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3.6 VIOLÊNCIA PSICOLÓGICA

3.6.2 SINTOMAS DO TRANSTORNO DE ESTRESSE PÓS TRAUMÁTICO COMO

Para que possamos entender a violência psicológica como um crime de lesão corporal, devemos entender sobre a caracterização do dano psíquico.

De acordo com Queiroz e Cunha (2018, p. 1), a violência psicológica se expressa por meio de ameaças, medo, controle, humilhação, indiferença, ciúme patológico, desqualificação, intimidação e tortura. Sendo que tais formas de violência podem provocar sérios danos psicológicos nas vítimas, como insegurança, frustração, medo e sentimento de ansiedade, além de afetar a autoestima e a saúde da mulher. Dessa forma, é importante entendermos melhor sobre as consequências da exposição da mulher ao dano psíquico.

Segundo Medina Amor (2015 apud RAMOS, 2019, p. 114-115), foi na década de 1970 que o trauma psíquico se integrou ao modelo conceitual de estresse. Tal conceito buscava explicar reações dos organismos diante de situações adversas. Assim, em 1980 surge a ideia de Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT) nos manuais de Diagnósticos e Estatísticas de Transtornos Mentais (Diagnostic and Statistical Manual of Mental) da Associação Americana de Psiquiatria, como um resultado das reinvindicações por reconhecimento social e pelo direito de um atendimento mais digno às vítimas, como os ex-

combatentes do Vietnã, e de mulheres vítimas de violência doméstica. Sendo assim, a síndrome deixou de ser considerada apenas uma neurose, para ser entendida como uma forma de transtorno de ansiedade.

Câmara Filho e Sougey (2001, p. 222) definem o trauma, elemento fundamental na concepção do TEPT, como “uma situação experimentada, testemunhada ou confrontada pelo indivíduo, na qual houve ameaça à vida ou à integridade física de si próprio ou de pessoas a ele afetivamente ligadas”.

Nesse sentido, Medina Amor (2015, apud RAMOS, 2019, p. 114-115) também relata que o conceito de trauma pode ser considerado uma resposta a um evento, que causa um impacto grave e nocivo de estresse pós-traumático e seu desenvolvimento e evolução se relacionam com as dificuldades em integrar experiências traumáticas a um conjunto de memórias biográficas da pessoa.

Soma-se a isso, Ramos (2019, p. 115) relaciona os sintomas do TEPT como um meio de caracterização do dano psíquico:

Os sintomas do Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT), de natureza psiquiátrica, são os parâmetros normalmente utilizados para caracterizar a ocorrência do dano psíquico originado de um evento traumático. Assim, em geral, será a presença ou não desses sintomas em mulheres que se apresentarem como vítimas de violência psicológica no âmbito doméstico e familiar os indicadores da ocorrência – ou não – de dano psíquico, caracterizador do crime de lesão corporal.

Sendo assim, vale entendermos os sintomas do Transtorno de Estresse Pós- Traumático, uma vez que estes são importantes para a caracterização do dano psíquico como crime de lesão corporal. Câmara Filho e Sougey (2001, p. 222-224) dividem os sintomas em três grupos, são eles: a reexperiência traumática, a esquiva e distancimaneto emocional e a hiperexcitabilidade psíquica. No primeiro grupo, o autor relata que a vítima continua revivendo o ocorrido, de forma a reexperimentar o trauma, mesmo quando o perigo se encontra confinado ao passado. Câmara Filho e Sougey (2001, p. 222) salientam ainda:

Pequenos e mesmo insignificantes estímulos conseguem reavivar as memórias que retornam com toda a força, intensidade e nitidez do acontecimento original. Tais lembranças são frequentemente detonadas por estímulos relacionados ao evento traumático, desde os mais específicos aos mais genéricos (chuva, trovões, telefone, noticiários e outros). Assim, mesmo um ambiente protegido poderia se tornar perigoso, porquanto a pessoa nunca estaria suficientemente segura de não vir a se deparar com estímulos evocadores.

Além disso, os autores também afirmam que a reexperiência pode ocorrer durante o sono, através de sonhos aflitivos e pesadelos, podendo a vítima desenvolver temor em dormir.

Quanto a esquiva e distanciamento emocional, Câmara Filho e Sougey (2001, p. 223) esclarecem que a vítima pode utilizar-se de esquivas ativas de pensamentos, sentimentos, conversas, situações e atividades associadas ao trauma como um mecanismo de defesa contra a ansiedade. Dessa forma, com o fim de se distanciar da angústia, o indivíduo pós- traumatizado costuma procurar estratégias para se afastar do sofrimento, como recusa em falar sobre o trauma, uso de bebidas alcoólicas, drogas para obscurecer as memórias, ou ainda o engajamento excessivo e compulsivo em atividades como sexo, trabalho, jogo entre outras.

Já o último grupo de sintomas, a hiperexcitabilidade psíquica, Câmara Filho e Sougey (2001, p. 223-224) explicam tratar-se de uma excitação extrema do sistema nervoso e que não se resumem apenas em condicionamentos a estímulos traumatogênicos, mas também em reflexos de uma excitação fisiológica extrema em resposta as variedades de estímulos percebidas pela vítima. As reações a esses estímulos podem ser variadas como, taquicardia, respiração curta ou suspirosa, constrição precordial (dores na região do peito), “formigamento”, parestesias, sudorese (secreção, suor excessivo), extremidades frias, tonturas, “peso no estômago”, insônia, hipervigilância, entre outros.

4 A CARACTERIZAÇÃO DO CRIME DE LESÃO CORPORAL COMO CONSEQUÊNCIA DA VIOLÊNCIA PSICOLÓGICA.

O Código Penal traz no art. 129, a criminalização da lesão corporal, e a define como “ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem”. Podemos notar que o legislador se preocupou em não se limitar apenas aos danos físicos, mas também fisiológicos ou mentais do homem, ao inserir a palavra “saúde” no dispositivo.

Nesse sentido, a constituição da OMS traz a conceituação da palavra “saúde” como “um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não consiste apenas na ausência de doença ou de enfermidade” (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 1946, p. 1)

Dessa forma, Capez (2016, p. 269) afirma que a lesão corporal “é qualquer dano ocasionado à integridade física e à saúde fisiológica ou mental do homem, desde que não esteja presente o animus necandi, isto é, a intenção de matar”.

Sendo assim, é notável que o legislador quis proteger não apenas a saúde corpórea do indivíduo, mas também qualquer abalo psíquico que cause algum dano à vítima de violência, tornando dever do Estado prezar pela inviolabilidade do corpo e mente do cidadão.

Segundo Nucci (2014, p. 627), para que haja a configuração do tipo, é necessário que a vítima sofra algum dano em seu corpo, sendo interno ou externo, ou ainda uma modificação prejudicial a sua saúde, transfigurando qualquer função orgânica ou causando abalos psíquicos.

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