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Sistema de Avaliação da Educação Básica – Saeb

FUNDAMENTOS DAS DISCIPLINAS QUE COMPÕEM O NÚCLEO LINGUÍSTICO DA FORMAÇÃO NA ÁREA

2 O ATO DE LER: UMA REFLEXÃO SOBRE COMPREENSÃO LEITORA E SOBRE O PAPEL DA INTERSUBJETIVIDADE NA

2.1 IMPRESSÕES SOBRE RESULTADOS DE INDICADORES

2.1.3 Sistema de Avaliação da Educação Básica – Saeb

O Sistema de Avaliação da Educação Básica – Saeb6 – é uma avaliação desenvolvida pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – Inep –, e é mais voltado para a avaliação dos resultados que os sistemas estaduais de ensino têm obtido em se tratando da aprendizagem dos alunos em áreas tidas como básicas. Foi a primeira iniciativa do governo com o propósito de tentar conhecer a fundo os problemas e as deficiências do sistema educacional brasileiro.

O Saeb7 é aplicado a cada dois anos, desde 1990, e avalia o desempenho dos alunos das 4ª e 8ª séries8 do Ensino Fundamental e 3ª série do Ensino Médio, nas disciplinas de Língua Portuguesa (foco: leitura) e Matemática (foco: resolução de problemas). Esse exame utiliza dois instrumentos para a coleta das informações: testes, pelos quais é medido o desempenho dos alunos nas disciplinas de Língua Portuguesa e Matemática, e questionários, pelos quais são coletadas informações sobre o contexto social, econômico e cultural em que vivem os alunos. Professores e diretores também respondem a um questionário que permite a coleta de informações sobre as condições físicas da escola e dos recursos de que ela dispõe.

Os dados obtidos com a aplicação dos testes permitem acompanhar o desempenho de diversos fatores associados à qualidade do ensino ministrado nas escolas. Dentre os objetivos do Saeb estão: a identificação dos problemas do ensino e suas diferenças regionais; a oferta de dados e indicadores que possibilitem uma maior compreensão dos fatores que influenciam o desempenho dos alunos; a produção de informações sobre os fatores do contexto socioeconômico, cultural e escolar que influenciam o desempenho dos alunos; a oferta de subsídios à formulação, reformulação e monitoramento de políticas públicas e programas de intervenção ajustados às necessidades diagnosticadas nas áreas e etapas do ensino avaliadas; o desenvolvimento da competência técnica e científica na área de avaliação educacional, ativando o

6 Em 1995, o nome oficial do exame foi alterado para Avaliação Nacional da Educação Básica (Aneb). Por sua tradição, entretanto, o nome do Saeb foi mantido em publicações e materiais de divulgação desse exame.

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Informações sobre o Saeb podem ser encontradas em http://www.inep.gov.br/basica/saeb/ caracteristicas.htm.

8 Ensino Fundamental de oito anos; isso corresponde, a partir de 2007, ao Ensino Fundamental de nove anos.

intercâmbio entre instituições educacionais de ensino e pesquisa (INEP/MEC9).

O Saeb é uma avaliação amostral, em que apenas parte dos estudantes das séries avaliadas participam, oriundos de escolas públicas e privadas, urbanas e rurais. Em 2003, participaram do Saeb 218.521 alunos de 5.598 escolas. Em 2005, foram 194.822 alunos participantes, de 5.940 escolas10.

Alunos e escolas não são identificados quando da divulgação dos resultados, e os níveis de desempenho de cada aluno não são divulgados. Quanto às médias do Saeb, são apresentadas em escala de proficiência, sendo que cada uma das disciplinas tem uma interpretação específica na escala, que é única para as três séries avaliadas. As médias de proficiência da escala apontam os distintos graus de desenvolvimento de habilidades, competências e apropriação de conhecimentos pelos estudantes ao longo dos anos de estudo.

O desempenho dos alunos brasileiros de 4ª e 8ª séries do Ensino Fundamental e de 3ª série do Ensino Médio, nas disciplinas de Matemática e Língua Portuguesa, de 1995 a 2005, pode ser observado na tabela abaixo:

Tabela 6 – Brasil – Proficiências do SAEB 1995-2005

Série Disciplina 1995 1997 1999 2001 2003 2005 4ª Ensino Fundamental Português 188.3 186.5 170.7 165.1 169.4 172.3 Matemática 190.6 190.8 181.0 176.3 177.1 182.4 8ª Ensino Fundamental Português 256.1 250.0 232.9 235.2 232.0 231.9 Matemática 253.2 250.0 246.4 243.4 245.0 239.5 3ª Ensino Médio Português 290.0 283.9 266.6 262.3 266.7 257.6 Matemática 281.9 288.7 280.3 276.7 278.7 271.3 Fonte: Brasil (2007).

