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4. Projeto ‘Percursos Patrimoniais no Alto Sertão da Bahia’ na

4.3 Sistematização das informações documentais

Refletindo sobre a abrangência semântica da sistematização de informações documentais, que levam a compreensão de fenômenos e processos, é que se busca compreender o contexto organizacional do projeto ‘Percursos Patrimoniais no Alto Sertão da Bahia’.

Considerando que a interdisciplinaridade museológica permite uma variante de diretrizes tipológicas intrínsecas à formação documental dos museus na sociedade contemporânea, como o processo constkit deitutivo de inventário de bens culturais, que proporciona a identificação de cada bem integrado a uma condicionante documental do museu a que pertence. Nessa ótica, é possível analisar a sistematização de informações interdisciplinares da museologia, considerando que a importância do seu papel atrelado a outras disciplinas do conhecimento, como sendo elementos referenciais os artefatos culturais ligados aos cultos e aos rituais, formadores que foram das primeiras coleções de arte que se tem registro (POMIAN, 1984, p. 51-83).

No que tange a elaboração de um sistema de documentação museológico, não há um sistema padrão oficial a ser seguido. As diretrizes e normativas são elaboradas por cada instituição, de forma a atender as necessidades organizacionais de identificação e classificação dos bens de cada instituição museológica. Para Maria Inês Cândido um sistema de documentação museológica deve:

[...] garantir, ainda, que certos dados sobre os objetos sejam documentados antes ou concomitantemente à sua entrada no museu evitando-se o risco de perdê-los [...]. Desta forma, considerando-se a complexidade informativa dos objetos conservados num museu, especialistas destacam algumas medidas de natureza técnica, consideradas essenciais para a eficácia do sistema de documentação museológica (CÂNDIDO, 2006, p. 36).

Ainda de acordo com Maria Inês Cândido, a constituição de um inventário “adota um modelo único de planilha, cujo preenchimento dos campos obedece a orientações prescritas em manual próprio” (CÂNDIDO, 2006, p. 37). No caso do projeto do inventário de bens culturais do Alto Sertão da Bahia, a organização das informações se consistiu por uma compilação de documentos tidos como referências, dentre eles destacam-se:

Considerando o vocabulário técnico museológico das publicações supracitadas, o projeto ‘Percursos’ aponta outras referências culturais, específicas ao território do Alto Sertão da Bahia. Para tanto, foi necessário criar um roteiro específico, tendo os núcleos museológicos como pontos de referencia a identificação do patrimônio cultural. A produção desse inventário consistiu num levantamento de coisas importantes para sujeitos das comunidades relacionadas aos núcleos museológicos, levando em conta a sua formação histórica e noções de referências culturais.

O projeto ‘Percursos’ que teve por objetivo efetivar o mapeamento de referências patrimoniais pode ser associado a diversas compreensões. Quando relacionado ao patrimônio cultural, o mapeamento faz menção à prática de levantamento sistemático de referências culturais e está relacionado a uma das práticas de preservação adotadas para o patrimônio imaterial adotada pelo Iphan.

A relação entre referência cultural e mapeamento advém de uma estrutura política nacional, que na década de 70 do século XX trouxe a ideia de preservação dos bens culturais, orientados pelo discurso da Unesco que propunha “alimentar um diálogo transversal entre culturas, com base no respeito e na valorização da diversidade cultural” se consolidando na política nacional contemporânea (QUEROL, 2011, p. 297). Nesse levantamento foram pontuadas as seguintes questões relativas a representatividade, reconhecimento coletivo comunitário, estado de preservação e acesso ao bem identificado como referência. O processo de seleção dos patrimônios a

serem pesquisados seguiu padrões normativos instituídos pelo Inventário Nacional de Referências Culturais (INRC), que levam em conta a delimitação de um determinado território. As definições das categorias de bem culturais, foram estabelecidas no Decreto federal n° 3.551, de 4 de agosto de 2000, que institui o Registro dos Bens Culturais de Natureza Imaterial.

Seguindo, os termos estabelecidos no Decreto federal n° 3.551/2000, o projeto ‘Percursos’ utilizou as seis categorias de referências patrimoniais estabelecidas pelo Iphan: ofícios, saberes e modos de fazer; celebrações; formas de expressão e lugares. As definições de categorias patrimoniais possibilitou classificar os bens reconhecidos coletivamente de maneira consensual, bem como, constituir a padronização documental dos bens pesquisados.

Durante a seleção das “referências culturais” foram considerados os valores históricos e artísticos dos bens atribuídos pelos próprios detentores. Essa preocupação constituiu uma reflexão sobre turismo e sustentabilidade, numa dimensão “simbólica daquele espaço e para os seus habitantes, necessariamente plural e diversificada” (FONSECA, 2000, p. 14).

Estas informações não constituem necessariamente uma análise técnica do objeto físico, mas nas informações extrínsecas, obtidas através de outras fontes permitindo conhecer os contextos de criação/produção, a(s) sua(s) função(ões) e significado(s). É este tipo de informação que possibilita a contextualização da referência numa determinada cultura, tornando-os seu testemunho, e dotando-o de um valor histórico, estético, científico, simbólico e até económico.

