• Nenhum resultado encontrado

Ser Psicólogo: eis a questão

No documento Download/Open (páginas 100-110)

Os estudantes de Psicologia entrevistados relataram que sua principal preocupação era a indefinição da possibilidade de ter retorno com carreira profissional no curso escolhido. Tal indefinição não resulta da incapacidade de essas pessoas construírem um projeto profissional pessoal, mesmo que não o explicitem. Ela é fruto, mais propriamente, da condição de classe desses indivíduos, da valorização social da profissão, das representações sociais, da falta de políticas públicas que envolvam a profissão de psicólogo no Brasil.

A escolha do curso/profissão é uma das fontes de angústia para o ser humano, por ser uma decisão fundamental em sua vida, que transcende o próprio sujeito, refletindo na família e na sociedade, pois o homem é reconhecido na sociedade pelo trabalho que exerce. Se satisfeito com o que faz, bem recompensado financeira e socialmente, provavelmente trabalhará bem, será um bom profissional e isto se reverterá em benefício para si próprio e para aqueles que usufruirão de seus serviços, conforme Lima, (2007).

Ainda que fatores de ordem pessoal interfiram na desorientação destes indivíduos, estes fatores não podem ser apontados como os culpados por estas dificuldades. As pessoas vivem em sociedade e o trabalho ou a preparação para trabalho é uma atividade social, ao mesmo tempo, que uma realização individual. De acordo com Ferretti (1997, p. 11),

esse caráter social do trabalho, se bem entendido, ajudará a perceber que a “desorientação” e a “falta de rumo” [da maioria] das pessoas, quando vão escolher profissões, estão muito relacionadas à complexidade da organização da sociedade com o objetivo de produzir bens, ou seja, quaisquer coisas elaboradas ou fabricadas pelo homem tendo em vista sua sobrevivência – alimentos, roupas, livros etc.

Este fato nos faz entender que, embora as escolhas sejam individuais, estão inter- relacionadas ao fato de o indivíduo fazer parte de uma sociedade complexa. As dificuldades são criadas pela complexidade do processo produtivo, pela divisão social e técnica do trabalho e pela capacidade da força de trabalho de cada um, que assume características de uma mercadoria como qualquer outra, ainda segundo Ferretti (1997).

Os estudantes de Psicologia que afirmaram ter preferência pelo curso desde crianças/adolescentes possuem, em seu perfil, o desejo de ajudar o outro, de escutar, de acolher, de cuidar, de levá-lo ao crescimento intrapessoal e interpessoal e descrevem um sentimento altruísta em direção ao outro, como explica Petrelli (1999), entre os sete logus que dão significado ao estar – no – mundo está a dimensão lúdica, onde “a alegria acompanha qualquer atividade (sem visar ao poder ou ao lucro) na qual toda a atenção está centrada sobre a própria ação, intencionando uma competência por si mesma, fora de qualquer concorrência.” (p. 52). Estes estudantes, quando questionados sobre o porquê da escolha do curso, responderam:

Mercedes/Psicologia - Eu nasci psicóloga. Porque (...) desde pequenininha meus avós, meus bisavós, meus tataravós me amavam porque eu ouvia. Eu sabia sentar perto deles e escutar todas as historietas que eles contavam. Então eu acredito que “eu nasci psicóloga” e eu sempre tive o desejo de ser psicóloga. Eu não sabia o que era isso, mas eu sempre queria ser. Eu só vim, a saber, o que era ‘ser psicóloga’ aos doze anos, quando eu vi uma revista que tinha uma coluna sobre psicologia e aí eu falei assim: ‘ah! É isso que eu quero mesmo. É desse jeito, eu quero ouvir as pessoas.

Mercedes cresceu numa região muito pobre do norte do Paraná e trabalhou desde os seis anos de idade (ver depoimento p. 88). Veio para Goiânia quando se casou e atualmente trabalha como técnica de enfermagem, mas já desenvolveu várias atividades ao longo da vida profissional. Seu desejo de ser psicóloga vem desde pequena, como ela mesma afirma. Assim a formação dos indivíduos no âmbito da vida cotidiana determina a estruturação daquilo que poderíamos denominar de psiquismo cotidiano, estruturam-se determinadas formas de pensamento, de sentimento e de ação típicas dessa esfera da vida social e necessárias para a própria reprodução da existência do indivíduo. O individuo se torna mais individual e pode desenvolver uma atividade autônoma, quando exerce as suas relações sociais, como explica Duarte (1993).

