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As mudanças rápidas nos arranjos familiares e nas formas de casamento e de moradia mostram que a atribuição, de responsabilidade à família (genericamente entendida) deve ser pensada com a devida percepção da variedade e da impermanência.

No século XIX, antropólogos, estudando várias populações, mostraram maneiras diferentes de classificação do parentesco, surgindo o conceito de sistema de parentesco. Vários estudiosos dedicaram seus estudos ao sistema de parentesco. Segundo alguns estudiosos, o sistema de parentesco consiste em um sistema estrutural de relações uma rede, no qual as pessoas consideram-se unidas por um complexo de relações, reconhecidas socialmente como de laços biológicos, ou de “sangue” e de afinidade. Tal rede segundo a cultura de um povo define lugares, funções e tratamento (nomenclatura) de cada membro em relação aos demais. (MARCONI e PRESOTTO, 2008)

Os modos de classificação de parentes não obedeceu a um código universal, podendo variar. Em muitos sistemas, a posição genealógica é marcada pelo genitor, pelo “pai”. É equacionada classificatoriamente a outras posições genealógicas, de modo que, por meio de um mesmo termo, cobrem-se as posições genealógicas ‘pai” e “irmão do pai”. Para realizar uma análise de parentesco, inicialmente deve-se considerar a família e observar os tipos de relações. As relações nesse contexto podem ser classificadas de acordo com a afinidade (marital ou legal),

consanguinidade (biológico), “fictícios” ou “pseudoparentes” (adotivos). (DAMATTA,2000)

O homem pode ter papel de marido, esposa, pai, mãe, filho, filha, irmão, irmã em uma família, estabelecendo desse modo as relações definidas culturalmente e socialmente esperadas. O princípio do sistema de parentesco consiste no fato de uma pessoa pertencer, ao mesmo tempo, a duas famílias nucleares. Pertencendo a duas famílias nucleares, estabelece um vínculo entre os membros de ambas. A ramificação desses vínculos vai unindo um grupo de indivíduos a outros, por meio dos laços de parentesco, fazendo com que cada família tenha seu próprio de conjunto parentes. Entre os tipos de parentes, encontramos o primário, secundário e o terciário. O primário é formado por indivíduos que pertencem à mesma família nuclear (pai, mãe e irmãos do Ego1

Os antropólogos utilizam o diagrama de laços de parentesco para facilitar a compreensão e possibilitar uma visão clara e objetiva do modo como os diferentes status estão relacionados em referência à consanguinidade ou afinidade. Por meio dos laços de parentesco, é possível classificar os tipos de parentes. Para realizar o diagrama, devemos ter como ponto de partida o Ego. As relações, em várias sociedades, podem ter denotações ou significados diferentes. O irmão do pai pode ser considerado um parente diferente do irmão da mãe ou o irmão do pai pode entrar na mesma categoria do irmão mais velho. A sociedade ocidental classifica os irmãos do pai como sendo tios de Ego. Em algumas culturas, o irmão do pai assumirá o papel do pai e padrasto, casando-se com a viúva. Para realizar o diagrama, é necessário verificar alguns fatores como: sexo e geração, afinidade e consanguinidade. Na confecção do diagrama de laços de parentesco, são utilizados símbolos. O triângulo é usado para o sexo masculino e o círculo para o sexo feminino; um traço horizontal indica a consanguinidade e dois traços paralelos, afinidade. A posição pais acima e filhos abaixo determina geração. Para realizar a análise do sistema de parentesco, deve-se ter como ponto de referência o símbolo ) família de orientação e família de procriação (marido, esposa e filhos). Secundário, partindo do Ego, consiste nos avós e tios. Terciário, tendo o Ego como referência, seria o bisavô, esposa dos tios e outros parentes. (MARCONI e PRESOTTO, 2008)

1 Ego é um indivíduo adulto do sexo masculino ou feminino solteiro, que será considerado o ponto de

Ego, ou seja, um triângulo escurecido. (O ego feminino é representado com um triângulo escurecido acompanhado pela letra f e ego masculino representado com um triângulo escurecido acompanhado pela letra m). O diagrama de parentesco não deve ser grande e podem ser utilizadas abreviaturas em português. Nesse caso, utilizam-se letras maiúsculas para o sexo masculino e letras minúsculas para o sexo feminino. Por meio da utilização na terminologia, os antropólogos podem verificar o comportamento dos indivíduos e descobrir a estrutura social de determinado grupo. (MARCONI e PRESOTTO, 2008) A terminologia é importante também para a análise semântica.

Os termos de parentesco podem ser divididos em: • Critérios de uso vocativo e referência;

• Critérios linguísticos: elementar, derivativo e descritivo;

• Critérios de identificação: geração; sexo; afinidade2; colateralidade3,

bifurcação4

• Derivados: idade relativa; sexo de quem fala e descendência. e polaridade.

Os termos de parentesco no critério de uso dependem de o Ego estar falando com ou sobre seus parentes. Ser vocativo fala diretamente com a pessoa e ser for referência, refere-se a uma terceira. No critério linguístico elementar, usa-se um termo irredutível, que não pode ser analisado em seus componentes léxicos. Já no critério linguístico, na categoria derivado, aparecem os termos: um elementar e um léxico, embora, primariamente, não possam ter significado de parentesco. Na categoria descritiva, há combinação de dois ou mais termos elementares, indicando uma relação específica.

Em relação ao sistema de parentesco, teoricamente, existe um grande número de sistemas. As sociedades, em geral, classificam seus parentes de forma

2 Afinidade é diferença entre parentes consanguíneos e os ligados pelo matrimônio, que ampliam a

rede de parentesco.

3Colateralidade é a diferença entre o relacionamento linear e o colateral. Na geração de Ego, alguns

parentes são mais relacionados que outros e todos os colaterais são os primos.

4Bifurcação é a diferença do sexo da pessoa por meio da qual se estabelece o relacionamento. O

semelhante. Em todos os tipos de sistema de parentesco, devem-se seguir dois critérios: primeiramente a geração dos pais; segundo, geração do Ego, de acordo com a fusão ou bifurcação do parentesco linear ou colateral. (MARCONI e PRESOTTO, 2008)

A análise e a interpretação de parentesco permitem ao antropólogo o estabelecimento de correlações entre os sistemas de parentesco e outras formas de comportamento (religiosa, política, educacional, econômica, cultural). A análise sociológica do parentesco torna visível um plano básico do domínio humano, permitindo saber que as formas de organização da família variavam e nenhuma podia ser tomada como referencial e absoluta, e ficava claro que os sistemas de termos de designação de parentes, embora fossem variados, formavam sistemas coerentes.

O estudo do parentesco permite uma avaliação das diferenciações entre infraestrutura biológica universal e uma superestrutura verbal, que a partir da base, recriam o conjunto no plano social e ideológico. Embora toda família seja constituída de marido, mulher, filhos, nem toda organização familiar classifica seus membros do mesmo modo, atribuindo um mesmo conteúdo às suas relações sociais mais básicas.

Estas são as possibilidades abertas, que quis delinear, possibilidades que exploradas por especialistas podem revelar aspectos difíceis de perceber por outros meios.

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