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Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de

PARTE II CAMINHO

3.4 Dispensa Coletiva e Poder Judiciário

3.4.2 Casos relevantes ocorridos no Brasil

3.4.2.2 Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de

Ferroviários S/A

A empresa Amsted Maxion Fundição e Equipamentos Ferroviários S/A efetuou a dispensa coletiva de 450 trabalhadores, em 15 de dezembro de 2008 e

de mais 150 trabalhadores, em 17 de dezembro, na unidade de Osasco165, totalizando 600 empregados dispensados em um contingente de 1500. Em resposta à dispensa em massa, os trabalhadores do estabelecimento, em Osasco, entraram em greve, apoiados pelo sindicato e pelos trabalhadores demitidos.

A empresa, então, ajuizou dissídio coletivo de greve no Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região em face do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Osasco, Carapicuíba, Cotia, Barueri, Jandira, Itapevi, Pirapora do Bom Jesus, Santana do Parnaíba, Embu, Itapecerica da Serra, Taboão da Serra e Vargem Grande Paulista e de terceiros não identificados, alegando que a greve era ilegal e abusiva.

Segundo a empresa, em razão da crise econômica e necessidade de manter suas atividades no parque fabril instalado na planta do Município de Osasco, reduziu o seu quadro de pessoal, dispensando parte dos trabalhadores empregados. Afirmou, na ação impetrada, que a demissão parcial de seus funcionários era definitiva e que estaria disposta a negociar apenas algumas condições pós rescisão contratual.

Em audiência realizada no dia 18 de dezembro, pela Presidência foi proposto que as partes mantivessem um canal de negociação e estudassem a possibilidade de reversão das demissões, com a contrapartida da redução da jornada de trabalho de todos os empregados da empresa, o que levaria as partes a fazer frente à crise que se avizinhava, bem como evitar o desemprego coletivo. A proposta foi aceita pelo sindicato e rejeitada pela empresa, que a considerava inviável.

Foram realizadas novas audiências na tentativa de conciliar as partes, porém, diante do impasse nas negociações, o processo foi a julgamento pela Sessão de Dissídios Coletivos, no dia 22 de dezembro.

A decisão considerou a greve como maneira legítima de resistência às demissões unilaterais em massa, vocacionada a exigir o direito de informação da

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Outros estabelecimentos da empresa também efetuaram despedidas, totalizando 600 empregados na unidade de Hortolândia e mais 250 na unidade de Cruzeiro.

causa do ato demissivo massivo e o direito de negociação coletivo (princípio da solução pacífica das controvérsias; preâmbulo e arts. 5º, inciso XIV, 7º, inciso XXVI, 8º, incisos III e VI, da Constituição; Recomendação nº 163 da OIT), diante das demissões feitas de inopino, sem buscar soluções conjuntas e negociadas com sindicato. Como a empresa não havia buscado soluções conjuntas, antecipadas, em prazo razoável, tampouco cuidou de distribuir o número de despedidas no tempo, de modo progressivo, parcial e de forma negociada, sua conduta afrontara os princípios da boa-fé e da razoabilidade. A greve, portanto, era legal e não abusiva. A própria empresa deu causa à greve com a conduta unilateral e arbitrária de dispensa em massa, ofensiva aos ditames constitucionais e legais.

A decisão do Tribunal Regional registrou, ainda, que a despedida coletiva é fato coletivo regido por princípios e regras do Direito Coletivo do Trabalho, material e processual. O direito do trabalho é regido por normas de ordem pública e possui regras de procedimentalização. Assim, a despedida coletiva não é proibida, mas está sujeita ao procedimento de negociação coletiva. A dispensa coletiva deve ser justificada, apoiada em motivos comprovados, de natureza técnica e econômicos e ainda, deve ser bilateral, precedida de negociação coletiva com o sindicato, mediante adoção de critérios objetivos.

A decisão se fundamentou na interpretação sistemática da Constituição, na aplicação das convenções internacionais da OIT ratificadas pelo Brasil e nos princípios internacionais constante de tratados que, embora não ratificados, têm força principiológica, máxime nas hipóteses em que o Brasil participa como membro do organismo internacional, como é o caso da OIT.

Nesse sentido, entendeu que a livre iniciativa deveria ser exercida de acordo com ditames da dignidade da pessoa humana, do valor social do trabalho e da função social da propriedade, nela incluída a função social dos meios de produção ou da empresa, retratada nas diretivas da função sócio-ambiental- tecnológica e também na democracia na relação trabalho-capital, ao assegurar voz e voto aos trabalhadores nas decisões que lhes afetam.

As dispensas coletivas foram feitas sob o espeque da recessão econômica. Contudo, não havia qualquer prova da dificuldade financeira. No contexto dos valores, princípios e regras constitucionais a despedida coletiva encontra limites. Sendo assim, as despedidas coletivas ocorreram de forma inopinada, arbitrária, sem qualquer critério objetivo de escolha dos demitidos, eis que a empresa incluíra nas demissões trabalhadores que possuíam estabilidade no emprego, algumas delas vítimas de doenças ocupacionais. Ainda, a dispensa coletiva foi feita sem aviso prévio razoável, sonegado o direito de informação, sem qualquer negociação prévia, em tempo razoável.

A decisão declarou, ao final: (1) não abusiva a greve, devendo a empresa pagar os dias de paralisação (art. 7º, da Lei nº 7783/89); (2) nula, com reversão das demissões dos estáveis (o que, inclusive, já tinha sido acatado pela empresa); (3) nula, com a reversão das demissões efetuadas no período de greve, uma vez que os contratos estavam suspensos (art. 7º, da Lei nº 7783/89); (4) nula a demissão em massa, com fundamento nos arts. 1º, III e IV, 5º, XIV, 7º, XXVI, 8º, III e VI da Constituição, tendo em vista a inobservância do procedimento de negociação coletiva e do direito de informação, sendo que deverão ser revistas para observar o procedimento adequado; (5) que a empresa deveria observar, na demissão coletiva, o procedimento de negociação coletiva, com medidas progressivas de dispensa e fundado em critérios objetivos e de menor impacto social, quais sejam: abertura de plano de demissão voluntária, remanejamento de empregados para as outras plantas do grupo econômico, redução de jornada e de salário, suspensão do contrato de trabalho com capacitação e requalificação profissional na forma da lei e, por último, mediante negociação, caso inevitável, que a despedida dos remanescentes fosse distribuída no tempo, de modo a minimizar os impactos sociais, devendo atingir preferencialmente os trabalhadores em vias de aposentação e os que detém menores encargos familiares.

Posteriormente, em 11 de março, foi feito acordo entre sindicato e empresa e esse homologado pelo Tribunal. Foram previstos benefícios para os empregados dispensados e ficou determinado que a empresa priorizaria, na

recontratação, as pessoas dispensadas. Foram também canceladas as rescisões dos empregados incontroversamente estáveis.

3.4.2.3 Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região X