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f Sistema lingüístico cuyos hablantes reconocen modelos de buena expresión La lengua de Cervantes es oficial en 21 naciones.

No documento – PósGraduação em Letras Neolatinas (páginas 139-145)

4 LÍNGUA E CIÊNCIA NO DICIONÁRIO: A CONSTRUÇÃO DE CONCEPÇÕES

3. f Sistema lingüístico cuyos hablantes reconocen modelos de buena expresión La lengua de Cervantes es oficial en 21 naciones.

4. f. Sistema lingüístico considerado en su estructura. (DRAE, 2001, grifos nossos)

139 Relacionando-se à necessidade de ter um modelo, a estabilidade de alcance desejável em relação à língua só pode advir dos princípios defendidos pela instituição Real Academia: “a autoridade dos bons gramáticos, a etimologia dos termos e os modelos dos bons escritores”, de acordo com pressupostos de Garrido (1987). As assertivas de Garrido mantêm uma correlação com a norma culta, com o par de interlocução enunciador-co-enunciador instruídos, ratificando as propostas institucionais que se conservam tradicionalmente.

Há poderes em jogo nesse modo de entender língua – a garantia de que há um espaço destinado aos que a dominam e que esse espaço não pode ser ocupado pelos outros, que vão ser tratados como iletrados, o que constrói um não reconhecimento desses como falantes e usuários da mesma língua. Fortalece-se a já consagrada parceria entre os instruídos, excluindo-se dessa correlação os que não pertencem à categoria.

4.1.2 Língua e uso: a variação lexical

O conceito de variação traz a noção de uso entendido não mais em sua rigidez dos estudos linguísticos iniciais, vinculado à correção, mas no sentido de incorporar as variações como também normas. A língua incorpora a legitimidade da

variação americana e ratifica a variação espanhola, mas continua incluindo o co-

enunciador instruído, nesse momento representado pelos hispânicos que atendem a esse perfil. Nesse sentido, o prefácio de 1925 tem um papel preponderante:

Después la Academia atendió con preferencia a incorporar al Diccionario la mayor parte del habla común de las personas ilustradas.

Ha concedido también atención muy especial a los regionalismos de España y de América que se usan entre la gente culta de cada país,

140 voces que estaban muy escasamente representadas en las ediciones anteriores.

Esperamos que esta atención consagrada a los americanismos sea una de las principales ventajas que se aprecien en este Diccionario respecto de los anteriores.

Como consecuencia de esta mayor atención consagrada a las múltiples regiones lingüísticas, aragonesa, leonesa e hispanoamericana, que integran nuestra lengua literaria y culta, el nuevo Diccionario adopta el nombre de “lengua española” en vez del de “castellana” que antes estampó en sus portadas. (DRAE, Advertencia, 1925, p.1, grifos nossos)

As variações se incorporam ao dicionário como registros de uso e a informação sobre o emprego dos lemas é registrada, nos dicionários de língua, por meio de rubricas ou marcas ou etiquetas de uso 76, que fornecem dados sobre as escolhas possíveis entre a diversidade de registros, diastráticos (sociais), diatópicos (geográficos) e diafásicos como forma de orientar o usuário. Esse tipo de referência dá a quem utiliza a obra as ferramentas para reconhecer critérios de emprego do termo definido e direciona o leitor na sua prática em relação à língua.

Ao especificar os registros, o dicionário aporta elementos de natureza pragmática através do recolhimento e assinalamento do uso dos lemas que compõem a microestrutura. A informação sobre a diversidade de registros promove a distinção, dentro do repertório lexical, entre usos familiares e usos formais, entre vulgares e eruditos, por exemplo, em atendimento ao objetivo de demarcar situações de uso. As informações sobre os registros variados têm lugar no dicionário, visando a instruir o usuário sobre como e quando usar o léxico, desde o século XVIII:

En quanto á la censura se ha puesto la que debe tener la voz segun la calidad de ella y el estado de su uso, como de familiar, metafórica, poética, jocosa, baxa, poco usada, antiquada & c. dexando sin censura ninguna las voces, frases ó locuciones que no pertenecen á estilo alguno particular, son del uso comun de la lengua, (DA, Prólogo, 1770, p. 4, grifos nossos).

141 As coerções às quais se faz referência no prólogo do Dicionário de Autoridades, de 1770, assim como suas ausências, são consignadas como recursos para delimitar as restrições de uso dos termos que demandam uma diferenciação daqueles que estão incluídos na classificação uso comum da língua.

Os dois verbetes do DA sustentam as informações do prefácio sobre a indicação de registros de natureza social (diastráticos) que, em 1770, é feita no próprio enunciado lexicográfico:

SACRISMOCHE Ò SACRISMOCHO. s.m. voz de burla y desprecio, que se dá al que vestido de negro, como los Sacristanes, está derrotado y sin asséo(DA, 1770, grifos nossos)

RUFALANDAINA. S.f. chacota, bulla y zambra. Es voz de estilo familiár. (DA, 1770, grifos nossos)

No DA, a variação da língua inclui os diferentes registros empregados socialmente em situações distintas e marcadas. A correção vinculada à norma estabelece que sejam usados os lemas de acordo com a adequação e, por isso, há necessidade de especificar registros no dicionário (“voz familiar”, “voz de burla”). O conceito de norma desenvolvido pela sociolinguística a partir dos anos 1960, como

regra, está de acordo com o que se indica do prefácio e se assinala nessas entradas

do Dicionário de Autoridades de 1770.

