1 Bacabal Docente efetivo 2011 100%
2 Grajaú Docente efetivo 2011 80%
3 São Bernardo Docente efetivo 2010 100%
4 Pinheiro Docente efetivo 2010 60%
Fonte: Pesquisa de Campo realizada pela autora – 2014-2015.
As características do conjunto desses sujeitos, por si só, eliminam alguns problemas que podem comprometer a obtenção de informações, abordados por Bourdieu (1997). Não existia a dissimetria social em função de uma superioridade de posição da pesquisadora em relação ao(à)s docentes, tendo por base a hierarquia das diferentes espécies de capital. Recorrendo às palavras do próprio autor:
O mercado de bens linguísticos e simbólicos que se institui por ocasião da entrevista
varia em sua estrutura segundo a relação objetiva entre o pesquisador e o pesquisado ou, o que dá no mesmo, entre todos os tipos de capitais, em particular os lingüísticos, dos quais estão dotados (BOURDIEU, 1997, p. 695).
Porquanto, não foi tão necessária uma atenção especial ao nível da linguagem utilizada, ou à estrutura do mercado linguístico, até porque dois dos sujeitos entrevistados eram pessoas conhecidas e os outros dois foram apresentados por alguém de convivência comum. Ou seja, foram otimizadas as condições de familiaridade, sobrando espaço para um cuidado com sinais verbais ou não verbais no intuito de estimular sua colaboração.
Pretendemos com tal procedimento obter o aprofundamento da problemática construída a partir da gênese do problema e da análise dos documentos selecionados, assim como colher dados subjetivos concernentes às concepções, opiniões e avaliações destes sujeitos acerca da proposta das LI, no que se referem aos seus pressupostos, seus fundamentos e às condições de concretização.
Por meio de contatos prévios, via ligações telefônicas, as entrevistas foram agendadas conforme a disponibilidade do sujeito a ser entrevistado. No primeiro momento do encontro, entregávamos o Termo de Consentimento Esclarecido (APÊNDICE 1) para que fosse lido e assinado. Nesse documento, constava o título do projeto da pesquisa, seu objetivo geral, o nome completo da pesquisadora e de seu orientador, além do nome da instituição e da linha de pesquisa às quais se vinculam. Foi utilizado visando esclarecer os sujeitos que iriam participar da pesquisa bem como comprovar sua decisão, livre e voluntária, quanto a essa
participação e sua autorização para divulgação das informações concedidas na apresentação das conclusões do trabalho, desde que seja preservada sua integridade moral. Ao final da leitura, o Termo era assinado e todos encontram-se arquivados pela pesquisadora.
Em seguida, ao estabelecermos uma conversa preliminar, acrescentávamos outros detalhes acerca da pesquisa, com destaque para os objetivos mais específicos e esclarecimento da metodologia, mormente, no que diz respeito à pesquisa de campo, deixando claros os critérios para a escolha dos sujeitos informantes. Por fim, explicitávamos o recorte temporal, de modo que eles entendessem que o conteúdo da entrevista se referia à primeira fase de implementação das LI, com seu PPP original. Inclusive, levamos uma cópia deste material para todas as entrevistas no intuito de disponibilizar a consulta, caso o(a) professor manifestasse interesse, e de dirimir eventuais dúvidas.
As entrevistas foram realizadas com auxílio de um roteiro (APÊNDICE 2) e de instrumento gravação. O primeiro foi produzido a partir das contribuições de Kaufmann (2013), configurando-se como um guia flexível com o intento de estabelecer uma dinâmica de conversação, que contemplou perguntas (ou indicadores para formulá-las), numa sequência lógica, de maneira que formassem um conjunto coerente, ordenadas pelos seguintes temas: Dados de Identificação; Sobre a proposta de oferta das LI no contexto de expansão da UFMA; Sobre o Projeto Pedagógico do Curso; Sobre as condições para o desenvolvimento das atividades formativas do curso; Avaliação geral da proposta do curso; Sobre a contribuição para a minimização dos principais problemas da formação inicial docente; Outras informações consideradas importantes.