Outra questão respondida por Mercedes foi: “o que você espera do curso de Psicologia, que está terminando?”

Mercedes/Psicologia - O que eu espero é o equilíbrio financeiro, porque indiretamente eu trabalho nessa área (...). Hoje eu tenho o alicerce do conhecimento para aquilo que eu já fazia. Eu já fiz muitos atendimentos psicológicos sem saber a técnica (...) pessoas que estavam em alto nível de depressão, que estavam fazendo terapia e não conseguiam sair da depressão. E a pessoa ia com horário marcado à minha casa. Graças a Deus consegui muita coisa utilizando a técnica de relaxamento “via neuromuscular” que aprendi nos cursos, através da técnica de relaxamento.

Mercedes acredita que o curso de Psicologia vai possibilitar sua autonomia, o respeito que deseja tanto no trabalho quanto na vida, uma vez que a profissão que exerce atualmente (auxiliar de enfermagem) não lhe dá status nem o respeito social esperado, justamente por ser subalterna ao médico. Explica que já usa a “psicologia” em diversas situações, mas que ainda não tem o credenciamento para executar esta atividade. Segundo Bock (2003), algumas vertentes teóricas identificam entre os traços distintos de uma profissão “autônoma” a existência de duas condições: a expertise e o credencialismo. Expertise refere- se ao domínio, pelos profissionais, de um conjunto específico de conhecimentos e habilidades que estariam fora do alcance das outras pessoas. Credencialismo significa a institucionalização da expertise, que supõe uma organização da profissão no sentido da certificação da competência do profissional. Assim, Mercedes espera a certificação da sua competência profissional, isto é, um número no Conselho Regional de Psicologia (CRP), para poder atuar na profissão.

Segundo Pochmann (2007), o trabalho apresenta diferentes identificações para o ser humano, podendo representar desde a situação de esforço até a condição essencial da própria vida, que liberta das necessidades limitadas da sobrevivência e gera oportunidade de participação da pessoa (corpo/mente) e inclusão social no sistema capitalista.

Esmeralda também afirma que desde pequena escolheu o curso de Psicologia, tendo como referência a vontade de ajudar o outro.

Esmeralda/Psicologia - Eu acho que desde pequena eu escolhi. Eu nem me entendia muito por gente e já falava isso, que queria fazer Psicologia. Eu sabia assim do cuidado, sabe?! E, com isso, eu acredito muito nisso, que através desse trabalho a gente consegue ajudar o outro a melhorar o que não está bem. Ajudá-lo a conseguir se perceber mesmo e eu acredito muito nisso. Eu acho que eu posso fazer isso. E eu gosto muito disso. Muito mesmo. E é por isso.

Quando questionada sobre o que espera para o seu futuro profissional, Esmeralda respondeu:

Esmeralda/Psicologia - Espero estar trabalhando, conhecer e saber mais [sobre Psicologia]. Ainda nada certo. Um pouco confuso: por onde começar, não é?! Porque eu acho que ainda estou concluindo o curso. Então fico com muitas ideias, com muitas coisas que eu gostaria de fazer, imaginando (...). Querer mesmo é estar trabalhando, esta aprendendo, fazendo não só o que eu estou me formando agora [clínica], mas outras coisas também, para estar aprendendo. É bem isso. O que está nos meus planos agora é isso.

Esmeralda espera pelo menos conseguir trabalho na área de Psicologia para poder realizar o seu desejo de ajudar os outros. Admite até não trabalhar na clínica (seu grande sonho), justificando que a possibilidade de trabalhar em outras áreas seria uma forma de aprender outras coisas relacionadas ao seu curso. É interessante relembrar que o modelo de psicólogo construído nesta universidade é o de clínico. Assim, este modelo faz parte do imaginário dos estudantes, que o consideram um lugar de destaque, ao lado da clinica médica.

Elizabeth acredita que mesmo se não estudasse seria capaz de ganhar dinheiro, pois, na verdade, é isto que ela faz desde os dezesseis anos. Trabalhou em diversas atividades, desde o “Pro-jovem” até a confecção de bijuterias. Ela planeja terminar o curso e fazer um bom trabalho; não tem clareza do que poderá desenvolver depois de formada. Afirma que pensa em Psicologia desde muito cedo, como se pode constatar com o depoimento a seguir.

