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Sistema Territorial: a dimensão sistêmica do território e a função sistêmica da inovação.

SUMÁRIO

3 DA POLÍTICA PÚBLICA DE C,T&I NO BRASIL

6.2 SISTEMA TERRITORIAL DE INOVAÇÃO EM ENERGIA ELÉTRICA:

2.1.1 Sistema Territorial: a dimensão sistêmica do território e a função sistêmica da inovação.

A partir da reflexão sobre a teoria geral dos sistemas, considerando os antecedentes na literatura sobre sistemas territoriais e o próprio conceito de território para a Geografia, Vasconcelos (2014, p. 114) define sistema territorial como “um todo organizado no qual agentes e espaço se relacionam para produção, manutenção e disputa de territórios por meio de territorialidades que se modificam dinamicamente ao longo do tempo”. Um sistema, de maneira geral, é uma totalidade dotada de organização interna e dinamicamente relacionada com meio exterior; um conjunto complexo que reúne elementos, ações e/ou indivíduos (entes) solidários, ligados por um fator condicional comum, que se inter-relacionam, de forma complementar e/ou conflituosa, em prol de uma finalidade específica no interior do conjunto geral da natureza (SAUSSURE 1931; MACIEL, 1974; MORIN, 1977; CHRISTOFOLETTI, 1979; VASCONCELOS, 2014).

singularidade da realidade geográfica, essencial ao entendimento de como os fenômenos se comportam em seu interior.

Uma vez que a teoria dos sistemas está fortemente vinculada às ciências da natureza, as dificuldades em transpormos as barreiras para sua aplicação quando tratamos especificamente de sistemas sociais começam pela multiplicidade de configurações possíveis. Isso porque a variabilidade da organização do sistema territorial será tão vasta quanto as possibilidades de a abstração humana responder aos desafios ambientais, a fim de suprir as necessidades e atingir os objetivos sociais. Como nos sistemas naturais, os sistemas territoriais compõem-se de

Elementos, a saber, os agentes12, o espaço e o território, sendo estes, respectivamente ator, local e resultado da ação no espaço; e suas Relações, ligações entre os elementos que proporcionam a emergência de novos atributos, inexistentes no âmbito individual, bem como “permitem a entrada de interferências externas e proporcionam a influência do sistema no ambiente” (VASCONCELOS, 2014, p.108-109).

Partindo deste arranjo, um elemento, ao ser internamente dotado de componentes e suas relações, é também um sistema e comporta-se, dependendo da escala de observação, como subsistema de uma entidade organizacional maior, ao mesmo tempo em que diz respeito ao conjunto geral da natureza, no contexto de sistemas territoriais pode ser associado a recortes em maiores escalas geográficas de observação, dos quais advêm fluxos material e informacional capazes de interferir e até regular o comportamento do (sub)sistema13. Ao mesmo tempo, um elemento pode integrar diferentes sistemas a partir da multiplicidade de relações e funções que possa desempenhar 14. Por essa razão, determinar os limites de um sistema é “um ato mental e depende da formação intelectual e da percepção ambiental apresentada pelo pesquisador” (CHRISTOFOLETTI, 1979, p 3), bem como do recorte definido para a pesquisa, o que é essencial à compreensão do fenômeno em estudo.

Cada sistema, enquanto conjunto, é dotado de Organização e Dinâmica, as quais definem os meios para a (re)produção social do sistema territorial com os fins primários de autogestão e permanência. A primeira serve de ferramenta para delimitar suas fronteiras, uma vez que define o pertencimento e a função exercida por cada componente, sendo responsável

12 Para a autora, os agentes dizem respeito não só a organizações, isto é, entes coletivos. Mas abrangem também “o indivíduo que exerce protagonismos, elabora estratégias territoriais e realiza mudanças no sistema do qual participa” (VASCONCELOS, 2014, p. 112)

13 O Sistema Pernambucano de Inovação é elemento e subsistema do Sistema Brasileiro de Inovação.

14 Isso é essencial quando tratamos especificamente dos sistemas territoriais de inovação: Nesse contexto, uma empresa é um sistema, o que é enfatizado pelos estudos sobre o comportamento inovativo das firmas e de seus setores, ao mesmo tempo, figura como um elemento do sistema (produtivo, setorial, econômico, social) de inovação como um todo, ao relacionar-se com outras organizações (subsistemas) a partir do que recebe a entrada de informações complementares que lhes permite inovar.

