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3 PANORAMA DO AÇO NO BRASIL – CARACTERÍSTICAS, TÉCNICAS E LINGUAGEM.

3.1. Siderurgia no Brasil – de 1990 a 2014.

Desde as primeiras iniciativas na produção do ferro no Brasil, até o século XXI, muitas mudanças ocorreram no setor siderúrgico nacional, cuja atual capacidade de produção permite atender a demanda do mercado interno e externo, posicionando o Brasil em primeiro lugar no setor siderúrgico na américa latina. Segundo Neves e Camisasca (2013), o setor siderúrgico nacional, nos últimos anos, alcançou um padrão internacional de excelência, cujos investimentos em pesquisa e tecnologia, expandiram a capacidade de produzir os diversos produtos em aço que o mercado necessita.

Segundo Neves e Camisasca (2013), o desenvolvimento das indústrias do setor siderúrgico, assim como empresas dos demais setores produtivos, intensificou-se

quando, na década de 1990, foi implantado pelo governo do presidente Fernando Collor de Melo, o Plano de Abertura Comercial, cujo objetivo era abrir o mercado nacional, terminando com uma série de medidas protecionistas, possibilitando, dessa forma, inserir o país no processo de globalização. Esse fato despertou a necessidade das indústrias nacionais de investir em tecnologia e pesquisa, a fim de alcançar um maior nível de eficiência, além de diminuir os desperdícios e tornarem-se mais competitivas, como reforça Bueno (2008):

(...) uma vez no poder, Fernando Collor(...) (...)acabaria provocando um grande processo de reestruturação interna nas industrias nacionais, ao abrir o mercado para as importações. As empresas brasileiras dispostas a competir, tiveram que rever seus métodos administrativos, reduzir os custos de gerenciamento e terceirizar certas atividades, além de investir na automação e aumentar a produtividade. (BUENO, 2008, p. 209)

No esforço de modernização nacional, em 1990, o Plano Nacional de Desestatização, que teve como objetivo, transferir para a iniciativa privada, diversas atividades do setor produtivo do país, acreditando assim, que os investimentos do setor privado viriam a contribuir para a modernização do parque industrial nacional.

O processo de privatização foi conturbado, e desde o anúncio da criação do Plano Nacional de Desestatização, o governo foi alvo de muitas críticas e objeções por parte dos partidos de oposição e sindicalistas, movidos principalmente pelo receio das demissões em massa e a da venda das empresas estatais por preços módicos.

Além de promover a abertura do mercado, o governo Collor também iniciou o processo de privatização das estatais, que na maioria das vezes, eram ineficientes e deficitárias. Nesse momento, o governo era dono das siderúrgicas produtoras de aços planos e outras de aços não planos, que representavam mais que 60% do mercado nacional (…) (NEVES E CAMISASCA, 2013, p.139)

São Paulo e Kalache Filho (2002), confirmam esses dados, informando que no inicio da década 1990, cerca de 65% de toda a produção siderúrgica nacional era controlada pelo Estado. Scherrer (2006) acrescenta também, que o setor siderúrgico desde da década de 1980 vinha perdendo investimentos na área de pesquisa em tecnologia, e o parque industrial se apresentava desatualizado e obsoleto.

As siderúrgicas estatais, com alto nível de endividamento, realizavam baixos investimentos em pesquisa tecnológica e conservação ambiental e demonstravam menor velocidade na reformulação de processos produtivos e na consequente obtenção de ganhos de produtividade. Ademais, essas

empresas ficavam limitadas em sua autonomia de planejamento e estratégia e em sua atuação comercial. (SÃO PAULO E KALACHE FILHO, p.23)

A partir desse cenário ineficiente do setor siderúrgico, apesar do clima de desconfiança e insatisfação alimentado por oposicionistas do governo Collor, em outubro de 1991, segundo Neves e Camisasca (2013), ocorreu a privatização da primeira empresa estatal do setor siderúrgico, a Usiminas. Sua venda deu início ao processo de privatização das siderúrgicas nacionais, consideradas ultrapassadas e obsoletas em virtude, da quase total falta de investimentos na década de 1980. A escolha de iniciar a privatização pela Usiminas se deu, por ser a estatal que possuía melhores condições de venda, graças a sua lucratividade e o bom desempenho frente ao mercado interno. A empresa era responsável por cerca de 42% da demanda interna, tendo alcançado o primeiro lugar no ranking brasileiro e o segundo na classificação mundial em eficiência siderúrgica. Após a privatização, a empresa aumentou sua competitividade e eficiência, chegando a números expressivos na produção do aço, cerca 455 toneladas de aço por empregado, enquanto a produção anterior à privatização era de 382 toneladas. Dessa forma, em 1994, a empresa alcançou a produção de 3,8 milhões de toneladas de aço por ano.

