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SiSU e ProUni: ampliação do acesso ao ensino superior

CAPÍTULO 2 – (RE) CONHECENDO O EXAME NACIONAL DO ENSINO MÉDIO

2.2 O Novo ENEM

2.2.1 SiSU e ProUni: ampliação do acesso ao ensino superior

Professores do ensino médio e quem convive com estudantes desta etapa escolar sabem que uma das principais motivações para participação no ENEM é a “possibilidade concreta de carimbar o passaporte de ingresso no ensino superior”, uma vez que os resultados obtidos no ENEM podem ser utilizados como requisito parcial ou total em processos seletivos para ingresso nesse nível de ensino (BRASIL/MEC, 2011). A centralização dos exames seletivos, a partir do ENEM, que supostamente democratizaria o acesso a todas as universidades, tomou forma com a implantação do Sistema de Seleção Unificada – SiSU. De acordo com o artigo 1° da portaria normativa n. 2/2010:

Art. 1° Fica instituído o Sistema de Seleção Unificada - SiSU, sistema informatizado gerenciado pelo Ministério da Educação - MEC, por meio do qual são selecionados candidatos a vagas em cursos de graduação disponibilizadas pelas instituições públicas de educação superior participantes. § 1° A seleção dos candidatos às vagas disponibilizadas por meio do SiSU será efetuada exclusivamente com base nos resultados obtidos pelos estudantes no Exame Nacional do Ensino Médio - ENEM (BRASIL, 2010).

Na prática, os alunos se inscrevem no site do SiSU e aguardam a convocação para matrícula mediante a aprovação no curso e universidade por ele escolhidos. Para isso é preciso atingir a nota mínima que a graduação exige no ENEM. A cada ano o SiSU ganha mais notoriedade pela divulgação midiática. Em 201513, o MEC ofertou 205.514 vagas em 5.631 cursos de 128 instituições públicas de ensino superior. Administração (312.991), direito (262.255) e pedagogia (249.348) foram as áreas com o maior número de inscrições. O curso de arquitetura e urbanismo, do Instituto Federal de São Paulo, foi o mais concorrido, com 13.777 inscrições e 344,43 candidatos por vaga.

Para Andrade (2012), a atualização da proposta do ENEM teve como uma de suas principais finalidades recuperar um de seus maiores objetivos, que era o de proporcionar às instituições de ensino superior, não somente às privadas, uma alternativa para os exames vestibulares com uma proposta contemporânea do perfil do estudante. Para a autora, a legítima crítica ao exame era a de que ele propunha um perfil genérico demais do aluno, o que impossibilitava às universidades públicas, com acirradas disputas de vagas, selecionar aquele cujo perfil se voltava satisfatoriamente para o curso pretendido, ou seja, que possibilitava identificar o aluno que demonstrasse claramente ter desenvolvido, na educação básica, habilidades fundamentais para a área que pretendesse cursar no ensino superior. Afirma, portanto, que atento a tal demanda, o MEC passou a promover debates com as universidades a

13http://educacao.uol.com.br/noticias/2015/01/26/sisu-2015-divulga-chamada-de-aprovados-confira-a-lista.htm. Acesso em 27 de janeiro de 2015.

fim de buscar alternativas para o exame, que possibilitassem o uso de seus recursos por essas instituições como alternativa aos vestibulares tradicionais. Então, a proposta do novo ENEM seria a de possibilitar às IESs “enxergar melhor o perfil dos alunos concluintes da educação básica” (ANDRADE, 2012, p. 68).

Esta política de incentivo à mobilidade para universidades públicas de todo o território, através do SiSU, com todas as suas distorções no que se refere às dificuldades de jovens e adultos deixarem suas cidades natais, está começando a ter um efeito direto nas escolhas dos jovens do ensino médio. E sabemos que as políticas levam tempo para surtir consequências mais visíveis e compreensíveis. Por este motivo, também consideramos importante saber o que professores do ensino médio da rede pública pensam e de que forma podem dialogar com os estudantes, no sentido de permitirem a eles o reconhecimento desta política e, por fim, a suposta democratização de acesso ao ensino superior.

Além do SiSU, o ENEM possibilita a participação em programas governamentais de acesso ao ensino superior, como o ProUni – Programa Universidade para Todos. Este, segundo o site do MEC14, é um programa do Ministério da Educação, criado pelo Governo Federal em 2004, que concede bolsas de estudo integrais e parciais (50%) em instituições privadas de ensino superior, em cursos de graduação e sequenciais de formação específica, a estudantes brasileiros, sem diploma de nível superior. Neste programa podem participar estudantes egressos do ensino médio da rede pública ou da rede particular, na condição de bolsistas integrais da própria escola; estudantes com deficiência; professores da rede pública de ensino do quadro permanente que concorrerem a cursos de licenciatura, e nesse último caso não é necessário comprovar renda. Para concorrer às bolsas integrais, o candidato deve comprovar renda familiar bruta mensal, por pessoa, de até um salário mínimo e meio. Para as bolsas parciais (50%), a renda bruta familiar deve ser de até três salários mínimos por pessoa.

Além deste reforçado alcance do ENEM, qual seja o de ampliar o acesso de estudantes do ensino médio ao ensino superior, o Novo ENEM segue a mesma perspectiva do original ao manter pressupostos pedagógicos da prova relacionados à avaliação de competências e habilidades, que orientam novas diretrizes para o ensino médio. Desta forma, continua-se estabelecendo indicadores para a elaboração de políticas públicas e para a atuação das escolas, ou seja, "uma das finalidades explícitas do novo ENEM consiste ainda em pautar uma reforma geral do ensino médio” (CARNEIRO, 2013, p. 175).

Nossa inquietação ocorre por compreendermos que esta reforma não se faz sem a compreensão, compromisso e atuação dos professores. Daí nosso interesse pela tradução que os professores fazem da política que envolve o ENEM.