pela coerência que une os elementos em um todo, permitindo que o conjunto dure por um tempo; a segunda confere-lhe movimento e mutabilidade, a partir do que se observa o peso da história individual dos elementos e do sistema coletivamente e a variabilidade na composição, comportamento e função dos elementos no interior de cada sistema territorial. Dessa forma, surgem heterogeneidades na composição (que elementos integram o sistema); no comportamento relacional (como e com quais objetivos as relações entre os elementos/agentes se processa); nas instituições que pautam as escolhas sociais (que valores e normas regem o comportamento dos elementos); e nos resultados dessa configuração (como o conjunto se organiza, que funções exerce e como as executa), em que pesa a lógica social vigente, presente nas “subjetividades e nos sistemas político/cultural/histórico/social”, dentre outros (VASCONCELOS, 2014, p.87).

A variabilidade do sistema territorial se insere no aspecto funcional dos (sub)sistemas que o compõem, ainda mais tendo em mente a intencionalidade e o capital social dos atores (coletivos e indivíduos protagonistas) nas tomadas de decisões. Os conjuntos de funções que dinamizam o sistema territorial são realizados por elementos do território que se relacionam, isto é, por subsistemas ligados ao território, garantindo o exercício das atividades que o compõem, organizam e sustentam. A durabilidade e a influência do sistema territorial sobre seu meio será, neste sentido, tanto mais relevante quanto mais importante ele se torna no exercício de suas funções produtivas e reprodutivas e no quão essenciais essas funções são para o ambiente (o território) do qual o sistema participa.

As funções produtivas aqui mencionadas dizem respeito aos arranjos territoriais para a produção de bens, serviços, competências, ideias e conhecimento que mantém o sistema em funcionamento e proporcionam o suprimento das necessidades internas, a conquista e manutenção de espaço no mercado por parte dos agentes/elementos; já as funções reprodutivas fazem referência as habilidades para conservar, aprender e esquecer, isto é, a capacidade dos atores manterem e modificarem práticas, costumes e normas sociais de acordo com os objetivos traçados para o desenvolvimento do sistema territorial. Isso diz respeito à presença de mecanismos eficientes de controle e decisão15 no território através das quais se reproduzem os valores que garantem a manutenção de padrões estabelecidos e o suprimento de ferramentas intelectuais para a concretização de projetos de futuro (LUNDVALL, 1982; CORREA, 2003).

15 As ferramentas de controle e decisão consistem em produzir no território ambientes de transmissão de ideias e valores, reprodução e reforço ideológico e elaboração de leis que devem reger o comportamento social e tolher condutas socialmente reprováveis.

Considerar as diferenças entre os territórios, torna-se, nesse contexto, essencial para a definição das estratégias de gestão, tanto empresarial quanto pública, adensando a importância de estruturas físicas, intelectuais e ideológicas que conduzam ao avanço em C&T e impulsionem a dinâmica inovativa, tornando ciência, tecnologia e inovação elementos do território e as práticas ligadas ao seu desenvolvimento, aplicação social e econômica, funções produtivas e reprodutivas essenciais para cada sistema territorial. Tais funções são territorialmente desempenhadas de forma sistêmica, legitimando o conceito de Sistema Territorial de Inovação.

Sistema de inovação é uma construção, produto de uma ação planejada e consciente ou de um somatório de ações desarticuladas, que impulsiona o progresso tecnológico em economias capitalistas complexas, viabiliza o fluxo de informação entre produtores de ciência e tecnologia e os setores da economia, assim como proporciona o arcabouço no qual governos formulam e implementam políticas para influenciar o processo de inovação (METCALFE, 1995; ALBUQUERQUE, 1996; RUBIO, TSHIPAMBA, 2010). Constitui-se por elementos e relações que interagem na produção, difusão e uso de conhecimento novo e economicamente útil (LUNDVALL, 1992).16

De acordo com Edquist (2004), os componentes do sistema de inovação pertencem a dois grupos de fatores: Organizacionais e Institucionais. Os primeiros compõem-se dos atores (Estado, universidades e outros institutos de ensino, pesquisa e formação profissional, setores produtivos, sistema financeiro, e suas respectivas competências). Tais organizações são também elementos (agentes) do sistema territorial. O segundo grupo de fatores é constituído pelo conjunto de valores, leis, regulamentos e normas de conduta no qual os atores estão inseridos e ao qual as atividades de produção e consumo de bens, serviços, conhecimento e inovação estão submetidas. As instituições orientam o comportamento de indivíduos e organizações17. Originam-se, portanto, de padrões culturais, socialmente construídos, que tornam os sistemas que os abrigam mais ou menos propensos à inovação ao favorecer ou dificultar as interações entre as organizações, impulsionando ou inibindo o processo inovativo.