Elizabeth/Psicologia - Psicologia é uma coisa que eu venho pensando desde muito cedo. Que eu me lembre, desde os meus treze, quatorze anos eu já pensava em estudar Psicologia. Antes disso, eu não me lembro de falar numa outra coisa, sabe?! Não me lembro de querer ser enfermeira ou médica, sei lá o quê. Eu sempre pensei em fazer Psicologia mesmo. Quanto à questão de estudar, não acho que a gente tem que estudar para ganhar dinheiro e sim estudar porque gosta, porque quer estudar.

Continuando, ela fala do que espera para o futuro profissional:

Elizabeth/Psicologia - O que eu espero do meu futuro profissional? Eu espero que ele seja bom. Eu espero trabalhar, fazer um bom trabalho com crianças e adolescentes. Eu espero [...] Coordenar alguma coisa nesse sentido, algum trabalho...

Elizabeth tem uma visão utópica da educação, ainda não percebeu que a preparação para o trabalho ocorre com o ingresso do sujeito na escola. Como afirma Enguita (1989), a escola é a primeira das grandes instituições, depois da família, em que os hábitos de obediência, docilidade, sujeição ao tempo e ao espaço são construídos nas salas de aula, o que não difere das fábricas e oficinas, organizações onde o homem gasta grande parte de sua vida de adulto. Portanto, pode-se dizer que a escola é uma preparação para a vida [do trabalhador]. Há uma similaridade entre a organização do trabalho e da escola no que se refere à produção. Assim, a instituição escolar legitima a ordem social existente, socializa a força de trabalho de acordo com o lugar que o indivíduo vai ocupar na sociedade, isto é, submete o corpo, estratifica, fragmenta os trabalhadores e reconcilia as pessoas com seu destino social.

Outro depoente é Hélio, um rapaz de 22 anos que mora com o pai, a mãe e a irmã, afirma gostar muito do curso, é estudioso, principalmente da área hospitalar e pretende fazer

uma formação continuada. Fez estágios em várias áreas, admira os professores que se dedicam à profissão e, de certa forma, se identifica com eles.

Como explica Heller (2000), a imitação é um elemento da vida cotidiana que os indivíduos utilizam como um modo de aprender a agir segundo formas socialmente adequadas. De acordo com Laplanche (1999), não há nenhuma novidade no fato de a imitação consistir num elemento essencial dos processos de aprendizagem É o que a Psicologia denomina de “processos de identificação”, em que o sujeito assimila um aspecto, uma propriedade, um atributo do outro e se transforma, em maior ou menor grau, segundo o modelo desse outro. Assim há um processo de identificação de Hélio com os seus professores.

Quando indagado sobre a escolha do curso, Hélio respondeu:

Hélio/Psicologia - Eu não lembro quando foi, mas eu era ainda bem menino ainda. Eu sempre gostei. Eu sempre tive essa atenção voltada para o outro. Assim... não sei. Às vezes até mais para o outro do que pra mim. Com o curso, e a terapia eu aprendi a cuidar mais de mim, não é?

Hélio afirma que pensava mais no outro do que em si mesmo e que, com o curso de Psicologia e a psicoterapia, conseguiu se conhecer melhor e passou a se preocupar e a cuidar mais de si mesmo. É na relação intersubjetiva que vai se construindo o próprio sujeito. “Quando percebo o outro dotado de intencionalidade, como “ser-no-mundo”, consigo captá-lo como sujeito diferente de mim mesmo, percebo-o como sujeito encarnado” (SIQUEIRA, 2002, p. 123).

À medida que Hélio foi percebendo as diferenças entre ele e os demais, diferenças de ideias, de atitudes e de desejos, foi se aceitando, resolvendo seus conflitos internos e passou a se respeitar mais, algo que o ajudou em vários aspectos, inclusive na formação para o trabalho. O psiquismo é um produto da experiência sócio-histórica humana, sintetiza a história e a experiências humanas acumuladas e é determinado pelas condições sociais nas quais vivem os indivíduos concretos, encarnados. Hélio afirma que quer dar continuidade a sua formação inicial.

Priscila veio de uma cidade pequena do estado do Pará (Tucuruí) para estudar em Goiânia, mas não sabia bem qual curso queria fazer.

