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Na cidade de Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, considerada metrópole, uma vez que possui mais de 900.000 habitantes, sendo a maior do Estado e a sexta maior do país, com um contingente de 2.375.151 habitantes conforme o último censo, realizado em 2010, não sem dificuldades, registram-se avanços sociais, incluindo aqui a execução da política pública de assistência social. Com o Índice de Desenvolvimento Humano – IDH de 0,810, Belo Horizonte é o 20º município com o IDH mais alto do país. A cidade conta atualmente com trinta e quatro CRAS e nove CREAS distribuídos nas nove regionais administrativas.

Como já anunciado, o foco deste trabalho de pesquisa será sobre o serviço de média complexidade PAEFI, único serviço que deve ser ofertado obrigatoriamente e diretamente pelo setor público no equipamento CREAS.

Embora o PAEFI seja um serviço essencial na organização dos CREAS, previsto na PNAS (BRASIL, 2005) e especificado na Tipificação Nacional dos Serviços Socioassistencias do SUAS, não há ainda qualquer documento formulado pelo MDS ou pela administração municipal de Belo Horizonte que regule o modus operandi e a metodologia do Serviço. Desse modo apresentaremos os objetivos e forma de organização do PAEFI a partir da Tipificação (BRASIL, 2009/2014) e do Caderno de Orientações Técnicas do CREAS (BRASIL, 2011).

A proteção social especial se organiza por meio da oferta de serviços, programas e projetos que visam potencializar os ativos de indivíduos e famílias para superação e prevenção do agravamento de situações de risco pessoal e social, provocados por “violação de direitos, tais como: violência física, psicológica, negligência, abandono, violência sexual (abuso e exploração), situação de rua, trabalho infantil, práticas de ato infracional, fragilização ou rompimento de vínculos, afastamento do convívio familiar, dentre outras (BRASIL, 2011b, p.18).

Conforme as Orientações Técnicas a atenção especializada e a qualificação do atendimento devem ser eixos norteadores do atendimento no CREAS, uma vez que são precisos conhecimentos e habilidades específicas para lidar com os fenômenos e situações atendidas, relacionados ao ciclo de vida, deficiência, rede social de apoio, gênero, orientação sexual, abuso de álcool e outras drogas, condições materiais, acesso a rede de direitos. Também se torna importante práticas de trabalho que considerem as especificidades territoriais, o acesso a direitos socioassistenciais, a centralidade na família, o trabalho em rede, a mobilização e participação social e por último um ponto fundamental: a concepção compartilhada pela equipe para o desenvolvimento do trabalho social na atuação profissional.

Desse modo, o caderno de orientações prevê que as metodologias a serem utilizadas na oferta do trabalho social com famílias pela proteção social especializada devem considerar a singularidade das situações atendidas e adequar as estratégias de intervenção mais pertinentes em cada caso, visando o desenvolvimento junto as família e indivíduos acompanhados de novas possibilidades de interação, de projetos de vida e de superação das situações vivenciadas. Assim, no conjunto de intervenções possíveis cabem os atendimentos individuais, os atendimentos em grupo e as intervenções coletivas.

O trabalho social com famílias no CREAS requer

a construção de vínculos de referência e confiança do usuário com a Unidade e profissionais da equipe, além de postura acolhedora destes, pautada na ética e no respeito a autonomia e a dignidade dos sujeitos. Nesse contexto, a escuta qualificada em relação às situações e sofrimentos vivenciados pelos usuários tornam-se fundamentais para o alcance de bons resultados e a viabilização do acesso a direitos. (BRASIL, 2011b, p. 28)

Conforme a Tipificação (BRASIL, 2014), o PAEFI, único Serviço que deve ser ofertado obrigatoriamente por meio de execução direta e dentro do equipamento CREAS, se configura como serviço continuado, que oferta apoio, orientação e acompanhamento a famílias com um ou mais de seus integrantes em situação de ameaça ou violação de direitos. O trabalho social desenvolvido visa a promover direitos, preservar e fortalecer os vínculos familiares, comunitários e sociais e fortalecer a função protetiva das famílias frente às condições que as vulnerabilizam e as submetem a riscos pessoais e sociais. Para tanto, o atendimento deve respeitar os valores, crenças, identidade, heterogeneidade e potencialidades das famílias. O trabalho ofertado deve ser articulado com as atenções ofertadas nos demais níveis de atenção

da rede socioassistencial e com as ofertas das demais políticas publicas e Sistema de Garantia de Direitos, buscando-se qualificar a intervenção e reparar o direito violado.

É considerado público alvo do PAEFI as famílias e indivíduos que vivenciam violação de direitos por ocorrência de

“Violência física, psicológica e negligência; Violência sexual: abuso e/ou exploração sexual; Afastamento do convívio familiar devido à aplicação de medida socioeducativa ou medida de proteção; Tráfico de pessoas; Situação de rua e mendicância; Abandono; Vivência de trabalho infantil; Discriminação em decorrência da orientação sexual e/ou raça/etnia; Outras formas de violação de direitos decorrentes de discriminações/submissões a situações que provocam danos e agravos a sua condição de vida e os impedem de usufruir autonomia e bem estar; Descumprimento de condicionalidades do PBF e do PETI em decorrência de violação de direitos” (BRASIL, 2014, p.29).

São objetivos do PAEFI: a) contribuir para o fortalecimento da família no desempenho de sua função protetiva; b) processar a inclusão das famílias no sistema de proteção social e nos serviços públicos, conforme necessidades; c) contribuir para restaurar e preservar a integridade e as condições de autonomia dos usuários; d) contribuir para romper com padrões violadores de direitos no interior da família; e) contribuir para a reparação de danos e da incidência de violação de direitos; f) prevenir a reincidência de violações de direitos (BRASIL, 2014, p. 29).

Os trabalhadores que atuam no PAEFI lidam cotidianamente com situações extremas de violência e violação de direitos. Considerar a determinação econômica ao lado da determinação subjetiva para compreensão da violência vivenciada pelos indivíduos e famílias atendidos, pode ajudar a ampliar a análise das situações atendidas no setor da assistência social.

O modo como o trabalhador conduz a sua leitura e intervenção sobre as situações pode encontrar nos indivíduos e famílias atendidos a potência e a resistência, no lugar da posição vitimada, reconhecendo ao mesmo tempo a condição de subalternidade e a potência de emancipação. Assim, a relação produzida entre o trabalhador do PAEFI e os sujeitos atendidos pode levar à construção de saídas apesar de toda determinação estrutural que os condiciona (a ambos).

Em cada um dos nove CREAS distribuídos nas nove regionais administrativas de Belo Horizonte está implantado desde o ano de 2009 o Serviço PAEFI, que passou a acompanhar

de modo sistemático os casos de violação de direitos que antes eram atendidos de maneira pulverizada nos programas Sentinela e PAIR (Programa de Ações Integradas e Referências de Enfrentamento à Violência Sexual Infanto-juvenil no Território Brasileiro) e no Serviço de Orientação Socio-Familiar (SOSF)1. Deste modo, observa-se que já houve um grande avanço no município em relação à organização e sistematização da oferta do PAEFI e estruturação do CREAS para qualificação da oferta de proteção social especial de média complexidade na cidade.

2 VIOLÊNCIAS E VIOLAÇÕES: EXPRESSÕES DE MUITAS FACETAS