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Senso crítico

No documento LUZINETE DUARTE COSTA (páginas 119-124)

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

3.3. ICD-03: MATRIZ ANALÍTICO-INTERPRETATIVA E

3.3.4 Valorização do conhecimento construído com a iniciação científica: uma

3.3.4.2. Senso crítico

A prática relativa à seleção de argumentos pode ser uma excelente oportunidade para o desenvolvimento do senso crítico, que é um dos principais objetivos do ensino brasileiro. Segundo os PCN, levar o aluno a “posicionar-se de maneira crítica, responsável e construtiva nas diferentes situações sociais” (BRASIL, 1998a, p. 7) é uma das metas do ensino. De fato, a busca por uma Educação que vá além do conhecimento teórico e promova nos alunos uma postura de criticidade está no rol de preocupações da escola moderna. Em seguida, no Quadro 41, apresentam-se os valores escalares obtidos para esta subcategoria a partir da análise dos documentos considerados.

QUADRO 41 - Valores escalares correspondentes à subcategoria “Senso crítico”.

Fonte: Elaborada pela autora.

De modo geral, os dados evidenciaram a presença de senso crítico entre os estudantes, considerando os textos dos projetos e relatórios, desde a organização, o desenvolvimento e a apresentação seus projetos para a FECI-TAP/2016 até a atuação como bolsistas no LMC. Os participantes exercitaram a sua criticidade, externando ideias,

CONCEITOS PROJETOS/RELATÓRIOS VALORES ESCALARES

C-A, 2.c. Presente:

PA-01, PA-02, PA-03, PA-07, PA-09, PA-10 e PA-12 58,33% RA-01,RA-02, RA-03, RA-04, RA-06, RA-07, RA-08, RA-09

e RA-10 75%

C-A, 2.c. Parcial C-A, 2.c. Ausente

PA-04, PA-05, PA-06, PA-08 e PA-11 41,66%

discutindo problemas do seu cotidiano, analisando a opiniões de outros e posicionando- se quando questionados sobre os desafios da Ciência, que antes não eram conhecidos por esses estudantes.

Comparando os achados para esta subcategoria verificados nos relatórios e nos projetos, conclui-se que o senso crítico esteve mais presente naqueles (75%) do que nestes (58,33%). Não houve evidência de parcialidade para esta subcategoria. Nos relatórios RA-05 e RA-11 e RA-12, não se evidenciaram traços de senso crítico despertados com as atividades da pesquisa científica.

Conforme Da Silva (2003, p. 59), a “crítica é uma atividade do pensamento que envolve julgamentos, análises, avaliações, estabelecimento de relações, mediante alguns padrões”. Para a autora, o senso crítico pode-se revelar, sobretudo na capacidade de efetuar “bons julgamentos”. Não basta ser capaz de emitir juízos; é preciso, também, que o indivíduo seja capaz de considerar as consequências dos seus posicionamentos.

Bazzo (2017, p. 101) defende que a crítica rompe com “alguns limites” – da obediência às regras, do respeito pela hierarquia social, da aceitação pela imposição, sem que haja a efetiva valorização da construção do conhecimento16. A criticidade do estudante pode surgir quando o pensamento mecanicista dá lugar à “inquietação indagadora, como inclinação ao desvelamento de algo, como pergunta verbalizada ou não, como procura de esclarecimento” (FREIRE 1996, p. 35).

Ainda de acordo com Da Silva (2003, p. 60), o homem, como um ser dotado de razão e vontade, constantemente “avalia, julga, critica” e forma juízos de valor. Quando envolvido em discussões, ele tenta ter influências sobre o comportamento do outro ou fazer com que esse outro venha a compartilhar de determinadas de suas opiniões. Desse modo, para esta subcategoria, foram consideradas as ideias, as discussões e as opiniões e como indicadores para a presença da subunidade. Os resultados mostram que 58,33% dos projetos revelam senso crítico. É o caso de PA-01, PA-02, PA-03, PA-07, PA-09, PA10 e PA-12.

16Adota-se que os conhecimentos que são abordados [...] estão sujeitos a erros, tendo por consequência as inerentes não linearidades dos processos de pensamentos. Ao serem inseridos em contextos históricos que conduzem a sua elaboração, acaba por se tornar difícil de construir modelos fechados que deem conta de descrevê-los e explicá-los definitivamente (BAZZO, 2017, p. 102).

Discussões Desafios

Ideias

Opiniões

FIGURA 2 – Critérios indicadores da presença de senso crítico. Fonte: Elaborada pela autora.

