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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO ELISABETE CALABUIG CHAPINA OHARA

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Academic year: 2018

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

ELISABETE CALABUIG CHAPINA OHARA

O PAPEL DO IDOSO NA FAMÍLIA CONTEMPORÂNEA

Doutorado em Estudos Pós Graduados em Ciências Sociais

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ELISABETE CALABUIG CHAPINA OHARA

O PAPEL DO IDOSO NA FAMÍLIA CONTEMPORÂNEA

Tese apresentada ao Programa de Estudos Pós graduados em Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, para a obtenção do título de Doutor

Orientadora: Profª. Drª. Maria Helena Villas Boas Concone

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FICHA CATALOGRÁFICA

Ohara, Elisabete Calabuig Chapina

O papel do idoso na família contemporânea / Elisabete Calabuig Chapina Ohara. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUCSP, 2012.

ix, 121 f.

Orientador: Maria Helena Villas Boas Concone

Tese de Doutorado – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, PUCSP, Programa de Estudos Pós graduados em Ciências Sociais, 2012.

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Elisabete Calabuig Chapina Ohara

O PAPEL DO IDOSO NA FAMÍLIA CONTEMPORÂNEA

Tese apresentada ao Programa de Estudos Pós-graduados em Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, para a obtenção do título de Doutor

Aprovado em : _______________________________________________________

Banca Examinadora

Profª Drª Maria Helena Villas Boas Concone Instituição: PUC-SP

Julgamento: _______________________ Assinatura: ______________________

Profª Drª ___________________________________ Instituição: _____________ Julgamento: _______________________ Assinatura: ______________________

Profª Drª ___________________________________ Instituição: _____________ Julgamento: _______________________ Assinatura: ______________________

Profª Drª ___________________________________ Instituição: _____________ Julgamento: _______________________ Assinatura: ______________________

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho aos meus filhos Lucas, Vitória e João Vítor, que vieram ao mundo como

um presente de Deus para iluminar minha vida, pensava que tinha a responsabilidade de ensinar-lhes o caminho correto e eles me surpreenderam com seu amor incondicional, demonstrando que recebo muito mais do que posso oferecer.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por tudo. Por toda a coragem, luz, determinação e força na escolha da direção correta a tomar e por dar-me a oportunidade de conhecer tantas pessoas boas em minha jornada. Agradeço a Ele todas as vitórias e conquistas alcançadas durante a minha vida.

À Professora Doutora Maria Helena Villas Boas Concone, orientadora e amiga, o reconhecimento pela disponibilidade e interesse constantes.

Aos idosos e às suas famílias, sujeitos da pesquisa, pela disponibilidade e generosidade.

Agradeço à minha família, meus pais, minha sogra, minhas irmãs, cunhados e sobrinhos pelo apoio e pela compreensão do tempo de convívio muitas vezes sacrificado para realização deste trabalho.

Agradeço especialmente ao Renato e meus filhos Lucas Eduardo, Vitória e João Vitor que são o maior presente que Deus poderia ter me dado nesta vida. Por toda felicidade, carinho, compreensão, apoio, incentivo, dedicação encontrada na minha querida família que sempre farão parte de cada vitória.

Ao Programa de pós Graduação em Ciências sociais da PUC-SP, que proporcionou momentos de conscientização e reflexão da sociedade em que vivemos e dos fatos e processos sociais que nos rodeiam.

A todos os professores que colaboraram no processo ensino-aprendizagem, por todo apoio e a estrutura oferecida para o desenvolvimento de meu estudo.

À amiga e companheira Bernadete, pela disponibilidade, contribuição, apoio e incentivo.

Às amigas, Roseli, Silvia e Raquel que de alguma forma me motivaram e estiveram a meu lado durante o estudo.

Aos alunos, por me incentivarem e acreditarem no estudo, à medida que lhes relatava os passos dados na pesquisa.

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EPÍGRAFE

O valor das coisas não está no tempo que elas

duram, mas na intensidade com que acontecem.

Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas

inexplicáveis e pessoas incomparáveis.”

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RESUMO

A família e o idoso são parte essencial do cuidado de enfermagem, sendo necessário que o profissional se abra para a família para compreender experiências e visões de mundo. Neste estudo de caráter interdisciplinar buscou-se refletir sobre as principais mudanças que envolvem o processo de envelhecimento e a diversidade que o caracteriza, indo ao encontro dos seus significados e das mudanças sociais que rebatem na família como instituição. O estudo teve como objetivos: refletir sobre as modificações pelas quais a família brasileira tem passado e as repercussões dessas mudanças no papel do idoso na família contemporânea; identificar os aspectos culturais, sociais e subjetivos do idoso e seus familiares; conhecer a dinâmica familiar e suas significações para o idoso; compreender como a família do idoso se estrutura, seu desenvolvimento e funcionamento. Com esse foco optou-se por realizar pesquisa qualitativa com pequenos grupos (idosos e seus familiares);o trabalho de campo - observação participativa daqueles pequenos grupos e longas entrevistas – ancorou, em diálogo com a literatura especializada, as interpretações propostas. As famílias escolhidas deviam preencher algum dos seguintes requisitos para o estudo: a família do idoso estar vivenciando modificações no aspecto social (aposentadoria; desemprego, voluntariado, viuvez, dificuldade financeira); a família tendo o idoso como o principal provedor (a renda familiar está centrada na aposentadoria do idoso); o idoso como cuidador dos netos; a família como cuidadora do idoso; idoso vivenciando experiências motivadoras. Todos os envolvidos nesta pesquisa (idosos e familiares) aceitaram a participação. O roteiro de entrevista foi constituído por perguntas abertas (este roteiro foi entendido como um conjunto de provocações para o diálogo e no limite, lembretes, para que fosse possível ter um material passível de comparação). A técnica utilizada para análise possibilitou construir uma multiplicidade de estruturas complexas, sobrepostas ou amarradas umas às outras, que podem ser diferentes, irregulares e que, inicialmente, procurou-se apreender e depois interpretar e apresentar. (GEERTZ, 1989) Na análise de conteúdo recorreu-se também, ao auxílio de um software (QSR internacional Nvivo 9 projeto-Environmental Change Down East), desenvolvido por pesquisadores que trabalham com pesquisa qualitativa na área das ciências sociais. Os papéis familiares no mundo atual modificaram-se dada a complexidade de situações criadas por fatores socioculturais e econômicos que afetaram diretamente a dinâmica familiar. As funções básicas dos idosos na família são variadas, destaca-se a de agente educador, com funções específicas como zelar pelos aspectos religiosos, culturais, econômicos e sociais, sendo papel da família (grupo familiar) cuidar das crianças, idosos e doentes. O conhecimento sobre o papel do idoso na família contemporânea possibilitou mostrar caminhos para a prática profissional. Acreditamos também que os aspectos estudados podem contribuir para uma nova perspectiva teórica e interdisciplinar do objeto e, especialmente, contribuir para a formação de profissionais da área da saúde, ciências sociais e educação. Acreditamos que ao darmos voz aos idosos, provocamos sua própria mudança e conseqüentemente ajudamos na quebra de preconceitos e mitos a seu respeito, viabilizando a abertura de caminhos para o resgate da sua cidadania ativa e a conquista ou manutenção de seu espaço na família e na sociedade Conclui-se que o estudo é uma ferramenta de trabalho para os profissionais que buscam uma melhor compreensão das variáveis que interferem no envelhecimento, família e a comunidade.

