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Conforme visto, no decorrer do tempo a pena de prisão passou a ser a pena por excelência, mais aplicada no direito penal. Baseado nisso surgiram teorias filosóficas e religiosas que buscavam explicar a sua aplicação, fundamentação e finalidade, seus reflexos na sociedade e no Estado. Analisaremos os sistemas pensilvânico, filadélfico ou celular, auburniano e progressivo.

2.4.1 Sistema Pensilvânico, Filadélfico ou Celular

O primeiro grande sistema penitenciário foi o da Filadélfia, conhecido como sistema filadélfico ou pensilvânico, caracterizado pelo rigor externo, absoluto isolamento de dia e de noite, recebendo o preso, visitas apenas do capelão, do diretor ou guarda da prisão. Era uma prisão tumular, em vida.

Neste sistema penitenciário foram utilizadas convicções religiosas e bases do Direito Canônico para estabelecer uma finalidade e forma de execução penal. O condenado deveria ficar completamente isolado em uma cela, sendo vedado todo e qualquer contato com o meio exterior. Por isso tal sistema é conhecido como sistema celular. Objetivava-se a expiação da culpa e a emenda dos condenados. Autorizava-se, tão-somente, passeios inconstantes no pátio da prisão e a leitura da Bíblia, para que o condenado pudesse se arrepender do delito praticado e, consequentemente, alcançar o perdão de sua conduta reprovável perante a sociedade e o Estado.

Bittencourt (2011, p. 78), ao analisar o sistema celular preleciona que “o início definido do sistema filadélfico começa sob a influência das sociedades integradas por quacres e os mais respeitáveis cidadãos da Filadélfia e tinha como objetivo reformar as prisões”.

Já Jesus (2004, p. 250) ensina que, “utiliza-se o isolamento celular absoluto, com passeio isolado do sentenciado em um pátio circular, sem trabalho ou visitas, incentivando-se a leitura da bíblia”.

Tal sistema foi duramente criticado, pois era baseado na solidão e no silêncio, não havendo qualquer tipo de comunicação entre os presos. César Roberto Bittencourt, com propriedade, afirma sobre o Sistema Filadélfico ou Pensilvânico que:

Já não se trataria de um sistema penitenciário criado para melhorar as prisões e conseguir a recuperação do delinquente, mas de um eficiente instrumento de dominação servindo, por sua vez, como modelo para outro tipo de relações sociais. (2011, p. 78-80)

Tal sistema foi adotado, com algumas modificações, por diversos países da Europa, durante o século XIX: Inglaterra em 1835, Bélgica em 1838, Suécia em 1840, Dinamarca em 1846, Noruega e Holanda em 1851 e também a Rússia.

2.4.2 Sistema Auburniano

Chamado de auburniano porque tem origem na construção de uma penitenciária na cidade de Auburn, Estado de Nova York, em 1818, sendo seu primeiro diretor foi Elam Lynbds

Inicialmente era confinamento absoluto, porém nos idos de 1824 permitiu o trabalho em comum dos reclusos, sob absoluto silêncio e confinamento solitário durante a noite. Apesar do trabalho em comum, era terminantemente proibido a comunicação entre os presos.

A maior diferença entre o sistema pensilvânico e o sistema auburniano, ocorre no que diz respeito à segregação; enquanto no sistema pensilvânico a segregação era durante todo o dia; no alburniano era possível o trabalho coletivo por algumas horas.

Outro detalhe importante: no sistema pensilvânico o trabalho era realizado em celas individuais, ao contrário do auburniano. Com isso, consequentemente, o retorno econômico proveniente do trabalho prisional,

através do sistema pensilvaniano, era escasso. Quando o separate or solitary

system foi desenvolvido, o objetivo da reclusão penitenciária era,

preferencialmente, evitar a contaminação moral entre presos e promover a reflexão e o arrependimento, ficando em segundo plano obter rendimentos do trabalho prisional.

Já naquela época, o sistema auburniano, embora mantivesse a preocupação com a emenda dos condenados e procurasse evitar a contaminação moral através da imposição da disciplina do silêncio, aparentemente colocava em primeiro lugar a necessidade de auferir ganhos com o trabalho dos presos. Com isso houve muita pressão das associações sindicais que se opuseram ao desenvolvimento de um trabalho penitenciário. A produção nas prisões representava menores custos ou podia significar uma competição ao trabalho livre. Outro aspecto negativo do sistema auburniano, que era uma de suas características mais marcantes, foi o rigoroso regime disciplinar aplicado. A importância dada à disciplina deve-se, em parte ao fato de que o silent system acolhe, em seus pontos, estilo de vida militar. Os castigos eram cruéis e demasiadamente excessivos.

2.4.3 Sistema Progressivo

Este sistema caracterizava em distribuir o tempo de duração da condenação em períodos, ampliando-se em cada um os privilégios que o recluso pode desfrutar de acordo com sua boa conduta e o aproveitamento demonstrado do tratamento reformador, sendo que antes do término da condenação possibilitava ao recluso reincorporar-se à sociedade.

Era constituído de três fases, sendo que a primeira consistia em um período de isolamento celular diurno e noturno, no qual o condenado podia estar submetido a trabalho obrigatório. Na segunda fase o regime de trabalho em comum durante o dia e durante a noite havia o isolamento celular. Nesse período começava o uso das marcas ou vales, que deram nome ao sistema, e para esse fim os reclusos eram divididos em quatro classes: a de prova, a

terceira, a segunda e a primeira. Havia progressão de uma categoria para a outra, que se fazia mediante a contagem das marcas ou vales obtidos pelos reclusos, que eram atribuídos, a cada dia, observando-se, basicamente, o empenho no trabalho e o comportamento prisional. Já a última fase era a concessão do livramento condicional (BITENCOURT 2011, p. 81).

O objetivo era a busca pela ressocialização do recluso. O sistema progressivo media a duração da pena por uma soma de trabalho e de boa conduta imposta ao condenado. Referida soma era representada por certo número de marcas ou vales, de maneira que a quantidade de vales que cada condenado necessitava obter antes de sua liberação deveria ser proporcional à gravidade do delito. Diariamente, segundo a quantidade de trabalho produzido, creditava-se lhe uma ou várias marcas, deduzidos os suplementos de alimentação ou de outros fatores. Tinha muita similitude com o atual sistema de remissão de penas.

Para época o sistema progressivo foi considerado um avanço, visto que, pelo menos, amenizou as condições desumanas no cárcere e permitiu que a pena não fosse integralmente cumprida no regime fechado, isto é, era menos

severo que os demais. Entretanto, nos dias de hoje, tal sistema é ineficaz para recuperar o indivíduo. Isto porque o modelo progressivo compele o preso a

apresentar comportamento adequado, para que assim possa atenuar sua pena, mostrando de forma gradativa sua aptidão a reintegrar-se à sociedade, isso depois de ter convivido com indivíduos da mais alta periculosidade. Ou seja: a prisão acaba se transformando numa faculdade do crime, criando mais frustrações no recluso. Os valores aprendidos dentro da prisão não têm nada a ver com os da vida em liberdade e que parece uma escola de crianças grandes bastante complicada” (ZAFFARONI, 2012, p. 448).