticos. Apesar da fundamentação teórica estar alicerçada na semiótica de linha peirceana, esse capítulo procura mostrar um panorama de outras abordagens. Em comum, as linhas de semiótica apresentadas desenvolvem as suas ideias e conceitos sobre o signo.

O capítulo inicia com a tradição grega de Aristóteles e Platão, percorre a filosofia de Locke e faz menção a alguns estudos semióticos contemporâneos, a partir de pensadores como Ferdinand de Saussure, Umberto Eco, Roman Jackobson, Greimas e Roland Barthes. Sentimos necessidade de apresentar esse percurso histórico à medida que a semiótica avança; dessa forma, é importante discutir um panorama da semiótica para compreender o quadro geral onde a semiótica peirceana se insere. Este capítulo está subdividido em quatro partes, a seguir detalhadas: a primeira delas, “Caminhos Semióticos” (e seus subtópicos: “Correntes e linhas semióticas”, “Sínteses das principais correntes semióticas e o conceito de signo”) introduz um passeio ao longo do tempo, com o propósito de trazer à pesquisa visões de outros semiólogos (ou semioticistas, por assim dizer). Na realidade, o trabalho apenas apresenta uma síntese histórica relatando as principais contribuições desses autores, tendo em vista que não é o propósito dessa pesquisa trabalhar a semiótica unicamente.

Esse “passeio” pela história da semiótica encerra-se na semiótica peirceana, de que tratará a segunda parte do capítulo, em um tópico chamado “O pensador Charles Sanders Peirce”. Nessa parte, são apresentadas informações relevantes a respeito da obra de Peirce.

O subtópico “A posição da Semiótica nas ciências” discute a posição da semiótica peirceana e a arquitetura das ciências, criada pelo autor. Uma das grandes preocupações de Peirce era com a taxonomia das ciências e com as categorias gerais do pensamento. Há, ainda, outros subtópicos subjacentes a essa parte do primeiro capítulo dedicada a apresentar as ideias peirceanas: “O Signo peirceano e suas tríades”, que trata do signo peirceano propriamente dito. Em seguida apresento as tricotomias e categorias (primeiridade, secundidade e terceiridade), finalizando essa parte apresentando outros dois tópicos: conceitos de objeto e interpretante, importantes para a discussão proposta na pesquisa.

(19)

imagens desempenham uma função de destaque nos objetos de estudo que foram selecionados. A segunda, por sua vez, aborda as muitas possibilidades de aplicação da semiótica como uma teoria que pode ser aplicada para compreender qualquer fenômeno que se apresente à mente.

As linguagens estão no mundo e nós estamos na linguagem. A Semiótica é a ciência que tem por objeto de investigação todas as linguagens possíveis, ou seja, que tem por objetivo o exame dos modos de constituição de todo e qualquer fenômeno como fenômeno de produção de significação e de sentido (SANTAELLA, 1983, p. 13).

Estudar os fenômenos como fenômenos de produção de significação e de sentido, ou seja, como participantes ativos do processo de semiose (ação do signo – elemento nuclear da semiótica peirceana) faz parte da natureza dos estudos semióticos. Desta forma, é possível estudar os fenômenos relativos a sistemas que envolvem processos comunicativos. Para fundamentar as questões discutidas nessa parte do trabalho são utilizados alguns pensadores como Winfried Nöth, Cassiano Terra, Santaella e Umberto Eco.

O capítulo II, “Nos interstícios da Hipermídia”, aborda as questões referentes à Hipermídia e Interfaces. O primeiro tópico, “Multimídia e Hipermídia”, traça um panorama histórico que procura posicionar e demarcar os pontos mais relevantes que serão tratados no capítulo III. “Os nós da Hipermídia”, tópico seguinte, esmiúça um pouco mais tecnicamente os conceitos, ideias e as principais aplicações da Hipermídia. Os estudos sobre as interfaces aparecem nas partes finais desse capítulo nos seguintes tópicos: “Um estudo sobre as interfaces” e “Aplicações das interfaces”. O primeiro procura mostrar o desenvolvimento das interfaces, em uma visão mais diacrônica; o segundo parte das possíveis aplicações e usos de sistemas de interface. Lucia Leão, Marcus, Engebart, Vannevar Bush e outros auxiliam na compreensão dos estudos da Hipermídia e Interfaces.

(20)

instituições de segmentos diferentes as imagens escolhidas para a composição dos sites não seriam de natureza diametralmente opostas? Será que os efeitos esperados realmente ocorreram? Qual o grau de relevância que os designers dão às imagens? As imagens realmente comunicam e participam do processo de interação com os usuários? Se afirmativo, em que níveis? Segundo Marc Shillum (2012), diretor da empresa de design e construção de marcas Method,

Todos nós sabemos que as marcas são acessadas enormemente de forma digital. Entretanto, uma consequência menos considerada é aquela que a interface através da qual a marca é acessada tornou-se um elemento de identidade primária (SHILLUM, 2012, tradução nossa)1.

Ou seja, as grandes empresas, pelo fato de estarem presentes na Internet, precisam pensar de que modo as interfaces digitais ativamente participam na construção da imagem da empresa. São as interfaces digitais que, ao permitirem o acesso dos usuários, atuam de modo intenso nos processos de criação de identidade da marca. O trabalho introduz um pouco do estado atual do design de interface levando em conta a presença das imagens, principalmente quando apresenta duas visões antagônicas em relação ao momento histórico da web. Para Anderson (2012), “A Web não é o ápice da revolução digital”2. Anderson defende nesse artigo que a web está morta, ou seja, não existiria, para ele, uma dependência da web em função de que a maior parte das pessoas que hoje acessa as redes sociais, utiliza aplicativos diversos, usa smartphones, mas essas pessoas não estão necessariamente na WWW e sim, na Internet. Numa direção oposta, Tim Berners-Lee (2012) afirma: “A minha prioridade é vê-la (a Web) desenvolver-se e evoluir de uma forma que nos garantirá um futuro longo e promissor”3. Diferente de Anderson, Berners-Lee não acredita na morte da web, pelo contrário, crê que o seu desenvolvimento se propagará por muitos anos.

