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Os serviços logísticos são apontados como fator-chave da interação das empresas com seus clientes (BALLOU, 1995; BAIER, HARTMANN e MOSER, 2008; MARCHESINI e ALCÂNTARA, 2014).

Conforme Mathieu (2001) a combinação chamada de “servitização” ocorre quando as manufaturas adicionam serviços aos produtos. Em alguns casos, segundo Kotler (1998), é um processo de criação de valor para o cliente, por meio de solução integrada que atenda suas necessidades. Por isso, Mathieu (2001) define os serviços não apenas como um processo de apoio aos produtos ou pós-venda, mas sim como o apoio das ações dos clientes em relação aos produtos fornecidos.

De acordo com Aharonovitz e Vieira (2014), a relação de troca vai se tornar mais ampla se a atenção à logística for maior, porque outros critérios além de preço e qualidade passam a ser considerados, sendo eles: qualidade, confiabilidade, flexibilidade e tempo de aprovisionamento. No entanto, segundo Slack, Chambers e Johnston (1997), esses fatores podem gerar objetivos que compitam entre si.

Em relação à qualidade, Garvin (1984) categorizou cinco abordagens, sendo elas: (i) transcendental, como sinônimo de excelência inata ou um serviço de excelência; (ii) baseada em manufatura, que se refere a proporcionar serviços sem erros; (iii) baseada em usuário, que assegura adequação do serviço ao propósito especificado pelo usuário; (iv) baseada em produto, que garante um conjunto de características mensuráveis e precisas; (v) baseada em valor, definida em termos de custo e preço.

Quanto à confiabilidade, Slack, Chambers e Johnston (1997) consideram-na atrelada ao desempenho. Para esses autores, evitar falhas é imprescindível no sentido de manter a confiabilidade e essas falhas podem estar relacionadas a quaisquer das abordagens categorizadas por Garvin (1984).

De acordo com Slack, Chambers e Johnston (1997), a confiabilidade é inerente à entrega e significa a capacidade da empresa em cumprir prazos. Sob essa perspectiva, os autores explicam que a empresa deve atender ao fator flexibilidade, que diz respeito à capacidade de mover-se facilmente nos requisitos impostos pelos clientes.

Segundo Lambert, Cooper e Pagh (1998), os serviços logísticos são compostos por fatores que as entregas sejam efetuadas no prazo, redução dos prazos de entrega, produtos colocados para o cliente em boas condições e tratamento eficaz dos problemas referente aos fluxos logísticos.

O conjunto de elementos que definem os serviços logísticos demonstra que as abordagens de qualidade apresentadas por Garvin (1984) são consideradas, pois diz respeito à busca contínua de otimização dos recursos para atender a demanda satisfatoriamente, entregar produtos funcionais, no prazo, adequados em termos de custo e preço, ou seja, operar livre de falhas.

Não obstante, também faz parte do escopo dos serviços logísticos a confiabilidade, pois conforme Beamon (1999), Ballou (2006), Bowersox e Closs (2001), Novaes (2001), Christopher (2002) e CSCMP (2013), por meio da logística busca-se fluxos físicos, financeiros, de informações e de documentos que agreguem valor em cada etapa das operações e permeiam toda a cadeia produtiva. Esse esforço diz respeito a evitar falhas e

proporcionar flexibilidade, conforme sugerido por Slack, Chambers e Johnston (1997) para o alcance da confiabilidade.

No contexto dos serviços logísticos é possível notar a presença de aspectos voltados para assegurar a competitividade, cujos conceitos se desdobram em vários níveis e serão tratados a seguir.

2.2.1 Competitividade: Conceitos e Definições

De acordo Deniz, Seçkin e Cüreoğlu (2013, p. 465), competitividade origina-se do latim competer, que significa a participação de um negócio em mercados rivais. Para Azevedo (2000), é uma característica do agente, mas diz respeito à capacidade de uma firma crescer e sobreviver de modo sustentável.

Kupfer (1991, p. 14) explica que a competitividade “é função da adequação das estratégias das empresas individuais ao padrão de concorrência vigente no mercado específico”. O efeito dessa relação causal é considerado por Kupfer (1991) como um fenômeno ex post, não captado pelo desempenho corrente da firma e indica a competitividade da empresa no passado, o que torna impossível uma avaliação ex ante, de forma inequívoca.

O mapeamento das expectativas dos agentes em relação às alterações no padrão de concorrência no futuro, segundo Kupfer (1991), pode ser realizado por meio de estudos prospectivos, cujos resultados servirão para avaliar a adequação das estratégias adotadas pelas empresas no presente.

Segundo Porter (1990), o desempenho de um negócio depende da habilidade em gerir as vantagens competitivas. Uma estratégia tradicional adotada pelas empresas consiste em obter vantagem por meio de produção mais eficiente em relação aos custos, comparada à concorrência. Nesse caso, são incorporadas práticas de economia de escala, padronização de produtos e processos e o acesso preferencial às matérias-primas. É conhecida como estratégia de liderança em custos e pode levar à prática de melhores preços no mercado.

A outra estratégia apontada por Porter (1990) consiste em tornar os produtos diferentes perante os clientes. Daí a denominação de estratégia de diferenciação. Ela permite criar a sensação de exclusividade e assim, explorar a qualidade intrínseca, os aspectos do tempo de entrega e a robustez do produto e/ou serviço.

Para os arranjos agroindustriais, Farina (1999) apresenta uma análise de suas relações sistêmicas e explica que a competitividade possui algum significado no âmbito empresarial,

mas em relação às nações, a clareza acerca desse fenômeno é impossível de se atingir, tendo em vista que nem todas as indústrias de um país são competitivas.