Atendendo ao propósito de informar ao co-enunciador sobre os usos, a variação representada pelos socioletos, registros diastráticos, no Dicionário de Autoridades assinala-se também em prefácios posteriores ao do século XVIII. Amplia-se o foco de atenção, de modo explícito, a segmentos da sociedade que conformam um grupo mais amplo e variado. A ênfase, entretanto, permanece na qualidade de letrados, dos cultos, os instruídos citados explicitamente em prefácios

142 de 1726, cujas referências se incluem nos prefácios até 192577. Embora se incluam desde o século XVIII, edições anteriores (1770) e posteriores, como a 16ª, de 1936- 193978, entretanto, há relativizações ao nomear esse leitor - o público: “La misma preocupación de salir al encuentro con nuestra diligencia al anhelo del público por disponer del nuevo Diccionario” (DRAE, Advertencia, 1936-1939, p. 1, grifos nossos). Nesse prefácio, as referências estão voltadas para um co-enunciador menos específico, uma abertura em relação a um perfil constituído pelo leitor

instruído.

As citações ao leitor letrado retornam ao prefácio na edição seguinte, provocando a alternância dessas referências em relação a 1936/1939:

considerando la Academia que el mayor mal que podría originarse para el cumplimiento de su misión estatutaria para los estudiosos en general sería la absoluta carencia de ejemplares del Diccionario (DRAE, Advertencia, 1947, p.1, grifos nossos).

Tenidas en cuenta estas advertencias, el conocedor de la lengua (DRAE, Preámbulo, 1956, p.2, grifos nossos)

Há uma tendência a reformular a representação do co-enunciador em edições posteriores a 1956. Isso se evidencia pelo fato de que a publicação seguinte, de 1970, marca o recolhimento de termos reconhecidamente vulgares79, com a justificativa de que esse vocabulário faz parte do cotidiano dos diversos segmentos sociais:

[tecnicismos] pasan diariamente de la nomenclatura especializada al lenguaje culto general e incluso al dominio común. […]

Además se ha dado acogida a palabras, locuciones y frases pertenecientes al lenguaje familiar, sin excluir muchas de carácter

77 Cf p. 129 a 134 deste capítulo. 78 Cf. Cap. 3; Apêndice A. 79 Cf. Cap. 3.

143 popular que a veces lindan con lo francamente vulgar (DRAE, Preámbulo, 1970, p.1, grifos nossos).

A incorporação de vulgarismos80, classificados e indicados dessa forma, legitima o caudal léxico e promove o contraponto em relação à tradição literária, à erudição, o que abre um espaço para representações diversas de língua. Os vulgarismos aos quais se refere o prefácio de 1970 estão representados pelas palavras de baixo calão que se incluem explicitamente a partir dessa edição81, ao lado de lemas reunidos a partir da tradição literária:

Siguiendo no solo una tradición de la Academia, sino tendencias de nuestro idioma ya desde tiempos anteriores al siglo XVIII, no ha guiado a la Academia un espíritu de purismo y limitación, sino que el el DICCIONARIO recoge voces y usos vulgares, junto a la tradición literaria, y acepta de la ciencia y la técnica los términos que entran con tanta fuerza y autoridad en la lengua oral y escrita (DRAE, Preámbulo, 1984, p. 1,grifos nossos).

Constitui um movimento de mudança com relação ao co-enunciador o recolhimento desse tipo especial de léxico, que passa a coexistir de forma legítima com lemas vinculados à literatura, à erudição.

Em decorrência dessas incorporações do vulgar, do que soa mal, do que é usado em situações restritas, o dicionário funciona como um lugar de abrangência quanto às amostras de língua e mantém uma continuidade no diálogo com o co- enunciador instruído ao preservar as entradas relacionadas à erudição e, por outro lado, incorporar co-enunciadores usuários da língua. Isso se realiza a partir do acolhimento, além dos chamados vulgarismos, de elementos dialetais, de expressões de registros diversos, oriundas dos campos da ciência, da técnica, sem se restringir ao que conforma o universo literário.

80 Como exemplo, se reproduz definição do verbete coño: Parte externa del aparato genital de la

hembra. Es voz malsonante. 2. Ú. frecuentemente como interjección (DRAE, 1984, grifos nossos).

144 A preocupação com o assinalamento de usos nos artigos lexicográficos percorre outras edições do dicionário:

sacrismoche.

1.m. fam. El que anda vestido de negro, como los sacristanes, y además desharrapado y sin aseo(DRAE, 1992, grifos nossos).

No verbete sacrismoche, se cumpre a função de estabelecer a contextualização, indicando o uso do lema como familiar. Restringindo-se a um âmbito mais informal de emprego, portanto, é limitada a utilização do termo definido a situações específicas.

Uma das definições de indio incorpora marcas de uso ao enunciado, mantendo correlação quanto aos assinalamentos de uso com o artigo sacrismoche:

indio1, dia. 1. adj. Natural de la India. U. t. c. s. 2. adj. Perteneciente o relativo a este país de Asia.

No documento – PósGraduação em Letras Neolatinas (páginas 139-145)