A condição intrínseca para representar algo é um dos aspectos das imagens e uma das funções mais discutidas e percebidas. Para um aprofundamento sobre essas questões, o trabalho fundamenta-se em conceitos destacados no primeiro capítulo do livro “Imagem – Cognição, semiótica, mídia (Imagem como representação visual e mental)”, escrito em parceira por Lucia Santaella e Winfried Nöth. “Imagem –

      

1

“We all know that brands are increasingly accessed digitally. However, a less considered consequence is that the interface through which that brand is accessed has itself become a primary identity element”.

2

“The web is not the culmination of the digital revolution”. 3

(21)

conceitos”, “A imagem na semiótica peirceana” e “O papel das imagens nos sites institucionais”, são os tópicos que iniciam o capítulo. Tratam respectivamente dos conceitos de imagem, da ideia de imagem numa abordagem da semiótica peirceana e do papel que as imagens podem desempenhar em projetos de interfaces para a WWW. As análises das interfaces que compõem os sites institucionais fundamentam-se metodologicamente em três aspectos: 1- visão geral das categorias peirceanas; 2- Interfaces e 3 - referencial icônico-imagético.

Para aplicação das análises foram escolhidos os sites do Bradesco, Coca-Cola e Apple Store. O critério para a escolha desses sites em detrimento de outros foi a não relação direta entre eles, ou seja, eles pertencem a universos distintos, áreas não correlatas. Como essas empresas se utilizam das imagens para apresentar os seus produtos? Haveria um padrão como critério de escolha das imagens? São questões dessa natureza que impulsionaram essa pesquisa.

(22)

CAPÍTULO I – CAMINHOS SEMIÓTICOS

Esta pesquisa tem por objetivo compreender como as imagens constroem significados na elaboração de projetos de interface para WWW em sites institucionais e analisar o papel das imagens e suas funcionalidades enquanto participantes no processo de significação; sendo assim, far-se-ão, neste primeiro capítulo, algumas fundamentações teóricas acerca de conceitos semióticos para amparar teoricamente a pesquisa. Será que as imagens conseguem transmitir a mensagem desejada? Que tipo de relação existe entre as imagens e os outros signos? Quais estratégias são mais recorrentes quando se pensa na escolha de uma imagem que deve compor um site? Questões como essas fazem parte desse estudo.

Os estudos semióticos iniciar-se-ão por meio de um esboço histórico da semiótica, enfatizando o trabalho de Charles Sanders Peirce4.

Tentar compreender o que as coisas representam e/ou significam é uma tarefa que tem acompanhado a existência humana, principalmente a de muitos pensadores. A semiótica preocupa-se com essas questões (assim como a filosofia, principalmente em pensadores como Platão e Agostinho):

Hermógenes: Eu ao menos, Sócrates, não conheço outra correção do nome que esta: cada coisa pode ser chamada por mim pelo nome que eu atribui, e por ti por um outro, que tu atribuíste. Desse modo, [e] também vejo, às vezes, cada uma das cidades atribuindo nomes distintos às mesmas coisas, tanto os gregos diferentemente de outros gregos, quanto estes dos bárbaros. (PLATÃO, 385d-e apud FIDALGO)5

Segundo palavras da professora do Departamento de Filosofia da Universidade Federal do Ceará, Maria Aparecida de Paiva Montenegro, 2007, em “Linguagem e conhecimento no Crátilo de Platão”:

[..] o diálogo versa sobre a justeza dos nomes a partir do exame realizado por Sócrates das teses divergentes de Hermógenes e Crátilo, já exauridos por uma discussão que não chega a um acordo. Segundo Hermógenes, os nomes são resultantes de pura convenção, podendo esta ser tanto individual quanto coletiva; para Crátilo, discípulo de Heráclito e mestre de Platão anteriormente a Sócrates, os nomes espelham a natureza das coisas e esta não é senão o

      

4 Para se referir às obras do autor, este trabalho utilizará algumas abreviações. Vide Lista de Abreviaturas e Siglas no início deste trabalho.

5

(23)

constante fluxo. Sócrates é chamado para tentar uma conciliação e termina por apontar para as aporias já mencionadas (MONTENEGRO, 2007, p. 3).

Com foco na discussão da presente pesquisa, que visa analisar como as imagens veiculadas em sites institucionais contribuem nos processos de construção de sentido, o diálogo “Crátilo” oferece desconcertantes perguntas: a questão da convencionalidade e da arbitrariedade, por exemplo. As imagens que irão compor um site são padrões convencionais? Seguem uma lógica mercadológica? A que limites a criatividade está subordinada? Esses questionamentos serão desenvolvidos no decorrer desse trabalho.

Torna-se bastante relevante para esse trabalho definir os conceitos mais utilizados a respeito da semiótica. Em termos gerais, o que seria semiótica e o qual o seu objeto de estudo? O termo Semiótica deriva da língua grega (σημειωτικός (sēmeiōtikos) literalmente "a ótica dos sinais"). De acordo com Nöth, “As raízes relatadas “semio-“(a transliteração latinizada da forma grega “semeio-“), “sema(t)-“ e “seman-“ têm sido a base para a derivação de vários termos no campo da semiótica6 - tradução nossa” (NÖTH, 1995, p. 13).

O pesquisador Nöth, em seu livro “Panorama da semiótica: de Platão a Peirce, propõe que “a semiótica é a ciência dos signos e dos processos significativos (semiose) na natureza e na cultura” (NÖTH, 1998, p.19). No entanto, como ele mesmo aponta, essa definição para semiótica não se aplica a todas as correntes da ciência. Cada escola da semiótica tem a sua definição específica. A escola de Greimas, por exemplo, é bem restrita, nega a ideia de teoria do signo e postula que a semiótica seja uma teoria da significação (NÖTH, 1998, p.19).

Interessante notar que desde a antiguidade houve uma disciplina médica chamada de Semiologia. Entretanto, essa disciplina era específica da área da medicina e correspondia a um ramo dedicado ao estudo da interpretação de sinais em pacientes. Winfried Nöth esclarece essa questão:

A Semiótica é um ramo antigo da medicina, apesar disso, o termo em si pode ser de uma data mais recente (cf. Barthes 1972, Romeo 1977, Bär 1988). O médico Galeno de Pérgamo (139-199), por exemplo, referiu-se ao diagnóstico como um processo de “semeiosis”. Por volta do século dezoito os termos “semiotica”, “semiotique”, ou “semiotik” passaram a ser oficialmente adotados como termos médicos como doutrina dos sintomas em várias línguas europeias (NÖTH, 1985, p. 13).