De acordo com Silva (2006), no método da EC, as falas gravadas não são transcritas em sua íntegra, sob pena de se transformarem em linguagem escrita. Também porque, conforme Kaufmann (2013, p. 119), “[...] o tratamento não consiste simplesmente em extrair o que está nas gravações e ordená-lo. Ele toma forma de uma verdadeira investigação, aprofundada, ofensiva e imaginativa”. Por essa razão, as falas são ouvidas quantas vezes forem necessárias para que se extraiam os elementos relevantes para a compreensão do entendimento do outro no que diz respeito ao objeto de pesquisa.
Nessa perspectiva, a análise do material gravado foi feita na tentativa da “fabricação da teoria”, no dizer de Kaufmann (2013), quando o conteúdo das entrevistas, atentamente ouvido e interpretado, contribuía com o avanço da investigação, conferindo volume ao objeto. Na escuta das falas, várias anotações eram feitas, tanto de transcrições de frases, de palavras- chaves ou de expressões, quanto de comentários e/ou de interpretações nossas.
Tais transcrições referiam-se, em geral, a elementos considerados como essenciais devido à sua aproximação das hipóteses em elaboração para alcance dos objetivos traçados. Vale salientar que essas análises se efetivaram sempre com o auxílio das referências, numa relação de troca entre empiria e teorização, por isso o referencial foi entendido como instrumentos conceituais, que propiciaram o confronto das ideias assim como o progresso da argumentação.
No intuito de situar o(a)s entrevistado(a)s quanto a alguns elementos identitários, elaboramos o quadro dos sujeitos participantes da pesquisa – o(a)s intrerloctore(a)s – apresentado na sequência.
Quadro 2: Caracterização dos sujeitos informantes da pesquisa
Identificação Graduação Pós-graduação Experiência anterior em Licenciaturas Participação no processo de formulação das LI T OF S N Sujeito 1 História - Lic e Bac Mestrado em Educação S N X Sujeito 2 Biologia - Lic e Bac Mestrado em Ecologia S N X Sujeito 3 História - Lic e Bac Mestrado em Educação S N X Sujeito 4 Química Industrial Quimica – Lic Doutorado em Ciências – Química Analítica S N X
Fonte: Pesquisa de Campo realizada pela autora – 2014-2015.
Na análise deste quadro, alguns esclarecimentos são necessários. Nos momentos iniciais da entrevistas o(a)s docentes participantes da pesquisa foram questionado(a)s como gostariam de ser nomeado(a)s no texto produzido para exposição dos resultados do trabalho investigativo. Todo(a)s responderam que eram indiferentes quanto à questão, deixando a critério da pesquisadora, podendo, inclusive, serem identificado(a)s pelo respectivo nome e sobrenome. Entretanto, optamos por preservar suas identidades na medida do possível, do que decorre sua identificação mediante a denominação Sujeito, seguida do numeral 1, 2, 3 ou 4.
Não acrescentamos aos critérios de escolha dos sujeitos a área de atuação nas LI, ou seja, se ministravam aulas cujos conteúdos estivessem relacionados à formação específica – as Ciências Naturais –, ou à formação pedagógica – os Fundamentos da Educação. Justificamos
Legenda:
Lic – Licenciatura; Bac – Bacharelado T – Tradicionais; OF – outros formatos S – Sim; N - Não
a irrelevância atribuída a tal critério pelo fato de se tratarem, conforme presumíamos em decorrência de sua denominação, de uma licenciatura interdisciplinar, demandando de todo(a)s o(a)s professore(a)s uma visão de todo o percurso formativo e o esforço pelo constante diálogo entre essas duas dimensões da formação docente.
No entanto, quando realizamos a entrevista com os Sujeito 1 e 3, nos deparamos com uma formação diferente daquela selecionada no momento de delimitação do objeto de pesquisa – as Ciências Naturais. Diante do impasse, optamos por legitimá-los como informantes devido aos motivos seguintes. No caso do Sujeito 3, o argumento utilizado para sua participação na Comissão de Organização Curricular, segundo o qual, no campus em que trabalha, nos momentos iniciais da implementação das LI foi organizado o Colegiado de Ciência Humanas e Naturais, portanto contemplando os dois cursos. Este Colegiado teria indicado alguns nomes de professore(a)s que deveriam participar dos fóruns de discussão sobre essas novas licenciaturas, sendo ele um daqueles. Ademais, após a realização da entrevista percebemos a importância de considerar a visão de professore(a)s de outra área (Ciências Humanas), mas que desenvolvem conteúdos referentes aos Fundamentos da Educação, tendo em vista o objeto do Concurso Público a partir do qual ingressou na carreira do magistério da Universidade, bem como a pós- graduação concluída: Mestrado em Educação.
