• Nenhum resultado encontrado

3.4 SISTEMAS DE INFORMAÇÃO NA ATENÇÃO BÁSICA DO SUS

O aparato legal do Sistema Único de Saúde implementado através da Constituição de 1988 e pelas Leis 8.080/90 e 8.142/90 determina que a descentralização e a participação popular sejam diretrizes a serem executadas pelos três níveis de governo, a saber: União, Estados e Municípios. Os municípios são considerados entes governamentais autônomos e com responsabilidades pelo planejamento, organização, controle e avaliação das ações dos serviços de saúde de seus respectivos territórios. Ainda, na Lei 8.080/90, entre outras atribuições de caráter comum aos três níveis de governo, está a organização e a coordenação do sistema de informação em saúde. A finalidade da informação consiste em identificar problemas individuais e coletivos do quadro sanitário de uma população, fornecendo elementos para análise de situação encontrada e obtendo subsídios para a busca de possíveis alternativas. As informações em saúde englobam as relativas ao processo saúde-doença e as de caráter administrativo, todas fundamentais para o processo decisório do setor saúde (BRANCO, 1996).

Um sistema de informação em saúde pode ser conceituado como um

instrumento para adquirir, organizar e analisar dados necessários à definição de problemas e riscos para a saúde, avaliar a eficácia, eficiência e influência que os serviços prestados possam ter no estado de saúde da população, além de contribuir para a produção de conhecimento acerca da saúde e dos assuntos a ela ligados” (WHITE, 1980 apud BRANCO, 1996).

No Brasil, historicamente a produção e utilização da informação em saúde, com o objetivo de situar a realidade sanitária municipal, na maior parte dos casos, foram realizadas pelos governos federal e estadual, sem a participação do município. O município tem a responsabilidade, com amparo legal, de produzir, organizar e coordenar a informação em saúde na sua região e em conjunto com estados e união (BRANCO,

1996).

Segundo ALMEIDA (1998), a produção de informações em saúde no nosso país deu-se historicamente de forma centralizada. A autora apresenta quatro possíveis razões para tal fato: a) no inicio dos anos 60, a centralização da produção de informações foi adotada como estratégia nacional para a padronização e melhoria da qualidade das estatísticas no país; b) a tecnologia de informática disponível no momento da criação dos sistemas de informações baseava-se em computadores de grande porte (mainframes), fator esse que contribuía para a forte centralização da informação; c) existência de poucas pessoas qualificadas para a gestão e produção de informações; d) forte centralização política durante o período da ditadura militar vigente no país, momento em que muitos dos sistemas foram iniciados.

É possível observar que a implantação de sistemas de informação em saúde por meio de instrumentos padronizados de coletas de dados no país é recente. Portanto, vários municípios estão iniciando um processo de construção de sistemas de informações que atenda a grande complexidade das atividades executadas no âmbito da atenção básica do sistema único de saúde.

Segundo CARVALHO e EDUARDO (1998), gerenciar um serviço de saúde significa cuidar de aspectos organizacionais e funcionais, semelhante à qualquer unidade empresarial. Mas, além dos aspectos funcionais e organizacionais, na saúde há também, principalmente, os aspectos gerados pela prática de saúde, isto é, toda a atividade executada envolvendo o ato clínico, o indivíduo ou a coletividade. Os sistemas de informação em saúde subsidiam a atividade de gerência do sistema de saúde, através das informações sobre a condição do doente, do meio-ambiente e de outros fatores que interferem no processo saúde-doença e que configuram os sistemas de informação em saúde. Essas características específicas do setor saúde exigem para a implementação e execução dos sistemas de informação, uma fundamentação clínica e epidemiológica em planejamento, programação e avaliação em saúde, além dos conhecimentos em sistemas de informação (SI) e tecnologias da informação (TI).

Os sistemas de informação em saúde deverão produzir dados sobre a doença do indivíduo e seu perfil na comunidade, sobre as causas e condições que propiciam sua gênese, sobre a atividade clínica, condutas e normas técnicas, tecnologias em saúde utilizadas, ações programáticas e resultados, como extensão e impacto das ações na população ou grupos de risco. Assim, a construção, desenvolvimento e gerência dos sistemas de informação em saúde exigem equipes multiprofissionais, onde possam convergir os vários saberes técnicos para essa construção, sem desconsiderar a opinião de usuários (CARVALHO e EDUARDO, 1998).