Ao observar os dados da tabela, a constatação é de que houve um declínio preocupante: nos últimos dez anos a educação no Brasil – segundo esse processo de avaliação e em que pesem suas circunscrições a exemplo do que pontuamos no Pisa –, parece ter tido um retrocesso no

9 http://www.inep.gov.br/basica/saeb/objetivos.htm.

10 Dados disponíveis em http://www.inep.gov.br/download/saeb/2005/tabelas_saeb2005.doc. Acesso em 15/02/2010.

que respeita ao desempenho dos alunos nos itens avaliados, isto é, em todos os dados comparativos, o desempenho dos alunos na avaliação de 2005 é inferior a de 1995.

Tabela 7 – Prova Brasil / SAEB – 2007

Língua Portuguesa Matemática

Série 2005 2007 2005 2007

4ª EF 172,31 175,77 182,38 193,48

8ª EF 231,82 234,64 239,52 247,39

3ª EM 257,60 261,39 271,29 272,89

Fonte: Brasil (2007).

Com base nos níveis da escala utilizada pelo exame para avaliar o desempenho em Língua Portuguesa, podemos concluir, segundo os escores de 2007, que os alunos de 4ª série conseguem localizar informações explícitas, a partir da reprodução das ideias de um trecho do texto; inferir o sentido de uma expressão; interpretar histórias em quadrinhos de maior complexidade temática; identificar as marcas linguísticas que diferenci am o estilo de linguagem em textos de gêneros distintos; identificar o efeito de sentido produzido pela pontuação, entre outros.

Os alunos de 8ª série, que atingiram 234,64 pontos em 2007, enquadram-se em um nível de proficiência que lhes assegura destreza para distinguir o sentido metafórico do literal de uma expressão; identificar o tema de textos narrativos, argumentativos e poéticos de conteúdo complexo; estabelecer relações entre as partes de um texto; identificar a finalidade de um texto instrucional, com linguagem pouco usual e com a presença de imagens associadas à escrita.

Já os alunos da 3ª série do Ensino Médio, com pontuação superior à dos alunos das outras duas séries – 261,39 –, o que é esperado de alunos com mais anos de escolarização, atingiram um nível de proficiência mais elevado. Os dados comparativos de 2005 e 2007 mostram um pequeno aumento na pontuação dos alunos, no entanto é questionável até que ponto esses dados retratam a realidade do sistema educacional brasileiro.

Estamos cientes de que avaliações externas como o Saeb, o Pisa e o Inaf, que têm por característica a uniformidade, processo em que não é considerada a relevância de variáveis sociais, por exemplo, acabam

produzindo diagnósticos em certa medida falsamente universalizadores dos sistemas educacionais. Lahire (208[1995]) chama atenção para as fragilidades de ações dessa natureza, as quais trata como sociologia

massiva. Reconhecemos, no entanto, que apesar de tais indicadores

avaliarem as habilidades cognitivas dos sujeitos sem considerar a sua historicidade, os dados revelados por eles para um contexto brasileiro permitem-nos inferir que a formação do leitor na escola exige estudos mais pontuais e demanda algum tipo de ressignificação no que respeita ao desenvolvimento de competências específicas para esse fim.

Essa discussão sobre os indicadores justifica-se aqui porque suscita o entendimento de que vivemos em um país cuja população estudantil, sob vários aspectos, requer mais atenção institucional – em seus diferentes contornos de historicidade – em se tratando do desenvolvimento da compreensão leitora. Esse quadro nos remete à Educação a Distância, uma modalidade que emergiu para, dentre outros propósitos, ampliar o acesso ao ensino superior em nível nacional, especialmente para os estratos populacionais de algum modo alijados da universidade. A explosão de uma EaD ancorada na modalidade escrita, em um país no qual indicadores chamam a atenção para dificuldades na formação do leitor, parece-nos interessante e necessário objeto a ser estudado em seus distintos contornos locais.

2.2IMPLICAÇÕES COGNITIVAS DA COMPREENSÃO LEITORA