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3 ESTUDO DE CASO: DESCRIÇÃO DO EXPERIMENTO

3.2 CARACTERÍSTICAS GEOLÓGICAS DA BAIXADA DE JACAREPAGUÁ

3.2.2 Sequência de eventos geológicos na área

Apresenta-se aqui, em ordem cronológica, uma tentativa de reconstituição da sequência de eventos geológicos na Baixada de Jacarepaguá segundo os trabalhos de RONCARATI E NEVES (1976) e MAIA et. al (1984).

a) Sedimentação pliocênica

Segundo RONCARATI E NEVES (1976) os primeiros sedimentos teriam se depositado na Baixada de Jacarepaguá no Terciário, provavelmente no Plioceno (1,8 a 5,3 milhões de anos atrás), e seriam relacionados aos da Formação Barreiras.

Os vales fluviais previamente entalhados no embasamento cristalino teriam sido preenchidos inicialmente por conglomerados basais contendo seixos de rochas ígneas e metamórficas e, posteriormente, por areias com matriz argilosa.

Estes sedimentos se apresentam na forma de leques aluviais, cujos mecanismos de transporte teriam sido por enxurradas, corridas de lama e fluxo de detritos, por ocasião de chuvas de curta duração e de grande intensidade.

b) Sedimentação pleistocênica

Antes da deposição dos sedimentos pleistocênicos teria ocorrido um período de erosão intensa que entalhou profundamente as rochas do embasamento cristalino bem como os depósitos pretéritos, reduzindo os sedimentos pliocênicos aos que hoje existem.

Durante o Pleistoceno (~11.500 a 1.806.000 de anos atrás), possivelmente durante a última glaciação (Wurm, ~10.000 a 110.000 anos atrás), o mar teria recuado bastante da linha de costa atual. Durante este período a baixada de Jacarepaguá e a área lindeira sul, sofreu um novo ciclo de deposição continental.

Este ciclo se iniciou com depósitos de sedimentos fluviais constituídos por conglomerados e areias de canais fluviais, ao lado de argilas de planície de inundação, exibindo características de uma rede de drenagem anastomasada (redes de canais que se bifurcam e se recombinam em vários pontos, formando ilhas).

Durante o final da deposição dos sedimentos de complexo fluvial, o clima originalmente úmido teria mudado gradativamente para um clima mais seco.

Durante enxurradas e fluxos de lama esporádicos depositaram-se leques aluviais coalescentes (aderentes, entremeados) sobre os sedimentos anteriores, resultando em um pacote de areias grosseiras, mal selecionadas e imersas em matriz argilosa, que afloram em toda a periferia da baixada.

Após a deposição destes leques aluviais as condições climáticas teriam mudado novamente para mais úmidas, ocorrendo durante este período uma sedimentação espessa, mas de distribuição restrita à área nordeste do Baixada (o aterro experimental se encontra ao norte), onde foram depositadas as camadas de “areias pretas” também como leques aluviais (matriz argilosa com material carbonoso).

c) Sedimentação holocênica

No fim do Pleistoceno (~11.500 anos atrás) iniciou-se uma transgressão (elevação) do mar que, no seu avanço sobre o continente, retrabalhou a camada superficial dos sedimentos depositados anteriormente. Estes sedimentos forneceram o material para o terceiro e último ciclo deposicional, ativo até o presente.

Reproduz-se na Figura 3.5 as variações do nível médio do mar durante os últimos 7.000 anos na costa do sudeste brasileiro segundo MARTIN et al. (1979).

Figura 3.5 Variações do nível médio do mar no sudeste brasileiro nos últimos 7.000 anos (adaptado de MARTIN et al., 1979)

MAIA et al. (1984) reconstruíram os estágios evolutivos holocênicos da Planície de Jacarepaguá baseados em estudos sobre o Quaternário costeiro de Bahia, São Paulo e Rio de Janeiro, bem como em datações radiométricas com carbono-14 em amostras coletadas na região. Foram considerados os quatro estágios apresentados a seguir.

