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Considerando a problemática situação do parto no Brasil, na década de 80, como o fio condutor para a ruptura do paradigma assistencial tecnocrático, traduzida pelas altas taxas de mortalidade materna e pelo consequente aumento do número de cesarianas, da mesma forma iniciamos este item com a descrição de aspectos referentes ao parto no contexto atual, seguida por um breve panorama acerca da implantação do PHPN.

De acordo com os recentes Indicadores de Dados Básicos (BRASIL, 2007) referentes à proporção de partos hospitalares no Brasil, em 2005, o percentual correspondeu a 97,07%. Especificamente na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, a proporção de partos hospitalares foi de 96,55%, sendo que deste percentual, 53% foram cesáreos. No documento em questão consta ainda que um percentual de 2 a 3% dos partos ocorreram em outros estabelecimentos de saúde não sendo, portanto, computados como partos hospitalares. Com base nestes índices infere-se que, no Rio de Janeiro, 43,55% dos partos fisiológicos ocorreram em âmbito hospitalar.

Em 2006, o Rio de Janeiro apresentou percentual máximo de 100% de partos considerados “hospitalares”. O índice de cesarianas teve um discreto aumento de 1,45% em relação ao ano anterior, passando a um percentual de 54,45%. Assim sendo, a proporção de

partos fisiológicos ocorridos em hospitais foi de 45,55% (BRASIL, 2008). De acordo com o documento em foco, na rede privada de saúde o percentual de cesarianas chegou a 80%, índice tão alarmante que a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS, 2008) lançou uma campanha em 2008 com o objetivo de reduzi-lo até o ano de 2010. A campanha feita em parceria com o Governo Federal, entidades do setor privado de saúde e sociedade civil, foi intitulada “O Parto Normal está no meu Plano”.

Em 2009, a proporção de partos cesáreos aumentou, chegando a 84% na rede privada, e a 40% na rede pública. Em decorrência, a ANS realizou estudos em diversas maternidades particulares do Rio de Janeiro, constatando que 70% das mulheres haviam optado pela cesariana. Diante desta situação, a ANS vem trabalhando em conjunto com o Ministério da Saúde para induzir a reversão da atual proporção de cesarianas no setor suplementar.

A ANS considera que é fundamental envolver toda a sociedade nesta discussão, e para isto tem divulgado informações aos profissionais de saúde, investindo em pesquisa para compreender melhor o fenômeno e estabelecer formas alternativas de organização do modelo de atenção ao parto e nascimento, com vistas ao aumento da proporção de partos normais (BRASIL, 2010).

Face ao exposto, desde implantação do PHPN, em 2000, as taxas de partos cesáreos ainda se mantêm em níveis elevados no país, ultrapassando o percentual aceitável estimado pela OMS, entre 10% e 15%, no setor privado ou no público. Ressalta-se, porém, que a opção das mulheres pela cesariana pode resultar das recomendações dos próprios profissionais de saúde, já que muitos desconsideram ser o parto um evento fisiológico, culminando por induzi-las à realização daquele procedimento cirúrgico.

Na assistência durante o pré-natal, há evidências de que alguns problemas persistem, um deles relacionado às consultas. Isto porque, embora tenha havido um aumento da cobertura de 1,2 consultas em 1995, para 5,45 em 2005, esse indicador ainda é bastante variável, segundo as Regiões do país. Outro problema vincula-se às chamadas “altas dos pré-natais”, no final da gestação, cujo período caracteriza-se como o de maior probabilidade de intercorrências obstétricas, tanto maternas quanto neonatais, o que acaba deixando a mulher desassistida após chegar ao termo da gravidez até o momento do parto, inclusive sem as marcações das consultas no pós-parto (BRASIL, 2006).

Quanto à Razão da Mortalidade Materna9, constata-se uma redução das taxas, desde a década de 90, período em que era de 140 para cada 100.000 bebês nascidos vivos, passando a

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ser de 75 para cada 100.000 em 2007, o que está de acordo com as metas do Objetivo de Desenvolvimento do Milênio (ODM), estabelecidas pela Organização das Nações Unidas (ONU) para 2015, quando se espera que a redução da taxa de mortalidade materna seja de 38 para cada 100.000 nascidos vivos.

Além desses indicadores para a melhoria da qualidade da assistência materna e neonatal, são considerados também os parâmetros de avaliação do PHPN, o desenvolvimento do acolhimento durante o pré-natal e as atividades educativas, em grupo ou individuais. Espera-se que estas atividades sejam realizadas com uso de linguagem clara e compreensível, proporcionando respostas às indagações das mulheres e/ou da família, além de informações necessárias que as estimulem ao parto fisiológico (BRASIL, 2006).

Entre os princípios das ações do PHPN, as atividades educativas deverão estar voltadas não somente para as mulheres, mas também para seus companheiros e familiares, sendo a temática sobre o parto fisiológico abordada no pré-natal, por ser importante à estimulação e ajudar nas escolhas feitas por elas, inclusive no que diz respeito à concepção do parto na sociedade, previsto no modelo humanizado como recomenda o Ministério da Saúde, configurando-se numa ação efetiva para a redução das cesarianas em níveis aceitáveis (BRASIL, 2006).

Todavia, um dos grandes desafios para o alcance dessa recomendação pode ser evidenciado na prática dos serviços de saúde que, de maneira geral, ainda insistem em adotar uma assistência contrária aos princípios do PHPN, sobretudo no preparo da mulher para o parto fisiológico, uma vez que suas ações estão centradas no modelo tecnocrático de assistência. Indaga-se, por exemplo: quais são as expectativas das mulheres no pré-natal em relação aos seus processos parturitivos?

A resposta à questão que se coloca, segundo o que menciona a literatura científica sobre o assunto, evidencia como expectativas a admissão rápida nas maternidades, a garantia de vagas e a atenção dispensada pelos profissionais. Estes dados, de acordo com análise de Dias e Deslandes (2006), demonstram ainda haver sérios obstáculos à implementação efetiva da política de humanização nas instituições de saúde do município do Rio de Janeiro, inclusive pelo desconhecimento das gestantes quanto aos aspectos relativos à assistência à saúde, fundada no paradigma da humanização.

De acordo com Fleischer (2008), todas as mudanças para o paradigma da humanização recaem na necessidade de se rever, no Brasil, a chamada “cultura dos riscos obstétricos”, que geram indisponibilidade dos serviços, dos profissionais e das próprias mulheres, desafiando frontalmente as campanhas ministeriais que visam assegurar a humanização na assistência.

Para a autora, é necessário que esta mudança possa, de fato, inserir as mulheres como verdadeiras agentes de transformações e mudanças em relação ao parto humanizado.

2.3 A EDUCAÇÃO EM SAÚDE SOB O ENFOQUE DAS POLÍTICAS DE SAÚDE NA