A Figura 2, traz um esquema que propõe a compreensão do ciclo do senso crítico, subcategoria elegida para analisar a valorização do conhecimento construído pelos bolsistas de iniciação científica júnior. Tendo em vista que o aprimoramento do senso crítico, facilitando surgimento de novas ideias capacitando os estudantes para a tomada de decisões frente aos novos desafios, possibilitando a formação de opiniões.

A seguir, no Quadro 42, apresentam-se trechos de PA-01, PA-02, PA-03, PA-07, PA-09, PA10 e PA-12, documentos em que a subunidade aparece.

QUADRO 42 -Trechos dos projetos que evidenciam a subcategoria “Senso crítico”.

“Devido a possibilidade de contribuir para a mudança nos hábitos alimentares das pessoas, quanto para preservação do meio ambiente, observou-se que houve

compreensão significativa por parte envolvidos na pesquisa, em torno do tema”(PA-

01).

“Identificar se a inclusão dos alunos portadores de necessidades especiais está acontecendo, e se estão sofrendo descriminação e preconceito dentro das instituições

educacionais”(PA-02).

“Descobrir as vantagens e desvantagens da transgenia nas plantas, questionar os alunos dos segundos e terceiros anos da escola [...]. A falta de conhecimento fez [...] respondidos corretamente. As escolas deveriam apresentar o assunto nas salas de aulas, pois elas convivem com ele todos os dias e também seria um meio de discussão nas aulas” (PA-03).

“É importante, também, compreender de quais recursos naturais os indígenas se utilizam para transformar em arte uma técnica classificada por eles, como pigmentação natural a partir de vegetais como jenipapo, urucum e o mineral argila” (PA-07). “A importância histórica de [...] com seus 288 anos em relação à História do Brasil” (PA-09).

“A fermentação natural do fruto cupuaçu para elaboração do vinagre, utilizando a fermentação acética para a sua preparação, por possuir propriedades físicas e químicas importantes o mesmo terá grande relevância para sociedade sendo um produto inovador” (PA10).

“A contribuição para a comunidade [...], isso foi gratificante por que foi tirado da natureza litros de um produto [...] que iria prejudicar tanto o solo como o lençol freático” (PA12).

Nos fragmentos dos textos de PA-01, PA-03, PA-07, PA-09 e PA-12, há evidência de que os estudantes conseguem expressar suas opiniões em relação à pesquisa desenvolvida e apresentada por eles na FECI-TAP/2016. Eles identificaram o problema, pesquisaram e buscaram soluções; contudo, não aparecem evidências de maior aprofundamento com embasamento científico.

De fato, boa parte dos projetos limitou-se a expor o problema e a questionar sua possível causa. Faltaram questionamentos tais como “o que a Ciência diz sobre isto?” ou “por que eu estou discutindo este assunto?”. Desse modo, apesar de todos os pontos positivos já apontados, pode-se afirmar que faltou aprofundamento e criticidade na condução de aspectos da pesquisa. Isso, contudo, não desbanca o fato de que a compreensão científica em relação ao evento, de modo geral, esteve, sim, presente.

Os dados para PA-02 ePA-10 diferem dessa realidade. No primeiro, os estudantes

demonstram senso crítico no modo como articulam suas ideias em relação à inclusão dos alunos nas instituições educacionais. Percebe-se uma genuína preocupação com as possibilidades de discriminação e de preconceito nas escolas.

Os autores de PA-10, por sua vez, buscaram investigar um fenômeno que ocorre na natureza: a fermentação natural por meio de indução, utilizando a fermentação acética. Percebeu-se que eles se posicionaram criticamente em relação ao desafio da produção de um produto, buscando explicações na Ciência para fenômenos analisados. Segundo

Chassot (2016), a fermentação17 é um processo que há um tempo tem sido a base da

economia familiar de certos lugares; trata-se, portanto, de algo com relevância econômica e social.

Por outro lado, o senso crítico não foi encontrado em 41,66% dos projetos. É o caso de PA-04, PA-05, PA-06, PA-08 e PA-11. Percebeu-se que os estudantes, autores desses projetos, não se posicionaram de forma crítica em relação àquilo que eles decidiram pesquisar. É oportuno lembrar que o homem, ao longo da sua existência, tem valorizado o saber científico como forma de desenvolver novas habilidades físicas e mentais (BRASIL, 2008). O exercício crítico é uma dessas habilidades; questionar e

17Só a técnica de controle da fermentação e a arte de garantir um engarrafamento de seguro merecem consideração muito especial. Os produtores artesanais de cervejas tinham suas fabriquetas locais que eram respeitosamente consagradas pela qualidade do produto, que acabavam sendo engolidas pelas multinacionais (CHASSOT, 2016, p. 238).

duvidar são procedimentos básicos da Ciência. Apenas reproduzir, portanto, nunca é uma atitude científica.