Quando tentamos entrar em contato com outro professor, cujo nome constava na Comissão de Organização Curricular da área de Ciências Naturais, fomos informada de seu afastamento para o doutoramento, realizado em outra capital. A indicação de outro professor, o Sujeito 1, foi aceita, sendo que por ocasião da realização da entrevista constatamos tratar-se de docente do campo da formação pedagógica que tem graduação na área de História. Decidimos mantê-lo como interlocutor devido ao seu conhecimento sobre o projeto original das LI, pois ele afirmou ter sido um dos primeiros a ler o projeto do curso, junto com outro(a)s seis ou sete colegas.
Além disso, teve participação ativa nos debates com a Reitoria e consultores externos, tendo inclusive integrado uma Comissão que iria discutir a parte de Fundamentos da Educação. Contudo, em sua opinião, seu nome não permaneceria na referida Comissão devido ao fato de não ter assinado a “Carta de Codó”, tendo em vista suas discordâncias com o processo. Em nosso julgamento, tal fato, não obstante sua relativa relevância (o que, inclusive, justifica o registro), não seria suficiente para desconsiderar a indicação de seu nome.
Outros dados que estimamos como dignos de destaque e, por isso, constam no quadro de caracterização desses sujeitos, são os que se relacionam às experiências anteriores
em licenciaturas (“tradicionais”20 ou outros formatos) e à participação no processo de
formulação das LI. Como pode ser observado no quadro, apesar de todos terem sido professores substitutos em universidades públicas, 03 deles na própria UFMA e 01 na UEMA, nenhum tinha trabalhado com outro formato de licenciatura, além do “tradicional”.
É cabível, ainda, acrescentar outro informe revelado por ocasião de realização das entrevistas. A premissa de Anastasiou (2010), concernente ao desconhecimento do PPP dos cursos em que lecionam, foi comprovada quando questionamos os sujeitos participantes da pesquisa se tinham informações sobre o projeto das LI quando ingressaram na carreira do magistério na UFMA. Três deles responderam negativamente, sendo que a fala do Sujeito 1 representa as demais: “[...] não tínhamos a menor ideia de como era a estrutura, de como era a forma, de como eram os mecanismos de desenvolvimento do curso... isso foi um impacto pra todo mundo... algo absolutamente novo pra todos nós”.
Aliás, vale ressaltar também que foi esse desconhecimento, e a perplexidade em sua recepção, que motivou a participação do(a)s professore(a)s na Comissão já mencionada, do qual decorria a sensação de estar “perdido” (SUJEITO 2) e a necessidade de diálogo com outro(a)s colegas para saber o que estavam fazendo.
Enfim, para a apresentação do percurso realizado no processo investigativo, estruturamos o texto em duas partes, além desta introdução, que apresenta a trajetória da pesquisa por meio da explicitação do tratamento teórico-metodológico, e das considerações finais, sobre as quais discorremos com mais detalhes a seguir.
A primeira parte, intitulada Contextualizando a gênese da proposta de oferta das Licenciaturas Interdisciplinares na UFMA, contempla dois capítulos. O primeiro, identificado como A Universidade Federal do Maranhão: um percurso de endividamento delineador da demanda de inclusão social, esboça uma panorâmica contextualização histórica da Educação Superior e formação de professore(a)s no Maranhão, ressaltando a dívida social contraída pelo poder público deste estado da federação frente às reivindicações de grande parcela de sua população por acesso e condições de permanência em universidades públicas, gratuitas e com qualidade socialmente referenciada.