      

6

(24)

Percebe-se que existem e existiram muitos conceitos atrelados à busca de uma definição do que seria a semiótica. Dentro da tradição da semiótica como disciplina das ciências médicas, há de se deixar claro que para alguns o termo mais adequado seria Symptomatology (NÖTH, 1985, p. 13). Essa terminologia foi utilizada pela primeira vez em língua inglesa por Henry Stubbes (1670) e seria algo próximo a um tipo de “sintomatologia”, ou seja, a partir dos sinais ou sintomas (efeitos) do corpo poderia se chegar a uma causa da doença. Entretanto, não se utiliza mais desse termo na medicina atualmente.

O campo de aplicação da semiótica é muito amplo e, desde tempos remotos, tenta-se definir o seu objeto de estudo. Na filosofia, o primeiro a empregar o termo semiótica foi John Locke. O filósofo se utilizou dos termos "semeiotike" e "semeiotics" no livro 4, capítulo 21 do “Ensaio acerca do Entendimento Humano” (1690). Segundo NÖTH (1985, p.13), “a primeira menção explícita da semiótica como um ramo da

filosofia encontra-se em um ensaio de Locke referente ao entendimento humano (IV.21.4), onde a “doutrina dos signos” é definida como σημειωτικός (1690: 443; ver 3.2.3)7”. Entretanto, apesar de introduzir o termo semiótica dentro da filosofia, Locke não se utilizou dele de forma sistemática. De acordo com NÖTH (1985, p.13), “enquanto Locke apenas propôs esse termo sem tê-lo usado sistematicamente, a palavra reaparece mais frequentemente nos escritos de Johann Heinrich Lambert (1974)8”. Outros filósofos também fizeram uso do referido termo, como Bolzano. Thomas Sebeok afirma, em relação à adoção do termo, que Peirce e Morris utilizam:

A tradição de uma filosofia explícita semiótica foi continuada por Bolzano (1837 a-c), que trabalha com a semiótica em sua “Teoria da Ciência”. Da

σημειωτικός de Locke, Peirce adotou o termo “semeiotic”. Às vezes ele usa a forma “semiotic”, mas nunca “semiotics” (cf. Sebeok, 1976: 48). Semiotic é a forma adotada por Morris – tradução nossa (NÖTH, 1985, p. 13-14)9.

      

7

“the first explicit mention of semiotics as a branch of Philosophy is in Locke’s Essay concerning Human Understanding (IV. 21. 4), where the “doctrine of signs” is defined as σημειωτικός (1690: 443; see 3.2.3)”.

8

“ while Locke only proposed this term without himself using it systematically, the word reappears more frequently in the writings of Johann Heinrich Lambert (1974)”.

9

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Com o passar do tempo não apenas as definições de semiótica e os seus conceitos foram se expandindo como os campos de estudo onde essa ciência pode ser aplicada foram se ampliando. Hoje é comum se falar em intersemiótica e aplicações de teorias semióticas em diversas áreas do conhecimento. Isso demonstra a sua propensão à interdisciplinaridade, como é o caso da aplicação de fundamentos semióticos, por exemplo, na análise de sites institucionais, proposta por essa dissertação. A partir desse ponto entende-se que os objetos de estudo da semiótica se ampliam, não sendo possível determiná-los por completo.

1.1. Correntes e linhas semióticas

Como visto anteriormente, o termo semiótica já havia sido empregado na antiguidade (NÖTH, 1995, p.13). Na tradição semiótica europeia, o saber foi estudado levando em consideração o seu aspecto dual, criando assim algumas dicotomias: o aspecto semiológico ou o que se refere ao significante e o seu aspecto epistemológico ou o que se refere ao significado das palavras. De acordo com Saussure (2001, p. 80-81), “o signo linguístico é, pois, uma entidade psíquica de duas faces”. Assim, na Europa, o signo era visto como portador de uma natureza dual e a ciência dos signos passou a ser conhecida como Semiologia. A semiologia compreende o signo estruturado em dois planos: significante (forma) x significado (conteúdo). (Saussure, 2006).

O significante relaciona-se com os aspectos estruturais, enquanto que o significado relaciona-se diretamente com os aspectos semânticos. O significado pode ser compreendido como o conceito, enquanto que o significante representa a imagem acústica.

(26)

Fonte: figura adaptada da obra “Curso de Linguística Geral” de Ferdinando de Saussure (2006: 80).

Para Saussure o signo é formado por dois termos, em uma relação de dependência de dois termos,

Propomo-nos conservar o termo signo para designar o total, e a substituir conceito e imagem acústica respectivamente por significado e significante; estes dois termos têm a vantagem de assinalar a oposição que os separa, quer entre si, quer do total de que fazem parte (SAUSSURE, 2006, p. 81).

A ideia de conceito e imagem acústica determina o signo no sentido saussureano. A semiologia de Saussure é aplicada essencialmente dentro da linguística.

No continente americano, especificamente nos Estados Unidos, o pesquisador (Charles Sanders Peirce) desenvolveu o seu trabalho focado na doutrina dos signos, porém, nomeando-a de Semiótica. Para Deely:

A tradição semiótica de [...] Peirce difere-se da semiológica proposta por Saussure porque a semiótica "não tem como princípio ou quase exclusiva inspiração a fala e a língua humana. Ela vê na semiose um processo muito mais vasto e fundamental envolvendo o universo como físico no processo da semiose humana, e fazendo da semiose humana uma parte da semiose da natureza." [...] Semiótica e semiologia constituem duas tradições ou paradigmas, o que tem "até certo ponto prejudicado o desenvolvimento contemporâneo por existir dentro dele em condições sociológicas de oposição. Essas condições de oposição, todavia, não são apenas desnecessárias logicamente, mas dependem para seu sustento de uma sinédoque perversa pela qual a parte é tomada erradamente pelo todo. A semiótica forma um todo do qual a semiologia é uma parte (DEELY, 1990, p. 23).

A semiótica de Peirce difere filosoficamente da semiologia europeia, pois entende ser o signo de natureza triádica, além de ampliar, por assim dizer, o campo de atuação fenomenológica sígnica. Na semiótica peirceana, o signo ultrapassa a aplicação

Conceito

Imagem Acústica

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linguística e passa a ser estudado em qualquer tipo de fenômeno ao qual algum processo de comunicação possa ser percebido. Para um melhor entendimento faz-se necessário verificar como as outras correntes semióticas se distinguem, como entendem ou compreendem o signo, em que pontos se entrecruzam.

