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II. TEORIAS DE MASLOW SOBRE GERENCIAMENTO

3.4. Ser Amado ou ser Temido

Essa é uma das passagens mais importantes e polêmicas de Maquiavel (1532). Esses aspectos estão diretamente relacionados ao comportamento humano e às relações entre líderes e liderados. Vale ressaltar que esses são relatos de situações onde impera o medo e a insegurança, diferentes das de uma sociedade esclarecida. Cabe aqui uma

análise da complexidade das responsabilidades de um líder, que tem que ponderar entre seus sentimentos e as ações necessárias à posição que ocupa.

“Da crueldade e da Piedade e se é melhor ser Amado que Temido ou vice- versa”.

“Examinando o que está na epígrafe, tenho a dizer que todo príncipe deve aspirar a ser considerado piedoso e não cruel, mas a piedade deve ser convenientemente empregada. César Bórgia, conhecido como cruel, organizou e unificou a Romanha, deu-lhe fé e paz sob a égide da crueldade. O que bem avaliado, veremos que foi mais piedoso do que o povo florentino, que para evitar a pecha de cruel, permitiu que Pistória fosse arruinada. Assim, o príncipe não deve preocupar-se se o julgarem cruel para manter seus súditos unidos e fiéis, porque com raríssimas exceções será mais piedoso do que aqueles que, por muita complacência, permitem desordens das quais podem originar morticínios e rapinagem”.

(MAQUIAVEL, 1532).

Conhecedor das variantes que cercam os projetos, o gerente deve proceder com as ações que tragam os melhores benefícios ao projeto. E não sendo capaz de ponderar seus sentimentos na busca do objetivo principal, poderá causar um mal ainda maior do que o temido.

“... haverá coisas que parecem virtudes e, se praticadas, levam à ruína e outras que parecem más e que trazem segurança e bem estar”. (MAQUIAVEL, 1532).

Demissões e punições podem ter que fazer parte do cotidiano do gerente, que deve estar preparado para elas. Enxergá-las com último recurso, mas ter a consciência de sua necessidade seja para eliminar o “mau” ou estabelecer o exemplo.

“Não deve, portanto, o príncipe ser ingênuo nem imprudente e tímido, mas proceder de modo equilibrado, com prudência e humanidade, de tal forma que a confiança exagerada não o faça incauto e a muita desconfiança não o torne intolerável”. (MAQUIAVEL, 1532).

“Segue aqui uma questão: ‘Se para o príncipe é melhor ser amado ou ser temido e vice-versa’. O certo é que o melhor seria ambas as coisas. Mas é difícil juntá-las. Assim, entre uma e outra, é muito mais seguro ser temido que amado. Isto porque os homens são, geralmente, ingratos, volúveis, simuladores, covardes e gananciosos e enquanto recebem favores de quem está no poder lhe oferecem a vida, os filhos, o sangue e os bens, mas quando a adversidade se avizinha, desaparecem. E o príncipe que acreditou neles e não se preparou para enfrentar o infortúnio, está

arruinado, porque os que se tornam amigos do governo em busca de vantagens e não por grandeza e nobreza d’alma são interesseiros e fogem na hora incerta. E os homens têm maior facilidade em trair os que se fazem amar, do que os que se fazem temer. O amor cria um vínculo de gratidão que se rompe facilmente, porque o homem é de mau caráter, enquanto o temor é seguro pelo liame do receio do castigo, que traz o homem submetido. O príncipe deve, no entanto, ser temido, de modo que não sendo amado também não seja odiado”. (MAQUIAVEL, 1532).

“Voltando agora ao tema de ‘ser temido ou ser amado’, direi que o amor dos homens depende deles, enquanto o temor depende da vontade do príncipe e que, assim sendo, um príncipe sábio deve preferir o que depende dele e não dos outros, evitando, apenas, ser odiado”. (MAQUIAVEL, 1532).

O gerente de projetos também deve escolher para si o que depende dele e não dos outros, pois a responsabilidade do projeto está sobre seus ombros e na necessidade de uma decisão que cause conflitos entre os interesses do projeto e interesses pessoais, deve ser capaz de tomá-la de forma firme e segura, exercendo a autoridade que o projeto necessita.

“É tamanha a distância de ‘como se vive’ com ‘o como se deveria viver’, que aquele que se preocupar com o modo como se deveria viver e não como o modo que se vive, acaba cavando a própria ruína ao invés de se preservar. Isto porque, o homem que pretender em todas as partes fazer profissão de bondade, encontrará sua desgraça num mundo repleto de homens perversos. Daí, um príncipe que queira conservar o mando, necessita saber ser mau e valer-se disso, quando as circunstâncias o exigirem”.