16 A definição do SNI, nas palavras de Vertova (2014), é passível de críticas segundo três aspectos: 1) A amplitude apontada por seus formuladores de vanguarda pode incluir quase tudo; 2) O fato do Estado e suas políticas não figurarem de forma explícita, apesar do papel relevante atribuído as instituições; 3) Não é claro se consiste em uma ferramenta descritiva ou normativa.

17 The reciprocal typifications of actions that constitute institutions always take place in the context of a shared history. The nature of the institution cannot be understood without a knowledge of the historical process in which it was produced. Institutions also channel and define human conduct by subsuming it under social control (Gertler; Wolfe, 2002).

Como cada inovação muda o comportamento do sistema, a descrição do elenco de sua composição tende a obsolescência, reforçando o desafio da construção de Políticas Públicas de C,T&I na elaboração de estratégias que atraiam e promovam dinamismo nos sistemas de inovação, tornando-os aptos ao continuado exercício de aprender a aprender e aprender a esquecer comportamentos, rotinas e valores em benefício das atividades de produção e aplicação socioeconomicamente útil do conhecimento científico-tecnológico (LUNDVALL, 1996). Dadas as características complexas e sua variabilidade espaço-temporal, é impossível a construção de um modelo para o SNI que abrigue a totalidade de elementos que o compõem e seja de aplicação universal, o que os formuladores do conceito abordam como decisivo para o entendimento dos sistemas de inovação enquanto ferramenta teórica e não com modelo a ser seguido. Alguns elementos, no entanto, aparecem no geral das estruturações propostas para o SNI, conforme descrito na Figura 2

Figura 2 - Composição do Sistema Nacional de Inovação

Independentemente de não reunir a integralidade dos componentes do SNI, o esquema da Figura 2, construído por Arnold (2004), traz importantes informações acerca de suas características. A composição do sistema de inovação é formada por elementos do território, agrupados em subsistemas do sistema territorial que interagem, mediados por relações de poder e com base em um conjunto de condições e instituições, de igual modo, presentes no território. Cada um desses subsistemas é, individualmente, responsável por desempenhar uma série de papeis que criam os meios para a manutenção da organização e dinâmica territorial. Já, coletivamente, cooperam a fim de realizar as atividades de produção, troca e difusão do conhecimento que correspondem a “função inovação”, o que legitima a compreensão de que o processo inovativo se dá no território e de forma sistêmica, como ilustra Fernandes (2011) em seu esquema para Sistema Territorial de inovação (Figura 3).

Figura 3 - Sistema Territorial de Inovação

Fonte: Fernandes, 2011

Cavalcante (2012, p.49) entende o STI como “sistema de inovação ancorado em um território específico... [representado pelo] conjunto de componentes sistêmicos necessários para o processo inovativo, cujo funcionamento – e resultado – difere de território para território em virtude das especificidades de cada um”. O conceito de Sistema Territorial de Inovação apresentado por Fernandes (2011) nos leva a compreensão de que, no território estão os componentes e as relações que configuram um sistema dedicado à função de inovação, por realizarem as ações de produção, troca, difusão e aplicação do conhecimento; experimentação,

prototipação e produção tecnológica; desenvolvimento de produtos, processos, serviços e mercados novos e/ou melhorados.

Este processo se dá fazendo uso dos recursos físicos e sociais (infraestrutura, competências e cultura), assim como das estruturas para sua apropriação, ambos à disposição no território, a partir dos quais os agentes localizam-se e desempenham suas atividades, tendo, contudo, seu acesso baseado no atendimento às condições de pertencimento ou de cooperação entre atores de diferentes territórios, e submetido à observação de um conjunto de leis, normas e regras que regulamentam as relações no sistema territorial. Ao mesmo tempo em que os atores interferem no território ao sedimentar estruturas e competências dedicadas a implementação de suas estratégias em seu interior, as quais modificam a dinâmica até então vigente no sistema, reciprocamente, a organização socioespacial e o conjunto de regras, leis e rotinas presentes no território influem sobre o comportamento dos atores, interferindo no uso de seus recursos e competências. Essa dinâmica estabelece as bases para produção, apropriação, difusão e uso de inovações no território, o que se baseia em um conjunto de interações mediadas por relações de poder que materializam o território e se embatem na definição de quais interesses e demandas mobilizarão as estruturas socioprodutivas.