1.1.1. Síntese das principais correntes semióticas e o conceito de signo

O signo é uma coisa que, além da espécie ingerida pelos sentidos, faz vir ao

pensamento, por si mesma, qualquer outra coisa.

Santo Agostinho

1.1.1.1. Ferdinand de Saussure

A contribuição de Saussure para os estudos da semiótica pode ser compreendida a partir de seu desenvolvimento do estruturalismo linguístico. Em artigo publicado na revista eletrônica de jornalismo científico, Winfried Nöth afirma:

No século XX, o conceito de semiologia se impôs novamente a partir da obra fundamental de Ferdinand de Saussure (1857-1913), o Curso de lingüística geral, de 1916. Sem referência às tradições semióticas anteriores, o fundador do estruturalismo lingüístico definiu a semiologia como uma nova e futura ciência geral da comunicação humana, que estudaria a “vida dos signos como parte da vida social”. A base dessa nova semiologia seria a lingüística estrutural, o seu programa seria a extensão do campo da lingüística da linguagem verbal para a comunicação não-verbal, cultural e textual. Neste espírito estruturalista e trans-lingüístico, a semiologia começou a se estabelecer a partir dos anos 40 e 50 (Buyssens, Hjelmslev) e com uma fama crescente nos anos 1960 na França (Prieto, Barthes, Mounin, Greimas), no resto da Europa e na América Latina (NÖTH, 2006, p. 1).

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No nosso século, o termo semiologia ficou ligado à tradição semiótica fundada no quadro da linguística de Ferdinand de Saussure e continuada por semioticistas como Louis Hjelmslev ou Roland Barthes. Sob essas influências, semiologia permaneceu durante muito tempo como o termo preferido nos países românicos, enquanto autores anglófonos e alemães preferiram o termo semiótica. Alguns semioticistas, porém, começaram a elaborar definições conceituais entre semiologia e semiótica: semiótica, designando uma ciência mais geral dos signos, incluindo os signos animais e da natureza, enquanto semiologia passou a referir-se unicamente à teoria dos signos humanos, culturais e, especificamente textuais (NÖTH, 1995, p. 23).

Dessa forma, a semiologia saussureana parte de uma tradição estritamente linguística, ou seja, os fenômenos sígnicos operam basicamente nessa esfera, a dos signos verbais. Para Saussure, o signo linguístico é, pois, uma entidade psíquica de duas faces, é ainda a combinação do conceito e da imagem acústica (SAUSSURE, 2006, p. 80-81). Outra característica do signo seria a sua arbitrariedade: justamente porque o signo é arbitrário, não conhece outra lei senão a da tradição, e é por basear-se na tradição que pode ser arbitrário (SAUSSURE, 2006, p. 88). Essa ideia da arbitrariedade do signo é vista em outros pensadores, como veremos mais adiante.

1.1.1.2. Charles Sanders Peirce

A visão peirceana de signo difere filosoficamente da visão saussureana. Peirce concebe a semiótica como lógica e concebeu o signo como um composto triádico e não dual, como Saussure defende. Dessa forma, percebe-se que a abordagem peirceana é distinta daquela desenvolvida por Saussure.

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Em uma definição mais detalhada, o signo é qualquer coisa de qualquer espécie (uma palavra, um livro, uma biblioteca, um grito, uma pintura, um museu, uma pessoa, uma mancha de tinta, um vídeo etc.) que representa uma outra coisa, chamada de objeto do signo, e que produz um efeito interpretativo em uma mente real ou potencial, efeito esse que é chamado de interpretante do signo (SANTAELLA, 2002, p. 18).

A partir das definições de signo é possível verificar que qualquer coisa, material ou imaterial e de qualquer espécie pode assumir o papel de um signo e que o signo representa outra coisa, que é o seu objeto. Esse objeto tem a condição de produzir um efeito interpretativo em uma mente, seja essa mente real ou potencial. Sendo assim, levando em consideração essa pesquisa, os sites institucionais estão repletos de signos, que determinam os seus objetos. Particularmente, as imagens são analisadas como signos, que potencializam os seus objetos, que devem produzir efeitos interpretativos na em uma mente (ou mentes) em potencial. Compreender os efeitos interpretativos gerados a partir de imagens-signos nos sites analisados é um dos objetivos principais dessa pesquisa. Para tal, essa pesquisa fundamenta-se em uma abordagem semiótica.

1.1.1.3. Umberto Eco

De acordo com Santaella, é possível entender a semiótica de Umberto Eco como uma semiótica de caráter pluralista. Isso está evidenciado em seus livros “A estrutura ausente”, “As formas do conteúdo”, “O signo” e “Tratado geral de Semiótica” (ECO 1968, 1971, 1976) (SANTAELLA, 2004, p.144). Para Eco a comunicação também se dá em signos e dentro do processo de semiose (processo dinâmico da ação sígnica). Uma vez que a semiótica, de acordo com Eco (1976: 7), "está voltada para tudo o que pode ser tomado como um signo", a definição de signo de Eco pode nos fornecer outros insights para a delimitação de seu campo semiótico (NÖTH, 1998, p.1). A semiótica de Eco é conhecida como semiótica da cultura (SANTAELLA, 2004, p. 143), entretanto, a comunicação para ele não se concretiza apenas dentro do universo do humano, mas em relação às máquinas.

Quando o destinatário é um ser humano [...], vemo-nos [...] em presença de um processo de significação, desde que o sinal não se limite a funcionar como simples estímulo, mas solicite uma resposta interpretativa por parte do destinatário. [...] Todo processo de comunicação entre seres humanos [...] pressupõe um sistema de significação como pré-condição necessária (ECO

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Partindo da afirmação de Eco a respeito da necessidade da existência de um sistema de significação que intermedeie a comunicação, os sites institucionais, através de suas interfaces, podem estar inseridos nesse contexto, pois a significação advinda do(s) signo(s) está estabelecida, no caso dessa pesquisa, a partir das imagens-signos que se apresentam e são analisadas. Ainda, de acordo com Eco,

O signo é um gesto emitido com a intenção de comunicar, ou seja, para transferir uma representação própria ou um estado interno para um outro ser. Naturalmente, presume-se que, para que a transferência tenha êxito, uma determinada regra (um código) habilite tanto o emissor quanto o receptor para entender a manifestação do mesmo modo (ECO, 1991, p. 18).