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ABSTRACT

The family and the elderly are an essential part of nursing care, being necessary for the professional to open themselves to the family to understand experiences and worldviews. This interdisciplinary study was intended to reflect on the major changes that involve the aging process and the diversity that characterizes it, going to their meanings and social changes that reflect in the family as an institution. The study objectives were: reflect on the changes the Brazilian family has gone through and the impact of these changes on the role of the elderly in the contemporary family; identify the cultural, social and subjective aspects of the elderly and their families; meet the family dynamics and their meanings for the elderly; understand how the elderly’s family structures itself, its development and functioning. Focusing on this, we opted for conducting qualitative research with small groups (elderly and their relatives); the fieldwork - participatory observation of those small groups and long interviews – anchored, in dialogue with the specialized literature, the proposed interpretations. The chosen families should meet any of the following requirements for the study: the elderly’s family should be experiencing changes in social aspect (retirement; unemployment, volunteering, widowhood, financial hardship); the elderly in the family as the primary provider (household income is centered on the elderly’s pension); the elderly as caregiver for grandchildren; the family as caregiver for the elderly; the elderly experiencing motivating experiences. Everyone involved in this research (elderly and family) accepted to participate. The questionnaire for the interview was composed of open-ended questions (this was seen as a provocation to the dialogue and within the limits, reminders, so that it was possible to have material for comparison). The technique used for analysis made it possible to build a multiplicity of complex structures, overlapping or tied to each other, which may be different, irregular and that initially should be learnt and then interpreted and presented. (GEERTZ, 1989) Content analysis was also performed with the aid of a software (International QSR Nvivo 9 project-Environmental Change Down East), developed by researchers working with qualitative research in the area of social sciences. The family roles in today's world have changed due to the complexity of situations created by economic and sociocultural factors directly affecting the family dynamics. The basic functions of the elderly in the family are varied, above all others as the educator, with specific functions such as ensuring religious, cultural, economic and social aspects, while the role of the family (family group) is to take care of the children, the elderly and the sick. Knowledge about the role of elderly people in the contemporary family allowed for paths to professional practice. We also believe that the studied aspects can contribute to a new theoretical and interdisciplinary perspective of the object and, especially, contribute to the training of health, social sciences and education professionals. We believe that by giving voice to seniors, we provoke their own change and consequently help in breaking down the prejudices and myths about them, enabling the opening of roads to the rescue of their active citizenship and the achievement or maintenance of their place in the family and in society. It is concluded that the study is a tool for professionals who seek a better understanding of the variables that interfere with aging, family and the community.

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LISTA DE TABELAS

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LISTA DE QUADROS

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Modelo de Dahlgren e Whitehead... 36

Figura 2. Mapa da Cidade de São Paulo e da área de abrangência da Subprefeitura de Itaquera... 40

Figura 3. Genograma do sujeito 1 – Girassol ... 61

Figura 4. Genograma do sujeito 2 – Jasmim... 61

Figura 5. Genograma do sujeito 3 – Gérbera ... 62

Figura 6. Genograma do sujeito 4 – Margarida ... 62

Figura 7. Genograma do sujeito 5 – Magnólia... 63

Figura 8. Genograma do sujeito 6 – Angélica... 63

Figura 9. Genograma do sujeito 7 – Lótus... 64

Figura 10. Genograma do sujeito 8 – Prímula... 64

Figura 11. Genograma do sujeito 9 – Violeta... 65

Figura 12. Genograma do sujeito 10 – Cravo... 65

Figura 13. Genograma do sujeito 11 – Palma... 66

Figura 14. Genograma do sujeito 12 – Frésia... 66

Figura 15. Genograma do sujeito 13 – Alfazema... 67

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 13

CAPÍTULO I 17 1. ENVELHECIMENTO E FAMÍLIA ... 18

1.1. Refletindo sobre Envelhecimento e Família ... 18

1.2. Políticas públicas e envelhecimento ... 21

1.3. Antropologia e família ... 23

1.4. Tipos de famílias ... 25

1.5. Funções da família ... 26

1.6. Sistema de parentesco ... 28

1.7. Família como sistema ... 31

1.8. Família brasileira ... 32

1.9. Famílias, redes sociais e comunidade ... 34

CAPÍTULO II 37 2. O PAPEL DO IDOSO NA FAMÍLIA CONTEMPORÂNEA: Caminho do Pensamento: Objetivos, Sujeitos, Procedimentos de Coleta ... 38

2.1. Aspectos da metodologia... 38

2.1.1. Local da pesquisa ... 39

2.1.2. Os sujeitos da pesquisa ... 42

CAPÍTULO III 53 3. O PAPEL DO IDOSO NA FAMÍLIA CONTEMPORÂNEA ... 54

3.1. Análise e interpretação dos dados ... 54

3.2. Envelhecimento: Significado de ser idoso ... 71

3.3. Significado de Família: cuidado, laços, afetividade e religião... 80

3.4. Função na família: papel que exerce na família ... 93

3.5. Experiências motivadoras e qualidade de vida ... 100

3.6. À Guisa da Conclusão ... 103

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REFERÊNCIAS ... 113

APÊNDICES... 118

Apêndice A. Roteiro de entrevista ... 119

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O interesse por este estudo emergiu de uma pesquisa realizada durante o mestrado que tomou a minha prática como enfermeira de família e responsável técnica pelo grupo de idosos vinculados a uma instituição de ensino superior. No mestrado, o objetivo da pesquisa foi conhecer os aspectos subjetivos do homem (gênero) idoso hipertenso e a não adesão à terapêutica anti-hipertensiva. Durante o desenvolvimento do estudo, pude perceber a importância e a relevância da família na vida dos sujeitos entrevistados e como os idosos lutam para manter-la, mesmo com uma sobrecarga de responsabilidades e diante das exigências da sociedade contemporânea sobre ele. A valorização afetiva e sociocultural da família permanece de maneira nítida no consciente ou no subconsciente da grande maioria dos idosos.

A família e o idoso fazem parte essencial do cuidado de enfermagem, sendo necessário que eu me abra para a família para compreender experiências e visões de mundo. A partir dessas indagações, o estudo atual tem como finalidade saber o que as famílias fazem pelos seus membros e pelo grupo total. Almeja-se obter uma imagem clara a respeito dessas funções, na tentativa de compreender por que a qualidade de membro de tais unidades pode apresentar tantas variações.

Neste estudo buscou-se refletir sobre dois pontos: principais mudanças sociais que ocorrem no processo de envelhecimento, dimensionando seus impactos na diversidade que o caracteriza indo ao encontro dos seus significados e das mudanças sociais que rebatem na família como instituição.

O tema do envelhecimento e da velhice tem sido discutido desde a antiguidade clássica (pelo menos) em obras filosóficas, obras literárias, mas recentemente, o tema se tornou objeto de reflexão sistemática e.científica. Consolida-se uma nova temática de estudo que escapa do nicho médico e da saúde em geral para invadir o campo das ciências humanas e sociais.

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Apresento a seguir os capítulos que norteiam as reflexões sobre envelhecimento, família e os caminhos percorridos para que os objetivos do trabalho fossem atingidos.

Inicialmente desenvolvi um capítulo de natureza conceitual. Nele realizei uma revisão da literatura e das pesquisas realizadas sobre o tema. Caracterizei o papel dos idosos na família por meio de um resgate histórico.

Os estudos do envelhecimento e família começaram nas áreas da Psicologia, Sociologia, Serviço Social e Ciências Sociais. Posteriormente; surgiram trabalhos nas áreas de Educação, Comunicações e Direito. Nota-se o interesse pelo assunto envelhecimento e família, em diversos domínios disciplinares, revelando diferentes faces do envelhecimento. Percebe-se ao mesmo tempo uma expansão nos temas abordados e talvez uma pequena mudança de direção. Os estudos sobre família como instituição social evidenciam que essa instituição está vivenciando transformações. Dentre as novas formas de organização familiar, multiplicam-se aquela que se caracteriza pela presença da mulher e sua prole, isto é, famílias chefiadas por mulheres.

Logo a seguir, traço o “Caminho do Pensamento” para alcançar na prática a abordagem da realidade. A pesquisa foi um estudo qualitativo por responder a questões particulares que não podem ser quantificadas. Qualitativa por trabalhar com significados, crenças, valores, num espaço mais profundo das relações humanas. A técnica empregada proporcionou a possibilidade de se obter melhor compreensão do grupo denominado “família”. O estudo foi uma pesquisa interpretativa, à procura do significado.

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No capítulo seguinte, apresento os grandes temas derivados da análise de dados, quais sejam:

- Significado de família na perspectiva do idoso; - Envelhecimento

- Papel do idoso na família;

- Experiências motivadoras e qualidade de vida.

Cada um desses temas, por si só, comportaria um capítulo a parte, devido à multiplicidade de aspectos que os envolve, mas, considerando a íntima relação que existe entre os mesmos, optei por reuni-los.

Procurei refletir sobre as análises produzidas no curso do estudo e sobre o contato direto que tive com os idosos e suas famílias, durante a pesquisa de campo. Resgatei não só o que foi relatado em suas falas, como também tudo o que pude captar ao longo das observações e da comunicação não verbal.

