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1 BREVE HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA: SÉCULOS

4.2 A vivência do estágio supervisionado: representações sobre a teoria

4.2.3 O sentido da vivência da sala de aula

O espaço da sala de aula se revela como o espaço de construção do saber docente e também de mediação deste conhecimento. É um espaço de relacionamento, de mutualidade, espaço de diálogo e de trocas também. Lugar de encontro, onde o objetivo principal é a aquisição de um saber que gere mudança de atitude, que seja significativo, contextualizado, que impacte as vidas, que contribua na conquista dos sonhos, enfim, um saber que faça diferença, que faça pensar, refletir e agir. É nesta sala de aula que a carreira destas docentes se iniciou, e é também nesta sala de aula que a trajetória de cada uma delas tem sido construída repleta de sentidos e significados.

O sentido é descortinar, é reestruturar teoria, é repensar. Porque é a sala de aula que vai mostrar pra gente o que é a realidade. Então, o sentido de estar, de experienciar uma sala de aula é muito grande porque é nessa sala de aula, é em contato com os alunos que você vai se auto-avaliar. Vai rever práticas, vai constituir, instituir pensamentos, instituir formas de trabalho que muitas vezes a teoria só pensa, mas não executa e as vezes pensa errado. Porque quando a gente chega lá, a gente depara com outra realidade (Profa. B). Pra mim, a sala de aula já teve um significado diferente. Quando eu trabalhava no fundamental, quando eu passei a trabalhar no ensino médio e quando eu vim pra universidade [...]. O Fundamental I da Normal, era uma experiência muito gratificante, porque eu ficava muito próxima dos alunos, eu acompanhava o crescimento deles, o desenvolvimento deles. O retorno era ali [...]. E quando eu fui pra o Ensino médio, era uma distância. E por mais que eu tentasse me aproximar, eu acabei criando um certo bloqueio [...]. Essas daqui do Ensino superior, no primeiro momento é aquele medo de não corresponder às expectativas [...]. Então aí, eu consegui. Pra mim foi satisfatório. Eu consegui dar um pouquinho de mim, das minhas experiências [...] (Profa. D).

Mas na sala de aula é um lugar que eu consigo falar o que eu quero expor o que eu quero questionar, é um dos lugares que me deixa mais a vontade. Eu não sou uma pessoa de mesa redonda, já descobri isso. Eu não sou uma pessoa de entrevista. Mas na sala de aula, eu consigo fazer tudo. Seja apresentar um trabalho, seja conversar sobre uma coisa, seja conversar sobre outra coisa, esse é um espaço que me deixa muito a vontade (Profa. F). O espaço da sala de aula seria um espaço de possibilidade de transformação, ou seja, esse espaço da sala de aula, onde professor milita e que ele tem autonomia, das transformações que ele tem essa consciência(Profa. A).

[...] eu vejo essa vivência na sala de aula como uma experiência multifacetada. Que tem o aspecto do conteúdo, tem o aspecto da mediação e tem o aspecto do convívio, da solidariedade, da possibilidade de construir, de solidificar relacionamentos. Eu gosto de estar na sala de aula. Sinto-me motivada a estar na sala de aula. Pra mim, é uma experiência rica e que se renova a cada dia (Profa. E).

[...] nem olhos, nem ouvidos, nem o sentido daquilo que a gente está aqui na academia ele pode vivenciar pra nós enquanto a teoria, aquilo que uma sala de aula permite. Da dinâmica, do humano, porque é de humano pra humano. A gente não pode ir pra sala de aula como técnicos. Nós não somos técnicos, não somos [...]. Então assim, a sala de aula vai promover outro mundo e que a gente não consegue mensurar o quê que vai gerar, vai ter dias que você vai se preparar, você vai chegar e vai dar uma excelente aula, você pode sair daquela turma e ir pra outra e não ser. Por quê? Porque a forma, você pode usar a mesma e dar resultado, mas o público não é o mesmo. É outro. Então, eu acho que é nessa dimensão mesmo. É sempre um desafio (Profa. C).

A sala de aula enquanto espaço de materialização das práticas sociais do professor se traduz através de diversas representações nas falas das protagonistas desta pesquisa. É onde o professor tem a possibilidade de se auto-avaliar, de repensar a teoria, de rever a sua prática. Um lugar que tanto pode ser um espaço de proximidade ou de distâncias, a depender do nosso olhar e do olhar do outro. A sala de aula é traduzida também como um espaço de segurança, onde o ―estar‖ possibilita também o ―ser‖ enquanto pessoa e ser humano. É representada também como um espaço de militância política, um lugar onde as sementes das transformações sociais podem ser plantadas e regadas para que germinem e frutifiquem. Conforme Pimenta e Lima,

Juntamente com seu saber, sua cultura individual e coletiva, o professor leva consigo para a sala de aula sua história de vida e sua visão de mundo. A forma de conduzir os conhecimentos específicos de sua área de estudo, a relação com os alunos e a avaliação que utiliza passam pela visão de ciência que possui, pela concepção de aluno, de escola e de educação que acumulou no decorrer das experiências vivenciadas (PIMENTA e LIMA, 2010, p. 157).

O espaço da sala de aula também se traduz nas falas tanto como um espaço de mediação e construção do conhecimento, como também um espaço do compartilhar, do ser solidário, do olhar atento às necessidades do outro. E por fim, a sala de aula também é dimensionada como um lugar que se encontra além daquilo que a percepção acadêmica, a discussão teórica permite alcançar, é muito mais, é um espaço de diferenças, de diversidade, de heterogeneidade, de embates, de sínteses, de descobertas, de construção e desconstrução, enfim, só a sala de aula possibilita verdadeiramente o ―fazer‖ e o ―ser‖ professor a cada dia, numa trajetória que nunca termina, todo dia existe sempre um recomeço.