Scherrer (2006) informa que, a fim de estimular o desenvolvimento do setor, no início da década de 1990, foi criado um plano de investimentos industriais com aporte financeiro do BNDES – Banco Nacional do Desenvolvimento. Como consequência, as empresas passaram a ter gestão própria e passaram a objetivar a lucratividade como medida de desempenho.

Esse processo marcou uma nova fase de desenvolvimento para o setor siderúrgico, gerando empresas fortalecidas como grupos empresariais, elevação da produtividade, acesso ao mercado de capitais, participação de empresas m investimentos no exterior, desenvolvimento de processos e produtos para atendimento ao cliente, modernização tecnológica, atualização ambiental, estratégias comerciais mais agressivas e autonomia para planejamento e estratégia de atuação. (SHERRER, 2006, p.21)

Após a privatização da Usiminas, segundo Neves e Camisasca (2013), foram privatizadas siderúrgicas de menor porte. Em 1991, a Companhia Siderúrgica do Nordeste (Coginor). Em fevereiro 1992 a Aço Finos Pirantini e, em junho do mesmo ano, a CST – Companhia Siderúrgica Tubarão que, por se encontrar em dificuldades financeiras, foi vendida pelo valor mínimo do leilão. A CST, após a sua privatização,

modernizou seus equipamentos, reformou o alto-forno e a adquiriu uma máquina de lingotamento a quente, que possibilitou o incremento na qualidade do aço produzido, refletindo no aumento substancial do lucro da empresa.

No governo do presidente Itamar Franco, informam os autores Neves e Camisasca (2013), seguiu-se o projeto de desestatização das siderúrgicas, sendo leiloadas em sequência: a Acesita, em 1992 e a CSN, que em 1993 foi adquirida pelo consorcio formado pelos grupos Vicunha, Bamerindus, Companhia Vale do Rio Doce e Emesa. Em agosto de 1993, foi a vez da Cosipa e, meses depois, dando fim aos leilões das siderúrgicas estatais, foi vendida a Açominas. Em 1995, depois de finalizado os processo de privatização da siderúrgicas estatais, no governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, o setor foi impulsionado por um forte programa de investimento que provocou várias mudanças no parque industrial, principalmente nas áreas de informatização e automatização (fig. 29), aumentado a produção e melhorando a qualidade do produto final.

Fig. 29 Produção informatizada de aço laminado a quente em Ipatinga, e estoque de tubos de aço na Usiminas. Fonte: Neves e Camisascas (2013, p.154).

Em 2000, a produção de aço bruto totalizou 27,7 milhões de toneladas, a maior de todos os tempos da siderurgia brasileira. O mercado interno, medido pelas vendas internas mais importações, deve atingir 15,8 milhões de toneladas. Crescimento de 12% sobre o ano anterior, reflexo do reaquecimento da economia. As exportações apontam decréscimo de 3,2% em relação a 99, totalizando 9,7 milhões de toneladas. Duas grandes unidades de galvanização foram inauguradas em 2000. Há mais uma em construção e outra em fase final de projeto. Todas traduzem o esforço do setor para atender as exigências de um novo perfil de consumo, notadamente das indústrias automobilísticas e da construção civil. Retratam também esse esforço os acordos de parceria firmados pelas empresas produtoras com diferentes segmentos da cadeia produtiva. (Informativo Carta da Siderurgia, 2000, p.3, apud Neves e Camisasca, 2013, p.172)

Em 2003, a produção de aço no Brasil se apresentava em pleno desenvolvimento, estimulado principalmente pelo crescimento do mercado interno, cuja demanda principal era a indústria automobilística e a construção civil. Buena (2008), informa que nesse mesmo período, a Confederação Nacional das Industrias – CNI, vislumbrando o crescimento do setor, apontava alguns fatores que dificultavam um maior desenvolvimento industrial, como as altas taxas de juros, a carga tributária abusiva e o excesso de burocracia governamental, dessa forma, a CNI “(...)clamava, em frequentes encontros e manifestos, pela redução dos gastos públicos, o estimulo a iniciativa privada e o fortalecimento das agencias reguladoras, como parte de uma agenda pro- crescimento e desenvolvimento sustentável.” (BUENA, 2008, p. 213)

Nesse contexto, em 2004, no primeiro mandato do presidente Lula, foi lançada a PolÍtica Industrial, Tecnologia e de Comércio Exterior – PITCE, conjunto de propostas que, segundo Neves e Camisasca (2013), resultou em redução da carga tributária para alguns setores produtivos, amparando o desenvolvimento e o fortalecimento da economia nacional. “O crescimento médio do PIB brasileiro foi de 4,2% entre 2003 e 2008”. (p.168)

Em 2004, segundo Crossetti e Fernandes (2005), o Brasil contava, no setor siderúrgico, com 24 usinas, administradas por 11 empresas, com capacidade de produzir até 34 milhões de toneladas por ano de aço bruto. No mesmo ano, o Brasil produziu 32,9 milhões de toneladas, cerca de 96,5% da capacidade total, o que correspondia a 3,1% da produção mundial, colocando o Brasil como oitavo produtor mundial.