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1. ENVELHECIMENTO E FAMÍLIA

1.1. Refletindo sobre Envelhecimento e Família

Neste momento do estudo procuro realizar considerações epidemiológicas e demográficas sobre o envelhecimento da população; assim como as alternativas que se propõem as políticas públicas frente ao envelhecimento e a família.

O envelhecimento populacional é um fato mundial. Mesmo em países em desenvolvimento como o Brasil, o ritmo desse processo nas próximas décadas será acelerado. São vários os fatores que contribuíram para o envelhecimento da população. Entre eles, podemos destacar o controle das doenças infectocontagiosas, o controle da natalidade, diminuindo a base da pirâmide populacional, o saneamento básico e os avanços tecnológicos.

O Brasil teve avanços, tanto na área médica como na social, mas mostra às deficiências graves em setores relacionados à proteção social do idoso como a Saúde Pública e a Seguridade Social. O crescimento da população idosa traz consequências para a família, a comunidade e o Estado. A falta de apoio formal, na verdade, faz com que uma parcela significativa dos idosos, nas regiões menos desenvolvidas, dependa do apoio dispensado quase que exclusivamente pela própria família.

Juntamente com o crescimento da população idosa, ocorreram modificações sociais importantes que afetam a capacidade da família em prestar apoio a seus membros idosos. Dentro das funções da família, o papel da mulher sempre esteve ligado aos cuidados da casa, dos filhos, dos doentes e dos idosos. Com a inserção da mulher no mercado do trabalho, a família perdeu a capacidade de prestar apoio aos seus membros idosos. Outro fator importante é a queda da fecundidade que representa uma redução sensível da rede potencial de apoio para as futuras gerações. (ROUQUAYROL, 2003)

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Os estudos têm mostrado que a corresidência não se dá apenas por necessidades dos idosos. Muitas vezes, ela acontece devido à baixa renda da população mais jovem. Os jovens estão permanecendo dependentes economicamente de seus pais, devido à instabilidade do mercado de trabalho, ao maior número de anos passados na escola e à instabilidade das suas relações afetivas.

O estudo realizado pelo projeto SABE (Saúde, Bem Estar e Envelhecimento) mostra que os idosos que residem na Cidade de São Paulo contam com uma rede de apoio importante e significativa, constatada pela quantidade expressiva de filhos vivos e pessoas corresidentes, formando uma rede de apoio à população idosa.

A pesquisa ainda põe em relevo que mais da metade dos idosos reside em domicílios com três ou mais moradores, sendo que aproximadamente um quinto dos casos refere-se a domicílios com cinco ou mais moradores. Em relação aos filhos, mais da metade da população idosa possui três ou mais filhos vivos e um quarto possui cinco ou mais filhos. A proporção dos que moram só é quase duas vezes e meia maior entre as mulheres comparativamente aos homens. Em relação ao estado conjugal, a proporção é maior de idosos que moram sós entre os solteiros, comparativamente aos viúvos, separados e divorciados, e a proporção é significativamente menor dos que moram com os filhos entre os idosos separados e divorciados, comparativamente aos viúvos. (LEBRÃO e DUARTE, 2003)

A partir dos anos 50, os Estados Unidos e vários países na Europa, como a Inglaterra, França e a Alemanha, começaram a vivenciar o processo de transição demográfica, com o aumento da população idosa e um declínio da taxa de natalidade, despertando assim o interesse dos pesquisadores.

A sociedade começou a se preocupar em encontrar soluções para os problemas individuais e coletivos que sugiram com o aumento da população idosa. Tal aumento, como dissemos, gerou uma crescente pressão nas instituições sociais, fazendo com que os estudiosos pesquisassem soluções para os problemas sociais e individuais dos idosos.

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(NERI, 2007). A produção científica mais recente passou a se mover em direção à busca do potencial de desenvolvimento na velhice, na perspectiva de otimização das capacidades latentes nessa fase da vida, com menos ênfase nas perdas.

Por outro lado, não há como negar que os idosos que necessitam de ajuda nas suas tarefas de vida diária, contam com apoio da família, quase sempre fornecido pelas filhas. No caso de casais idosos, normalmente é a esposa que realiza os cuidados, embora com frequência, ela também esteja vivenciando o processo de envelhecimento. (YAZAKI e RAMOS, 1991)

Tendo em vista que as políticas públicas praticamente eximem o Estado de obrigações sociais com seus idosos uma vez que há programas pontuais e locais que não correspondem a uma demanda geral, as famílias assumem cada vez mais o cuidado com esses familiares, desempenhando novos papéis ou re-encenando antigos e surgindo novos arranjos familiares.

Em todas as sociedades humanas, o primeiro grupo de socialização é a família, entretanto, ela diferencia-se em sua composição, tamanho e estrutura, de acordo com a cultura, assim com o papel que ela exerce sobre a vida de seus membros. (HELMAN, 2003)

Vivenciar a velhice pode ter significados diferenciados, da plenitude à decadência, da gratidão ao abandono, com a presença de disparidades sociais e regionais como as que caracterizam o Brasil contemporâneo.

No âmbito das relações familiares, observa-se a mudança de papéis, com a aposentadoria, viuvez, casamento dos filhos. São mudanças representadas como esperadas “normais” na vida de um grupo. No imaginário cultural, os idosos mudam as funções e atividades de vida progressivamente. Nesse processo, os idosos deveriam criar novos significados para o próprio envelhecimento e encontrar seu “novo nicho’ no grupo. O papel idealizado por excelência é de avós. Esse nicho seria o nicho feliz e “normal”.

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de filhos ou nenhum filho, busca de carreira profissional pelas mulheres e não apenas pelos homens, vida em apartamento dificultando acolhimento de mais moradores que os ajudantes. Claro que nas novas condições o papel de avós dedicado fica bastante reduzido a locais segmentos específicos. Não obstante as mudanças o imaginário nacional continua a priorizar a família como lugar de afeto, amor incondicional, proteção e segurança.

Quanto o envelhecimento em si podemos dizer é um processo natural e fisiológico, universal, heterogêneo, influenciado por aspectos biológicos, socioculturais, políticos, econômicos e subjetivos do indivíduo.

A própria definição de envelhecimento é complexa e não está ligada apenas às questões cronológicas, alterações fisiológicas, declínio normal, progressivo e dificuldades funcionais; é um processo natural, as pessoas podem manter-se saudáveis e atuantes. É fundamental que o idoso mantenha sua capacidade funcional e o interesse em conservar os mesmos níveis de atividade dos estágios anteriores da vida adulta.

1.2. Políticas públicas e envelhecimento

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A Conferência Internacional de Promoção da Saúde da Organização Mundial da Saúde (OMS) realizada em 1986 em Ottawa, no Canadá, foi um importante marco de referência da Promoção da Saúde. Firmaram-se as bases doutrinárias da Promoção à Saúde que deram origem às ações fundamentais do documento. Essa conferência constituiu-se na ferramenta que tornou possível concretizar as ações de Promoção da Saúde. As áreas estratégicas contemplam: Políticas públicas, criação de ambientes físicos, sociais, econômicos, políticos e culturais, ação comunitária, desenvolvimento de novos estilos de vida e reorientação dos serviços de saúde. (BRASIL, 1999)

A OMS e a Organização Pan-Americana da Saúde – OPAS (1990) estabelecem que a Promoção à Saúde seja concebida, cada vez mais, como “a soma das ações da população, dos serviços de saúde, das autoridades sanitárias e outros setores sociais e produtivos, voltados para o desenvolvimento de melhores condições de saúde individual e coletiva”. O eixo do processo gira em torno de: ação intersetorial, para alcance de políticas públicas saudáveis, além das políticas de saúde pública; incentivo da melhoria da qualidade de vida (por meio de conhecimento sobre saúde pelo próprio indivíduo), controle da sua própria saúde e seu ambiente; fortalecimento da participação popular. (BRASIL, 1999)

O enfoque de Promoção da Saúde dos idosos traz como princípios e objetivos: promover uma velhice saudável, na visão de que velhice não é doença; manter a capacidade funcional, prevenir agravos à saúde, manter e recuperar a saúde, manter um bom funcionamento físico, mental e social, realizar a prevenção de enfermidades e incapacidades.