1.1.1.4. Roman Jakobson

Jakobson foi um pensador e linguista russo, pertencente à escola russa estruturalista. Dentro do seu trabalho sobre linguagem trabalhou mais detidamente no que ele chamou de funções de linguagem. De acordo com Chalhub,

Diferentes mensagens veiculam significações as mais diversificadas, mostrando na sua marca e traço[...] O funcionamento da mensagem ocorre tendo em vista a finalidade de transmitir — uma vez que participam do processo comunicacional: um emissor que envia a mensagem a um receptor, usando do código para efetuá-la; esta, por sua vez, refere-se a um contexto. A passagem da emissão para a recepção faz-se através do suporte físico que é o canal. Aí estão, portanto, os fatores que sustentam o modelo de comunicação:

emissor; receptor; canal; código; referente; mensagem. (CHALHUB, 1990, p. 1)

A partir dai tem-se as funções da linguagem como referencial (centralizada no referente), emotiva (centralizada no emissor), conativa ou apelativa (centrada no receptor), fática (centralizada no canal), metalinguística (centralizada na mensagem) e poética (centralizada no código).

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a) Intralingual translation or rewording is an interpretation of verbal signs by means of other signs of the same language.

b) Interlingual translation or translation proper is an interpretation of verbal signs by means of some other language.

c) Intersemiotic translation or transmutation is an interpretation of verbal signs by means of signs of nonverbal sign systems (Jakobson, 1987: 429).10

Para Jakobson o signo se posiciona mais claramente dentro do contexto da linguística. Ele afirma que “o significado […] de qualquer palavra ou frase qualquer que seja [...] é um fato semiótico” 11 (Ibidem).

1.1.1.5. Greimas

O conceito de signo não aparece especificamente nos escritos de Greimas. Significantes e significados são uma entidade abstrata. A existência de um pressupõe a existência do outro. Percebe-se, assim, uma mudança não só metodológica como também filosófica, pois para ele, significantes são

os elementos ou grupos de elementos que possibilitam a aparição da significação ao nível da percepção e significados são o conjunto das significações que são recobertas pelo significante e manifestadas graças à sua existência. (GREIMAS, 1973, p. 17)

Greimas (1973) desenvolveu uma classificação para os significantes levando em consideração as percepções sensoriais, ou ordens, como ele denominou: ordem visual, tátil, auditiva, olfativa e gustativa. Um exemplo de ordem tátil é o Braile. Ele compreendia que tudo pode ser um signo consoante o nosso poder de interpretação. Greimas ficou bastante conhecido por ter elaborado o quadrado ou retângulo semiótico, a partir da observação do esquema bidirecional das histórias: o herói, seu ajudante, seu adversário e a sociedade. De acordo com Antonio Fidalgo, professor de Ciências da Comunicação da Universidade da Beira Interior, em Portugal:

      

10 a) tradução intralingüística ou reformulação é uma interpretação de signos verbais por meio de

outros signos da mesma língua; b) tradução interlinguística ou tradução propriamente dita é uma interpretação de signos verbais por meio de alguma outra língua; c) tradução intersemiótica ou transmutação é uma interpretação de signos verbais por meio de sinais de sistemas de signos não-verbais.

11

(32)

O quadrado semiótico consiste na representação visual da articulação lógica de qualquer categoria semântica. Partindo da noção saussureana de que o significado é primeiramente obtido por oposição ao menos entre dois termos, o que constitui uma estrutura binária (Jakobson), chega-se ao quadrado semiótico por uma combinatória das relações de contradição e asserção. Este é um procedimento estruturalista na medida em que um termo não se define substancialmente, mas sim pelas relações que contrai (FIDALGO, 2005, p. 127)

Exemplificando, de acordo com Fidalgo (2005): Tomando S1 como masculino e S2 como feminino, o primeiro passo é negar S1, produzindo assim a sua contradição ~S1, que se caracteriza por não poder coexistir simultaneamente com S1 (há uma

impossibilidade de os dois termos estarem presentes ao mesmo tempo). A seguir afirma-se ~S1 e obtém-se S2. Isto é, se não é masculino é feminino. Esta é uma relação de implicação. O passo assim descrito representa-se graficamente do seguinte modo:

O segundo passo consiste no mesmo procedimento a partir de S2, pelo que se obtém o seguinte esquema:

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Ainda, segundo Fidalgo (2005), as linhas bidirecionais contínuas representam uma relação de contradição, as bidirecionais tracejadas uma relação de contrariedade e as linhas unidirecionais uma relação de complementaridade. Existe uma relação de concordância entre as ideias de Greimas e o pensamento de Saussure, quando os dois entendem o processo comunicativo mediado pelo signo como algo de via dupla e o signo como uma entidade de caráter dual, pois a ideia de contradição e polarização está mais de acordo com o dualismo significante x significado do que com o pensamento peirceano do signo como entidade essencialmente triádica.

1.1.1.6. Roland Barthes

Os conceitos de significante e significado são retomados em Barthes. Ele define o signo como um plano bidimensional, possuindo o eixo do significante e o eixo do significado. Porém, ele muda a terminologia usada por Saussure. Para Barthes, o plano dos significantes constitui o plano de expressão e o dos significados o plano de conteúdo. (BARTHES, 1991, p.43)

Em relação aos conceitos de significação, ele afirma que ela pode ser concebida como um processo; é o ato que une o significante e o significado, ato cujo produto é o signo (BARTHES, 1991, p.52). Barthes fez parte da escola estruturalista, tendo Saussure como uma das principais influências. Desse modo, o processo de significação foi compreendido pelo autor a partir de duas instâncias: denotação e conotação.

1.1.1.7. Demais pensadores

Outros nomes merecem menção devido às suas contribuições nos estudos semióticos, como por exemplo, Morris divide os signos em Sintático (nível das estruturas dos signos, modo como eles se relacionam e suas possíveis combinações), Semântico (relação dos signos e seus respectivos significados) e Pragmático (valor dos signos para os seus utilizadores, reações destes em relação aos signos e modo como os signos são utilizados). Isso está de acordo com Fidalgo (2005):

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mesmo a entrar pelos campos das disciplinas vizinhas, mostrando a fluidez das fronteiras científicas, por outro, nunca as relações entre os diferentes campos semióticos foram cientificamente tratadas como acontece hoje. Os séculos passados forneceram excelentes análises sintácticas e semânticas, mas só no século XX as relações entre os campos sintáctico e semântico foram cientificamente tematizadas. Quanto ao campo pragmático, ainda que de certo modo tematizado na retórica clássica, só no nosso tempo viu reconhecida a sua crucial importância para toda a semiótica. (FIDALGO, 2005, p. 1).