A definição do Sistema Territorial de Inovação parte do entendimento de C,T&I como um processo socialmente embasado, o que o configura, enquanto engrenagem propulsora do capitalismo em economias complexas nas quais a velocidade do progresso científico- tecnológico é progressivamente ampliada, como uma construção dependente da articulação e combinação de diferentes e complementares formas de conhecimento, detidas por atores socioeconômicos entrelaçados em uma estrutura sistêmica que influí sobre o desempenho dos indivíduos e organizações.

Nesse contexto, tanto os esforços presentes para sedimentar no território as estruturas, competências e cultura necessárias a impulsão da dinâmica inovativa, o que implica em construir e atrair detentores de conhecimentos capazes de cooperar para inovação, dependem da condições alicerçadas no passado, quanto as estratégias presentes edificam no território as condições que embasarão o processo de produção e uso de C,T&I no futuro, “not only the flow of knowledge but the socially and internally influences behavior and economics outcomes” (LUNDVALL, 1992). Assim, no território são continuamente fixados ciclos de reforço, positivo e negativo, que constroem o embasamento que impulsiona ou inibe a inovação intramuros, bem como define a representatividade do (sub)sistema territorial no conjunto mais amplo do qual é parte e nas estruturas intraterritoriais sob sua liderança, como espessam as

relações (setas a cima e abaixo) expostas na Figura 3, indicativas das influências e interferências oriundas de diferentes escalas (NORTH, 1990; ROSEMBERG, 1976; FERNANDES, 2011).

Uma vez que se trata de um sistema social, há uma grande diversidade no interior dos sistemas territoriais de inovação, conforme constatado por Nelson (1993) ao comparar os SNI de quinze países, encontrando entre eles marcantes diferenças de acordo com as especificidades da estrutura econômica, das organizações produtoras e difusoras de conhecimentos e das instituições que norteavam o comportamento social em cada lócus. Esta diversidade está atrelada a presença e concentração de estruturas e atores envolvidos, de forma coletiva e interativa, na produção científico-tecnológica, a partir do que, de acordo com Albuquerque (1996), os sistemas de inovação são classificados18.

Em países onde a produção e reprodução social do território acompanhou historicamente a evolução do capitalismo, o desenvolvimento do sistema de inovação reuniu muitas áreas de conhecimento e atividades produtivas em uma densa rede de interações das esferas científico- tecnológicas, vital para o estímulo à dinâmica inovativa e para a participação competitiva na economia baseada em conhecimento. No caso dos países em desenvolvimento, com SNIs imaturos, logo marcados pela defasagem histórica do processo de industrialização, tais interações mostram-se mais pontuais, reunindo, de forma mais densa, poucos setores econômicos (SUZIGAN; ALBUQUERQUE, 2011) o que de acordo com Freeman e Soete (1997), Erber (2000), Feldmann (2009) e Fernandes et al (2011), atribui-se a alguns fatores: 1 O atraso na construção de uma base industrial de bens duráveis e intermediários de maior

complexidade tecnológica;

2 O alto índice de importação tecnológica acompanhada de reduzido esforço de produção ou mesmo de absorção dessas tecnologias, provocando limitada articulação entre atividades científicas e tecnológicas;