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A finalidade do PNI é manter o idoso na comunidade, junto à família, de forma digna e o mais confortável possível. A promoção da saúde não deve estar pautada somente na prevenção das doenças, mas em uma qualidade satisfatória de vida e bem-estar.

1.3. Antropologia, família e envelhecimento

O diálogo entre antropologia, família e envelhecimento se faz necessário, pois são temas estudados por diversas áreas e prerrogativa indispensável para o nosso estudo. Neste e nos próximos itens vou apresentar um resumo de vários modos de abordagem da família. A partir de perspectivas disciplinares ou pluridisciplinares diversas iniciamos com a Antropologia, lançamos mão de várias referências para esta apresentação. A abordagem pioneira foi de Levi Morgan, antropólogo norte americano em meados do século XIX mostra que a família, as normas de descendência e de mudanças entre os Iroqueses era diferente daquela da sociedade ocidental. A descoberta causou verdadeiro escândalo dado à nação etnocêntrica de família.

O termo família é comum, ligado à experiência cotidiana, contudo, definir o que é família não foi considerado fácil para os estudiosos, como Levi Strauss. Os estudos sobre família entre os diversos povos suscitaram polêmica em toda história do pensamento científico.

Os estudos sobre a família nasceram no século XIX, quando os antropólogos e sociólogos observaram a importância do parentesco nas sociedades. A historiografia passou a ver a família como objeto de reflexão, com ênfase nos estudos genealógicos das famílias ricas, pesquisando a tradição, patrimônio, herança, poderes econômicos e políticos decorrentes de alianças matrimoniais dos poderosos.

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Apesar de todas as diversidades, todos os sistemas sociais incluem o que denominamos de família. Todas as sociedades reconhecem a existência de certas unidades cooperativas que, organizadas, ocupam um lugar entre o indivíduo e a sociedade total da qual ele faz parte. Sendo assim, uma pessoa é atribuída membro de uma dessas unidades, numa base de parentesco biológico. Na realidade, a qualidade de membro pode também ser atribuída por meio de relações reconhecidas como paternidade presuntiva ou adoção. Essas unidades possuem funções específicas, tanto em relação a seus membros quanto à sociedade total. Dentro da unidade, cada membro tem direito e obrigações específicas em relação aos outros membros. Na família ideal, existe uma interação íntima e contínua entre os membros: ligado por laços de afetividade, interesses comuns, mas também de disputas. (MARCONI e PRESOTTO, 2008)

As funções dessas unidades são muito mais importantes do que as pessoas que as compõem. A normatização da relação sexual é uma das funções da família, mas essa função segue padrões culturalmente definidos. Toda sociedade atribui certas funções a suas unidades familiares.

A família no mundo ocidental europeu, a partir do mercantilismo, perdeu suas funções públicas e passou a ter funções privadas. Anteriormente, o espaço público era vivido como extensão da casa e, posteriormente, uma segmentação e compartimentalização das relações em uma “privatização” da família e em um contexto de uma “sociedade individualizada”. (MARCONI e PRESOTTO, 2008)

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Em todas as sociedades humanas, encontra-se uma forma de organização. A família é na maioria das vezes o fundamento das sociedades. Esses agrupamentos humanos podem variar conforme sua estrutura, desenvolvimento e funcionamento.

A família é instituição cultural e como tal apresenta numerosos modelos. Como todos os fenômenos do gênero passam por mudanças. Tomando o exemplo latino tal como visto o processo de mudança desenrolou até a regulamentação de suas bases conjugais conforme leis contratuais, normas religiosas e morais. Nas línguas latinas ou de influência latina o uso do termo família remete a “fâmulus”

(escravo doméstico), uma expressão romana que definia um novo organismo social surgido entre as tribos latinas depois da adoção da agricultura e da escravidão legal. Esse modelo de família contava com o chefe que mantinha sua autoridade a mulher, os filhos e certo número de escravos, com poder de vida e morte sobre eles. Esse poder é conhecido como “paterpotestas”. (HELMAN, 2003)

A variabilidade cultural e histórica da instituição família desafia qualquer conceito geral a esse respeito. A generalização do termo “família”, para designar instituições e grupos historicamente tão variáveis, termina por ocultar as suas diferenças que se expressam nas relações entre reprodução e as demais esferas sociais. (CARVALHO, 2003)

Colocando o foco mais próximo vemos que existem vários conceitos de família, mas na maioria das definições existe certa coesão entre os autores. A definição, conforme a Constituição Brasileira é “família como união estável entre o homem e a mulher e a união formada por qualquer um dos pais e seus descendentes”.

1.4. Tipos de famílias

As famílias podem ser classificadas de acordo com sua organização e estrutura e são como déssemos variáveis no tempo e espaço. De modo geral, numa definição sociológica pode ser apontadas em quatro formações:

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A família nuclear é a base social, onde se originam as relações primárias de parentesco. A família elementar vai diminuindo, quando seus filhos casam e formam uma nova família nuclear, ou pode desaparecer com a morte dos pais.

Família extensa: é uma unidade formada de duas ou mais famílias nucleares, ligadas por laços consanguíneos, por um dos lados (esposa ou cônjuge) ou ambos, e ainda, duas ou mais gerações. Nesse tipo de família, além do grau de parentesco, dos laços consanguíneos, existem deveres e direitos mútuos reconhecidos que fortalecem a união. A família extensa pode ser formada por avós, tios, sobrinhos.

Família composta: também conhecida com família complexa ou conjunta, formada por três ou mais cônjuges e seus filhos. A família complexa é formada por um núcleo de família separada, mas ligadas pela relação com um pai comum.

Família conjugada fraterna: uma família formada de dois ou mais irmãos, suas respectivas esposas e filhos.

Família fantasma: é formada por uma mulher casada e seus filhos e o fantasma. Nesse tipo de família, o pai não desempenha a função de pai, mas apenas de genitor, sendo a função do pai desenvolvida pelo irmão mais velho da mulher.

1.5. Funções da família

A família é um sistema ativo em constante mudança, ou seja, complexo, que se altera com o passar do tempo para assegurar a continuidade como sistema. Esse processo assegura a continuidade e crescimento que permitem o desenvolvimento da família como uma unidade, ao mesmo tempo em que assegura sua diferenciação de seus membros. Apesar de as funções da família passarem por várias alterações durante os séculos, os estudiosos apontam quatro funções básicas e quatro subsidiárias. (CERVENY e BERTHOUD, 2002)

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algumas sociedades onde há liberdade sexual, as procriações dos filhos legitimam a reprodução. A terceira função da família é a econômica, assegura o sustento e a proteção dos membros, esses cuidados podem ser desempenhados na própria família nuclear, mas também pelos familiares com laços consanguíneos. A função educação, do cuidado com os filhos, é reconhecida como função universal da família. As funções subsidiárias são incluídas nas funções relacionadas aos aspectos religiosos, jurídico, político e recreativo, necessários à formação do indivíduo. (MARCONI e PRESOTTO, 2008)

Antropologicamente proteção da prole, criação dos imaturos é a função fundamental.

Existem duas formas de relações entre os sexos: o casamento e a união. União é o ajuntamento de pessoas de sexo oposto sob a influência do impulso sexual. O matrimônio ou o casamento é o modo pelo qual a sociedade estabelece as normas para relação entre os sexos. No matrimônio, os filhos nascidos desse tipo de contrato são legítimos de ambos os pais. A partir do matrimônio, o casal forma uma nova família elementar diferente daquela em que ele nasceu. De modo que em cada sociedade, um adulto geralmente pertence a duas famílias nucleares: aquela onde nasceu e da que constituiu. Os antropólogos chamam a primeira de “família de origem”. O casamento proporciona novas relações sociais e direitos entre os cônjuges e entre cada um deles e os parentes do outro. Estabelece os direitos dos filhos. (CERVENY e BERTHOUD, 2002) Esta abordagem apesar de recente já mostra necessidade de revisão. União e mesmo casamento já assumem formas diversas entre nós.