Morris, assim como Peirce, chama de semiose ao processo pelo qual algo funciona como signo. De acordo com ele, esse processo envolve três fatores: o veículo sígnico, ou seja, aquilo que atua como signo; o designatum, ou aquilo a que o signo se refere; e o interpretante (mesmo conceito peirceano), tendo em vista que o efeito sobre alguém em função da coisa em questão seja um signo para ele (MORRIS, 1976).

Guiraud é um pensador que se destaca em relação ao tratamento do signo, pois ele diferencia determinados tipos de códigos, sendo os códigos lógicos os mais importantes em relação aos signos. Para Guiraud, os códigos paralinguísticos estão associados a aspectos da linguagem verbal (código alfabeto enquanto escrita, escritas ideogramáticas), códigos práticos ligados às sinaléticas, programações e códigos do conhecimento, como sinais de trânsito e os epistemológicos ligados às áreas específicas da ciência. Guiraud afirma que, o signo é, portanto, um excitante – os psicólogos dizem um estímulo, cuja ação sobre o organismo provoca a imagem memorial de um outro estímulo; a nuvem evoca a imagem da chuva, a palavra evoca a imagem da coisa (GUIRAUD, 1980, p. 15).

1.2. Charles Sanders Peirce

Peirce, o Kant da filosofia americana (APEL, 2000, p.187), certamente deve fazer parte do rol daqueles que contribuíram significativamente para o avanço da ciência e que infelizmente tiveram suas existências permeadas por dissabores oriundos majoritariamente dos seus detratores.

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quebram paradigmas revestidos com a aura da inviolabilidade são geralmente tratadas como subversores da ordem vigente. A genialidade nem sempre compreendida pode gerar sentimentos de inveja e incompreensão. O próprio Peirce chegou a comentar a respeito do assunto:

Eu sou um homem ao qual os críticos não têm encontrado nada de bom para comentar. Quando eles não encontravam nenhuma oportunidade para me agredir, eles juntavam as suas peças. O pouco elogio que tive veio de tais fontes, que a pouca satisfação que derivou deles tem sido de tais fatias de pão e manteiga que poderiam passar pelo meu caminho. Só uma vez, tanto quanto me lembro, em toda a minha vida experimentei o prazer do louvor, não por aquilo que ele pode trazer, mas em si mesmo. Aquele prazer foi bem-aventurado; e os elogios que conferiu foi feito para a culpa. Foi um crítico que disse de mim que eu não parecia ter certeza absoluta da minhas próprias conclusões. Nunca, se eu puder evitá-lo, que tal olho crítico descanse sobre o que estou escrevendo agora, pois devo um grande prazer a ele, e, tal era o seu ânimo evidente que ele deveria descobrir isso, eu temo que os fogos do inferno seriam alimentados com combustível novo no peito (CP 1.11)12.

A preocupação em estabelecer as suas categorias universais é evidente na obra peirceana. Conclui-se que toda a pesquisa e visão metodológica do pesquisador têm como suporte essas categorias.

Peirce licenciou-se em Ciências e doutorou-se em Química em Harvard, onde posteriormente lecionou Filosofia. Também lecionou a mesma disciplina na Universidade Johns Hopkins. Foi o fundador do Pragmatismo, depois renomeado por ele como Pragmaticismo e da ciência dos signos, a semiótica.

Hoje, sabe-se que produziu cerca de 80.000 manuscritos, além de 12.000 páginas publicadas em vida. Os chamados Collected Papers fazem parte desses manuscritos. Como descrever a posição filosófica de Peirce? Santaella o descreve como um evolucionista:

Alertamos nesse momento para uma questão. Peirce era um evolucionista de tipo muito especial, nem mecanicista tal como Spencer, nem estritamente materialista, pois, para ele, “materialismo sem idealismo é cego: idealismo sem materialismo é vazio”. Isso não significa que professasse, por outro lado, um evolucionismo idealista. Ele próprio se autodenominou idealista objetivo (SANTAELLA, 2008, p. 25).

      

12

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De acordo com Santaella, o pensamento do cientista estava à frente de sua época, pois ele acreditava que o universo estava em expansão contínua, porém essa expansão se daria principalmente na mente humana, sendo a consequência principal disso a mudança concreta no mundo físico.

Segundo Peirce, não sendo nem as leis da natureza absolutas, mas evolutivas, daí o caráter estatístico dessas leis, os princípios científicos, por seu turno, não chegam a ser senão fórmulas rigorosas, mas sempre provisórias, no sentido de estarem sujeitas a mudanças contínuas. Não há, portanto, princípios absolutos, nem na Matemática. Cada investigador individual, por mais sistemático e rigoroso que possa ser seu pensamento, é essencialmente falível (SANTAELLA, 2008, p. 26).

A ideia de falibilidade é extremamente importante no pensamento peirceano. Para ele nada seria totalmente absoluto, pois o homem não teria como chegar a uma verdade absoluta única e exclusivamente através do raciocínio. Por causa dessa concepção, o cientista se autodenominava um propagador da teoria do Falibilismo.

[...] Uma vez que você aceite o princípio de continuidade, nenhum tipo de explicação das coisas irá satisfazê-lo, exceto o de que elas crescem. O infalibilista naturalmente pensa que tudo sempre foi substancialmente como é hoje. Leis [...], sendo absolutas, não poderiam crescer [....]. Isto faz das leis da natureza absolutamente cegas e inexplicáveis. O porquê e o seu motivo não podem ser questionados. Isso absolutamente bloqueia o caminho da investigação. O falibilista não quer isto. Ele pergunta se essas forças da natureza não podem ser de algum modo agradáveis à razão. Elas não teriam crescido naturalmente? De qualquer modo, não há razão para pensar que são absolutas [...] (CP 1.175)

Essas ideias para a sua época já demonstravam o potencial cientifico e a mente imaginativa do cientista. Para Peirce, a Filosofia e a Ciência evoluem gradativamente, estando subordinadas a leis mutáveis por causa de fatores como lugar, tempo, cultura etc. Sendo assim, nada poderia ser absoluto em sua natureza primária.

