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EXAME POSITIVOS

5.2 SINAIS CLÍNICOS

Manciantti et al (1988) classificou os cães infectados por Leishmania infantum de acordo com a sintomatologia clínica, sendo os sintomáticos os que apresentavam três ou mais sinais, oligossintomáticos aqueles com um a três sinais e assintomáticos aqueles sem nenhum sinal. Dos 45 animais positivos no exame parasitológico direto de Bauru, apenas um (2,2%) era assintomático. 14 (31,11%) sintomáticos, com quatro ou mais sinais, e 31 (68,89%) apresentavam entre um e três sinais, denominados oligossintomáticos. Sabe-se que os cães infectados por Leishmania chagasi podem apresentar ou não sinais clínicos. Aproximadamente 50% dos cães infectados não apresentam sinais clínicos da doença (FERREIRA et al., 2007). O diagnóstico pode tornar-se mais difícil em cães assintomáticos ou naqueles com poucos sinais clínicos, ou seja, os oligossintomáticos (GOMES et al., 2006).

Os sinais definidos para serem observados no estudo foram: palidez de mucosas, hepatomegalia, esplenomegalia, linfoadenomegalia, onicogrifose, emagrecimento, sinais respiratórios, sinais oculares, úlceras de pele e outras alterações dermatológicas. Dentre os 14 cães sintomáticos, quatro (8,89%) apresentaram quatro sinais; oito (17,78%) entre cinco e seis sinais e dois (4,45%) sete sinais clínicos. 44,45% deles apresentavam palidez de mucosas de algum grau, 22,22% hepatomegalia, 33,33% esplenomegalia, 31,11% onicogrifose, 48,89% emagrecimento, 17,78% sinais oculares que incluíam secreção mucosa ou muco-purulenta, uveíte, e/ou ceratoconjuntivite, nenhum (0%) apresentou sinais respiratórios, como secreção nasal purulenta, tosse ou sinais de pneumonia, 17,78% linfoadenomegalia, 24,45% úlcera de pele e 66,66% de outros sinais dermatológicos como alopecia, pêlos opacos e quebradiços, feridas não ulceradas, e/ou dermatites, de acordo com a Tabela 4.

TABELA 4 Distribuição dos cães provenientes do CCZ de Bauru em

porcentagens de acordo com os sinais clínicos detectados. Botucatu 2008.

Sinal clínico Número de cães Porcentagem

Sinais dermatológicos 30 66,66% Emagrecimento 22 48,89% Palidez 20 44,45% Esplenomegalia 15 33,33% Onicogrifose 14 31,11% Úlceras de pele 11 24,45% Hepatomegalia 10 22,22% Linfoadenopatia 8 17,78% Sinais Oculares 8 17,78% Sinais respiratórios 0 0,00%

Os principais sinais observados foram as alterações dermatológicas em mais que 60% dos casos, palidez de mucosas (Figura 3) em variados graus e emagrecimento (Figura 4). Esta última característica foi estabelecida quando os cães apresentavam condições corporais ruins (costelas e outras extremidades ósseas evidentes).

Assim como no presente estudo, o de Aguiar et al (2007), que teve por objetivo descrever o perfil clínico de cães naturalmente infectados, provenientes de áreas endêmicas, os animais apresentaram condições clínicas que variaram de oligossintomáticos (39 a 65% dos cães) a polissintomáticos (21 a 35%).

Na pesquisa conduzida por Manna et al (2004), com cães comprovadamente infectados por sorologia e PCR, todos os animais apresentavam um ou mais sinais clínicos e 41 de 95 cães (43,1%) tinham afecções cutâneas. Linfoadenomegalia, perda de peso, alterações dermatológicas, onicogrifose e apatia foram os principais sinais observados no estudo realizado por Moreira et al (2007). Dos 89 cães analisados, 41 (46,1%) foram diagnosticados como sintomáticos, 25 (28,1%) como oligossintomáticos e 23 (25,8%) como assintomáticos.

FIGURA 3 Foto de cão apresentando mucosa oral perlácea revelando anemia

severa.