A Política de expansão/Interiorização da UFMA e a oferta de formação docente: crescimento com inovação e inclusão social? nomeia o segundo capítulo que parte de uma reflexão sobre as políticas de Educação Superior no contexto das reformas educacionais
20 Estamos considerando “tradicionais” as licenciaturas com estruturação disciplinar destinadas à formação de docentes com habilitação em uma disciplina para atuação na Educação Básica, contemplando tanto o Ensino Fundamental quanto o Ensino Médio.
iniciadas na última década do século passado, buscando evidenciar a lógica global que as condiciona e/ou as determina. Tendo como recorte e campo empírico o processo de expansão/interiorização da UFMA, no âmbito da adesão ao REUNI, que originou a proposta das LI, o texto encaminha-se para a identificação de convergências desse contexto com o movimento de internacionalização das agendas educacionais como forma de problematizar os discursos pautados na inovação e pioneirismo da referida proposta. Para tanto, apresenta uma análise de dados relativos à evolução da oferta de cursos e vagas na referida Universidade, abrangendo o período de 2007 a 2014, destacando a implantação dessas licenciaturas como única opção de acesso ao nível superior do ensino na maioria dos campi do interior do estado do Maranhão, para pontuar algumas reflexões quanto aos limites e possibilidades desse processo para uma verdadeira democratização da educação superior pública.
A segunda parte, intitulada Conhecendo o Projeto Político Pedagógico das Licenciaturas Interdisciplinares, também, está estruturada em dois capítulos. O primeiro destes, cujo título é Licenciaturas Interdisciplinares: para além de uma nova proposta de profissionalização docente, um paradigma de gestão da educação superior para os campi do continente da UFMA, inicia-se com uma reflexão sobre o percurso histórico da oferta de Licenciaturas no Brasil, em especial daquelas na área de Ciências Naturais, no intuito de apreender a gênese dos principais problemas do processo formativo inicial docente para o ensino dos conteúdos disciplinares desta área do conhecimento. Atenção especial foi dispensada às variadas formas de fragmentação que têm caracterizado os processos formativos de professore(a)s, nomeadamente a problemática relação entre teoria e prática, bem como entre conhecimentos pedagógicos e específicos nos currículo e, ainda, o distanciamento do contexto de futura atuação profissional no decorrer dos cursos. O capítulo segue com uma discussão sobre o diagnóstico dos cursos de formação docente que levou à formulação e proposição das LI e com um exame crítico das adjetivações utilizadas para apresentar esse novo formato de licenciatura, destacando as contradições entre um discurso que se ancora na inovação, mas recorre a antigas propostas, oriundas do movimento escolanovista. A argumentação produzida encaminha para o término do capítulo, tendo por base a assertiva que a proposição e implementação das LI nos novos campi do continente articula-se com as novas formas de gestão assentes na gerencialismo.
O último capítulo, intitulado Convertendo velhas bandeiras em novas possibilidades: as proposições repaginadas, dá continuidade à análise do projeto pedagógico do curso das LI, centrando-se nos princípios norteadores e fundamentos teórico-práticos. Privilegia, então, a discussão sobre a adoção da competência como concepção nuclear desse
novo formato de licenciatura, numa linha argumentativa balizada por aportes que vinculam tal perspectiva às demandas atuais do capital, regidas pela racionalidade mercadológica. Examina, também, outros pressupostos e fundamentos que conferem identidade ao curso, ainda que esta seja construída, contraditoriamente, mediante a falta de clareza. Tendo como eixo de análise o reducionismo de concepções que focalizam a formação docente no desenvolvimento de competências, as reflexões do capítulo têm prosseguimento com um exame das orientações metodológicas, que convergem tanto para a secundarização dos conhecimentos científico- culturais e, por conseguinte, do ato de ensinar, quanto para a destituição do trabalho docente de seu viés intelectual. As análises finalizam-se com a mediação da contribuição dos sujeitos participantes da pesquisa no que tange à avaliação que fazem do curso e das condições para a operacionalização do processo formativo nele proposto, revelando muito mais limites do que possibilidades para que essas licenciaturas superem a fragmentação que tem caracterizado a formação inicial de professore(a)s da área de Ciências Naturais e/ou se constituam em novos caminhos para a profissionalização docente.
Por fim, as Considerações Finais cumprem a função de apresentar a tese por meio de um esforço intelectual para a produção de uma síntese, uma vez que partimos do entendimento que a realidade é complexa e dinâmica e, portanto, nem todo o seu movimento e suas contradições podem ser apropriados pelo pensamento. Portanto, são apresentadas as determinações-relações que foram possíveis ser apreendidas.
PARTE 1 – CONTEXTUALIZANDO A GÊNESE DA PROPOSTA DE