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Sentimentos em relação ao trabalho

5.2 SENTIMENTOS RELATOS POR TRABALHADORES DE ENFERMAGEM

5.2.2 Sentimentos em relação ao trabalho

Para identificar quais sentimentos os trabalhadores de enfermagem possuem em relação ao trabalho, uma das questões do instrumento de coleta de dados procurou verificar como esses trabalhadores se sentem ao final de uma jornada de trabalho. Como podemos verificar no gráfico 25, 64,58% afirmam que se sentem realizados após uma jornada de trabalho, pois fizeram tudo que estava ao seu alcance; 25% afirmam se sentirem aliviados pelo término de mais um plantão; e 18,75% acreditam que poderiam ter feito mais pelas pessoas assistidas por eles.

Na mesma questão foi possível avaliar o grau de exaustão após uma jornada de trabalho. Neste aspecto, 8,33% referem se sentir muito exaustos emocionalmente após uma jornada de trabalho; 6,25% sentem-se exaustos e 10,42% sentem um pouco de exaustão ao final de um plantão.

Gráfico 25: Distribuição do percentual de sujeitos sobre o grau de exaustão após uma jornada de trabalho na percepção desses sujeitos

Fonte: Elaboração da autora

A realização aparece novamente nos dados apresentados no gráfico 25 como um sentimento dos sujeitos pesquisados, ao encerrarem uma jornada de trabalho. A realização é apontada por 64,58% dos sujeitos pesquisados como o sentimento resultante da sensação de ter feito tudo que estava ao alcance durante uma jornada de trabalho. Desta forma parece que a realização surge como um sentimento de tarefa cumprida.

Vinte e cinco por cento dos sujeitos pesquisados referem sentir-se aliviados quando chegam ao fim de mais um plantão.O fato de esses sujeitos indicarem alívio com o término de um plantão parece indicar que esses mesmos sujeitos sentem algum incômodo durante o trabalho. O alivio é proveniente de uma situação estressora, na qual o sujeito pode ter se sentido sob ameaça, ou controlado. Desta forma parece que, ao trabalhar, os sujeitos pesquisados sofrem algum tipo de coerção no trabalho. A coerção é definida por Sidman (1995) como uma forma de controlar o comportamento e a vontade da pessoa. Segundo o autor, um sujeito coagido se sente ameaçado ou impedido de expressar suas vontades, “fazendo algo contra sua vontade”(p. 51). Sendo assim, é possível que haja algo no ambiente de trabalho dos sujeitos pesquisados que os ameaça ou os controla. Seria essa ameaça proveniente da relação dos profissionais com sujeitos que sofrem de transtornos mentais? Este dado parece ir ao encontro do que foi exposto no gráfico 10, onde 37,50% dos sujeitos pesquisados responderam que a ameaça de agressão por pacientes em surto é um fator estressante no ambiente de trabalho.

64,58 25,00 8,33 6,25 10,42 2,08 18,75 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 realizado, pois fiz tudo que estava ao meu alcance

aliviado por ter chego ao fim mais um plantão muito exausto emocionalmente exausto emocionalmente pouco exausto emocionalmente nada exausto emocionalmente acredito que poderia ter feito mais pelas pessoas

A frustração parece estar presente quando 18,75% dos sujeitos pesquisados ao respondem que acreditam que poderiam ter feito mais pelas pessoas assistidas por eles. A frustração de acordo com VandenBos (2010) é a sensação que a pessoa tem em não alcançar algo que esperava. Este dado parece evidenciar que os sujeitos pesquisados desejam alcançar algo em relação aos cuidados de seus pacientes. Cabe lembrar que a maior parte dos pacientes que está internada no IPQ apresenta quadro psicótico, e cabe lembrar também que alguns desses pacientes “moram” na instituição, por abandono da família ou outros motivos. O fato de lidarem com pacientes que apresentam sofrimentos crônicos parece gerar essa sensação de “poder ter feito mais” nos sujeitos pesquisados, de modo que esta sensação gera consequentemente uma sensação de impotência nesses sujeitos. Todo trabalho busca a modificação de algo ou alguma coisa, e muitas vezes o trabalho realizado com pacientes crônicos gera uma mudança tão pequena que os trabalhadores de enfermagem não o reconhecem como positivo, ou acham que seu trabalho não foi suficiente para a melhora do paciente, gerando frustração e sensação de impotência.