1.2.1. Posição da semiótica nas ciências

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(ANDERSON, 1995, p. 39). Em continuidade, seguindo seu raciocínio lógico, chega às ciências filosóficas de secundidade ou ciências normativas (das normas ou ideias): estética, ética e lógica, esta última tratada por Peirce como semiótica. A Fenomenologia (ou Faneroscopia, como preferia Peirce) é a ciência que fundamenta a semiótica de Peirce, e deve ser entendida nesse contexto.

Faneroscopia é a descrição do fáneron; e por fáneron quero dizer o total coletivo de tudo o que esteja de algum modo, ou em algum sentido, presente à mente, sem considerar absolutamente se corresponde a alguma coisa real ou não. Se você perguntar presente quando, e à mente de quem, respondo que deixo essas questões sem resposta, nunca tendo alimentado dúvida alguma de que aqueles perfis do fáneron que encontrei em minha mente estejam presentes em todos os momentos e para todas as mentes. Até onde tenho desenvolvida a ciência da faneroscopia, ela se ocupa dos elementos formais do fáneron (CP 1.284).

Para Peirce, a Fenomenologia é a descrição e análise das experiências do homem. O método fenomenológico consiste na observação direta dos fenômenos da experiência, generalização e descrição das suas propriedades segundo a tríade categorial (CP 1.286).

A fenomenologia pode ser entendida como o estudo do Phaneron (Fenômeno). Para Peirce, qualquer coisa presente à mente que tenha ou não correspondência com a realidade externa (CP 1.284). Nesse sentido, o fenômeno é tudo aquilo que é percebido pelo homem, até mesmo algo que pertença ao universo onírico.

Como mencionado anteriormente, a Faneroscopia é vista na semiótica peirceana como uma ciência de primeiridade. Dentro da lógica classificatória das ciências de secundidade, encontram-se as chamadas ciências normativas. As ciências normativas são aquelas que sugerem normas ou ideias. Em conformidade com Peirce, “as ciências normativas são as “mais puramente teóricas das ciências puramente teóricas”13 (CP 1.281).

A primeira das ciências normativas é a Estética. A Estética no entendimento peirceano difere muito dos conceitos de outros pensadores. Distante de uma teoria do belo, Peirce concebe-a como a ciência do que é admirável sem nenhuma razão para ser admirável além de seu caráter inerente (CP 1.612). Assim, a Estética peirceana não está voltada para o que belo ou não belo, mas sim para aquilo que deveria ser experimentado por si mesmo, em seu próprio valor (SANTAELLA, 1994, p.130).

      

13

(38)

Alguns aspectos da Estética de Peirce devem ser apontados para elucidar a questão da presente pesquisa.

Interessante observar que a Estética peirceana precede as duas outras ciências, sendo também compreendida como uma ciência normativa. Haveria algum propósito para isso? O que chama a atenção é a forma com que Peirce compreendia a Estética. Para ele essa primeira ciência normativa estaria diretamente relacionada com hábitos, mas uma espécie muito peculiar de hábitos. Como vemos a Estética seria, em suas palavras, “A teoria da formação deliberada dos hábitos de sentir”14 (CP 1.574).

Após o entendimento do que seria a Estética no pensamento peirceano, segue-se a ideia do que seria a Ética. De acordo com Peirce, ela é a teoria da conduta deliberada ou auto-controlada (PEIRCE apud ANDERSON 1995, p. 43). A Ética também é tida como uma ciência normativa, pois trata de normas. Peirce também concebia a Ética de forma diferenciada daquela comumente aceita em sua época, ou seja, a doutrina do bem e do mal.

O que constitui a tarefa da ética é justamente justificar as razões pelas quais certo e errado são concepções éticas. Para ele, o problema fundamental da ética está voltado para aquilo que estamos deliberadamente preparados para aceitar como afirmação do que queremos fazer, do que temos em mira, do que buscamos (SANTAELLA, 2001, p.38).

A lógica, tratada por Peirce como semiótica, estuda o signo como fenômeno privilegiado de terceiridade, veículo de todo pensamento. Para Cassiano Terra Rodrigues, professor de filosofia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2006)15, “Como ordem das ciências normativas, a lógica é uma parte da investigação filosófica. Aqui, a lógica é a semiótica propriamente dita, “ciência das condições gerais dos signos serem signos” [CP 1.444].

A lógica no pensamento peirceano é tida como uma semiótica geral, ciência das leis que regem todo e qualquer pensamento, devendo preocupar-se não apenas com a verdade, mas principalmente com as condições e leis referentes aos fenômenos signicos, pois a mediação sempre se dará em signos, como visto anteriormente.

Quando Peirce estabelece o propósito da lógica como sendo o de distinguir verdade de falsidade, percebe-se que esse tipo de colocação relaciona a lógica de forma

      

14

“The theory of the deliberate formation of habits of feeling”.

15 

Lógica como Ciência: apontamentos sobre o pensamento de Peirce. Artigo publicado na revista eletrônica de jornalismo científico “Com Ciência”, na edição de 10 de abril de 2006.

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direta aos conceitos de verdade do Pragmaticismo peirceano. "considere que efeitos práticos concebemos que o objeto de nossa concepção tem. Então, nossa concepção desses efeitos constitui o conteúdo total de nossa concepção desse objeto" (Peirce 1965, p. 31). Para Peirce, a verdade pragmática de uma proposição está subordinada aos seus efeitos práticos, aceitando-se para tal, o sentido comum do termo verdade.

Para se posicionar a semiótica de Peirce dentro das ciências, é imprescindível entender o seu caráter. De acordo com Rodrigues (2006):

A concepção de lógica como semiótica, de Charles Sanders Peirce (1839-1914), é muito mais ampla do que a tradicional concepção da lógica como calculus raciocinatur e, talvez, seja a mais anti-positivista e libertária concepção de lógica já defendida por um lógico. Para entender melhor a semiótica peirciana, é preciso entender a sua classificação das ciências da descoberta, ditas heurísticas, porque são aquelas ciências que nos fazem descobrir coisas novas (RODRIGUES, 2006).

O pesquisador Cassiano Terra Rodrigues (2006) continua: Essa classificação pode ser apresentada num diagrama com a possível disposição:

A. Ciências da descoberta, chamadas heurísticas. A.1. Classe: Matemática

A.1.i. Subclasse: matemática da lógica

A.1.ii. Subclasse: matemática das series discretas

A.1.iii. Subclasse: matemática dos continua e pseudocontínua.