Na antropologia não diríamos “parentesco real” porque o parentesco é uma construção sócio-cultural. Depende da definição cultural de cada grupo, Levi Strauss diz que o tabu do incesto é universal como as coisas de natureza e variável como as coisas da cultura. Isto é a proibição forte, o tabu varia. As relações não são consideradas simplesmente de parentesco. Nem toda proibição é em virtude do parentesco.

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quando homens constituem várias famílias ou sustentam mais de uma mulher; o inverso é entre nós, menos referido), mas estas são uniões não legais. As uniões consensuais no Brasil incluem hoje, de modo mais visível uniões homossexuais e, o reconhecimento legal de tais uniões, tem gerado polêmica, embora já haja casos legitimados, bem como o reconhecimento de adoções por casais chamados homo afetivos.

O divórcio ou dissolução aparecem como uma forma legal de desfazer o casamento ou união. Durante muitos anos no Brasil, só se reconhecia o “desquite” (separação legal) que não dava direito a contrair um novo casamento.

1.6. Sistema de parentesco

As mudanças rápidas nos arranjos familiares e nas formas de casamento e de moradia mostram que a atribuição, de responsabilidade à família (genericamente entendida) deve ser pensada com a devida percepção da variedade e da impermanência.

No século XIX, antropólogos, estudando várias populações, mostraram maneiras diferentes de classificação do parentesco, surgindo o conceito de sistema de parentesco. Vários estudiosos dedicaram seus estudos ao sistema de parentesco. Segundo alguns estudiosos, o sistema de parentesco consiste em um sistema estrutural de relações uma rede, no qual as pessoas consideram-se unidas por um complexo de relações, reconhecidas socialmente como de laços biológicos, ou de “sangue” e de afinidade. Tal rede segundo a cultura de um povo define lugares, funções e tratamento (nomenclatura) de cada membro em relação aos demais. (MARCONI e PRESOTTO, 2008)

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consanguinidade (biológico), “fictícios” ou “pseudoparentes” (adotivos). (DAMATTA,2000)

O homem pode ter papel de marido, esposa, pai, mãe, filho, filha, irmão, irmã em uma família, estabelecendo desse modo as relações definidas culturalmente e socialmente esperadas. O princípio do sistema de parentesco consiste no fato de uma pessoa pertencer, ao mesmo tempo, a duas famílias nucleares. Pertencendo a duas famílias nucleares, estabelece um vínculo entre os membros de ambas. A ramificação desses vínculos vai unindo um grupo de indivíduos a outros, por meio dos laços de parentesco, fazendo com que cada família tenha seu próprio de conjunto parentes. Entre os tipos de parentes, encontramos o primário, secundário e o terciário. O primário é formado por indivíduos que pertencem à mesma família nuclear (pai, mãe e irmãos do Ego1

Os antropólogos utilizam o diagrama de laços de parentesco para facilitar a compreensão e possibilitar uma visão clara e objetiva do modo como os diferentes status estão relacionados em referência à consanguinidade ou afinidade. Por meio dos laços de parentesco, é possível classificar os tipos de parentes. Para realizar o diagrama, devemos ter como ponto de partida o Ego. As relações, em várias sociedades, podem ter denotações ou significados diferentes. O irmão do pai pode ser considerado um parente diferente do irmão da mãe ou o irmão do pai pode entrar na mesma categoria do irmão mais velho. A sociedade ocidental classifica os irmãos do pai como sendo tios de Ego. Em algumas culturas, o irmão do pai assumirá o papel do pai e padrasto, casando-se com a viúva. Para realizar o diagrama, é necessário verificar alguns fatores como: sexo e geração, afinidade e consanguinidade. Na confecção do diagrama de laços de parentesco, são utilizados símbolos. O triângulo é usado para o sexo masculino e o círculo para o sexo feminino; um traço horizontal indica a consanguinidade e dois traços paralelos, afinidade. A posição pais acima e filhos abaixo determina geração. Para realizar a análise do sistema de parentesco, deve-se ter como ponto de referência o símbolo ) família de orientação e família de procriação (marido, esposa e filhos). Secundário, partindo do Ego, consiste nos avós e tios. Terciário, tendo o Ego como referência, seria o bisavô, esposa dos tios e outros parentes. (MARCONI e PRESOTTO, 2008)

1 Ego é um indivíduo adulto do sexo masculino ou feminino solteiro, que será considerado o ponto de

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Ego, ou seja, um triângulo escurecido. (O ego feminino é representado com um triângulo escurecido acompanhado pela letra f e ego masculino representado com um triângulo escurecido acompanhado pela letra m). O diagrama de parentesco não deve ser grande e podem ser utilizadas abreviaturas em português. Nesse caso, utilizam-se letras maiúsculas para o sexo masculino e letras minúsculas para o sexo feminino. Por meio da utilização na terminologia, os antropólogos podem verificar o comportamento dos indivíduos e descobrir a estrutura social de determinado grupo. (MARCONI e PRESOTTO, 2008) A terminologia é importante também para a análise semântica.

Os termos de parentesco podem ser divididos em:

• Critérios de uso vocativo e referência;

• Critérios linguísticos: elementar, derivativo e descritivo;

• Critérios de identificação: geração; sexo; afinidade2; colateralidade3, bifurcação4

• Derivados: idade relativa; sexo de quem fala e descendência. e polaridade.

Os termos de parentesco no critério de uso dependem de o Ego estar falando com ou sobre seus parentes. Ser vocativo fala diretamente com a pessoa e ser for referência, refere-se a uma terceira. No critério linguístico elementar, usa-se um termo irredutível, que não pode ser analisado em seus componentes léxicos. Já no critério linguístico, na categoria derivado, aparecem os termos: um elementar e um léxico, embora, primariamente, não possam ter significado de parentesco. Na categoria descritiva, há combinação de dois ou mais termos elementares, indicando uma relação específica.

Em relação ao sistema de parentesco, teoricamente, existe um grande número de sistemas. As sociedades, em geral, classificam seus parentes de forma

2 Afinidade é diferença entre parentes consanguíneos e os ligados pelo matrimônio, que ampliam a

rede de parentesco.

3Colateralidade é a diferença entre o relacionamento linear e o colateral. Na geração de Ego, alguns

parentes são mais relacionados que outros e todos os colaterais são os primos.

4Bifurcação é a diferença do sexo da pessoa por meio da qual se estabelece o relacionamento. O

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semelhante. Em todos os tipos de sistema de parentesco, devem-se seguir dois critérios: primeiramente a geração dos pais; segundo, geração do Ego, de acordo com a fusão ou bifurcação do parentesco linear ou colateral. (MARCONI e PRESOTTO, 2008)

A análise e a interpretação de parentesco permitem ao antropólogo o estabelecimento de correlações entre os sistemas de parentesco e outras formas de comportamento (religiosa, política, educacional, econômica, cultural). A análise sociológica do parentesco torna visível um plano básico do domínio humano, permitindo saber que as formas de organização da família variavam e nenhuma podia ser tomada como referencial e absoluta, e ficava claro que os sistemas de termos de designação de parentes, embora fossem variados, formavam sistemas coerentes.

O estudo do parentesco permite uma avaliação das diferenciações entre infraestrutura biológica universal e uma superestrutura verbal, que a partir da base, recriam o conjunto no plano social e ideológico. Embora toda família seja constituída de marido, mulher, filhos, nem toda organização familiar classifica seus membros do mesmo modo, atribuindo um mesmo conteúdo às suas relações sociais mais básicas.

Estas são as possibilidades abertas, que quis delinear, possibilidades que exploradas por especialistas podem revelar aspectos difíceis de perceber por outros meios.

1.7. Família como sistema

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A teoria geral dos sistemas amplia seu espaço nas ciências humanas, os acontecimentos são explicados, não de forma causal ou ações individuais, mas sim em virtude da ação de sistemas socioculturais em interação, o grupo em detrimento do indivíduo.