A exaustão é apontado pelos sujeitos pesquisados como resultado do término de uma jornada de trabalho. Dos sujeitos pesquisados, 25% indicam alguma intensidade de exaustão emocional. A exaustão emocional é considerada por Silva e Menezes (2008) um fator desencadeante de esgotamento profissional, caracterizada por desgaste emocional e por sensação de falta de energia. Os autores apontam também que a exaustão emocional geralmente está relacionada a demandas excessivas de trabalho e conflitos pessoais. Sendo assim, parte dos sujeitos pesquisados apresenta indicadores de possível esgotamento profissional.

Sobre sentimentos relacionados ao trabalho, foi elaborada uma questão que elencava alguns sentimentos negativos e positivos em relação ao trabalho. De um modo geral, é possível perceber, pelo gráfico 26, que os trabalhadores de enfermagem referem possuir mais sentimentos positivos do que negativos em relação ao trabalho. Dos sentimentos positivos apontados pelos sujeitos pesquisados, 81,25% afirmam que sentem responsabilidade em relação ao trabalho; realização e satisfação foram apontados por 56,25% cada um; 45,83% afirmam sentirem alegria em relação ao trabalho; caridade, confiança e valorização correspondem a 33,33% cada um; 22,92% referem sentir segurança em relação a seu trabalho e 12,50% afirmam ter autonomia em relação ao trabalho.

Dentre os sentimentos negativos apontados pelos sujeitos pesquisados referentes ao trabalho, 20,83% disseram sentir ansiedade em relação ao trabalho; logo abaixo, com

12,50% cada um aparecem os sentimentos como medo, insegurança e frustração; 8,33% disseram que o trabalho lhes causa angústia; 6,25% referem se sentirem pressionados no trabalho; desamparo e tristeza foram expressos por 4,17%, cada um e 2,08% afirmam sentir- se desanimados com o trabalho.

Gráfico 26: Distribuição do percentual de sujeitos pelos sentimentos relacionados ao trabalho, na percepção desses sujeitos

Fonte: Elaboração da autora

Parece que os sujeitos pesquisados apontam mais sentimentos positivos em relação ao trabalho do que sentimentos negativos. De acordo com Viscott (1982), os sentimentos revelam a maneira como o sujeito vê o mundo que o circunda. Desta forma, parece então que os sujeitos pesquisados veem o mundo do trabalho de forma positiva, uma vez que o mesmo parece propiciar sentimentos positivos. Dentre os sentimentos positivos expressos pelos sujeitos pesquisados, a responsabilidade foi expressa por 81,25% dos sujeitos. Sobre esse dado, Alves (2005) chama a atenção dizendo que o profissional da saúde no campo da saúde mental, muitas vezes, carrega implícito em seu papel a responsabilidade de promover o bem estar do paciente, sendo que este fator gera neste profissional um grande desprendimento de energia, fazendo com que este se confronte o tempo todo com a polaridade expectativa versus limitação em sua prática. Este dado parece demonstrar que os sujeitos pesquisados sentem-se responsáveis pelo trabalho que exercem, e consequentemente, pelas

20,83 12,50 4,17 12,50 4,17 12,50 8,33 6,25 2,08 45,83 81,25 33,33 22,92 56,25 56,25 12,50 33,33 33,33 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

pessoas cuidadas por eles, já que o trabalho de enfermagem é baseado no cuidado do outro. Porém, parece que nem sempre a responsabilidade pode ser vista de forma positiva, pois dependendo do grau de responsabilidade que o profissional sente em relação a seu paciente, pode haver uma dificuldade em separar a responsabilidade profissional do investimento afetivo, sendo que a evolução negativa da doença do paciente pode trazer sofrimentos para esse profissional.

Outro dado relevante sobre sentimentos positivos em relação ao trabalho, foi a satisfação, apontada por 56,25% dos sujeitos. De acordo com Martinez et. al. (2004) a satisfação no trabalho é relativa de pessoa para pessoa. Para as autoras, a satisfação com o trabalho é o resultado da satisfação com todos os elementos pelo qual o trabalho é composto. Desta forma parece que ao afirmarem que estão satisfeitos com o trabalho, os sujeitos pesquisados querem dizer que se sentem satisfeitos com todos os elementos que compõe um trabalho: estrutura física, relação com chefia, com colegas, com paciente, com salário etc. Porém sobre esses elementos que também compõem o trabalho, os sujeitos pesquisados responderam em outras questões, que relação interpessoal com chefe (16,67%) e com colegas (39,58%) podem ser geradora de estresse no ambiente de trabalho (gráfico 16); assim como as condições físicas do ambiente de trabalho também são apontadas como geradoras de estresse (gráfico 16): falta de funcionários (72,92%), falta de matérias (33,33%), falta de equipamentos (27,08%); a relação com paciente também foi apontada pelos sujeitos pesquisados como um fator de interferência em na saúde mental desses trabalhadores (25% - gráfico 23); e o salário foi considerado desproporcional às funções exercidas por 56,25% dos sujeitos pesquisados (gráfico 18). Desta forma parece haver outras variáveis consideradas pelos sujeitos pesquisados que são geradoras de satisfação no trabalho, já que 56,25% consideram-se satisfeitos com o trabalho.

