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CAPÍTULO 2 A AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL E A REGULAÇÃO PELO

2.3 O SINAES e o Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes

Parece que avaliação da educação superior para os governantes no Brasil é uma ação de governo e não de Estado. Nessa ótica o governo federal que se instalou pós eleições nacionais de 2002 propôs mudanças radicais na avaliação da educação superior através da Lei 10.861/2004. Vale ressaltar que o governo anterior a esse período havia implantado o modelo avaliativo na década de 1990, com a instituição do ENC.

A equipe do Presidente empossado em 2003, com participação efetiva do Ministro da Educação, colocou em prática um novo mecanismo de avaliação da educação superior, denominado no geral de SINAES – Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior. Com a instituição do SINAES, discute-se quanto ao seu real sentido, seja de avaliação emancipatória ou regulação, ou ainda, se poderia manter ambas as bases conceituais, outrora consideradas dicotômicas por natureza.

O SINAES é um programa de avaliação da educação superior que tem por finalidade acompanhar da evolução da qualidade do ensino superior e permitir que o MEC conduza o processo de credenciamento ou renovação de credenciamento de instituições de educação superior, bem como de autorização, reconhecimento e renovação de reconhecimento de cursos de graduação, em consonância com o Art. 9º, inciso IX, da Lei nº 9.394, de 1996.

Sua coordenação se faz pela Comissão Nacional de Avaliação da Educação Superior (CONAES), órgão do âmbito do Ministério da Educação vinculado ao Gabinete do Ministro de Estado (BRASIL, 2004).

Ao promover a avaliação, o SINAES deve assegurar (BRASIL, 2004):

a) a avaliação institucional, interna e externa, contemplando a análise global e integrada das dimensões, estruturas, relações, compromisso social, atividades, finalidades e responsabilidades sociais das instituições de educação superior e de seus cursos;

b) o caráter público de todos os procedimentos, dados e resultados dos processos avaliativos;

d) a participação do corpo discente, docente e técnico administrativo das instituições de educação superior, e da sociedade civil, por meio de suas representações. Os resultados da avaliação constituirão referencial básico dos processos de regulação e supervisão da educação superior.

O SINAES compreende três modalidades de instrumentos, que devem ser aplicadas em diferentes momentos componentes principais, listados a seguir:

(1) Avaliação das Instituições de Educação Superior (AVALIES) – é o centro de referência e articulação do sistema de avaliação que se desenvolve em duas etapas principais:

(a) auto-avaliação – coordenada pela Comissão Própria de Avaliação (CPA) de cada IES, a partir de 1° de setembro de 2004;

(b) avaliação externa – realizada por comissões designadas pelo INEP, segundo diretrizes estabelecidas pela CONAES.

(2) Avaliação dos Cursos de Graduação (ACG) – avalia os cursos de graduação por meio de instrumentos e procedimentos que incluem visitas in loco de comissões externas. A periodicidade desta avaliação depende diretamente do processo de reconhecimento e renovação de reconhecimento a que os cursos estão sujeitos.

(3) Avaliação do Desempenho dos Estudantes (ENADE) – aplica-se aos estudantes do final do primeiro e do último ano do curso, estando prevista a utilização de procedimentos amostrais. Anualmente, o Ministro da Educação, com base em indicação da CONAES, definirá as áreas que participarão do ENADE (BRASIL, 2004, p.4-5).

DIAS SOBRINHO (2002), esclarece que não há, evidentemente, uma concepção única de avaliação institucional, mesmo porque são muitas e contraditórias as concepções de educação, de universidade e de sociedade. É notória a expansão do ensino privado no país, conforme se pode verificar nos dados estatísticos INEP/MEC.

Hoje temos a grande maioria das IES sob a égide do ensino privado. Nesse aspecto, vale a lei do mercado, onde sem dinheiro não há projetos e sem projetos adequados não há resultados substanciais. Na mesma retórica, o mesmo autor alega que aí, nesse caso, entra a avaliação como instrumento de medida e controle, ou seja, uma avaliação que responde às expectativas de eficiência e produtividade que os Estados controladores têm a respeito da educação superior.

Os sistemas educacionais superiores, massificados pela explosão de matrículas, são agora compelidos a se tornarem mais eficientes e produtivos, em situações de crescentes restrições orçamentárias. É verdade que a retórica oficial continua sendo a da qualidade e excelência, mas estes termos, em verdade, estão aí passando a idéia de produtividade segundo a lógica do mercado: aumentar a quantidade de rendimentos, com menores custos.

O SINAES foi regulamentado pela Portaria Ministerial 2.051 de 9 de julho de 2004 , tendo como principal objetivo avaliar as IES brasileiras, sejam de natureza pública ou particular, visando inferir o mérito do próprio sistema de educação superior. Como ainda é um procedimento relativamente novo, uma análise macro desse instrumento como um todo ainda poderá ser incompleto, pois o principal mecanismo de sua intrincada e ainda não totalmente dissecada coluna vertebral é o ENADE – Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes, o qual começou a ser aplicado aos acadêmicos de graduação no final de 2004, mas ainda falta, na presente data (2007), a aplicação da segunda etapa, a qual será executada no final do ano de 2008, uma vez que a maioria dos cursos avaliados naquela data inicial tem uma duração de quatro anos.