Em 2007, Neves e Camisasca (2013), informam que no 20o Congresso Brasileiro de Siderurgia, o presidente Lula anunciou o PAC – Programa de Aceleração do Crescimento, programa que previa um investimento de 58 bilhões de reais em infraestrutura, cujos projetos em rodovias, ferrovias, portos e aeroportos deveriam ser grandes consumidores da produção de aço do país. Na ocasião, o IBS – Instituto Brasileiro de Siderurgia, tomou a iniciativa de lançar o “PAC Siderúrgico”, que anunciava a capacidade de produção do parque siderúrgico nacional, sugeria os investimentos necessários a serem feitos no setor, e projetava os futuros resultados a serem alcançados. O texto previa um investimento, para o período de 2007 a 2010, de cerca de 23 bilhões de dólares, que possibilitaria elevar a produção nacional para 66 milhões de toneladas de aço.

Em 2008, em plena crise mundial, Neves e Camisasca (2013) informam que o governo propôs o PDP – Plano de Desenvolvimento Produtivo, que, baseado na redução de impostos, pretendia estimular o ciclo de desenvolvimento das empresas e aumentar a competitividade frente o mercado internacional, principalmente nas áreas em que o Brasil já se destacava, como na siderurgia, petróleo, gás, biotecnologia e outros. Apesar dos esforços, as altas taxas de juros impostas pelo governo, geravam dificuldades para o crescimento do setor industrial e para as empresas de comércio exterior. A crise econômica mundial, deflagrou uma série de mudanças nas relações comerciais, entre as nações de todo o mundo e vários países passaram a adotar medidas protecionistas, para defender seus interesses e proteger suas economias e empresas. Como consequência, no ano de 2008, houve uma redução de 12% das vendas do aço brasileiro no comércio internacional, apontando para uma contração do mercado externo.

Segundo Araripe, Oliveira e Vaz (2013), a produção do aço bruto no Brasil, em 2012, totalizou 34,5 milhões de toneladas, representando uma queda de 2% em relação a 2011.

A indústria do aço no Brasil enfrentou grandes dificuldades em 2012 decorrentes da crise econômica global. O excedente de capacidade de produção mundial superior a 500 milhões de toneladas trouxe reflexos negativos ao desempenho econômico do setor. (ARARIPE, OLIVEIRA E VAZ, 2013, p. 15)

Araripe, Oliveira e Vaz (2013), informam que o mercado interno, no ano de 2012, apresentou um crescimento inexpressivo, totalizando a venda de 21,6 milhões de toneladas de aço bruto, que representa um aumento de 8% em relação a 2011. O mesmo panorama pouco animador foi percebido nas exportações, que totalizaram 9,8 milhões de toneladas e representou uma queda de 9,6% de volume comercializado em relação ao ano de 2011. Os empresários, frente a crise do setor, pressionaram o governo “pela desoneração dos investimentos e das exportações, e ainda pela reforma do sistema tributário e das questões trabalhistas, além do investimento em infraestrutura” (Neves e Camisasca, 2013, p.180). Essas solicitações, tinham como objetivo, no cenário internacional, estimular a competitividade do aço brasileiro frente aos produtos de outros países como a China, que havia despontado no mercado internacional, como o maior produtor e consumidor de aço do mundo. Segundo

Crosseti e Fernandes (2005), em 2004, a China já respondia, por cerca de 25% da produção mundial de aço.

A produção de aço chinesa alcançou em 2004 o montante de 272,8 milhões de toneladas(...) (...)Nos dois últimos anos (2004 e 2003), a China cresceu 100 milhões de toneladas, ao passo que demorou sete anos para sair de 100 para 200 milhões de toneladas. Entre 2000 e 2004 o crescimento anual da produção de aço foi de expressivos 20,7%, principalmente quando comparado ao crescimento da produção de 6,99% nos anos 1990. (CROSSETTI E FERNANDES, p.184)

Apesar do panorama de insegurança no rumo da economia mundial, no mesmo período, foram inauguradas mais três unidades produtoras de aço no Brasil, a Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA), no Rio de Janeiro, a Vallourec & Sumitomo Tubos do Brasil, em Minas Gerais, e uma nova unidade da Votorantim em Mato Grosso do Sul, cuja capacidade anual de produção é de 400 mil toneladas de aço.