Estágio I

Figura 3.6 Estágio I - 7.000 a 5.000 anos atrás - Estabelecimento da 1ª ilha-barreira e da 1ª zona lagunar [adaptado de MAIA et al. (1984)]

0 +5

-15

0 1

2 3

4 5

6 7

1000x anos atrás -5

-10

São Sebastião - Ubatuba/SP Praia Grande - Morro da Juréia/SP Cananéia - Iguape/SP

Parati - Angra dos Reis/RJ Legenda:

Por volta de 17.000 anos atrás, quando o mar encontrava-se cerca de 120m abaixo do nível atual, iniciou-se a última grande transgressão, que teve seu ápice há cerca de 5.100 anos, atingindo a cota +4m a +5m.

Entre 7.000 e 6.000 anos atrás, no final desta fase de transgressão, formou-se uma ilha barreira que isolou do mar uma ampla laguna, com sua raiz a oeste, junto ao Morro do Caeté, passando pelo Pontal de Sernambetiba. Esta ilha-barreira migrou em direção ao continente conforme o nível do mar aumentava, estabilizando-se há cerca de 5.100 anos na posição ocupada atualmente pela restinga interna, com raiz junto ao Morro do Caeté e ao Morro do Rangel.

Durante as fases transgressivas são formados cordões de praia, que são erodidos conforme o nível do mar aumenta. Na Planície de Jacarepaguá afloram cordões atingindo entre as cotas +4m e +6m, formados na época deste máximo transgressivo, indicando o nível máximo atingido pelo mar.

Estágio II

Figura 3.7 Estágio II - 5.100 a 3.800 anos atrás - Regressão do mar - Construção da 1ª zona de progradação [adaptado de MAIA et al. (1984)]

Após o mar ter atingido um nível máximo há cerca de 5.100 anos, iniciou-se uma nova fase regressiva, durante a qual a ilha-barreira sofreu uma progradação (ampliação da praia) formando a restinga interna.

Estágio III

Figura 3.8 Estágio III - 3.500 anos atrás - Nível máximo do mar - Estabelecimento da 2ª ilha-barreira e da 2ª zona lagunar [adaptado de MAIA et al. (1984)]

Por volta de 3.800 anos atrás iniciou-se uma nova fase de elevação do mar que atingiu o nível máximo há cerca de 3.500 anos. Durante esta transgressão a restinga interna foi parcialmente erodida. A oeste, junto ao Morro do Rangel, a restinga foi arrombada pelo mar, formando depósitos de leques de arrombamento.

Há cerca de 3.700 anos, antes do máximo transgressivo, já havia se formado uma segunda ilha-barreira, que isolou do mar uma nova laguna, desta vez bem menor que a primeira.

Estágio IV

Figura 3.9 Estágio IV - 3.500 anos atrás até o presente - Construção da 2ª zona de progradação [adaptado de MAIA et al. (1984)]

Após atingir o nível máximo há cerca de 3.500 anos, o mar voltou a baixar lentamente até atingir o nível atual. A segunda ilha-barreira também sofreu progradação, mas consideravelmente menor que a primeira. Deste processo resultou a formação de uma restinga estreita, chamada restinga externa.

d) Observações finais sobre o assoreamento das lagunas

O assoreamento das lagunas ocorreu, predominantemente, devido à redução de seu nível d’água, acompanhando o nível do mar durante as fases regressivas, que se transformavam em áreas pantanosas, onde ocorria a deposição de sedimentos de origem biodetrítica, como a vasa orgânica nas partes mais profundas, turfas nas margens mais rasas e de água doce, e depósitos de mangues nas de água salobra.

Na Figura 3.10 está reproduzida a coluna estratigráfica da área apresentada por RONCARATI E NEVES (1976).

No Item 4.2, onde são definidas as camadas do modelo do subsolo, é feita uma correlação destas camadas com a evolução geológica da Baixada de Jacarepaguá.

Figura 3.10 Coluna estratigráfica generalizada da Baixada de Jacarepaguá [adaptado de RONCARATI E NEVES (1976)]

Perfil no local do aterro experimental