A realização é apontada por 56,25% dos sujeitos pesquisados como um sentimento positivo em relação ao trabalho. Para Azevedo (2008) é no trabalho que o homem se realiza enquanto um “ser em ação” que produz e dá sentido ao que é humano. Desta forma, parece que o sujeito, ao trabalhar, busca além de realização profissional, realização pessoal, uma vez que não é possível separar o ser que trabalha do ser social. A realização profissional interfere na realização pessoal e vice-versa, sendo que um sujeito realizado profissionalmente adere a posturas mais positivas para sua vida, tornando o ambiente de trabalho mais harmonioso (SIQUEIRA;GOMIDE JUNIOR, 2004).

A alegria também é apontada pelos sujeitos pesquisados como um sentimento positivo relacionado ao trabalho. De acordo com VandenBos (2010) a alegria é um sentimento de extremo contentamento, consequente de uma sensação de bem-estar e/ou satisfação. A alegria (45,83%) parece desta forma ser um sentimento consequente da satisfação e realização apontadas pelos sujeitos pesquisados.

A confiança foi apontada por 33,33% dos sujeitos pesquisados. Para VandenBos (2010) a confiança é considerada pela maioria dos pesquisadores em psicologia como um sentimento proveniente de uma relação madura que o sujeito estabelece com outras pessoas. Para o autor, confiança significa fé ou convicção em algo ou alguém. Em relação ao trabalho, é possível dizer que a confiança é o resultado do vinculo estabelecido pelo trabalhador com o trabalho e a organização de trabalho. Para Siqueira e Gomide Junior (2004) o vinculo é proveniente da satisfação e do envolvimento do sujeito que trabalha com o trabalho. Para os autores, satisfação e envolvimento com o trabalho resultam em maior produtividade e desempenho, e menor absenteísmo e rotatividade. Os autores apontam ainda que o vinculo proveniente das relações interpessoais traz resultados positivos importantes para as organizações de trabalho. Deste modo, parece que os sujeitos pesquisados consideram que possuem uma relação satisfatória com o trabalho e com a organização deste.

Dos sujeitos pesquisados, 33,33% responderam que sentem valorização em relação ao trabalho. A valorização é definida por VandenBos (2010) como o preenchimento de papéis sociais, onde a pessoa valorizada se sente socialmente aceita pelos outros, resultando numa qualidade de vida satisfatória. Este dado parece evidenciar que os sujeitos pesquisados sentem-se valorizados e reconhecidos pela profissão que exercem. Considerando que os sujeitos pesquisados trabalham com o cuidado de pessoas que sofrem com transtornos mentais, isto resulta num papel social importante e reconhecido pela sociedade, de modo que ao trabalhar o sujeito passa o ocupar um lócus na sociedade.

Um dado interessante apontado por 33,33% dos sujeitos pesquisados diz respeito ao sentimento de caridade. A caridade, de acordo com Ferreira (2004, p. 406), é proveniente de um sentimento cristão, em que “o amor é que move a vontade na busca efetiva do bem a outrem, e esse amor procura identificar-se com o amor de Deus”. Para o autor, caridade também é sinônimo de benevolência e compaixão. Parece dessa forma que os sujeitos pesquisados consideram que o trabalho prestado por eles aos pacientes é uma ação de caridade. Cabe lembrar que, de acordo com Lunardi (1998), a profissão de enfermagem está presente desde o cristianismo, sendo que nesta época o papel da enfermeira era desempenhado

por mulheres religiosas, as chamadas diaconisas. As enfermeiras desta época, diaconisas, eram conhecidas por sua doçura, bondade, paciência, abnegação e compaixão pelos pobres e enfermos (LUNARDI, 1998). Porém, a profissão de enfermagem se consolidou ao longo dos anos tanto como ciência, quanto como profissão, passando das práticas empíricas para praticas científicas, e a profissão deixou de ser uma ocupação para se tornar uma profissão pautada em princípios éticos, legais e científicos. Contudo, o dado acima parece evidenciar que não os profissionais de enfermagem ainda não se desvincularam dessa imagem construída historicamente, sendo que apesar dos inúmeros avanços na área da enfermagem, ainda há profissionais que consideram seu trabalho uma ação de caridade.