A cibernética passa a compor a teoria dos sistemas, colocando cada coisa dentro de um contexto e estabelecendo a natureza de suas relações. A família vista agora como, um sistema psicossocial, é uma união de seres humanos com atributos que interagem e cujas relações mantêm a condição do sistema. No caso da abordagem de famílias, a teoria sistêmica possibilita implementar uma prática por meio de ferramentas conceituais que dêem oportunidade para que à família possa criar suas próprias possibilidades. (WRIGHT e LEAHEY , 2008)

O Modelo Calgary de Avaliação da Família (MCAF) é uma estrutura multidimensional que enseja uma avaliação estrutural, de desenvolvimento e funcional da família. Esse modelo baseia-se em um fundamento teórico que envolve sistemas, cibernética, comunicação e mudança. Um sistema familiar compõe uma parte de um suprassistema mais amplo e, por sua vez, é composto de muitos subsistemas. Uma família é formada de muitos subsistemas, como pais, filhos, cônjuge, irmãos. Esses também são compostos por outros subsistemas. Os indivíduos estão envolvidos por sistemas biológicos, físicos, culturais, sociais e psicológicos. Wright e Leahey (2008) referem que “é apropriado visualizar um sistema, desenhado em um grande circulo está o contexto maior, onde todos os fatores impingidos sobre o sistema podem ser colocados”. O modelo permite desenhar um círculo para visualizar uma família e em seguida situar dentro dele seus membros familiares individuais.

Ao trabalhar com familiares, é indicado considerar as pessoas que fazem parte desse sistema familiar; os subsistemas importantes e a quais suprassistemas significativos a família pertence.

1.8. Família brasileira

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populacional, deu-se a instalação de uma sociedade do tipo paternalista. Na família patriarcal, as relações de caráter pessoal assumiram grande importância, sendo consideradas vitais. A base do relacionamento estimula a dependência da autoridade paterna e a solidariedade entre os parentes. (SAMARA, 1983)

De acordo com Samara (1983), “a família brasileira, no período colonial, apresentava uma feição complexa, incorporando ao seu núcleo central componentes de várias origens, que mantinham diversos tipos de relações com o dono da casa, sua mulher e a prole legítima.”

Na família patriarcal, viviam juntos indivíduos ligados por laços consanguíneos, trabalho ou amizade, definindo a complexidade do modelo, pois a composição do núcleo central estava, até certo ponto, bem delimitada. Todos viviam no mesmo domicílio.

De acordo com estudos, a família brasileira é o resultado de transplante e adaptação da família portuguesa ao nosso ambiente colonial, tendo como consequência um modelo com características patriarcais e tendências conservadoras em sua essência.

O modelo patriarcal serviu para estruturar e caracterizar a família brasileira. Esse tipo de concepção foi aceito pela historiografia, sendo de tal forma representativa, estática e praticamente única para exemplificar toda a sociedade brasileira. As variações na estrutura familiar ocorreram em função do tempo, do espaço e de outros grupos sociais.

A família patriarcal instalou-se nas regiões onde foram implantadas as grandes unidades agrárias de produção, engenhos de açúcar, fazendas de criação ou plantação de café. Nesse tipo de família, a incorporação de novos membros ocorria de preferência por parentes legítimos ou ilegítimos, a extensos “clãns” que asseguravam a individualidade de seu poder. (SAMARA, 1983)

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A função do chefe da família patriarcal era cuidar dos negócios, preservar a linhagem familiar e a honra; exercia a autoridade sobre a mulher, filhos e os demais membros do grupo.

O volume e a amplitude dos movimentos migratórios internos no Brasil e o ritmo acelerado do processo de urbanização, durante o século XX, apontam para transformações econônico-sociais profundas que se relacionam com o processo de desenvolvimento do país. Um fenômeno que manifesta transformações na própria estrutura da sociedade brasileira que deve ser compreendida de forma mais ampla. (DURHAN, 1973)

As transformações econômico-sociais revertem em transformações no nível do comportamento dos sujeitos que vivem o processo. A industrialização e a urbanização trouxeram a ruptura de isolamento das comunidades tradicionais e a negação dos velhos valores, a adoção de novos comportamentos. (DURHAN, 1973)

A migração não ocorreu de forma dramática; foi paulatinamente transferindo indivíduos e grupos das comunidades mais tradicionais e mais pobres para os grandes centros urbanos, onde se concentram os centros de transformação. (DURHAN, 1973)

A transformação e a decadência da estrutura patriarcal extensas ocorreram com o advento da industrialização e a ruína das grandes propriedades rurais. Estudos mais recentes mostram que as estruturas familiares extensas tipo patriarcal não são tão evidentes, sendo mais comuns famílias estruturadas com menor número de integrantes. A família patriarcal assumiu configurações regionalmente diferentes e mudou com o tempo.

1.9. Famílias, redes sociais e comunidade

Outra forma de abordagem a ser considerada é aquela que relaciona família, redes sociais e comunidade.

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sociais de saúde (DSS) em diferentes camadas que se relacionam permitindo identificar pontos de intervenção. (BRASIL, 2008)

Os determinantes sociais de saúde (DSS) considerados nesse modelo compõem diferentes camadas, desde camada mais próxima dos determinantes individuais até uma camada distal, onde se situam os macrodeterminantes. Entre os determinantes sociais da saúde, conta-se o chamado capital social entendido este como o conjunto das relações de solidariedade e confiança entre pessoas e grupos. Além dos contatos com amigos e parentes, diferentes formas de participação social com pertencer a grupos comunitários, religiosos, associações de moradores, instituições de recreação entre outros, também representam formas pelas quais os grupos de pessoas mantêm-se em contato e estabelecem vínculos sociais. (BRASIL, 2008)

O Modelo de Dahlgren e Whitehead, descreve as relações entre os fatores sociais e a saúde coletiva e individual, com suas características individuais de idade, sexo incluiu fatores genéticos que, evidentemente, exercem influência sobre seu potencial e suas condições de saúde. (Figura 1) Na camada imediatamente externa aparece o comportamento e os estilos de vida individuais. Esta camada está situada no limiar entre os fatores individuais e os determinantes sociais de saúde, já que os comportamentos, muitas vezes entendidos apenas como de responsabilidade individual, dependentes de opções feitas pelo livre arbítrio das pessoas, na realidade podem também ser considerados parte dos determinantes, já que essas opções estão fortemente condicionadas por determinantes sociais: como informações, propaganda, pressão dos pares, possibilidades de acesso a alimentos saudáveis e

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Figura 1. Determinantes sociais: Modelo de Dahlgren e Whitehead

Fonte: PHYSIS: Rev. Saúde Coletiva, 2007.

A rede social pessoal pode ser definida como a soma de todas as relações que um indivíduo percebe como significativas ou define como diferenciadas da massa anônima da sociedade. Essa rede corresponde ao eixo interpessoal e contribui substancialmente para seu próprio reconhecimento como indivíduo e para sua auto-imagem.

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2. O PAPEL DO IDOSO NA FAMÍLIA CONTEMPORÂNEA

Caminhos da Reflexão do Pensamento: Objetivos, Sujeitos, Procedimentos de Coleta

2.1. Aspectos da metodologia

Neste capítulo, serão apresentados os fundamentos teóricos que sustentam as nossas interpretações e norteiam os caminhos da investigação. O estudo teve como objetivos:

• Refletir sobre as modificações pelas quais a família brasileira tem passado e a repercussão dessas mudanças no papel do idoso na família contemporânea;

• Identificar os aspectos culturais, sociais e subjetivos do idoso e sua família;

• Conhecer a dinâmica familiar e suas significações para o idoso e;

• Compreender como a família do idoso se estrutura, seu desenvolvimento e funcionamento.

Com enfoque no objeto de estudo optou-se por pesquisar pequenos grupos (idosos e seus familiares) dado que nossos objetivos dizem respeito a procurar entender como eles vêem o mundo e organizam seu cotidiano.

Tratou-se de um trabalho interpretativo ancorado em pesquisa de campo, observação participativa daqueles pequenos grupos; optamos por uma abordagem qualitativa, opção coerente com a nossa proposta. No caso deste trabalho, tal opção justifica-se por trabalhamos com os significados que as pessoas atribuem às suas experiências no mundo social - incluído aí o mundo familiar - e como elas compreendem esse mundo; por outras palavras, nesta pesquisa buscamos compreender os fenômenos sociais em termos dos sentidos a eles atribuídos pelo nosso segmento de interesse. (MINAYO, 2009)

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entretanto, reforçar que nosso trabalho, que se desenvolve numa perspectiva da Antropologia, pretende buscar uma “descrição densa”, tal como é definida por Geertz (1989).