Atualmente as empresas do setor siderúrgico nacional, concluem os autores Neves e Camisasca (2013), estão preparadas para enfrentar os desafios do mercado nacional e internacional. O parque industrial está modernizado e o produto tem qualidade para competir com o aço de qualquer outro país produtor. O grande desafio no comércio internacional, é a concorrência com o aço chinês, que vem ganhando espaço no mercado do mundo inteiro, além das medidas protecionistas adotadas por alguns países para proteger suas economias. Nesse panorama pouco animador do mercado internacional, o mercado interno passa a ser um forte atrativo e apresenta um grande potencial de consumo do aço nacional, pois as perspectivas de crescimento são grandes, levando em conta as obras de infraestrutura que o país necessita.

O cenário atual da produção do aço no Brasil é oscilante, apresentando uma pequena tendência para a retração do mercado, segundo a análise da produção no mês de setembro de 2014, apresentada pelo site do Instituto Aço Brasil.

A produção brasileira de aço bruto em Setembro de 2014 foi de 2,9 milhões de toneladas, queda de 3,8% quando comparada com o mesmo mês em 2013. Em relação aos laminados, a produção de Setembro, de 2,1 milhões de toneladas, apresentou redução de 2,4% quando comparada com Setembro do ano anterior. Com esses resultados, a produção acumulada em 2014 totalizou 25,5 milhões de toneladas de aço bruto e 18,7 milhões de toneladas de laminados, quedas de 1,3% e 5,0%, respectivamente, sobre o mesmo período de 2013.

Quanto às vendas internas, o resultado de Setembro de 2014 foi de 1,8 milhão de toneladas de produtos, queda de 10,7% em relação a Setembro de 2013. As

vendas acumuladas em 2014, de 15,9 milhões de toneladas, mostraram queda de 8,5% com relação ao mesmo período do ano anterior.

As exportações de produtos siderúrgicos em Setembro atingiram 1.157 mil toneladas no valor de 714 milhões de dólares. Com esse resultado, as exportações até Setembro de 2014 totalizaram 6,8 milhões de toneladas e 4,9 bilhões de dólares, representando um crescimento de 10,4% em volume e um aumento de 16,1% em valor, quando comparados ao mesmo período do ano

anterior. (Instituto Aço Brasil, disponível em:

www.acobrasil.org.br/site/portugues/numeros/estatisticas--detalhe.asp?id=75. Acesso em 21 de outubro de 2014)

Atualmente, o Brasil conta com 14 empresas privadas no parque siderúrgico, que operam 29 usinas distribuídas em 10 estados brasileiros, sendo 01 no Ceará, 01 no Pará, 01 em Pernambuco, 01 na Bahia, 09 em Minas Gerais, 02 no Espirito Santo, 04 no Rio de Janeiro, 06 em São Paulo, 01 no Paraná e 03 no Rio Grande do Sul. Em 2013, o país produziu 34,2 milhões de toneladas de aço bruto, levando o país a ocupar a 9a posição no ranking da produção mundial. Segundo pesquisa realizada pelo Centro

Brasileiro de Construção em Aço – CBCA, em 2014, o parque siderúrgico brasileiro é composto atualmente, por 166 empresas que fabricam estruturas em aço e atuam diretamente no setor da construção civil, com a maioria localizada na região sudeste (fig.30), o que pode justificar a maior incidência do uso do aço em edifício de múltiplos andares nessa região.

Fig. 30 Distribuição de empresas de estruturas de aço por região. Fonte: CBCA. ESTATISITICAS. Disponível em: www.cbca-acobrasil.org.br/site/construcao-em-aco-estatisticas.php. Acesso em 25 de outubro de 2014.

O conjunto de indústrias do setor siderúrgico nacional produzem, atualmente, uma grande variedade de produtos que são utilizados na construção civil (Tab. 1, 2 e 3):

Tabela 1 - Produtores de chapas planas.

Fonte: Neves e Camisascas (2013, p.174).

Tabela 2 - Produtores de produtos longos.

Fonte: Neves e Camisascas (2013, p.174)

Tabela 3 - Produtores de produtos longos.

Como foi apresentado, a indústria do aço no Brasil produz, atualmente, uma grande variedade de produtos de aço que abastecem os diversos setores da construção civil e das estruturas metálicas. A centralização dessas empresas na região Sul e Sudeste, pode ser o principal motivo da maior concentração do uso das estruturas metálicas nessas regiões.