Priscila/Psicologia - Eu vim para cá aos 13 anos para fazer o segundo grau. [...] E aí eu comecei estudar Psicologia. Uma tia de uma amiga veio aplicar um teste na gente, depois eu vim a descobrir que era um teste de personalidade. E eu me interessei basicamente pelo teste em si. [...] Mas, antes da Psicologia eu quis Fisioterapia. Fiz dois, três vestibulares em faculdades diferentes, durante dois anos. Não passei. Aí, como eu não

passava para Fisioterapia, não sabia se eu queria Biomedicina, pois, nunca tinha ouvido falar em Psicologia no interior. Vim ouvir falar em Psicologia aqui em Goiânia porque a mãe de uma colega era psicóloga.

Indagada sobre seu projeto profissional, Priscila responde:

Priscila/Psicologia - Estudar bastante, porque o trem é difícil. Estudar muito mais. [...] Então! Não sei, porque a minha ilusão era que eu ia acabar a faculdade ganhando dinheiro. Quando eu vi que não era bem assim, eu comecei a ver que eu tinha que procurar outras coisas além do dinheiro. Agora estou no estágio de neuropsicologia, no momento está sendo satisfatório. Eu estou ansiosa [com o futuro].

Priscila tentou o vestibular várias vezes, mas não conseguia passar, primeiro para Fisioterapia, depois para Biomedicina, mas não obteve sucesso, até que prestou vestibular para Psicologia e passou. Este é o curso que está cursando.

Como explica Ferretti (1997), as informações sobre as profissões não estão disponíveis e não são acessíveis à maioria dos candidatos ao curso superior. Mesmo que disponíveis, nem toda informação é necessariamente relevante no que diz respeito à caracterização do objeto a que se refere. Assim, há necessidade de o estudante dispor de um referencial de análise capaz de transformá-lo de sujeito informado em sujeito criticamente informado. Como afirma Duarte (1993, p. 157) “o homem se torna mais individual e pode desenvolver uma atividade totalmente autônoma, necessariamente através de um grande desenvolvimento das relações sociais, da realidade humana objetivada e com plena socialização do individuo.”

Este fato é representado por dados mais amplos referentes ao contexto sócio- econômico-político-cultural, os quais muitos deles não possuem. Pois o acesso as estas informações, bem como a capacidade de utilizá-las estão relacionados à formação escolar regular prolongada e de bom nível, principalmente no seio da família de alto nível socioeconômico e cultural. Tal situação como nos mostraram os dados desta pesquisa, a maioria destes estudantes, principalmente os do curso de Pedagogia, pertencem à classe trabalhadora, com baixa renda e, quando muito, seus pais fizeram o ensino fundamental, o que significa dizer que não puderem contar com orientações familiares, nas questões ligadas a escolha profissional.

Carla tem 18 anos, faz o segundo período de Psicologia. Ela não explicitou claramente, mas deseja um curso que esteja ligado à área da saúde infantil, provavelmente pelo status social que esta área impõe.

Carla/Psicologia - Eu antes pensava em fazer pediatria. Só que eu tenho medo de sangue (...) aí eu vi que não dá realmente certo [risos]. Eu me interessei muito quando eu fiquei sabendo que tinha uma área para cuidar mais de criança, de crianças especiais também. E eu me interessei nessa área. Eu li algumas coisas sobre Psicologia, não é?! E aí eu gostei da área e resolvi fazer.

O indivíduo que está em dúvida e se questiona, que reflete sobre as possíveis escolhas, é aquele que melhor consegue avaliar a importância dessa escolha para sua vida. Quando Carla percebe que teria de lidar com o corpo humano, com sangue e outras secreções corporais, desiste e escolhe algo que permitirá que lide com crianças, com o comportamento, isto é, com a construção da corporeidade/subjetividade destas e da sua própria corporeidade/subjetividade. Assim ela vislumbra o curso de Psicologia.

Os jovens oriundos da classe média, geralmente, em seus projetos de vida, incorporam o exercício de determinadas profissões consideradas de prestígio ou mais suscetíveis de oferecer rentabilidade e/ou acesso ao poder, como explica Ferretti (1988).

Carla, ao ser questionada sobre o que espera para o seu futuro profissional, responde:

Carla/Psicologia - A minha prioridade mesmo é buscar estágio. Bom, agora eu não estou trabalhando porque eu ainda não achei um emprego que seja de meio período. Eu estava realmente procurando um que fosse meio período, pois estou esperando achar algum estágio.