O SINAES procura aliar a avaliação e regulação; pois, a partir da LDB/1996 verificou-se exacerbado crescimento do mencionado sistema, sem, no entanto,

haver garantia acerca da excelência das novas instituições educacionais criadas.

O ENADE é parte integrante do SINAES. Enquanto o SINAES tem por objetivo maior avaliar as instituições de educação superior e os seus cursos de graduação, o ENADE ocupa-se com o desempenho dos estudantes em relação a competências, saberes, conteúdos curriculares e formação em geral (BRASIL, 2004).

RISTOFF (2004), em pronunciamento oficial agora como integrante do governo federal, constante na página oficial do MEC/INEP, esclarece que o ENADE pode ser descrito como um exame construído por especialistas das diversas áreas do conhecimento, tomando por base não o perfil do concluinte, mas o perfil do curso. Sua construção tem, pois, por base a trajetória do estudante, não apenas o momento da conclusão; um continuum, não um ponto de chegada. Como os perfis que serviram de base para a elaboração das provas envolvem competências e saberes no seu cruzamento com os conteúdos aos quais os estudantes devem ser expostos durante a sua trajetória acadêmica, o ENADE explora conteúdos de todo o espectro das diretrizes nacionais e não apenas conteúdos profissionalizantes.

No Art. 5º da Lei 10861/2004 há a descrição do que será o ENADE; nele a norma legal estabelece seus parâmetros legais, conforme se observa abaixo, na íntegra:

§ 1º O ENADE aferirá o desempenho dos estudantes em relação aos conteúdos programáticos previstos nas diretrizes curriculares do respectivo curso de graduação, suas habilidades para ajustamento às exigências decorrentes da evolução do conhecimento e suas competências para compreender temas exteriores

ao âmbito específico de sua profissão, ligados à realidade brasileira e mundial e a outras áreas do conhecimento.

§ 2º O ENADE será aplicado periodicamente, admitida a utilização de procedimentos amostrais, aos alunos de todos os cursos de graduação, ao final do primeiro e do último ano de curso.

§ 3º A periodicidade máxima de aplicação do ENADE aos estudantes de cada curso de graduação será trienal.

§ 4º A aplicação do ENADE será acompanhada de instrumento destinado a levantar o perfil dos estudantes, relevante para a compreensão de seus resultados.

§ 5º O ENADE é componente curricular obrigatório dos cursos de graduação, sendo inscrita no histórico escolar do estudante somente a sua situação regular com relação a essa obrigação, atestada pela sua efetiva participação ou, quando for o caso, dispensa oficial pelo Ministério da Educação, na forma estabelecida em regulamento.

§ 6º Será responsabilidade do dirigente da instituição de educação superior a inscrição junto ao Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira - INEP de todos os alunos habilitados à participação no ENADE.

§ 7º A não-inscrição de alunos habilitados para participação no ENADE, nos prazos estipulados pelo INEP, sujeitará a instituição à aplicação das sanções previstas no § 2º do art. 10, sem prejuízo do disposto no art. 12 desta Lei.

§ 8º A avaliação do desempenho dos alunos de cada curso no ENADE será expressa por meio de conceitos, ordenados em uma escala com 5 (cinco) níveis, tomando por base padrões mínimos estabelecidos por especialistas das diferentes áreas do conhecimento.

§ 9º Na divulgação dos resultados da avaliação é vedada a identificação nominal do resultado individual obtido pelo aluno examinado, que será a ele exclusivamente fornecido em documento específico, emitido pelo INEP.

§ 10º Aos estudantes de melhor desempenho no ENADE o Ministério da Educação concederá estímulo, na forma de bolsa de estudos, ou auxílio específico, ou ainda alguma outra forma de distinção com objetivo similar, destinado a favorecer a excelência e a continuidade dos estudos, em nível de graduação ou de pós- graduação, conforme estabelecido em regulamento.

§ 11º A introdução do ENADE, como um dos procedimentos de avaliação do SINAES, será efetuada gradativamente, cabendo ao Ministro de Estado da Educação determinar anualmente os cursos de graduação a cujos estudantes serão aplicados.

Quanto ao SINAES, ainda carece de mais tempo para uma análise mais aprofundada. Entretanto, apresenta algumas diferenças significativas, comparadas com o ENC, notadamente no mecanismo de aplicação das provas do ENADE e na utilização de seus resultados. Mesmo apresentando significativas mudanças, ainda apresenta um componente regulador forte, especialmente na obrigatoriedade de os acadêmicos serem submetidos às provas (§ 5º), desde que selecionados na amostra, e pelas possíveis utilizações dos resultados do ENADE pelas IES (§ 8º) e pela sociedade, correndo o risco de haver novo ranqueamento institucional.

Regulação, controle e avaliação são práticas que acompanham a universidade em sua trajetória histórica. Cabe às IES salvaguardarem sua autonomia, no interesse do avanço do saber humano, da crítica construtiva da sociedade para seu progresso e aperfeiçoamento continuado e da preservação da

liberdade humana contra a opressão do Estado ou de grupos hegemônicos da sociedade.

Talvez o efeito positivo de tudo isso, especialmente das formas de regulação da educação pelo estado, seja mobilizar as instituições de educação superiores, tanto públicas como particulares, para repensarem os currículos de seus cursos e reverem suas práticas educativas e avaliativas.