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Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social e Fundo Nacional de Habitação de

3.  CAPÍTULO II CONTORNOS NORMATIVOS NACIONAIS E

3.6 Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social e Fundo Nacional de Habitação de

A Lei 11.124/2005 dispõe sobre o Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social, cria o Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social, e seu Conselho Gestor, cujo objetivo se traduz na viabilização do acesso à habitação para a população de baixa renda. São generosos os objetivos do SNHIS especificados no art. 2º da lei que o instituiu, traduzidos na finalidade de viabilizar para a população de baixa renda o acesso à terra urbanizada e à habitação digna e sustentável. Afigura-se pertinente sublinhar que a referida lei prevê atuação articulada entre as diversas esferas federativas no âmbito do Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social.

Ademais, consoante se observou no primeiro capítulo da presente dissertação, um dos motivos do déficit habitacional brasileiro corresponde à incapacidade de pagamento da população de baixa renda para fazer frente à sua necessidade de moradia. Para esta classe da população, revela-se inarredável a necessidade de subsídio público capaz de equalizar a aludida incapacidade de pagamento à necessidade moradia.

Nesse panorama exsurge a importância do SNHIS e do FNHIS, no contexto dos quais, conforme José Maria Aragão (2010) se encontra a fonte de custeio de um dos principais programas brasileiros de subsídio, qual seja, o Programa de Subsídio à Habitação de Interesse Social. Em que pese a importância do aludido fundo, adverte esse autor que os recursos destinados ao aludido programa de subsídio, importante instrumento existente para o atendimento da população de baixa renda, mostram-se inferiores ao necessário para assegurar a sustentabilidade prevista na Lei.

O art. 11 da lei que instituiu SNHIS considera as ações que serão contempladas com os recursos oriundos do Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social:

Art. 11 (...)

I – aquisição, construção, conclusão, melhoria, reforma, locação social e arrendamento de unidades habitacionais em áreas urbanas e rurais;

II – produção de lotes urbanizados para fins habitacionais;

III – urbanização, produção de equipamentos comunitários, regularização fundiária e urbanística de áreas caracterizadas de interesse social;

IV – implantação de saneamento básico, infraestrutura e equipamentos urbanos, complementares aos programas habitacionais de interesse social;

V – aquisição de materiais para construção, ampliação e reforma de moradias; VI – recuperação ou produção de imóveis em áreas encortiçadas ou deterioradas, centrais ou periféricas, para fins habitacionais de interesse social.

Afigura-se patente que o legislador infraconstitucional pensou o déficit habitacional de forma ampla, de modo a garantir a observância dos contornos do direito à moradia digna, porquanto tenha contemplado a necessidade de aquisição de novas moradias, bem como a sua reforma, sem descurar a fundamentalidade da urbanização adequada, circunstância que compreende a regularização fundiária e a concessão dos equipamentos sociais necessários à vida digna. Nesse contexto, tem-se a previsão textual da implantação de saneamento básico, infraestrutura e equipamentos urbanos (inciso IV), os quais se inserem no âmbito do direito à moradia digna, que, para além da mera garantia de direito a um lar, contempla a necessidade de garantir ao cidadão uma sadia qualidade de vida, a qual só será assegurada na exata medida em que for efetivado o gozo de infraestrutura, saneamento básico e dos equipamentos sociais (saúde, educação, trabalho, segurança pública, etc.).

É importante destacar que a aplicação dos recursos do FNHIS em áreas urbanas deve se submeter à política de desenvolvimento urbano prevista no Plano Diretor, circunstância que apenas acentua a importância do referido diploma legal municipal, a par de todos os instrumentos anteriormente analisados.

Não obstante as dificuldades políticas tradicionalmente enfrentadas pelos Municípios no que tange à obtenção dos recursos federais (e os objetivos da presente dissertação impedem a análise das questões político-partidárias que circundam o tema), deve-se observar que os recursos do FNHIS serão aplicados de forma descentralizadas pelos Estados, Distrito Federal e Municípios, que deverão, dentre outras medidas previstas no art. 12 da lei que instituiu o referido instituto, constituir fundo com dotação orçamentária própria, constituir conselho com a participação de segmentos da sociedade ligados à área de habitação e apresentar Plano Habitacional de Interesse Social, considerando as especificidades do local e da demanda.

Além dos requisitos mencionados no parágrafo anterior, disposições da mesma lei asseveram que o recebimento de recursos do FNHIS por parte dos Estados e Municípios exige a contrapartida destes, a qual se dará em recursos financeiros, bens imóveis ou serviços, desde que vinculados aos respectivos empreendimentos habitacionais realizados no âmbito dos programas do SNHIS, conforme Lei 11.124/2005, art. 13, §§ 1º e 2º.

No cenário da federação brasileira, não obstante o importante papel desempenhado pelos Municípios no campo das políticas urbanas em geral, e nas políticas habitacionais em especial, cumpre observar que os Estados-membros têm importante função no panorama do SNHIS vez que devem promover a integração dos planos habitacionais municipais aos planos de desenvolvimento regional, bem como apoiar os Municípios para a implantação dos seus programas e das suas políticas de subsídio, conforme legislação pertinente.

No que diz respeito aos benefícios e subsídios financeiros do Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social, prevê a lei que o instituiu, em conformidade com a diretriz assentada em linhas anteriores da presente dissertação, que o acesso à moradia deve se pautar no atendimento prioritário das famílias de menor renda, adotando-se políticas de subsídio com base no Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social (art. 22). Frise-se que, dentre os benefícios concedidos no âmbito do SNHIS, destacam-se os seguintes (art. 23): a) subsídios financeiros oriundos do FNHIS, destinados a complementar a capacidade de pagamento das famílias beneficiárias; b) isenção e redução de impostos incidentes sobre empreendimentos habitacionais (dependente de previsão legal específica); c) outros benefícios destinados a reduzir ou cobrir o custo de construção e aquisição de moradias.

Frente ao que restou expendido na presente dissertação, resulta claro que o Estado detém a obrigação de efetivar as normas constitucionais programáticas que contemplam expressamente a melhoria da qualidade de vida da população, especialmente aquelas de onde se extrai o direito fundamental à moradia, devendo se desincumbir deste mister por intermédio da elaboração e execução das políticas públicas pertinentes, sendo certo que, no âmbito destas, a legislação infraconstitucional já prevê (em nível de poder-dever) as diretrizes e instrumentos a ser utilizados no equacionamento do déficit habitacional brasileiro.

Demonstrada a suficiência da resposta legislativa ao déficit habitacional brasileiro, circunstância apta a ensejar a constatação de que a ausência de concretização do direito à moradia resulta da omissão estatal no que concerne ao adimplemento do seu dever constitucional, passa-se a analisar historicamente as políticas habitacionais brasileiras, com as devidas leituras críticas, a fim de contribuir para a formulação de respostas à problemática enfrentada na presente dissertação.