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O amor de Maria e do Pássaro Incomum liga a Sq5 à Sq6, nomeada Os saltimbancos. Quando cai a noite, Amado e Maria encontram-se para se amarem, e só durante as poucas horas da noite esse amor é possível de concretização. Durante o dia Amado é Pássaro que sobrevoa o céu e anseia pelo anoitecer. Enquanto a noite não chega, Maria perambula e numa dessas andanças encontra uma dupla de saltimbancos do teatro mambembe no qual ingressa. Nesta seqüência Maria continua sofrendo as perseguições de Asmodeu, que encontrará novas formas de atormentar Maria. No entanto, a menina grande é corajosa e esperta e

usará todas essas qualidades para viver seu grande amor e fugir das maldades de Asmodeu.

Na Sq6 a análise estrutural será efetuada mediante a descrição de cinco vertentes narrativas: a de Maria, a do Amado, a de Asmodeu, a do Pai e a dos Saltimbancos. Serão analisadas as msqs de ingresso de Maria no teatro mambembe, do reencontro com o Pai, da morte do Pai, da recuperação da chave, do encontro com o Amado e a função núcleo na qual Maria volta a ser criança. Analisar-se-á também a seqüência narrativa dos saltimbancos Rosa e Quirino, cujas ações determinarão conseqüências irreversíveis na linha narrativa de Maria.

O segmento narrativo que é contemplado pela Sq6 inicia assim: neste ir e vir de noite e dia, Maria conhece uma dupla de saltimbancos, Quirino e sua irmã Rosa, e é convidada a ingressar no teatro mambembe. Maria faz sua escolha, aceita participar do pequeno grupo, ação que abre a primeira msq da Sq6. Seguem informações sobre o que esse grupo faz e como é a sua vida. Quirino e Rosa percorrem os vilarejos em uma carroça, levando alegria para o povo em troca de algumas moedas.

A convivência de Maria com o grupo mostra um índice de que o coração de Quirino bate forte por Maria, que só o olha com os mesmos olhos fraternais de Rosa. Além das informações, seguem catálises que descrevem a continuação dos encontros noturnos de Maria e do Amado. Na noite que começa a cair, Maria ouve o pio do Pássaro. Maria não consegue conter a alegria, no entanto só a noite é capaz de possibilitar o encontro dos dois. O Amado sofre de uma maldição, é Pássaro durante o dia e homem à noite. Enquanto os primeiros raios de sol não atingirem sua pele, ele desfruta da companhia de Maria. Durante a noite ele a tem nos braços e durante o dia a tem sob o domínio do olhar, observando seus passos como um anjo protetor.

As catálises apontam para as habilidades de Rosa que, além de boa acordeonista, era também especialista na arte da cartomancia. Rosa, atendendo pedido de Maria, revela que o Pai está vivo. Essa catálise remete à outra catálise na

linha narrativa do Pai que continua caminhando, já envelhecido, de barba e cabelos longos e brancos, trôpego, apoiado num cajado. Sua pele já está queimada de sol, e suas roupas são quase farrapos. Exausto cai de joelhos e implora a Deus que poupe a sua vida para poder ver mais uma vez o rosto de Maria. Tais informações sobre o Pai trazem implícito um índice de culpa. O Pai não quer morrer antes de pedir perdão para a filha, mas sabe que seu fim está próximo. Revigorado pela prece, continua a busca, mas sua caminhada é interrompida pela chegada de um vendedor ambulante, um português com forte acento lusitano (informante). O vendedor oferece ao Pai um espelho. O Pai sente-se atraído pelo objeto e vê sua imagem refletida nele, mas a imagem não está límpida (índice), o Pai percebe que sua vida está próxima do fim. Tal encontro reafirma por intermédio do espelho, que não resta muito tempo e traz implícito o significado do espelho – ele revela a verdade – mesma significação atribuída ao espelho da Madrasta da Branca de Neve.

Enquanto isso, os encontros de Maria com Amado continuam, informação que será descoberta por Quirino. O moço quer conquistar Maria e numa das noites que ela sai para encontrar-se com Amado, ele a segue e assiste à transformação do Pássaro em Amado. A paixão não correspondida de Quirino por Maria e o amor ferido do palhaço darão uma idéia a Asmodeu, que instiga o rapaz a separar os amantes. Essas ações catalíticas precedem a abertura de msq - Quirino rouba um lenço de Maria. Após essa função núcleo, seguem catálises: Quirino usa o lenço como isca para atrair o Pássaro que cai na armadilha arquitetada por ele. Tais catálises acontecem na confluência das linhas narrativas do Amado, de Quirino e Asmodeu, com reflexos na história de Maria sob forma de índices: Maria tem um pressentimento ruim.

Novas catálises continuam intensificando a tensão narrativa. Rosa e Maria aprontam-se para a apresentação de mais uma noite no teatro. Maria está triste, tem pressentimento que algo ruim aconteceu ao seu Amado. Maria conta seu segredo para Rosa, falando do Amado, de sua triste sina e do amor que une os dois. Durante a apresentação Maria declama com emoção a própria história: “E assim fui caminhando pelos anos, no mundo peregrinando, buscando as franja do

mar, mai ante disso curo o coração ferido. Reencontro o amor perdido e meu pai hei de encontrá”.