3 A base econômica tradicional, notoriamente configurada por reduzido grau de sofisticação

18 Segundo o autor, estes podem ser divididos em três categorias: os sistemas maduros, presentes nos países de capitalismo avançado cuja composição e dinâmica do SNI lhes garante a dianteira do progresso tecnológico internacional; os sistemas catching up que estão em processo de maturação e tornaram-se habilitados a absorver criativamente os avanços científico-tecnológicos recentes e difundir inovações; e os sistemas imaturos marcados por grandes lacunas estruturais e a baixa presença de uma cultura inovativa, promovendo poucos vínculos entre as esferas científica (universidades, centros de P&D) e tecnológica (setor produtivo em geral). Chama-nos atenção a centralidade do aspecto relacional, essencial no contexto da inovação, sob diferentes perspectivas: 1) o estimulo à dinâmica inovativa demanda a articulação de um conjunto de informações disponíveis em diferentes áreas da atividade social e de conhecimento; 2) a ciência fornece oportunidades tecnológicas para a inovação industrial; 3) é no setor produtivo que a tecnologia se concretiza pela verificação e aplicação prática do conhecimento, dele partem as questões a serem respondidas pelas organizações científico-tecnológica e os equipamentos de pesquisa que promovem o avanço da ciência (NELSON; MOWERY; ROSENBERG, 1993; KLEVORIK et. al., 1995; SUZIGAN; ALBUQUERQUE, 2008).

tecnológica e pela baixa intensidade dos esforços privados em P&D (destinação de capital de risco com vistas à inovação e emprego de capital humano de alta qualificação);

4 A desproporção entre o peso econômico da região e os esforços feitos em C&T, sejam eles expressos pelos gastos com P&D ou pelo número de publicações científicas e patentes; 5 As características do Estado que, em geral, alia uma política protecionista, reduzindo a

importância de esforços com vistas à inovação como estratégia concorrencial das empresas, à falta de direcionamentos e objetivos de longo prazo para a C,T&I;

6 O melhor desempenho em atividades científicas do que em atividades tecnológicas devido à persistência de uma visão das universidades como produtoras de conhecimento e formadoras de mão de obra, mas pouco ajustadas às necessidades e demandas do setor produtivo.

Cada sistema territorial representa uma materialização espacial específica da sobreposição de eventos no tempo, mediados por relações de poder, que lhe particularizam, produzindo arcabouços nos quais as atividades de produção, absorção, apropriação, difusão e uso social e economicamente útil de C,T&I é potencializado ou impedido. Os objetivos e estratégias que nortearam o processo de formação territorial, onde figuram a lógica particular com a qual cada sociedade respondeu aos desafios ambientais e históricos; a intencionalidade dos atores protagonistas e sua habilidade em conduzir os interesses; os antecedentes econômicos, bem como as estratégias mais recentes para o desenvolvimento deixam rugosidades que fazem cada território profícuo ou incipiente na construção e fixação de atores, estruturas e valores capazes de estimular a dinâmica inovativa pela cooperação (STORPER, 1997; CORREA 2003; PUTNAM et al., 2005).

Criam-se, desta feita, distinções quanto a presença, densidade e comportamento dos fatores organizacionais e institucionais presentes no território, marcando o heterogêneo potencial espacializado para a maximização da acumulação pela inovação. Potencial este que passa a figurar como elemento essencial à definição de sua relevância no contexto mais geral da economia regional/nacional/global e fator a ser considerado na divisão territorial do trabalho. A concentração local/regional de um arsenal de competência de alta qualificação capazes de produzir e absorver conhecimento novo e economicamente útil; a disponibilidade de estrutura de pesquisa e investimentos para produção de C,T&I; a presença de uma estrutura produtiva demandante de conhecimento novo; de uma cultura de inovação que leve os atores que nela estão imersos a valorizar e empenhar-se para a construção de interações entre instituições científico-tecnológicas e o setor produtivo, ou seja, entre a produção e a aplicação

socioeconômica de conhecimento; a adaptabilidade institucional que permita a transformação social de regras comportamentais, que impedem ou retardam os esforços cooperativos com vistas a inovação, são elementos importantes na definição dos papeis nesta divisão territorial do trabalho com vistas a apropriação das desigualdades socioespaciais (GERTLER; WOLF, 2002). Conforme Feldmann (2009, p. 123-124):

A geografia desempenha um papel fundamental no processo de inovação e aprendizagem, na medida em que as inovações na maioria das vezes são menos o resultado de empresas individuais e sim de um conjunto de recursos, conhecimentos e outros inputs e capacidades que estão localizados em lugares específicos. A reunião destes inputs como pesquisa e desenvolvimento das universidades e das empresas, aglomeração de empresas manufatureiras em setores afins, e network de provedores de serviços acaba por criar economias de escala, facilidades no compartilhamento de conhecimento, e fertilização cruzada de ideias promovendo interações face-to-face que acabam por permitir a verdadeira transferência de tecnologia…

A heterogênea presença do conjunto de recursos mencionados por Feldmann (2009) são indícios de que o potencial inovativo está articulado às características presentes no território, as