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2. QUESTÕES TERMINOLÓGICAS DECORRENTES DA

2.3. Sinonímia Terminológica

2.3.1. Sinonímia intralinguística

Contente (2008: 185) define sinonímia intralinguística como a «sinonímia no interior de um mesmo sistema linguístico, em que a identidade conceptual das denominações concorrentes é fundamental», realizada pela presença de traços semânticos pertinentes ou pelo recurso «à rede conceptual do domínio e aos contextos discursivos de diferentes níveis de especialização em que os termos ocorrem».

Este tipo de sinonímia interessa-nos na medida em que a presença de variáveis denominativas do mesmo conceito dentro da mesma língua influencia o processo de selecção terminológica do tradutor. Seguem-se três casos exemplificativos desta situação:

i) O primeiro caso corresponde à utilização de disease, illness, pathology e

condition e demonstra a possibilidade de um mesmo conceito possuir várias denominações em inglês e somente uma denominação em português.

Por um lado, a tradução de disease para doença, ilustrada no exemplo seguinte, é bastante óbvia:

Exemplo 6

a) «[…] for the ineffective erythropoiesis and shortened red-cell survival that characterizes all the severe forms of the disease» (TP, Cap.3, p.121).

b) «[…] pela eritropoiese deficiente e pela curta sobrevivência dos eritrócitos, que caracterizam todas as formas graves da doença» (TC, Cap.3, p.118).

Por seu lado, o uso de illness chegou a suscitar uma leve dúvida. A princípio, pensámos que dolência poderia ser a forma portuguesa equivalente a illness. A distinção entre a doença e a dolência, em que a dolência será a manifestação da dor e do sofrimento do doente, tem vindo a tornar-se fundamental no contexto da medicina centrada no doente e na família. Contudo, quando experimentámos inserir este conceito

no contexto em questão, verificámos que não se aplicava. Optámos, desta forma, por considerar que, mais uma vez, doença seria o equivalente adequado, como demonstra o seguinte exemplo:

Exemplo 7

a) «Based on clinical assessment, the thalassaemias can be divided into the

major forms of the illness […]» (TP, Cap.3, p.123).

b) «Com base na avaliação clínica, as talassémias podem ser divididas em duas formas maiores (major) de doença […]» (TC, Cap.1, p.121).

A tradução de pathology é igualmente simples. Porém, convém perceber que

patologia pode ter duas acepções em ambas as línguas: pode funcionar como sinónimo de doença ou referir-se ao estudo da origem e dos sintomas da doença. Neste caso, é a segunda acepção que conta, como comprova o exemplo indicado:

Exemplo 8

a) «The term ‘thalassaemia’ was first used by Whipple and Bradford in 1932 in their classical paper on the pathology of the condition» (TP, Cap.1, p.9).

b) «O termo talassémia foi usado pela primeira vez por Whipple e Bradford, em 1932, no seu estudo sobre a patologia da doença» (TC, Cap.1, p.14).

Note-se que, no exemplo de cima, condition foi também traduzido para doença. Assim, em inglês, coexistem, pelo menos, três denominações diferentes –

disease, illness e condition – a concorrer para o mesmo conceito, enquanto em português existe somente uma – doença. Neste caso, o tradutor dispõe de apenas um equivalente para substituir os três termos do texto original.

ii) Do mesmo modo, existem casos em que um termo inglês possui mais do que um equivalente em português.

Por exemplo, o termo red cell pode ser traduzido por glóbulo vermelho,

eritrócito, hemácia e célula vermelha, sem perder qualquer traço da sua significação. O termo célula vermelha pode ser posto de parte logo à partida, pois trata-se de um decalque que não é usado no meio científico. Os restantes termos constituem, no entanto, possibilidades igualmente válidas. Neste caso, o que nos levou a optar pelo termo eritrócito foi o facto de, ao longo do texto, haver referências a processos de formação de eritrócitos normais e anormais (designados por termos como eritropoiese e

diseritropoiese, respectivamente, como mostram as frases transcritas em seguida), em que as semelhanças denominativas (em termos morfológicos) entre os termos facilitam a correspondência e a compreensão do leitor.

Exemplo 11

a) «Indeed, the increased osmotic resistance of thalassaemic red cells has been an important diagnostic tool ever since Cooley’s and Rietti’s first observations» (TP, Cap.1, p.10).

b) «De facto, a elevada resistência osmótica dos eritrócitos da talassémia tem sido um instrumento de diagnóstico crucial desde as primeiras observações de Cooley e Rietti» (TC, Cap.1, p.15).

Exemplo 12

a) «Later, Finch et al. (1970) found that the degree of ineffective erythropoiesis in thalassaemia is probably greater than in any other disorder» (TP, Cap.1, p.38).

b) «Posteriormente, Finch et al. (1970) descobriram que o grau de ineficácia da eritropoiese na talassémia é provavelmente muito mais elevado do que em qualquer outra perturbação» (TC, Cap.1, p.69).

Exemplo 13

a) «In the end the best they could do was to describe the disorder as a form of ‘metabolic dyserythropoiesis’» (TP, Cap.1, p.38).

b) «No final, o melhor que conseguiram fazer foi descrever a perturbação como uma forma de diseritropoiese metabólica» (TC, Cap.1, p.68).

iii) O terceiro caso relaciona-se com o uso especializado dos parassinónimos

discovery e finding e respectivos equivalentes descoberta e achado. Vejam-se os seguintes exemplos:

Exemplo 9

a) «In the early 1970s the discovery of an enzyme called reverse transcriptase in certain tumour viruses made it possible to […] » (TP, Cap.1, p.49).

b) «Na década de 70, a descoberta de uma enzima designada por transcriptase

reversa em certos vírus tumorais tornou possível […]» (TC, Cap.1, p.45).

Exemplo 10

a) «[…]two groups of workers found substantial amounts of

β

-globin-like RNA sequences in the nucleus but not in the cytoplasm of red-cell precursors (Comi et al. 1977; Benz et al. 1978). These findings suggested that […] (TP, Cap.1, p.50).

b) «[…] dois grupos de investigadores encontraram quantidades substanciais de sequências de ARN semelhantes às globinas-

β

no núcleo mas não no citoplasma dos precursores dos eritrócitos (Comi et al. 1977; Benz et al. 1978). Estes achados sugeriam que […]» (TC, Cap.1, p.92).

A explicação da distinção entre estes termos teve de ser facultada por um profissional da área, pois não era, à partida, muito clara nem estava atestada nos glossários e bases terminológicas consultados. Desta forma, foi-nos transmitido o conhecimento de que a descoberta (discovery) envolve a aplicação de um método científico, ao passo que o achado (finding) acontece quase por acaso. Comprova-se que estes termos constituem um exemplo de parassinonímia, dado que possuem uma significação aproximada, mas diferente. O tradutor teria cometido um erro se tivesse traduzido discovery por achado e finding por descoberta.

2.3.2. Sinonímia interlinguística ou equivalência interlinguística

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