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5.2 Avaliação do programa CrediAmigo na percepção de diferentes atores

5.2.3 Os serviços de Assessoria

 Na percepção dos gestores

Na avaliação dos gestores, as pessoas, muitas vezes, por falta de opção decidem exercer uma atividade produtiva, no entanto, sem nenhuma instrução de como conduzir um negócio. Nesse contexto, “(...) entra muito a figura do assessor que é orientador, ensina a fazer controle, ensina a fazer compras...” (G5). Os assessores de crédito, além das experiências que adquirem ao longo de sua trajetória, são capacitados para darem as orientações necessárias aos empreendedores, sendo essa assistência, o grande diferencial do programa CrediAmigo, na visão dos gestores, e conforme observado por G5:

(...) o grande diferencial desse programa hoje é justamente essa orientação, porque... Você vai ali e faz uma análise financeira daquele empreendimento, faz uma avaliação patrimonial daquele cliente né, e em cima daquelas informações você da um crédito adequado daquela atividade (G5).

Os gestores argumentaram que apesar de, no primeiro momento, alguns clientes discordarem ou se decepcionarem do valor a ser liberado, em um segundo momento, eles compreendem que o objetivo é evitar o endividamento, dada suas reais condições de pagamento naquele primeiro instante.

De acordo com os gestores, o crédito por si só não resolve o problema dos empreendedores, eles devem ser acompanhados de orientação e capacitação, que são realizadas pelos assessores de crédito, e devem, também, ser encaminhados “pro SEBRAE, pro SENAC da vida, nessas empresas mais voltadas para o empreendedorismo pra capacitação, a gente trabalha muito em consonância com essas empresas parceiras, também” (G5). Nesse contexto, as orientações devem ser transmitidas utilizando uma linguagem adequada ao público do programa, a qual deve ser, segundo os gestores, uma linguagem informal, que tende a aumentar a receptividade dos empreendedores quanto às orientações que lhes são transferidas.

85 Dada a relevância dos serviços prestados pelos assessores, os gestores consideram importante capacitar esses profissionais, sendo essa capacitação realizada pelo próprio contratante, o INEC (Instituto Nordeste Cidadania) - parceiro do Banco do Nordeste desde o ano de 2003 -, e pelos próprios assessores que buscam por conta própria uma formação acadêmica ou um curso de capacitação.

Os assessores “passam a ser o homem ou a mulher de confiança daquele empreendedor, qualquer tipo de deficiência, de dificuldade que ele encontra, a primeira pessoa que ele vai buscar é essa figura do assessor de crédito” (G5).

É nesse aspecto que os gestores do programa argumentaram que estão sendo planejadas ações para melhorias na prestação destes serviços como, por exemplo, a implantação de equipamentos informatizados que auxiliem esses profissionais nas atividades, permitindo a eles atender melhor aos clientes, satisfazendo-os.

 Na percepção dos assessores de crédito/coordenadores

O serviço de assessoria pode ser descrito conforme a apresentação feita pelo assessor de crédito A1:

Eu trabalho como assessora de crédito. A gente faz a divulgação, efetiva o crédito e dá assessoramento. A gente faz antes de tudo um mapeamento, onde vou trabalhar? Eu vou trabalhar num bairro... Eu faço um mapeamento dele todinho para entender qual o tipo de crédito que eu vou oferecer, que aquela região precisa. (...) Eu vou até as pessoas para falar para elas sobre o CrediAmigo... Eu vou num bairro, eu pego uma rua todinha, e olho se tem uma plaquinha

de “vende-se alguma coisa”... Ali eu explico pra ela o que é o

programa, calculo valores de parcelas, para ela ver se aquele valor vai ajudá-la ou não... Se a pessoa se interessou, aí eu explico para ela que tem que formar um grupinho, a partir do momento que ela formou um grupo, eu já vou visitar um por um, para averiguar se de fato a pessoa tem atividade, ela tem atividade, todo mundo ok? Eu já marco uma reunião com o grupo para falar a questão da solidariedade... Todo mundo concordou, todo mundo quer fazer? Aí o grupo vai ser consolidado e a gente marca uma reunião na agência com a coordenadora, onde ela vai estar consolidando esse grupinho... A gente não só empresta... Eu converso, eu vejo o que a pessoa está precisando, eu dou aquela assistência... Quantas vezes, o beneficiário me liga para falar de um negócio que ele tem que fazer e me pede opinião. Eu atribuo o sucesso do programa a isso, pois, a pessoa cria aquele laço com a gente (A1).

Baseado nisso, após a formação do grupo, os assessores fazem visitas aos beneficiários para realizar a avaliação financeira e o levantamento dos dados das atividades, para, assim, conceder o crédito. De um modo geral, essa é uma percepção compartilhada pelos demais assessores/coordenadores, demonstrando a importância e

86 o papel dos serviços de assessoria, como sendo um diferencial do programa CrediAmigo, conforme o relato de C3: “(...) de início a pessoa entra pelo juros que é muito chamativo, mas o que faz ela permanecer é o atendimento”. Observa-se que não basta, simplesmente, oferecer o recurso, mas, também, um acompanhamento junto ao tomador, para que ele possa crescer de maneira sólida. Além disso, o acompanhamento é visto por estes profissionais como primordial no controle das inadimplências, principalmente, em regiões onde o risco é mais elevado.