(MAQUIAVEL, 1532).

“... quando está em guerra e tem sob seu comando grande número de soldados, então é inteiramente necessário não se preocupar com a fama de cruel, porque sem ela não é possível manter um exército unido e disposto a lutar”. (MAQUIAVEL, 1532)

O líder deve poder confiar em sua equipe e delegar, mas também ser prudente e restringir a confiança ao limite de segurança do projeto, mantendo o controle e as decisões finais sob sua responsabilidade. Deve ter um bom relacionamento com a equipe, mas também ter a sabedoria para analisar as exigências objetivas e fazer valer suas decisões sempre que necessário.

“Se um general é condescendente com as suas tropas, mas incapaz de as empregar, se as ama, mas não as sabe fazer obedecer-lhe, se as vê em

desordem e não as consegue ordenar, esses soldados serão comparáveis a meninos mimados e inúteis”. (SUN TZU, 500 a.C.).

“[...] Se apenas se utiliza condescendência, as tropas tornam-se como que crianças arrogantes, com as quais nada se pode fazer. [...] Os bons comandantes são amados e temidos”. (CHANG YÜ Ibid. SUN TZU, 2004).

Um gerente de projetos deve sempre procurar empregar ações das mais nobres e edificantes, mas assim como um pai amoroso, que sempre quer o melhor para seus filhos, deve ser amado e de certa forma “temido”, e tomar atitudes que possam até parecer injustas, mas corretas para quem possui a verdadeira visão do que é realmente melhor para eles.

Maslow (1962) utiliza a mesma analogia sobre o líder ser amado ou ser temido e o amor e as responsabilidades de um pai.

Segundo ele, o bom chefe ou o bom líder na maioria das situações deve ter como pré- requisito psicológico a capacidade de sentir prazer no crescimento e na autorrealização de outras pessoas, ou seja, ele deve ser paternal. Se alguém tivesse que definir um pai, em resumo ele seria como o chefe perfeito. Ele deve apreciar a responsabilidade de sustentar uma mulher e filhos; ele deve ser capar de impor disciplina sempre que necessário, de ser duro assim como carinhoso; ser capaz de ser um capitão ou general; de satisfazer-se a partir da observação do crescimento de seus filhos e da observação do desenvolvimento da personalidade de sua esposa e do seu crescimento em direção a maior maturidade e autorrealização. Essas são exigências para o bom gerente também. O único ponto é que o bom gerente deve ser capaz de ser um bom seguidor-B, ou seja, deve ser capaz de controlar e de ser chefe na situação em que tem de sê-lo e em que tem de fazê-lo bem feito, mas ele também pode não precisar ser chefe em todas as situações concebíveis.

Continuando com as observações de Maslow (1962) sobre o bom pai e, portanto, sobre o bom líder, é que se ele é realmente e suficientemente sensível às exigências da realidade, ele é capaz de ser impopular com seus filhos em determinados momentos. Ou seja, ele deve ser capaz de dizer “não”, de disciplinar, de negar e de ser severo em situações em que o seu conhecimento superior ou sua capacidade superior de renunciar ou de negar a satisfação lhe diz que a impulsividade de seus filhos e sua incapacidade de adiar são coisas ruins.

O pai que diz “não” em tais circunstâncias está suscetível a se tornar impopular, mas ele deve ser capaz de suportar isto na crença de que uma verdade, honestidade, justiça e objetividade em longo prazo darão a todos as suas recompensas. Ou seja, deve ser capaz de ser antipático, impopular, risível, de ser atacado e ainda assim ser capaz de ver as

exigências objetivas da situação e de responder a elas ao invés de responder a essas satisfações interpessoais.

Sobre o Gerenciamento de Projetos, o gerente na condição de líder deve ter a consciência das responsabilidades que a função demanda. Não é possível abster-se da tomada de decisões, tampouco guiá-las pela reputação que possam trazer. É certo afirmar que existem vários tipos de situações que exigem diferentes perfis gerenciais, mas em todas essas situações cada gerente deve ser capaz de avaliar as circunstâncias e assumir com certa imparcialidade de sentimentos, a responsabilidade sobre as decisões a serem tomadas, sem que isto afete sua postura ou liderança.