Segurança foi apontada por 22,92% dos sujeitos pesquisados como um sentimento positivo proveniente do trabalho. Para VandenBos (2010) o sentimento de segurança ocorre quando o sujeito se sente seguro e confiante diante de situações, com habilidade para gerenciar relacionamento com os outros. Desta forma parece que os sujeitos pesquisados sentem-se seguros em relação ao trabalho.

Dos sujeitos participantes da pesquisa, 12,50% responderam que sentem autonomia em relação ao trabalho. A autonomia segundo VandenBos (2010) é um estado de independência e autodeterminação que um sujeito sente perante um grupo ou a sociedade. Este dado se contrapõe ao exposto na pesquisa de Hanzelmann e Passos (2010) e Cândido (2004), onde ambos os autores pontuam que a falta de autonomia é uma das causas que mais gera sofrimento nos trabalhadores de enfermagem, sendo este sentimento proveniente da falta de reconhecimento deste trabalhador por outras profissões vinculadas à área da saúde. Para Ribeiro (1996), essa falta de reconhecimento e autonomia dos profissionais da enfermagem perpetua-se desde a Antiguidade, perpassando pela Idade Média, sendo que atualmente esta profissão transformou-se e complexificou-se tornando o profissional um pouco mais autônomo, porém ainda submetido ao serviço da área médica. Desta forma parece haver uma mudança neste quadro, já que alguns profissionais se consideram com autonomia para realizar seu trabalho. Porém a autonomia do profissional de enfermagem aparece nesta pesquisa ainda de forma discreta, já que dentre os sentimentos positivos relacionados ao trabalho, a autonomia obteve a menor indicação, se comparada a outros sentimento apontados pelos participantes da pesquisa.

Dentre os sentimentos negativos apontados pelos sujeitos pesquisados como decorrentes da relação com o trabalho, a ansiedade foi o sentimento negativo mais expresso por 20,83% dos sujeitos. Para VandenBos (2010) a ansiedade é um sentimento proveniente da

antecipação, real ou imaginária, interna ou externa, de uma ameaça futura. Ao ficar ansioso o sujeito provoca mobilizações no corpo como tensão muscular, respiração e batimentos cardíacos acelerados. Em relação ao trabalho, Dejours (1992) afirma que os laços humanos criados pelas relações de trabalho nem sempre são boas, podendo ser muitas vezes desagradáveis e até insuportáveis. Para o autor, as relações hierárquicas são fontes de ansiedade para o trabalhador. Segundo o autor, nem sempre o trabalhador encontra no próprio ambiente de trabalho maneiras de descarregar as tensões provocadas por aquele, de modo que esta tensão reprimida pode dar origem a outros sentimentos negativos, como a agressividade a frustração e a revolta, colocando em risco a relação saúde/trabalho do trabalhador. Para o autor, a necessidade de descarregar esses sentimentos negativos pode contaminar relações dentro e fora do ambiente de trabalho, podendo até prejudicar as relações familiares do trabalhador. Dejours (1992) ainda ressalta que a dificuldade de atenuar essas tensões pode levar o trabalhador a buscar a bebida e o uso de psicotrópicos para um melhor controle da tensão interna provocada pelo trabalho, “a ansiedade é a sequela psíquica do risco que a nocividade das condições de trabalho impõe ao corpo”(p. 78). Desta forma, ao apontarem a ansiedade como um sentimento negativo em relação ao trabalho, os sujeitos pesquisados parecem indicar que não encontram no ambiente de trabalho condições para descarregarem as tensões geradas pelo exercício da profissão, causando assim sofrimento e uma ameaça para a saúde mental desses trabalhadores.

O medo foi apontado por 12,50% dos sujeitos pesquisados. Este sentimento é definido por VandenBos (2010, p: 585) como “uma emoção intensa causada pela detecção de uma ameaça iminente envolvendo uma ação imediata de alarme que mobiliza o organismo causando alterações fisiológicas, difere da ansiedade por possuir um objeto real”. Em relação ao trabalho, Dejours (1992) discorre que o medo, tanto proveniente do ritmo de trabalho como de risco que este trabalho possa oferecer, “destrói a saúde mental dos trabalhadores de modo progressivo e inelutável” (p. 74). É possível perceber que o medo referido pelos sujeitos pesquisados está relacionado ao trabalho que executam, diretamente ao cuidado de pacientes que apresentam sofrimentos crônicos, com a possibilidade de desenvolverem algum tipo de doença mental, como evidencia a fala do sujeito abaixo:

“[estabelece relação entre saúde mental e o trabalho?] as vezes sim, pois o contato com muitas pessoas que tiveram uma vida normal e logo após apresentaram algum transtorno causa preocupação, pois na verdade não estamos livres de nada”(S14)

Desta forma parece que o medo referenciado pelos sujeitos pesquisados deixa de ser uma ameaça imaginária e passa a ser real.