Vários são os desafios para a construção de sistemas de informação na atenção básica do sistema único de saúde no Brasil. Dentre os vários desafios podem-se destacar alguns. Um primeiro desafio é a construção de um prontuário eletrônico do paciente (PEP), instrumento informacional fundamental para uma gestão integrada de atenção à saúde. O PEP deve proporcionar um conjunto de dados sobre o indivíduo, sempre garantindo a conduta ética e o direito à privacidade do paciente e dos profissionais que o atendem, bem como os meios avançados de representação de conceitos médicos com objetivo de integração posterior das informações. Várias são as razões para a adoção de prontuário eletrônico: a) a qualidade do prontuário aumenta, tornando-se legível, completo e padronizado; b) a comunicação entre os profissionais da equipe de saúde é facilitada, aprimorando a qualidade da atenção e do serviço; c) a auditoria médica é facilitada e mais acurada; d) a pesquisa clínica é facilitada; e) as estatísticas em nível local, regional e nacional tornam-se possíveis, mais rápidas e precisas (STUMPF e col., 1998)

Para melhoria contínua da qualidade e eficiência da assistência ao paciente é necessário: a) criar uma base de dados capaz de prover um registro do paciente contínuo, integrado e informatizado, que contemple todos os dados de maior relevância e diretamente acessível por todos os profissionais autorizados todo o tempo; b) prover comunicação imediata e contínua destas informações entre todos os serviços de saúde,

administrativo e de apoio, dentro e fora das unidades de saúde; c) apoiar todas as funções do provedor de cuidados médicos, incluindo o processamento de ordens (prescrição, solicitação de exames), impressão de relatório, registro da história e do exame físico, relatórios de procedimentos; d) prover apoio a decisão médica e administrativa; e) estabelecer e manter arquivos para funções administrativas e gerenciais, incluindo registro de pacientes, controle de admissões, marcação de consultas, sistemas de pessoal, controle de estoques, etc; f) apoiar a pesquisa e o ensino (COLLEN MF apud STUMPF e col.,1998). O prontuário eletrônico pensado e concebido, como base para um sistema integrado e disponível de informações para os serviços de atenção à saúde, suscita a disponibilidade de uma rede de computadores, equipamentos especializados e periféricos diversos, distribuídos por todas as instituições envolvidas com atividades de atenção à saúde dentro do SUS, com sistemas providos de interfaces amigáveis, com recursos que ofereçam acesso a textos como história clínica, evolução e alta médica; imagens como raio-x, tomografias e sinais como eletrocardiogramas, oferecendo assim suporte às decisões dos diversos níveis de atenção à saúde e permitindo aos diversos usuários o acesso à informação de qualquer lugar, a qualquer momento e de várias e diversificadas fontes (BALL MJ E COLLEN MF apud STUMPF e col., 1998).

Outro desafio para a atenção básica no SUS é a construção e a utilização de sistemas de apoio à decisão. Sistemas de informação são ferramentas e apoio à tomada de decisão no cotidiano dos serviços de saúde. As Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) têm oferecido nos últimos anos cenários de amplas perspectivas para sua utilização como plataforma tecnológica, base para sistemas de suporte à decisão. Para o complexo processo de tomada de decisão na área da saúde é necessário um conjunto de dados, informações e conhecimentos, cujo volume e precisão estão muito além da capacidade dos responsáveis pela assistência e atenção nos serviços de saúde. Ferramentas de apoio à decisão, viabilizadas pelas TICs e através de sistemas de informação sobre indivíduos e populações, além de prover informações individuais e coletivas, oferecem meios de comunicação e de distribuição da inteligência exigida para a tomada de decisão para a assistência efetiva e eficiente. Essa inteligência digitalizada

e distribuída, isto é, inteligência compartilhada e distribuída entre profissionais que integram os serviços de saúde possui caráter estratégico para o processo de tomada de decisão (STUMPF e col., 1998)

4 - TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO E O