A.2. Classe: Filosofia, ou cenoscopia

A.2.i. Subclasse: Categórica, fenomenologia ou faneroscopia A.2.ii. Subclasse: Ciência Normativa

A.2.ii.a. Ordem: Estética A.2.ii.b. Ordem: Ética A.2.ii.c. Ordem: Lógica A.2.iii. Subclasse: Metafísica

A.2.iii.a. Ordem: Metafísica geral, ou ontologia A.2.iii.b. Ordem: Metafísica psíquica ou religiosa A.2.iii.c. Ordem: Metafísica física

(40)

1.2.2. O Signo peirceano e as suas tríades

Um signo é qualquer coisa que é de um tal modo determinada por uma outra coisa que é capaz de determinar um efeito sobre uma pessoa, efeito este que chamo de seu interpretante, este último sendo, por consequência, mediatamente determinado pelo primeiro (NEM 3: 886).

As tríades ou tricotomias peirceanas mais conhecidas são aquelas que se referem ao signo em si mesmo: quali-signo, sin-signo e legi-signo; signo com o seu objeto: ícone, índice e símbolo e a relação do signo com o seu interpretante: rema discente e argumento. Dai, temos:

Quadro 1 - Categorias Peirceanas

I II III 

(I) Signo Quali-signo Sin-signo Legi-signo

(II) Objeto Ícone Índice Símbolo

(III)Interpretante Rema Dicente Argumento

Segundo Santaella,

cada uma dessas divisões foi então subdividida novamente, de acordo com as variações próprias das categorias de primeiridade, secundidade e terceiridade. Os signos em si mesmos podem ser: (1.1) qualidades, (1.2) fatos e (1.3) ter a natureza de leis ou hábitos; os signos podem estar conectados com seus objetos em virtude de: (2.1) uma similaridade, (2.2) uma conexão de fato, não-cognitiva e (2.3) hábitos (de uso);finalmente para os seus interpretantes, os signos podem representar seus objetos como: (3.1) sendo qualidades, apresentando-se ao interprentante como mera hipótese ou rema; (3.2) sendo fatos, apresentando-se ao interpretante como dicente e (3.3) sendo leis, apresentando-se ao interpretante como argumentos. (SANTAELLA, 2000, p.92).

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Quadro 2 - Tipologia Sígnica Peirceana

Numeração Tipologia signica (classes) Exemplo

I Quali-signo-icônico-remático Um sentimento de vermelhidão.

II Sin-signo-icônico-remático Um diagrama individual.

III Sin-signo-indicativo-remático Um grito espontâneo.

IV Sin-signo-indicativo-dicente Um catavento

V Legi-signo-icônico-remático Um diagrama, abstraindo-se sua individualidade.

VI Legi-signo-indicativo-remático Um pronome demonstrativo.

VII Legi-signo-indicativo-dicente Um pregão de rua.

VIII Legi-signo-simbólico-remático Um substantivo comum.

IX Legi-signo-simbólico-dicente Uma proposição.

X Legi-signo-simbólico-argumental Um silogismo.

Fonte: Harwick, 1977: 161 (“Semiotics and significs).

O trabalho em questão não pretende abordar mais profundamente as categorias e as dez classes de signos propostos por Peirce. Entretanto, faz-se necessário mencioná-las por questões metodológicas.

1.2.3. O Objeto

O signo triádico peirceano, diferentemente, pressupõe uma distinção entre o significado e aquilo a que ele se refere, representa, evoca ou apresenta, seu objeto:

O objeto de um signo é uma coisa; seu significado é outra. Seu objeto é a coisa ou ocasião, indefinida como possa ser, à qual se aplique. Seu significado é a idéia que ele anexa ao objeto, seja por meio de uma mera suposição, ou como um comando, ou como uma assertiva. (CP 5.6).

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e tem o caráter de fornecer uma sugestão ou alusão, numa ideia que remeteria conclusivamente ao Objeto Dinâmico; é o Objeto como o Signo permite que o conheçamos ou como o Signo está apto a apresentá-lo.

O objeto imediato [...] diz respeito ao modo como o objeto dinâmico (aquilo que o signo substitui) está representado no signo. Se se trata de um desenho figurativo, o objeto imediato é a aparência do desenho, no modo como ele intenta representar por semelhança a aparência do objeto (uma paisagem, por exemplo). Se se trata de uma palavra, o objeto imediato é a aparência gráfica ou acústica daquela palavra como suporte portador de uma lei geral, pacto coletivo ou convenção social que faz essa palavra, que não apresenta nenhuma semelhança real ou imaginária com o objeto, possa, no entanto, representá-lo [...]. (SANTAELLA, 2008, p. 59-60).

Resumidamente teríamos: o caráter dual do objeto - Objeto Dinâmico, reconhecido como o objeto “Real”, o objeto em si, enquanto que o objeto imediato é o objeto apresentado no Signo. De acordo com a lógica triádica estabelecida por Peirce, o objeto imediato subdivide-se em três níveis. Santaella (2008) esclarece esse ponto de vista: “está claro aí que o modo de correspondência que se estabelece entre signo e objeto depende da natureza do signo, diferindo, portanto, em cada um dos seus tipos (índice, ícone e símbolo)”.

Divisão dos signos. Quanto ao Objeto Imediato: Signo Vago: o Signo representa o Objeto como Indefinido. Signo Singular: o Signo representa o Objeto como Individual Definido. Signo Geral: o Signo representa o Objeto como “Distributivo” (1905, MS 339C, p. 504) ou “como Distributivamente Geral” (p. 505).

Como observado, a lógica triádica é a essência do pensamento peirceano. Entretanto, Peirce ainda estava elaborando a sua classificação, ou seja, sempre estava buscando a melhor forma de apresentar as suas teorias. Em uma carta à L. Welby datando de 24 de dezembro de 1908 (CP 8.349) menciona:

Imagem

Figura 2- Gráfico Utilizado por Santaella  Fonte: Santaella, 1983:59
Figura 3 - Pegadas na Areia
Figura 4 – imagem da obra Natureza-Morta com maçãs e laranjas, 1895-1900, de Paul Cézanne
Figura 6 – Interface – Arte Digital
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Referências

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