Outro sentimento negativo indicado pelos sujeitos pesquisados foi a insegurança, indicada por 12,50% dos sujeitos pesquisados. A insegurança pode ser entendida como um sentimento de inadequação e incapacidade para enfrentar situações aversivas, acompanhado por uma incerteza e ansiedade sobre os próprios objetivos, conforme explica VandenBos (2010). Desta forma parece que os sujeitos pesquisados sentem-se inseguros frente às situações aversivas do trabalho, de modo que a insegurança pode levá-los também a sentirem ansiosos.

A frustração também foi um sentimento indicado por 12,50% dos sujeitos pesquisados, relacionado ao trabalho. De acordo com VandenBos (2010) a frustração é a obstrução de impulsos e ações que impedem as pessoas de obterem algo que esperam baseadas em experiências anteriores, podendo ser também a repreensão vivida por parte do outro. Desta forma parece que os sujeitos pesquisados esperam algo do trabalho que acabam por não obter, assim como podem sentir-se repreendidos por outra pessoa. Para Dejours (1992) a frustração em relação ao trabalho aparece quando o trabalhador se vê impossibilitado de fazer algo resultando numa agressividade reativa. Isso significa quer muitas vezes, por não encontrar uma forma apropriada de canalizar essa agressividade, esta se volta contra o próprio trabalhador, causando sofrimento.

A angústia foi indicada por 8,33% dos sujeitos pesquisados, e é definida por Sillamy (1998, p:22) como uma “sensação penosa de profundo mal-estar, determinada pela impressão difusa de um perigo vago, diante do qual se está desarmado”. Sobre a angústia relacionada ao trabalho, Dejours (1992) a define como “o resultado de um conflito intrapsíquico, isto é, uma contradição entre dois impulsos inconciliáveis”(p. 63). Desta forma a angústia parece indicar um mal-estar dos sujeitos pesquisados em relação ao trabalho, onde esses sujeitos parecem vivenciar uma ambivalência entre o que fazem com o que gostariam de fazer.

Dos sujeitos pesquisados, 6,25% responderam que se sentem pressionados em relação ao trabalho. A pressão é definida por VandenBos (2010, p: 727) como uma “demanda excessiva ou estressante, imaginárias ou reais, impostas a um indivíduo ou grupo, para pensar, agir e sentir de determinada forma”. Para Dejours (1994) muitas vezes o ambiente de trabalho molda o trabalhador as suas regras, ignorando sua capacidade de elaboração e decisão da tarefa que está sendo executada. Sendo assim, parece que os sujeitos pesquisados reconhecem

a demanda do trabalho como excessiva e estressante, de modo que suas ações – sentir, agir, pensar – ficam determinadas por ordens externas, fazendo com que esses sujeitos sintam-se assim, pressionados. O trabalhador de enfermagem, ao trabalhar, deve ser capaz de atender as demandas do paciente, estabelecer relação com os demais colegas e com a equipe multidisciplinar, e obedecer a hierarquia inerente a esta categoria de profissão, e tudo isso ocorre dentro de um turno de trabalho. Desta forma, parece que os sujeitos pesquisados sentem-se pressionados ao terem que atender tantas demandas e ainda cumprirem as tarefas que são de rotina da enfermagem. A demanda excessiva gerada pelo trabalho pode causar estresse no trabalhador, resultando num sofrimento gerado pelo trabalho. Cabe ressaltar que a demanda excessiva de trabalho foi apontada por 58,33% dos sujeitos pesquisados como um fator de influencia na saúde mental. (gráfico 16).

Os sentimentos de tristeza e desamparo foram indicados por 4,17% dos sujeitos pesquisados cada um. De acordo com VandenBos (2010) a tristeza é um estado emocional de infelicidade desencadeada geralmente pela perda de algo significativo. O autor ainda explica que a tristeza persistente é um dos sintomas do episódio depressivo maior. Considerando que a tristeza simboliza a perda de algo significativo para o individuo, parece que os sujeitos pesquisados querem dizer que algo lhes é tirado ou perdido ao trabalharem. Dejours (1994, p: 20) revela que

ao trabalhar o sujeito é despossuído do seu corpo físico e nervoso, domesticado e forçado a agir conforme a vontade do outro [...] logo a carga psíquica do trabalho

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