Carla gostaria de trabalhar, mas esta não é sua maior necessidade, apesar de sua renda familiar estar entre seis e sete salários mínimos para uma família constituída de cinco pessoas. Ela coloca o seu desenvolvimento profissional em primeiro plano.

Diana já fez Arquitetura, estudou na Escola Técnica Federal, mas, por motivos de saúde, resolveu cursar Psicologia, segundo ela para não ficar parada, como se observa em seu depoimento:

Diana/Psicologia - Não escolhi fazer Psicologia. Eu fiz Arquitetura. Na verdade, eu fiz Edificações na antiga Escola Técnica Federal, hoje é o CEFET [...]. Tive um problema de câncer, fiz quimioterapia (...). Aí eu fiz psicoterapia e me apaixonei. Achei muito interessante, me interessei em estudar sobre isso. Também sou espírita e dentro do espiritismo tem a busca pelo “autoconhecimento”, que tem um pouco a ver com a Psicologia. Então eu fui tomando contato ao mesmo tempo com o espiritismo e com a terapia por bastante tempo e acho muito interessante. Eu gosto de ajudar as pessoas, de conversar. A Psicologia é uma ajuda mais especializada. Para o futuro espero ter sucesso, muito sucesso. Eu acho que vai [chegar um momento] quando eu formar, não necessariamente no início, mas vai ter um momento em que eu vou ter que romper e aí eu vou ter que me dedicar à Psicologia.

Diana confunde a ajuda que recebeu através de um processo terapêutico em um dado momento decisivo de sua vida, o seu autoconhecimento, com o seu desejo de trabalhar na área de Psicologia e, além de tudo, confunde suas crenças religiosas com o saber científico da Psicologia, dando - lhe uma representação esotérica, ocultista, mágica, fatalista.

Somente de posse de maiores oportunidades de reflexão sobre si mesmo e de informações sobre o mundo ocupacional é que o indivíduo poderá encontrar respostas para suas dúvidas em relação à escolha do curso/profissão.

Débora sonha com a psicologia clínica, com seu status de clínica médica e, na verdade, não fez uma reflexão sobre o curso e suas possibilidades.

Débora/Psicologia - Ah, não sei te explicar porque que foi. Eu não sei em que momento eu escolhi. Eu lembro de uma vez quando participava de uma... Estava próximo do vestibular, estava passando na rua e vi no outdoor assim: “Psicopedagogia”. Pensei: tem tudo a ver. Aí, a partir daquele momento, eu comecei a pensar na Psicologia. Comecei a imaginar como seria. Sempre pensando na clínica [...]. Depois surgiu o interesse para essa área jurídica também. Mas a área que eu quero trabalhar é a clínica com certeza.

Continuando, responde:

Débora/Psicologia - A expectativa que tenho é o que todo mundo espera, não é?! É realização profissional. É eu fazer o que eu gosto e conseguir alcançar os meus objetivos. Montar a minha clínica. Atender meus pacientes. Conseguir bons resultados com eles. Ter satisfação pessoal de estar podendo ajudar alguém e a satisfação financeira, é claro, também. .

Débora trabalha num banco, mas é contratada por uma prestadora de serviço terceirizada, possui sonhos, mas já percebe a dificuldade de torná-los realidade. Sua mãe é dona de casa e seu pai um funcionário de uma empresa.

Pode-se dizer que a autonomia da escolha dos estudantes fica comprometida, quando se refere à escolha profissional, uma vez que as progressivas restrições não são reconhecidas, pois existe a crença de que o liberalismo propicia liberdade de escolha para todos.

Estas restrições são ocultas, pois resultam da incorporação de valores da ideologia dominante, que desencadeiam o cultivo de aspirações profissionais condizentes com tais valores. O desenvolvimento de aspirações profissionais, na maioria das vezes, condiz com as carreiras antevistas como canais de ascensão social. A concretização, das aspirações profissionais destes sujeitos encarnados tem poucas chances de ser transformada em realidade, em função do caráter sócio-econômico destes alunos. Outros jovens, aceitando suas

limitações objetivas, desejam menos e tentam encontrar caminhos profissionais menos

No documento Download/Open (páginas 100-110)