Porter e Van der Linde (1995) definem a competitividade no nível meso ou agregado, como a produtividade média da indústria ou o valor criado por unidade de mão de obra para cada unidade de inversão de capital. Para Mcfetridge (1995), em longo prazo, a competitividade de uma indústria reflete a rentabilidade da operação de suas empresas em mercados abertos.

No nível micro econômico, a discussão versa sobre a competência das empresas para impulsionar a competitividade das indústrias e estas, por sua vez, a das nações. Sob essa perspectiva, Haguenauer (1989) organiza os conceitos em duas formas: a do desempenho, que expressa a participação de mercado (market share) de uma firma; e da eficiência, que diz respeito à relação insumo-produto praticada pela firma.

Para Huggins, Izushi e Thompson (2013), no âmbito regional, a competitividade pode ser definida como a capacidade das regiões de alcançar crescimento econômico em relação a outras regiões, numa etapa global similar de desenvolvimento econômico, dentro de seu país ou bloco continental.

Segundo Delbari et al. (2015), muitas são as discussões sobre competitividade enquanto fator-chave para a criação de competência no sentido de contribuir para a prosperidade nacional. No entanto, o desafio é compor os interesses da comunidade e nação na sua concepção. Por isso, esse tema é considerado complexo e com diversos pontos de vista.

2.2.2 Vantagem Competitiva: Características Gerais

Segundo Brito e Brito (2012), o debate teórico sobre vantagem competitiva é limitado no sentido de oferecer uma definição completa ou aplicável, porém destacam que a questão mais importante é saber quais aspectos e variáveis de desempenho revelam o valor criado pela empresa.

A partir de uma pesquisa sobre o desempenho de mais de seis mil empresas americanas, pertencentes a quase trezentos setores industriais, Brito e Brito (2012) constataram que a vantagem competitiva não é tão rara, conforme defende Powell (2001), e essa situação não se alterou ao longo dos vinte anos em análise, o que permite questionar a ideia de desaparecimento gradual da vantagem pela hipercompetição.

Conforme Blyler e Coff (2003), componentes dinâmicos e sociais influenciam a maneira como é reconhecido o valor criado por parte dos atores envolvidos. Para Rumelt,

Schendel, Teece (1991), a capacidade do gestor para tomar decisão gerencial sob processos de fricção e incerteza no contexto social irá refletir o desempenho organizacional.

Para Brito e Brito (2012), a manifestação mais direta da criação de valor é a apropriação do lucro e a parcela entre a disposição do cliente a pagar e o preço cobrado pela empresa, ou seja, o valor capturado pelo cliente impacta positivamente no desempenho e pode ser mensurado em crescimento da participação de mercado. Ainda, Brito e Brito (2012) concluem que uma empresa com vantagem competitiva pode ter lucratividade e apresentar um crescimento superior.

Um dos maiores objetivos das empresas é alcançar a eficácia organizacional, que segundo Venkatraman e Ramanujam (1986), inclui aspectos sociais e ambientais impostos por sua relação com os grupos de interesse no negócio. No entanto, os fatores de desempenho para o alcance de vantagem competitiva estão diretamente relacionados com o tempo de aprovisionamento, que segundo Slack Chambers e Johnston (1997), é definido como um critério competitivo que afeta os demais fatores, pois uma entrega rápida implica em maior qualidade dos serviços, pode reduzir os custos dos processos e o cumprimento dos prazos favorece a manutenção da confiabilidade. Assim, o tempo torna-se a variável fundamental para a escolha dos serviços logísticos.

Conforme o CSCMP (2013), o tempo total que decorre entre a colocação de uma encomenda pelo fornecedor e o recebimento pelo cliente consistem no período necessário para transmitir, processar e preparar pedidos, assim como o trânsito das mercadorias. Para Ballou (1995), o tempo médio de entrega é um fator significativo para a eficiência nos serviços logísticos, porque existe uma variabilidade que não pode ser desconsiderada, pois impacta diretamente nos demais componentes do serviço logístico, principalmente os relacionados à confiabilidade.

O gestor logístico atua como um provedor de serviços de logística, nas várias etapas da cadeia de suprimentos (CSCMP, 2013) e essa função comumente é terceirizada. Conforme Aharonovitz e Vieira (2014), esse profissional (pessoa física ou jurídica) atua de acordo com a necessidade das empresas em retirar operações de suas atividades nucleares, cujo propósito é agregar valor ao produto por meio de serviços especializados e mais rápidos.

A terceirização é alternativa para buscar níveis maiores de serviços logísticos, cujas estratégias podem ser variadas. Conforme a CSCMP (2013), a terceirização total ou parcial das operações logísticas, também conhecida como “3PL”, inicialmente indicava a terceira parte do contrato de transporte, mas evoluiu para o conceito de serviços integrados, no sentido

de fornecer transporte, armazenagem, cross-docking2, gerenciamento de inventário, embalagem e encaminhamento de frete.

Os serviços de integração logística geralmente são terceirizados devido à sua complexidade. Essa modalidade é denominada pela CSCMP (2013) de Fourth-Party Logistics ou “4PL”, que significa atuar como integrador da cadeia de suprimentos. O propósito é o de reunir e gerenciar os recursos, capacidades e tecnologia para oferecer uma solução logística abrangente. De acordo com Ballou (1995), os custos logísticos representam de 4% a mais de 30% do faturamento das empresas, o que torna a terceirização nessa área cada vez mais atrativa.

Sob o enfoque dos serviços logísticos como fonte de vantagem competitiva, na próxima seção serão discutidas as principais características de operação dos portos marítimos, que atuam como operadores logísticos em ambiente competitivo.