As características menos positivas dos projetos e relatórios são aqui apresentadas a título de constatação, uma vez que, em se tratando de estudantes em estágios inicias de desenvolvimento intelectual, é compreensível que apresentem certas dificuldades. Eles estão em pleno desenvolvimento cognitivo e dispõem de tempo para sanar esses problemas e amadurecerem.

Nos relatórios, foram encontradas evidências de que a Feira e a iniciação científica no LMC promoveram a discussão de ideias e a formação de opinião, fazendo com que os alunos se posicionassem criticamente em relação às temáticas estudadas, como é apresentado no Quadro 43. É o caso de RA-01, RA-02, RA-03, RA-04, RA-06, RA-07, RA-08, RA-09 e RA10.

QUADRO 43 -Trechos dos relatórios que evidenciam a subcategoria “Senso crítico”.

“A pesquisa científica para resolver problemas sociais [...], hoje com a participação na Feira de Ciências posso conseguir resolver uma situação [...], onde ela pode ser

pesquisada e achada uma solução para o problema”(RA-01).

“As contribuições que o meu projeto científico trouxe para a sociedade, foi apresentar as falhas e necessidades de mudanças e a importância da realização da inclusão de forma correta” (RA-02).

“Em relação a vida na Universidade, entramos em contato somente com os professores da área, sem nenhuma interação com os alunos do Campus [...], apesar disso, o conhecimento das instalações da UNEMAT, fez com que essas visitas valessem a pena”(RA-03).

“Atualmente tenho a visão de que a pesquisa científica [...], pode ser realizada de diversas maneiras, através de uma ideia simples que pode ser vista de maneiras diferentes, [...] que pode ter uma total relevância, talvez, não conhecida para a sociedade” (RA-04).

“Não consegui seguir com o tema apresentado na Feira, [...] o que me deixou um tanto frustrada inicialmente, isso devido à falta de um professor orientador para continuar com o mesmo. [...] Isso mudou após a boa relação com a professora orientadora e com os colegas” (RA-06).

“Contudo, hoje, eu, como aluno desta bolsa, acho sim que estaria preparado para resolver um problema de ordem científica, pois tive orientadores mais que capacitados,

e colegas sempre preparados para ajudar”(RA-07).

“Após a realização e apresentação do projeto na Feira, começamos a pensar [...], como seria possível fazer algo para melhorar esta situação, o que aumentou [...] com o início da bolsa” (RA-08).

“Hoje eu sei que fazer Ciências não é muito fácil e nem muito simples, tem horas que a gente pensa e desistir. Mas depois que a gente se envolve com a pesquisa, o pensamento é só desafiar a Ciência que está em tudo” (RA-09).

“No começo teve mudanças que eu achei em minha opinião muito ruim, pois eu não tinha terminado o meu projeto ainda, fazendo assim, eu me sentir meio confusa por não saber o qual dos dois projetos seguir”(RA10).

Conforme os indicadores elencados para identificação da subcategoria em questão, o senso crítico foi encontrado em RA-03, RA-04, RA-06, RA-09 e RA-10; essa subcategoria esteve presente por meio de “opiniões” sobre todo o percurso da Feira e da iniciação científica. Devido às semelhanças, os documentos RA-07 e RA-08 foram agrupados de acordo com os indicadores a que estão ligados: o dos desafios da Ciência. Os alunos falaram sobre as dificuldades vivenciadas durante a Feira. Eles mostram a consciência de que todo o percurso fê-los amadurecer intelectualmente.

Para que houvesse a compreensão científica sobre a Feira de Ciências enquanto evento importante, foi necessário que os estudantes reconhecem esse espaço como um corpo de conhecimento sólido. O evento aumentou o interesse dos alunos por assuntos da

Ciência. É oportuno ainda mencionar, como outro indicador para esta subcategoria, que

os autores de RA-02 trataram especificamente do legado do seu projeto para a comunidade, mostrando de que modo ele lançou uma contribuição.

No documento LUZINETE DUARTE COSTA (páginas 119-124)

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