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CAPÍTULO IV – CONFLITOS RELACIONADOS COM USO E/OU ACESSO A

4.2. S ERVIDÃO

4.2.2. Servidão Administrativa

Maria Sylvia Zanella Di Pietro conceitua servidão administrativa como

“direito real de gozo, de natureza pública, instituído sobre imóvel de propriedade alheia, com base em lei, por entidade pública ou por seus delegados, em favor de um serviço público ou de um bem afetado a fim de utilidade pública149”.

Hely Lopes Meirelles expõe que “servidão administrativa ou pública é ônus real de uso imposto pela administração à propriedade particular para assegurar a realização e conservação de obras e serviços públicos ou de utilidade pública, mediante indenização dos prejuízos efetivamente suportados pelo proprietário”150.

No mesmo sentido, Lúcia Valle Figueiredo conceitua servidão administrativa “como ônus real imposto à propriedade, consistente no dever de suportar pelo proprietário, tendo em vista interesse público a ser implementado”151.

Para a constituição de uma servidão administrativa devem-se seguir alguns requisitos, tais como: decorrem diretamente de lei, independendo a sua constituição de qualquer ato jurídico, unilateral ou bilateral; efetivam-se mediante acordo, precedido de ato declaratório de utilidade pública da servidão; resultam de sentença judicial, no caso de usucapião e, no caso de servidão imposta, pelo mesmo processo utilizado na desapropriação judicial152.

149 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Ob cit. p. 136.

150 MEIRELLES, Hely Lopes. Ob. Cit. p. 623.

151 FIGUEIREDO, Lúcia Valle. Ob. Cit. p. 322.

152 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Ob cit. p. 138.

As servidões administrativas têm seu fundamento na lei e dependem da declaração de utilidade pública para sua efetivação, assim como os títulos das servidões devem ser registrados, como determina o art. 167, I, n. 6153, Lei n°

6.015/1973, Lei de Registros Públicos. Quanto à extinção, essas podem ser por lei, por desafetação, por perda da coisa, por acordo ou confusão. A regra é que as servidões são indenizáveis, salvo se não ocorrer nenhum dano154.

Em estudo jurisprudencial sobre servidão administrativa encontrou-se a seguinte jurisprudência a seguir transcrita:

O Tribunal de Justiça do Estado de Alagoas, Acórdão n° 2.081/2006 trata de uma servidão administrativa de passagem de água, através de aqueduto que passa por uma propriedade, para abastecimento de população local, onde o proprietário requer o direito de uso gratuito pelo uso desse recurso.

Apelação civil. Servidão administrativa. Preliminar de nulidade de sentença por ausência de produção de prova pericial. Não apreciada, pois inexiste prejuízo para a parte que a invocou.

Aplicação do art. 249, § 2°,CPC. Questão de fundo. Servidão de passagem de água, através de aqueduto, utilizada pela companhia de abastecimento de água (casal) e distribuída para a população local. Uso gratuito o bem pretendido pelo proprietário do imóvel serviente. Impossibilidade, matéria regida pelo regime público. Prestação de serviço público titularizado pelo estado ou por um lhe faça às vezes.

Necessidade de retribuição pecuniária pelo usuário do serviço prestado. Logo, se fosse o caso, a servidão seria objeto de indenização, se presentes os requisitos ensejadores a algum tipo de dano ao proprietário do imóvel pela passagem do aqueduto. E não, frise-se, pela equivocada determinação do julgado quanto ao uso da água em favor do serviente.

Sentença reformada. Recurso conhecido e provido. (decisão unânime)155

Em defesa argüiu a serviente, preliminarmente, a produção de prova pericial para constatar se o bem (água) era próprio para consumo humano. No mérito, aduziu que a necessidade de utilizar a propriedade do autor para a passagem do aqueduto foi inevitável, pois o bem de uso comum do povo (água)

153 Art. 167 - No Registro de Imóveis, além da matrícula, serão feitos: I- o registro: das servidões em geral.

154 FIGUEIREDO, Lúcia Valle. Ob. Cit. p. 321.

155 TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE ALAGOAS. Disponível em

http://tj.siged.com.br/publico/lePDF.aspx?codigoDV=97€nomelmg=2081002006.PDF> Consulta realizada 07/06/2007.

era consumido pela população daquela região, o que caracterizava servidão administrativa.

A sentença do juízo a quo julgou procedente o pedido, sob fundamento de que existe o direito subjetivo invocado, visto que o bem em disputa satisfaz as necessidades básicas da pessoa humana. Portanto, o uso gratuito da água, já que o aqueduto passa pela propriedade do autor, fica assegurado a ele, em conformidade com os dispositivos legais, consubstanciado em servidão civil.

Ao fazer o julgamento do mérito, o relator de tal acórdão observa que

“não há nos autos nenhum documento probante da servidão firmada, ou seja, inexiste escritura pública, ou outro instrumento legal (por exemplo: contrato particular de servidão de passagem), de constituição de servidão administrativa para passagem de aqueduto utilizado pela empresa, apesar de referida servidão ser dada como certa pelas partes em litígio156”. Diante de tal fato entende o tribunal se tratar de servidão administrativa e não civil, como dado em sentença de primeira instância, decidindo pela improcedência do pedido do autor.

A servidão de aqueduto tem previsão legal no artigo 1293 do Código Civil, que dispõe sobre direito de vizinhança, e nos artigos 117 a 138 do Código de Água, que prevê expressamente a possibilidade de constituição de aqueduto para aproveitamento das águas, no interesse público, por meio de concessão por utilidade pública.

Nesse caso, a servidão será decretada pelo Governo (art. 120 do Código de Águas) e será de direito público: o titular é empresa concessionária de serviço público; a finalidade é pública; sua constituição depende de decreto governamental; o beneficiário é o público em geral.

Conquanto o Código de Águas mencione servidão legal de aqueduto, na realidade a sua constituição não decorre diretamente da lei, pois depende de decreto governamental, em cada caso.

156 TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE ALAGOAS. Ob.cit