Nesse sentido critérios foram pré-definidos institucionalmente, compatibilizando o processo de seleção participativa, quando os moradores das comunidades integradas aos núcleos museológicos, foram responsáveis pela definição da noção de valor a estes bens musealizados. Dessa forma a instituição acompanhou a sentido escolha dos bens, comprometendo-se, apenas, com a sistematização das informações.

A normatização do inventário museológico do Masb constitui-se num sistema de informações organizadas de maneira a suprir a necessidade de registro e normatização dos procedimentos práticos. As normas de classificação do inventário do museológico

do Masb foram padronizadas de acordo com as categorias de referências patrimoniais pré-estabelecidas durante o arrolamento das referências.

A organização dessas informações seguiu uma estrutura de documentação museológica é composta por uma ordem de classificação numérica ou alfanumérica, que de acordo com Padilha esses sistemas de numeração podem variar entre “bipartido” e “tripartido” (PADILHA, 2014, p.43). Essa organização permitiu relacionar os patrimônios documentados, incorporados ao acervo do museu, à documentação museológica processada, dentro dos padrões e normas técnicas estabelecidas. O número de registro, que remete a uma única referência patrimonial é, portanto item indispensável na sua identificação:

[...] entendemos por numeração a atribuição de um número a cada espécie de uma coleção [...] instituições como arquivos e museus têm absoluta necessidade de numerar as suas coleções, por questões de segurança, de inventário e de organização espacial. Nestes casos, a numeração também é fundamental para a informatização, para a indexação de informação e para a referência dos próprios leitores (PAVÃO, 1997, p. 271).

A organização numérica adotada pelo Masb foi constituída pela equipe técnica da Zanettini Arqueologia durante a elaboração do projeto. O sistema de classificação obedece uma lógica determinada, segundo Marilúcia Botallo “implica em hierarquizações” (BOTTALLO, 1995, p.5). A adoção inicial de um sistema de documentação numérica normatiza um padrão a ser seguido em futuros trabalhos. De acordo com as fichas de documentação a sistematização documental obedece ao seguinte padrão:

Sistema de numeração das fichas documentais:

MASB + (sigla do tipo de ficha a ser preenchida. Ex.: Território) + (sigla do núcleo. Ex.: Pau Ferro) + (Numeral arábico progressivo iniciado em 1 ad infinitumIphan28). Exemplo: MASB T PF 01

As fichas podem ser classificadas nas seguintes categorias:

28

No caso das Fichas de Território todas terão o número 01, pois será preenchida uma Ficha por Território/ Núcleo.

a) Fichas Básicas

Território: Trás informações sobre o território estudado, desde informações técnicas

como georeferenciamento, como descrições livres apontadas por moradores locais;

Geral de referência: Descreve o bem cultural que será pesquisado e a qual categoria de

bens culturais a qual ele pertence.

b) Fichas de aprofundamento

Ofícios: Registra os passos (ou cadeia operatória) de um processo, técnica ou arte,

como por exemplo, etapas da construção de uma casa, da produção de um alimento, ou de um determinado plantio;

Celebrações: Documenta festas, reuniões, comemorações, momentos críticos, etc. Deve

servir a registrar experiências e a lógica subjacente a um determinado acontecimento, por intermédio da narrativa e ponto de vista de seus protagonistas.

Formas de expressão: Registra manifestações artísticas importantes para o grupo,

como músicas, danças e narrativas orais.

Lugares: Registra aspectos de um lugar onde são realizadas ações importantes para a

união do grupo e/ou comunidade.

Edificações: Registra informações sobre obras humanas mais ou menos efêmeras,

móveis ou imóveis (como a decoração de uma festa popular, cercas, casas, feiras, etc.), documentando suas características nos termos e expressões utilizados pelos entrevistados.

Naturais: Registra aspectos da paisagem – que não tenham sido construídos pelo

homem, que são importantes para a comunidade, como, por exemplo: serras, rios, lajedos, caldeirões, animais e plantas. O conjunto desses aspectos importantes também pode compor uma paisagem específica, como, por exemplo, a caatinga e o cerrado.

Mestre da cultura popular: Documenta pessoas importantes para a comunidade,

detentoras do conhecimento associado a uma ou mais referências documentadas nas fichas básicas;

Objeto: Sistematiza informações sobre ferramentas, objetos do cotidiano (utilizados

para transporte ou vestuário, por exemplo), entre outros. A ficha deve possuir campos que permitam registrar os diferentes contextos do objeto, incluindo no momento do inventário;

Tradição oral: Detalha uma tradição oral mencionada em uma Ficha de Formas de

expressão;

Equipe: Contém informações sobre os Agentes Culturais, ou seja, pessoas integradas ao

núcleo museológico que atuaram no processo de pesquisa e preenchimento das fichas.

Figura 28: Exemplo de Ficha de Território preenchida pelos Agentes Culturais do núcleo museológico

Pau Ferro do Joazeiro.

Outra etapa importante do processo de documentação museológica foi a registro fotográfico. Esse procedimento ampliou interpretação sobre o “objeto” inventariado e serviu de apoio para produção da exposição dos bens catalogados. O registro de informações teve um sentido abrangente, pois nem todas as referências catalogadas possuíam uma constituição material. Tratando-se de um patrimônio imaterial ou uma referência já extinta, o indicado era que fosse feito o registro de um objeto que tivesse relação com as referências pesquisadas. No caso de uma referência extinta ou inativa no período da pesquisa, foi instituído que poderia ser feito o registro de objetos relacionados à referência.