Segundo Mancianti e Meciani (1988), os sinais mais freqüentes são linfoadenomegalia, perda de peso, alterações dermatológicas e onicogrifose. Entretanto, os cães possuem extraordinário pleomorfismo de sinais clínicos mimetizando outras doenças, apresentando lesões microscópicas inespecíficas similares àquelas observadas em outras doenças infecciosas e imunomediadas (FERRER et al., 1995). Os cães ficam apáticos, apresentam intolerância a exercícios, alopecia simétrica e progressiva e descamação seca. Pode ocorrer depressão mental, poliúria, polidipsia e vômitos em virtude de insuficiência renal, onicogrifose, neuralgia, poliartrite, polimiosite, lesões osteolíticas, demodicose, piodermite e manifestações decorrentes de infecções secundárias à imunossupressão como babesiose e erliquiose. Além disso, existe um componente autoimune relacionado ao processo, produzindo anemia e trombocitopenia, consequentemente, palidez de mucosas (BANETH, 2007). As lesões cutâneas são caracterizadas principalmente por alopecia que pode ser generalizada ou localizada, descamação e eczema particularmente no focinho e orelhas, pêlo opaco, pequenas úlceras rasas. Somente nas fases mais adiantadas são mais comuns, o aumento de volume dos linfonodos, onicogrifose, ceratoconjuntivite, coriza, apatia, diarréia, hematoquezia, edema de patas e vômito (MARZOCHI et al., 1985)

Os sinais clínicos mais comuns encontrados por Silva et al (1994) em inquérito sorológico realizado em Belo Horizonte-MG foram alopecia, emagrecimento, dermatites, onicogrifose, outras lesões dermatológicas, ceratoconjuntivite, incoordenação motora, pneumonia, secreção ocular, hiperqueratose e caquexia. Dentre esses, o emagrecimento foi o segundo sinal mais freqüente da mesma forma que no presente estudo.

Almeida et al (2005), estudaram os sinais clínicos de cães infectados e observaram que os sinais mais comuns foram emaciação e úlceras de pele (80%), seguidos por onicogrifose e conjuntivite (60%), enquanto que animais com linfoadenomegalia, esplenomegalia, hepatomegalia ou alterações renais foram menos freqüentes (<20%).

Alguns desses resultados são diferentes da presente pesquisa devido às condições nas quais as amostras foram coletadas no CCZ de Bauru. Os animais encaminhados para eutanásia, normalmente são animais sorologicamente positivos detectados em inquérito epidemiológico, e apresentavam algum tipo de

sinal clínico que chamou a atenção dos proprietários e/ou agentes de saúde, ou são cães indesejados pelos proprietários, muitas vezes por não estarem sadios. Desta forma não foi possível correlacionar título sorológico e positividade das provas com os sinais clínicos, já que a grande maioria deles apresentava alterações clínicas e foram selecionados por já apresentarem-se positivos sorologicamente. Entretanto, outros estudos que selecionam animais aleatoriamente, como o realizado em Minas Gerais em que foram submetidos à RIFI 1240 cães, dos quais 215 (17%) foram positivos. Dos positivos, 57 (26,5%) apresentavam títulos superiores ou iguais a 1:640 mesmo em animais assintomáticos, mostrando que, muitas vezes, os títulos de anticorpos não se correlacionam com a sintomatologia. Foram detectados sinais clínicos sugestivos de LVC em 98 (40%) dos que apresentavam sorologia positiva, e 117 (60%) eram assintomáticos (SILVA et al, 1994).

Em contrapartida, estudo que correlacionou sinais clínicos, alterações laboratoriais e soropositividade em cães confinados provenientes de área endêmica, sugere que a sintomatologia aparece com maior freqüência em cães soropositivos, sendo linfoadenopatia, úlceras de pele e hipertermia os sinais mais frequentes. A observação de mais de um sinal clínico e a linfoadenopatia como o achado mais freqüente, aliados à análise epidemiológica, podem levar à suspeita da doença (MATTOS et al., 2004).

A avaliação clínica, imunológica e exames parasitológicos em cães experimentalmente infectados, demonstraram que a intensidade da infecção no sangue, correlacionou-se significantemente com os níveis de anticorpos e com os sinais clínicos. Esses resultados sugerem que a progressão dos sinais clínicos da LVC está associada com aumento gradual da resposta imune e com a carga parasitária nos diferentes tecidos e também no sangue periférico (RODRIGUES-CORTÉS et al., 2007).