Para realizar esse tipo de estudo, foi utilizada a técnica de observação participativa (às vezes entendida como de “participação observante”, denominação que traduz bem a nossa posição profissional para entrada nas famílias). Essa técnica nos permitiu tentar ver o mundo com os olhos dos nossos atores e observar algumas de suas ações e experiências nesse mundo.

2.1.1. Local da pesquisa

O estudo foi realizado com idosos que participaram de atividades de uma Clínica Escola vinculado a uma Instituição de Ensino Superior, localizada no bairro de Itaquera, Zona Leste do Município de São Paulo.

Levantando alguns dados da história do bairro, encontramos que o nome Itaquera é de origem tupi e quer dizer "pedra dura". A data de fundação do Bairro ainda é uma incógnita. A primeira referência de que se tem notícia é de 1686, quando o nome aparece em uma Carta de Sesmaria. No entanto, data de 1820, a primeira referência sobre a povoação de Itaquera, onde existia um simples e precário rancho conhecido como a "Casa Pintada". Ali os viajantes paravam para descansar e reabastecer-se de provisões. A povoação de Itaquera começa a se desenvolver mesmo a partir da inauguração da estação de trem local, no dia 6 de novembro de 1875, data escolhida pela comunidade como a do aniversário, apesar de toda a polêmica em torno da verdadeira idade. (SÃO PAULO, 2011)

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A figura 2 apresenta o mapa da Cidade de São Paulo dividido em 31 subprefeituras com destaque para a área de abrangência da subprefeitura de Itaquera, localizada na região leste da cidade. (SÃO PAULO, 2010)

Figura 2. Mapa da Cidade de São Paulo e da área de abrangência da Subprefeitura de

Itaquera. São Paulo, 2010.

Fonte: Prefeitura do Município de São Paulo – Secretaria Municipal de Planejamento.

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Tabela 1. Dados referentes à extensão territorial e população dos distritos da Subprefeitura de Itaquera. São Paulo, 2011.

Subprefeitura Distritos Área (km²) População (2010)

Itaquera

Cidade Líder 10,55 126.597

Itaquera 14,64 204.871

José Bonifácio 14,47 124.122

Parque do Carmo 15,66 68.258

TOTAL 55,32 523.848

Fonte: Prefeitura do Município de São Paulo – Secretaria Municipal de Coordenação de Subprefeituras. (http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/subprefeituras/subprefeituras/dados_demograficos/index.php?p=12758)

A clínica escola, a qual nos referimos anteriormente estava localizada no distrito de Itaquera, foi escolhida por realizar atenção primária contínua nas especialidades básicas, com uma equipe interdisciplinar habilitada nas atividades de promoção, proteção e recuperação da saúde, favorecendo o desenvolvimento do trabalho. A prestação de serviços junto à comunidade buscava estabelecer relação entre a formação e capacitação profissional, e as necessidades e demandas locorregionais, visando à transformação de cenários e dos espaços de atuação. As atividades desenvolvidas pela equipe de saúde compreendiam a territorialização, atendimento domiciliário, consulta, educação em saúde, atividade física, cultural e de lazer.

O trabalho com idosos na clínica escola foi introduzido em agosto de 2006; a partir desse período, fomos desenvolvendo ações diferenciadas e que tinham como principal objetivo melhorar a qualidade de vida do idoso. Participei da implantação de todas as atividades desenvolvidas na clínica escola, o que contribui para uma aproximação do objeto do estudo. Em 2010 as atividades desenvolvidas pela clínica escola foram suspensas, continuei participando como voluntária das atividades com os usuários em espaços oferecidos pela própria comunidade o que favoreceu minha entrada em campo.

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O método observacional documentou tudo o que foi vivido ao longo da convivência com os sujeitos da pesquisa. A convivência com os sujeitos da pesquisa foram de quatro anos; o tempo disponibilizado com os sujeitos permitiu conhecer diferentes períodos de tempo, isto garantiu que os dados foram coletados em momentos diversos e com uma riqueza maior de informações. O método forneceu descrições detalhadas da coleta e da análise dos dados. A análise de dados começou na fase da coleta de dados da pesquisa, os dados iniciais informaram o desenvolvimento da codificação das categorias. As categorias emergentes foram testadas durante todo o trabalho de campo. Terminada a fase das entrevistas e a partir das interpretações dos depoentes, formulei a segunda interpretação. Os depoimentos foram registrados em áudio com o consentimento dos entrevistados, e as fitas transcritas na íntegra; o diário de campo permitiu o registro das observações realizadas durante as entrevistas.

2.1.2. Os sujeitos da pesquisa

Tratou-se de uma pesquisa qualitativa, na qual os números não se fizeram o mais importante, importante identificar algumas diretrizes para incluir as famílias para o estudo. As famílias escolhidas preencheram as seguintes indicações para o estudo:

• A família do idoso estava vivenciando modificações no aspecto social (aposentadoria; emprego, voluntariado, viuvez, dificuldade financeira);

• A família tendo o idoso como o principal provedor (a renda familiar está centrada na aposentadoria do idoso);

• O idoso como cuidador dos netos e a família como cuidadora do idoso e;

• O idoso estava vivenciando experiências motivadoras.

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Os dados foram coletados por meio de entrevista (Apêndice A), buscando apreender a estrutura, o desenvolvimento e a função da família e do idoso. A pesquisa de campo foi realizada no domicílio dos idosos e seus familiares, após o consentimento prévio; a observação participante se fez graças à relação de confiança já existente e também comunicada e permitida. A aproximação anterior com os sujeitos da pesquisa facilitou a entrada em campo e o desenvolvimento da pesquisa.

A entrevista semi-estruturada constou de perguntas abertas. Esse modelo de entrevista dá ensejo a um diálogo entre o pesquisador e o sujeito. A entrevista, como disse acima, foi realizada no próprio domicílio dos sujeitos da pesquisa, agendadas previamente pelo pesquisador, após terem acesso ao Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Apêndice B).

A observação participante possibilitou estabelecer novas relações entre o observado, o que foi relatado e vivido pelos idosos e seus familiares, a partir dos significados atribuídos a esses sujeitos e as suas experiências no papel que desempenham. A observação permitiu uma aproximação maior entre os sujeitos e o pesquisador, por meio do contato direto no seu espaço de residência, no contexto natural. Foi necessário compartilhar com os sujeitos suas realidades, identificando-me com eles e podendo avaliar identificando-melhor o significado de suas ações, sentiidentificando-mentos e percepções acerca de experiências vivenciadas. Por meio da observação, foi possível verificar o ambiente, as relações familiares, as práticas e ações dos idosos e seus familiares. Foi possível conhecer as formas de comunicação entre os idosos, familiares e rede social.

O roteiro de entrevista foi constituído por perguntas abertas (este roteiro foi entendido como um conjunto de provocações para o diálogo e no limite, lembretes, para que fosse possível ter um material passível de comparação). Com a finalidade de favorecer uma compreensão ampliada das interpretações sobre o idoso e a sua família, as entrevistas foram individuais em momentos distintos, garantindo sempre a privacidade, no que diz respeito aos itens:

a) Papel do idoso (segundo ele mesmo) na família;

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c) O significado da (sua) família para o idoso;

d) As principais mudanças observadas pelo idoso na família contemporânea e;

e) Avaliação da família dos idosos (desenvolvimento, estrutura e funcionamento).

Tendo a população já delimitada, reuni informações sobre cada sujeito. Mesmo com poucos sujeitos, a pesquisa qualitativa pode gerar uma grande quantidade de dados. Por essa razão, o estudo baseou-se num número modesto de sujeitos. (POPE e MAYS, 2005)

Foi realizado um pré-teste com a população escolhida, que serviu para orientação das entrevistas subseqüentes, ao aprofundamento do referencial teórico e condução da análise comparativa do conteúdo.

Os participantes que se dispuseram a dar entrevistas tiveram os nomes originais substituídos por fictícios. Os nomes foram substituídos por nomes de flores. O motivo da substituição além da preservação dos sujeitos da pesquisa foi pela simbologia das flores. Uma simbologia antiga e profunda. A flor é considerada um elemento feminino, ligado a criação, fertilidade e o ao nascimento. As flores que nomearam as entrevistadas neste estudo significam a “beleza”, “perfeição”, “doação”, “amor”, a “glória”, a “alegria” e a “vida”.