A orientação dada pelos assessores/coordenadores aos beneficiários é que eles contratem um valor coerente com sua condição de pagamento, sem que o mesmo comprometa sua lucratividade e, se, por exemplo, por razões sazonais, espera-se uma redução das vendas, a orientação é que contrate um valor menor, pois há uma preocupação de não deixar as pessoas se endividarem. Alguns participantes do programa, ao contratar o empréstimo, gostariam de um valor mais elevado, no entanto, esses profissionais orientam que o objetivo do CrediAmigo é contribuir para o desenvolvimento dos empreendimentos que eles possuem e não endividá-los e que, para isso, eles devem começar com um valor menor e, à medida que o negócio for crescendo, ao renovar o empréstimo, contratar um valor mais elevado.

Outra preocupação dos assessores/coordenadores é com relação ao comprometimento dos beneficiários em aplicar o recurso para o qual o mesmo foi liberado e não para outras finalidades. Esses profissionais fazem o acompanhamento, e se, por alguma razão, o recurso não foi aplicado conforme o comprometido, eles demonstram ao beneficiário o quanto ele deixou de ganhar por não ter investido aquele dinheiro, e dessa forma, ele reflete e, na maioria dos casos, o fato não se repete. Nos casos de reincidências, o beneficiário poderá ter o próximo acesso ao crédito negado.

Esse acompanhamento é feito de uma forma interessante, pois é realizado sem que os beneficiários percebam que estão sendo avaliados, conforme exposto por C2:

A visita de acompanhamento é muito simples. É estar passando lá

na frente (DO EMPREENDIMENTO) e “Ei, e aí, gostou do

crédito? Deu para investir certinho?... E aí o grupo, todo mundo tá passando dinheiro certinho?” (C2).

Além das visitas, os assessores/coordenadores distribuem aos participantes do programa diversas cartilhas, cada uma abordando uma temática diferente, mas todas relacionadas à gestão do empreendimento. Essas temáticas incluem: o planejamento

87 financeiro, a abertura de um negócio, o controle de estoque, questões com o meio ambiente, dentre outras temáticas relacionadas à gestão. São assuntos de interesses dos empreendedores, tratados de uma forma ilustrativa, por meio de histórias em quadrinhos, envolvendo personagens, dos quais participantes do CrediAmigo se identificam, com o objetivo de incentivar a prática dos ensinamentos apresentados em cada cartilha.

Na percepção desses atores, a cartilha veio agregar valor, uma vez que, retrata assuntos importantes que, muitas vezes, passam despercebidos no dia a dia dos empreendedores, mas que no fim, com a visão de mercado e as orientações transmitidas por meio dessas, o resultado satisfatório pode ser percebido.

Ao falarem de suas atividades enquanto assessores/coordenadores, esses profissionais deixam claro a satisfação que eles têm em contribuir, de certa forma, com o desenvolvimento profissional e pessoal dos participantes do programa CrediAmigo, como pode ser observado pela fala de C1:

(...) quem trabalha no CrediAmigo sabe que... Não tem como não se apaixonar porque você trabalha com inclusão social, você trabalha com geração de emprego e renda, você trabalha com o sucesso... Com os sonhos das pessoas e você começa a sonhar junto com eles (C1).

A agenda de um assessor de crédito pode ser dividida nos serviços de promoção, que corresponde à divulgação do programa, o acompanhamento, após a liberação do recurso e renovação do contrato, de beneficiários que estão finalizando o contrato ou daqueles que estão inativos e que tem possibilidade de retornar. De um modo geral, esses profissionais avaliam o programa como sendo bem estruturado, onde seguindo as etapas de seu processo metodológico, dificilmente, haverá falhas.

 Na percepção dos beneficiários

A relação entre os assessores de crédito e beneficiários é muito próxima. Todos os beneficiários demonstraram uma satisfação com a atenção que lhe são dadas por meio dos atores, os quais transferem a eles as orientações necessárias na aplicação correta dos recursos e o que isso pode resultar nos seus negócios. Dessa forma, todos têm a consciência de que o recurso deve ser aplicado ao negócio, caso contrário, o mesmo não irá crescer e eles poderão se endividar, além do fato de, no

88 próximo empréstimo, serem impedidos de captar um valor maior ou, até mesmo, terem o recurso negado.

A visão que os participantes do programa têm dos assessores de crédito vai além deles serem apenas os profissionais que trabalham para o CrediAmigo, “eles não é só os meninos do CrediAmigo, é amigo, vira amigo, é tão assim que vira amigo da gente” (B18).

As cartilhas, também distribuídas pelos assessores aos beneficiários, contendo informações sobre a administração do negócio, são vistas por esses como algo interessante e que, para quem está disposto, é um aprendizado que, se colocado em prática, pode gerar bons resultados, como o percebido nos depoimentos dos beneficiários B6, B18 e B22:

A cartilha vem muito mastigada... Na cartilha, por exemplo, falava de planejamento, eu não tinha planejamento e não tinha ideia... Sabe quando você tem vontade de vender... Mas você não tem este planejamento, esta organização. Aí a partir disto... Eu comecei fazendo, seguindo a cartilha que falava que devia fazer isto, fazer aquilo... Planejava tudo e diante daquela dúvida a gente ligava, perguntava ou eles (ASSESSORES) viam aqui. Hoje é tudo organizadinho, tudo anotado... É um aprendizado (B6)... É um curso pra você aprender a administrar (B18). (...) o sistema da cartilha é bem bacana... Você consegue ver resultado (B22).

No entanto, aqueles entrevistados, principalmente, os que possuem receita bruta mensal inferior a mil reais, classificados pelo Banco do Nordeste como os de subsistência, ainda tem dificuldades em colocar em prática os ensinamentos das cartilhas, percebe-se certa resistência em modificar o modo pelo qual muitos estão acostumados a trabalhar, além do fato, de muitos possuírem um baixo nível de escolaridade, alguns com dificuldades, inclusive, de leitura.