Para Maslow (1962) de forma geral, todos os líderes ou chefes devem ser capazes de prestar atenção às exigências objetivas da situação sem se envolverem muito emocionalmente com a sensibilidade delicada dos seguidores ou dos funcionários, das pessoas que têm que cumprir ordens. Outro exemplo fornecido por ele, é que a maioria dos líderes tem de ser capaz de suportar a hostilidade, ou seja, de ser impopular sem desmoronar. O tipo de pessoa que precisa ser amada por todos provavelmente não será um bom líder na maioria das situações. O líder deve ser capaz de negar, de tomar decisões, de ser forte o suficiente para travar batalha, se for objetivamente necessário, deve ser capaz de ser difícil, de demitir, de magoar as pessoas ou de causar dor. Ou, para colocar de outra forma, o chefe na maioria das situações não pode ser fraco nem deve ser regrado pelo medo. Deve ser corajoso o suficiente para enfrentar a situação.

Existem ainda os casos das lideranças específicas já citadas, como a do comando de um exército, de um bote salva-vidas ou de uma equipe cirúrgica, situações onde o líder tem poder de decisão sobre a vida e a morte das pessoas. Suas ordens e decisões têm que estar acima de qualquer preocupação com reputação, e têm que ser efetuadas de forma firme e consciente, sem sentimento de culpa, sem desmoronar, pois a situação lhe exige este perfil.

Continuando a discussão sobre ser amado ou ser temido, Maslow (1962) propõe uma abordagem sobre a figura do Homem Forte, de como as pessoas em torno dele reagem e são por ele afetadas.

“Podemos não gostar dos homens fortes como, por exemplo, DeGaulle, Kennedy, Napoleão, T. Roosevelt, etc., mas não podemos evitar respeitá- los e, em caso de necessidade, preferi-los e nele confiar. Certamente este é um testemunho universal na situação de vida ou morte na guerra. O líder duro e rígido, porém capaz, pode ser odiado, mas é preferível ao líder condescendente, afetuoso e mais fraco, que pode ser mais passível de ser

amado, mas que também pode causar a morte das pessoas.” (ABRAHAM

MASLOW, 2001).

Nos momentos críticos para um projeto, o verdadeiro valor de seu gerente não será medido pela sua reputação com a equipe e sim pela sua capacidade em conduzi-la para enfrentar e vencer as adversidades.

Maslow (1962) fala ainda sobre a postura de certas lideranças autoritárias, em que mesmo sendo extremistas e incorretas, exercem grande influência sobre as pessoas pela sua autoconfiança inabalável em suas metas e crenças.

Em seus estudos ele cita sua análise dos líderes paranóides onde o objetivo geral era compreender porque as pessoas obviamente extremistas como Hitler, Stalin ou o Senador McCarthy ou alguns membros da John Birch Society ou pessoas assim podem conquistar tantos seguidores. Ele afirma que uma das razões era pelo fato de serem pessoas muito determinadas, muito seguras de si mesmas, muito resolutas, muito certas do que desejavam ou não, muito claras sobre o certo e o errado. Em uma nação em que a maioria das pessoas não tem uma identidade, ou um eu real, em que estão todas confusas a respeito do certo e do errado, do bem e do mal, em que basicamente não têm certeza sobre o que desejam e o que não desejam, as pessoas estão suscetíveis a admirar a liderança, a render-se à liderança e a buscar liderança em qualquer pessoa que, definitivamente, pareça saber o que quer. Uma vez que o líder democrático, a pessoa não autoritária em geral, está apta a ser marcada pela tolerância e pelo reconhecimento da ignorância, pela vontade de admitir que não sabe nada, às vezes, para as pessoas menos instruídas, o paranóide autoritário e decidido pode parecer atraente e aliviar o seguidor de toda a ansiedade. Isto é obviamente uma variável relevante em qualquer discussão sobre liderança em qualquer situação.

Sun Tzu (500 a.C.) comenta a postura de confiança exigida ao líder sob sua ótica:

“É obrigação do general manter-se sereno e inescrutável imparcial e com autodomínio”. (SUN TZU, 500 a.C.).

“Se for sereno, não se enfada; se inescrutável, é insondável; se aprumado, nunca é incorreto; se autodominado, nunca é perturbado”. (WANG HSI Ibid.

SUN TZU, 2004).

A diversidade de perfis, posturas e atitudes de um líder forma uma complexa combinação de lideranças. Essa complexidade exige dos líderes e candidatos a líderes, profundos estudos para o entendimento da aplicabilidade aos diferentes projetos e as exigências objetivas das situações que se apresentam.

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