Para facilitar a exposição dos dados referentes aos sujeitos, optei pela construção de um quadro.

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Quadro 1. Caracterização dos sujeitos da pesquisa quanto à idade, naturalidade, estado civil, número de filhos, religião, profissão, escolaridade, habitação e renda. São Paulo, 2011.

NOME IDADE NATURALIDADE ESTADO CIVIL FILHOS Nº DE RELIGIÃO PROFISSÃO ESCOLARIDADE COABITAÇÃO RENDA

Girassol 63 Cearense Casada 4 Evangélica Dona de Casa Analfabeta Mora com o esposo e a irmã Dois salários mínimos

Jasmim 73 Cearense Separada 0 Evangélica Aposentada Costureira Analfabeta Mora com a irmã e o cunhado Um salário mínimo

Gérbera 63 Pernambucana Casada 5 Evangélica Dona de Casa Fundamental Incompleto Mora com esposo e filho Três salários mínimos

Margarida 73 Baiana Viúva 9 Evangélica Dona de Casa Aposentada Analfabeta Mora com a filha e o neto Dois salários mínimos

Magnólia 63 Baiana Casada 4 Evangélica Costureira Fundamental Incompleto Mora com esposo e dois netos Dois salários mínimos

Angélica 66 Paulista Divorciada 3 Espírita Auxiliar de Enfermagem Aposentada Ensino Médio Completo Mora sozinha Quatros salários mínimos

Lótus 61 Pernambucana Casada 3 Católica Dona de Casa Fundamental Incompleto Mora com esposo Três salarios mínimos

Prímula 80 Sergipana Viúva 3 Evangélica Dona de Casa Fundamental Incompleto Mora com o filho e duas netas. Três salários mínimos

Violeta 83 Baiana Viúva 4 Evangélica Costureira Analfabeta a filha e o neto Mora com Dois salários mínimos

Cravo 65 Baiano Divorciado 4 Evangélico Aposentado Fundamental Incompleto Mora com a filha, genro e neta Três salários mínimos

Palma 75 Paulista Divorciada 3 Espírita Costureira Fundamental Incompleto Mora com o ex-marido Três salários mínimos

Frésia 72 Cearense Viúva 4 Católica Doméstica Analfabeta Mora com a filha Três salários mínimos

Alfazema 66 Mineira Viúva 4 Evangélica Dona de Casa Fundamental Incompleto Mora com a irmã e dois netos Três salários mínimos

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Lendo o quadro são, portanto, 13 (treze) idosos entrevistados sendo 12 (doze) mulheres e um homem. Deste conjunto quatro mulheres são casadas e vivem com os maridos (uma separada vive com o ex- marido); quatro são viúvas e as demais divorciadas e uma separada. O único homem do grupo é divorciado. Quanto ao grupo de residência, apenas uma mulher vive sozinha, os demais entrevistados moram com um número variável de familiares de 1(hum) a 4(quatro), 5 (cinco) vivem com mais de 2(duas) pessoas, 3 (três) com mais de três pessoas, 2 (dois) com mais uma pessoa, 1(hum) com mais uma pessoa e 1 (hum) com mais de 4 (quatro) pessoas. A religião declarada predominante foi a Evangélica, 9 (nove) entrevistados, 2 (dois) se declaram católicas e 2 (dois) espíritas. Quanto à renda: 7 (sete) declararam viver com 3 (três) salários mínimos, 4(quatro) com 2(dois) salários mínimos; um declara viver com 4 (quatro) salários mínimos (vive sozinha e tem maior escolaridade dentre os entrevistados); 1(hum) declara receber apenas 1(hum) salário mínimo.

Quanto à escolaridade: 5 (cinco) mulheres são analfabetas, 7 (sete) possuem o ensino fundamental incompleto e uma tem ensino médio completo.

Dentre os entrevistados 4 (quatro) se declararam aposentados; 6 (seis) mulheres são “donas de casa” sendo 1(um) aposentado; 4 (quatro) são costureiras sendo 1(uma) aposentada; 1(um) auxiliar de enfermagem.

Apenas 2(dois) entrevistados são paulistas, os demais são majoritariamente vindos do nordeste (seis); quatro vindos da Bahia e uma de Minas Gerais.

As idades variaram de 61 a 83 anos, 7 (sete) tem entre 61 e 66 anos; 4 (quatro) entre os 72 e 73 anos e 2 (dois) possuem entre 80 e 83 anos.

Acredito que, além de apresentar a tabela 1 e comentá-la, seja importante também tecer alguns comentários sobre o perfil de cada sujeito. É o que apresentamos a seguir usando suas identificações florais.

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foi dona de casa, dedicando-se aos filhos e marido. Após a perda dos filhos apresentou um quadro depressivo que só veio a melhorar com sua participação na igreja. Seu marido é aposentado, recebe em torno de dois salários mínimos e é o pastor da igreja, que fica sobre a casa onde moram. Relata que após o fechamento da clínica escola, onde realizava atividade física e de artesanato, sente um vazio que ainda não foi preenchido.

Jasmim (sujeito 2) (significa sorte, doçura e alegria), 83 anos, separada, evangélica, Cearense, mora com a irmã mais nova, não teve filhos e foi abandonada pelo esposo. Trabalhou a vida toda como costureira é aposentada e recebe um salário mínimo por mês. Não têm possibilidade de morar só devido suas condições financeiras e saúde comprometida pela doença de Parkison e seqüelas de Acidente Vascular Encefálico. Acamada é dependente totalmente de cuidados. Paga suas contas e uma pessoa para dar banho, cuidar da higiene e cuidar de suas roupas. Vive muito triste, pois acredita dar muito trabalho para irmã, que não tem paciência e saúde para cuidar dela. Não se entendem e brigam o tempo todo, pois a irmã acredita que ela mesmo doente poderia colaborar mais. Sua maior vontade é poder andar novamente e fazer um café. Como acredita que isso não vai acontecer, disse estar se preparando para morte. Sua maior distração é assistir programas evangélicos na televisão e receber os irmãos da Igreja na sua casa para receber a palavra.

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doenças crônicas, quando vai para o sítio não sente nada. Quando precisa ir ao médico o seu esposo sempre a acompanha. Casada há 44 anos considera-o como um companheiro ideal.

Margarida (sujeito 4) (simplicidade, pureza, confiança e criatividade) 72 anos, viúva, analfabeta, evangélica, mora com a filha portadora de doença mental e o neto também portador de deficiência mental. Tem a guarda do neto (Robinho) desde seu nascimento, ele é totalmente dependente para as suas necessidades básicas. Aos 72 anos ela cuida da filha (51 anos) e do neto (23 anos) é responsável pela limpeza e organização da casa. Algumas vezes ainda toma conta da neta de cinco anos para sua nora trabalhar como diarista. Freqüenta diariamente a igreja evangélica, onde prática a evangelização. É aposentada e recebe um salário mínimo. Solicita ajuda para sua irmã mais nova que mora próxima a sua casa.

Magnólia (sujeito 5) (amor e simpatia), 63 anos, casada, evangélica, reside em casa própria, moram atualmente ela, o esposo, filho e um neto. Teve quatro filhos. Seu esposo recebe um salário mínimo de aposentadoria. Apesar de ter contribuído para INSS por 15 anos não tem direito a aposentadoria. Costura e faz tear para ganhar um dinheiro para contribuir nas despesas domésticas. Gosta de ir á igreja, faz parte do coral e gosta de sair para passear no centro de São Paulo, costuma fazer compras no comércio no centro da cidade de São Paulo (Rua 25 de março). Ajuda sua irmã Maria quando precisa ir ao médico ou levar a Lúcia (filha da Maria com doença mental). Relata que teve um acidente vascular encefálico, mas que isso não a impossibilitou de fazer as coisas que gosta. Os filhos têm medo que a mãe sai sozinha e acompanham sempre que possível.

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Figura 1. Determinantes sociais: Modelo de Dahlgren e Whitehead
Figura 2.  Mapa da Cidade de São Paulo e da área de abrangência da Subprefeitura de  Itaquera
Tabela 1. Dados referentes à extensão territorial e população dos distritos da Subprefeitura  de Itaquera
Figura 3. Genograma do sujeito 1 – Girassol, 63 anos. São Paulo, 2011.
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Referências

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