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2.3 Gestão Hospitalar

2.3.2 Sistema Único de Saúde (SUS)

É de grande interesse o estudo dos limites e avanços da sociedade brasileira na construção de um sistema de saúde igualitário e justo (Gil et al., 2016), que atenda aos indivíduos de acordo com suas necessidades, oferecendo mais a quem mais precisa e menos a quem requer menos cuidados (Fiocruz, 2017).

Apesar da história da Saúde Pública no Brasil ter surgido em 1808, o Ministério da Saúde só foi instituído em 1953 e é a principal unidade administrativa sanitária direta do Governo. Em 1960, a desigualdade social, causada principalmente pela baixa renda e pela concentração de riqueza ganhou destaque nos discursos dos sanitaristas. Suas propostas de melhoria dos serviços de saúde à realidade diagnosticada foram importantes para a formulação de políticas nacionais (Brasil, 2017).

Até a criação do SUS, a população brasileira sofria pela falta de acesso aos serviços de saúde, com altos índices de mortalidade infantil causada por doenças evitáveis, evidenciando um quadro sanitário deficitário no Brasil. Nesse contexto,

formaram-se vários grupos sanitaristas que desejavam a democratização do país e o acesso à saúde como bem essencial.

Esses grupos buscavam uma concepção ampliada da saúde, entendida não apenas como ausência de doenças, mas sim pelo bem-estar físico, mental e social. Lutavam pela descentralização dos serviços de saúde e a garantia de acesso, em especial, para a população mais desassistida, iniciando assim o Movimento da Reforma Sanitária (Fiocruz, 2017; Gil et al., 2016; Brasil, 2017).

Figura 9 - Da Reforma Sanitária à Instituição do SUS

Fonte: Brasil (2017)

O Movimento da Reforma Sanitária no país, originário na luta contra a ditadura no início de 1970, ganhou força em 1980 e após muita luta política as propostas da Reforma Sanitária foram amplamente debatidas na 8ª Conferência da Saúde, em 1986, resultando na Constituição Federal de 1988 e na criação do Sistema Único de Saúde (SUS), que passou a oferecer a todo cidadão brasileiro acesso integral, universal e gratuito aos serviços de saúde (Fiocruz, 2017; Gil et al., 2016).

Conforme Souza e Costa (2010, p. 510), a criação do SUS foi o maior movimento de inclusão social já visto na história do País. O Brasil é uma República Federativa com poder compartilhado entre a União, os estados e os municípios, e a principal característica desse sistema político é a difusão de poder e de autoridade.

Os entes federados têm o poder estabelecido pela Constituição, numa combinação de dois princípios: autogoverno e governo compartilhado (Gil et al. (2016). O SUS é, portanto, constituído pelo conjunto das ações e de serviços de saúde sob gestão pública, organizado em redes regionalizadas e hierarquizadas, atuando em todo o território nacional, com direção única em cada esfera de governo (Brasil, 2007).

1970

1986

1988

Nesse contexto, o SUS é visto como política de Estado, parte das políticas que envolvem as burocracias de mais de uma agência do Estado e passam por diversas instâncias de discussão dos três poderes, não podendo ser extinto (Gil et al., 2016).

Figura 10 - Os três poderes de gestão do SUS

,

Fonte: adaptada de Gil et al (2016).

O planejamento do SUS atribui especial atenção à observância da diretriz relativa a uma direção única em cada esfera de governo e, ao mesmo tempo, à corresponsabilidade solidária de todos os entes federados para com a saúde da população que, como necessidade humana básica, é estratégica para a qualidade de vida e por consequência para o bem-estar individual e coletivo (Brasil, 2009).

Figura 11 - Princípios e Diretrizes do SUS

Fonte: Fiocruz (2017).

União -> Presidente -> Ministro da Saúde

Estados -> Governador -> Secretário Estadual de Saúde

Municípios -> Prefeito -> Secretário Municipal de Saúde

Princípios

Universalidade: Garantia do cuidado a

todo e qualquer cidadão.

Igualdade e Equidade: Ofertar ações e

serviços, conforme a complexidade de cada caso.

Integralidade: Ações e serviços de

saúde como um todo indivisível, sem fragmentos.

Diretrizes

Regionalização e Hierarquização: Serviços

organizados em níveis de complexidade, mas integrados, delimitados geograficamente.

Descentralização: Distribuição das responsabilidades pelas ações e serviços de saúde entre os níveis de governo, sendo que todos devem respaldar o Município.

Participação popular: Garantia constitucional

da participação popular nas formulações das políticas de saúde em todos os níveis de governo.

O SUS assume em todo território nacional os princípios da universalidade, igualdade e integralidade da atenção e tem como diretrizes a descentralização, a regionalização, a hierarquização e a participação popular, regulamentadas pelas Leis no 8.080/90 e no 8.142/90.

Essas Leis detalham a organização e o funcionamento do SUS em conformidade com a Constituição de 1988, que determina em seu artigo 196 a saúde como um direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação (Brasil, 1990; Brasil, 2000; Fiocruz, 2017).

Matta (2007, p. 61) afirma que “os princípios e diretrizes do SUS são as bases para o funcionamento do sistema de saúde em nosso país”. As ações e serviços de saúde, implantados pelos estados, municípios e Distrito Federal, são custeados com recursos federais, com recursos próprios e de outras fontes suplementares, todos contemplados no Orçamento da Seguridade Social (INSS).

Os recursos são repassados por transferências regulares e automáticas, que são pagamentos realizados diretamente ao prestador de serviços cadastrado no SUS; convênios realizados geralmente com órgãos federais, estaduais ou municipais, entidades filantrópicas, organizações não governamentais, interessados em financiamento de projetos específicos na área da saúde e contratos de repasses, que se orientam por cronograma físico-financeiro de desembolso conforme programado em âmbito das três esferas do governo.

O SUS é consequência de uma luta histórica pela democratização. Seus instrumentos de gestão foram desenvolvidos para garantir o enfrentamento dos desafios presentes no país (Gil et al., 2016). Atualmente é considerado um dos maiores e melhores sistemas de saúde pública do mundo, chegando a beneficiar 180 milhões de pessoas e a realizar por ano cerca de 2,8 bilhões de atendimentos, desde procedimentos simples à alta complexidade (Fiocruz, 2017).

Além disso, tem 6,1 mil hospitais credenciados. Dentre os principais serviços prestados destaca-se, anualmente, a realização de 19 mil transplantes, 236 mil cirurgias cardíacas, 9,7 milhões de procedimentos de quimioterapia e radioterapia e 11 milhões de internações (Brasil, 2009).

Os gestores do SUS vêm se empenhando continuamente em planejar, monitorar e avaliar as ações e serviços de saúde, o que certamente tem contribuído para os

importantes avanços do SUS nesses 20 anos de sua criação. É importante ressaltar que é um processo contínuo e que requer um novo posicionamento do planejamento no âmbito do SUS, para alcançar sua plenitude e a consolidação desse Sistema (Brasil, 2009).

Os avanços no sistema de saúde brasileiro são notáveis, mas é preciso reconhecer os inúmeros desafios para a consolidação do SUS e o cumprimento de seus princípios e diretrizes em todos os níveis de gestão - municipal, estadual e da União. Conhecer esse processo e suas implicações é de fundamental importância para os avanços do SUS. Na qualidade de gestor ou equipe gestora a responsabilidade é ainda maior, pois as decisões tomadas terão implicações futuras para toda uma coletividade (Gil et al., 2016).

2.3.3 A Rede de Urgência e Emergência e a importância das Unidades de Pronto