Im homem que vinha pelo caminho pára para ver o ajuntamento de gente em volta da carroça. É o Pai. Os dois reconhecem-se. Maria, parada, desata num choro mudo ao reconhecer o Pai, que no centro do palco também chora e pede perdão por seus erros – função núcleo que marca o fechamento de msq aberta na Sq2 – partida do Pai. Ao mesmo tempo em que tal função é considerada encerramento de uma msq, ela abre uma nova, na qual se encontra o percurso narrativo do Pai com o de Maria, pois ele passa a integrar o grupo do teatro mambembe.

O informante que aponta para os dons de Rosa, prepara o ambiente para nova interferência de Asmodeu, pois é por esse meio que Rosa desconfiará do irmão, cego de amor, descobrindo que Quirino prendeu o Pássaro, o Amado de Maria (função núcleo). O Amado pede a Rosa que lhe traga Maria, ou que o ajude a se libertar daquela gaiola (catálise). Rosa aceita ajudar o Pássaro e entrega ao Amado um preparado. O Amado se liberta. Na linha narrativa do Pássaro a função núcleo do aprisionamento abre msq que encontra seu correlato na função de soltura que fecha a msq – o Pássaro é solto – função núcleo que, por sua vez, traz imbricadas as linhas narrativas do Amado e dos Saltimbancos.

Enquanto isso, novas funções catalíticas interferem no ritmo da narrativa e marcam a intersecção de duas vertentes narrativas – a de Quirino e a de Asmodeu. Quirino, que caminha trôpego e apressado pela estrada é tentado novamente por Asmodeu, quando este diz: amor é como guerra: “tem de sitiá, enfraquecê o inimigo e depois tomá de assarto o coração que se preza!”

Segue uma série de catálises que se refletirão imediatamente no percurso narrativo de Maria. Rosa diz a Maria que seu Amado logo vem, e Maria corre na direção apontada por Rosa. Asmodeu original, que assiste a tudo muito irritado, inicia uma invocação. Correm lágrimas do rosto do diabo as quais se transformam no mais puro gelo. O diabo então deseja que suas lágrimas congelem o mundo e

seus amantes (catálise). Nisso começam a cair os primeiros flocos de neve. Muito afastada do grupo, Maria caminha com dificuldade pela estrada. O Pássaro Incomum sente suas forças diminuírem por causa da neve congelante. Seu caminhar torna-se lento, até que ele pára e fica estático sob a neve que cai (catálise). Quando a tempestade acaba, Asmodeu original aproxima-se do Pássaro e ri ironicamente pois o Pássaro está congelado (catálise). A ação de Asmodeu tem conseqüências na linha narrativa de todas as demais personagens da Sq6, o que impulsionará o desenvolvimento dos acontecimentos na microssérie.

Para a linha narrativa do Pai, as conseqüências da ação de Asmodeu serão o ápice de algo que os índices já vinham apontando – a morte. O grupo de saltimbancos continua suas apresentações agora com a ajuda do pai de Maria, que faz o papel de um palhaço com uma vela acesa na cabeça. Numa das noites de neve mais intensa o Pai sai da carroça e tem um encontro com a mãe de Maria (catálise). O Pai morre, função núcleo que fecha a msq aberta – o reencontro de Maria com o pai.

Após a morte do Pai, Quirino revela à Maria que foi ele quem prendeu o Pássaro, ação considerada núcleo de fechamento de msq - encontro de Maria com os saltimbancos – e ação que será responsável pela abertura de nova msq – Maria decide abandonar o grupo de teatro mambembe e partir em sua jornada a procura do seu Amado. A ação de Quirino motiva a decisão de Maria. E, como é a linha narrativa de Maria que é foco da microssérie e da presente análise, o papel narrativo dos saltimbancos termina nesta seqüência.

Após a função núcleo de abandono do teatro mambembe e sem intersecção de catálises, informantes ou índices, ocorre ao mesmo tempo fechamento e abertura de msq. Prosseguindo a jornada, Maria encontra Asmodeu poeta. Ele tenta seduzi-la, mas Maria vê pendurada no peito do homem sua chavinha e percebe que é Asmodeu. Rapidamente Maria arranca a chave do diabo. Asmodeu fica muito irritado. A ação de recuperação da chave fecha a função núcleo aberta na Sq4 – roubo da chave – e a recuperação da chave permitirá Maria alcançar seu tesouro.

Maria caminha até encontrar o Amado sob a forma de Pássaro congelado – ação considerada função núcleo por trazer uma funcionalidade dupla, ao mesmo tempo consecutiva e conseqüente. Após Maria recuperar a chave – função núcleo de fechamento de perder a chave, e com a conseqüente abertura de nova msq a partir do achado da chave – encontrar seu tesouro – faz com que Maria encontre seu Amado no andar dos acontecimentos e, com o seu calor Maria derrete o gelo que aprisiona o Pássaro e com a chave abre a fechadura que encarcera o coração do Amado. Faz-se então a última transformação do homem-pássaro. Nessa msq que abre com a recuperação da chave e fecha com o reencontro de Maria com o Amado, é revelada a função da chave de Maria e fica-se sabendo qual é seu maior tesouro – o amor. A chave é o objeto mágico que possibilita trazer de volta à vida o seu verdadeiro amor.

A ação de Maria reencontrando o Amado deixa Asmodeu tão furioso que desencadeia o fechamento da msq – roubo da infância. Transformada de novo em criança, Maria cai na estrada, no mesmo local onde ela foi transformada em adulta.