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como produtora de “espaço social”, bem como a complexificação das actividades desenvolvidas, tanto na perspectiva autónoma, como na interdependente.

A acessibilidade, consideramo-la como facilitador, pois o investigador é considerado como “alguém da casa”, sendo esta referência feita por diversas vezes e por diferentes actores que não só os enfermeiros.

O terceiro critério para a selecção deste local, baseia-se no facto do investigador não ser considerado como um intruso (não intrusão) o que potencia a integração não apenas no espaço físico original às situações sociais (unidade de internamento), mas numa pers- pectiva do espaço social mais alargado, onde se desenvolvem relações sociais entre os diferentes actores em situação.

A permissividade, considerada como a possibilidade do investigador ter entrada livre, limitada ou restrita, foi outro dos critérios mobilizados, na medida em que, e em conso- nância com o critério anterior, sentíamos a possibilidade de nos mobilizarmos em todos os locais onde se desenvolve o processo de cuidados, tendo por base a unidade de inter- namento em Medicina.

Por último, a participação foi um critério por nós muito valorizado, pois consideramos ter a possibilidade de participar nas actividades inerentes ao processo de cuidados. Decidido que estava o local da investigação importava partir para o acesso a esse local. Sabemos que o processo de iniciação e de ressocialização do investigador que ocorre no início de um projecto de pesquisa, influencia o produto final do relatório de pesquisa (Burgess, p.41).

Por este facto atribuímos grande importância às estratégias de acesso, que envolveram todos os participantes na situação social (excepto os doentes).

O acesso

Um dos pontos que privilegiamos nesta estratégia, foi considerarmos que o acesso acon- teceria por patamares de hierarquia, que importa clarificar.

Para além de fazermos o pedido formal ao Conselho de Administração do Hospital (anexo 1), estabelecemos contacto com representantes de todos os grupos envolvidos (Director do serviço pelos médicos, e enfermeira chefe pelos enfermeiros e pelas auxi- liares de educação médica).

Fizémo-lo numa lógica de negociação com todas as partes (prevenindo o enviesamento). Este contacto com os médicos e os enfermeiros foi realizado após autorização do Con- selho de Administração do Hospital.

Ao Director do serviço (Médico) solicitámos-lhe não só uma entrevista, como a indica- ção do outro médico com quem poderíamos falar para nos conceder a segunda entrevis- ta. Considerámos esta a forma de acesso mais adequada, não só porque não conhecía- mos os outros médicos, como considerarmos mais adequado ser o “médico-chefe” 1 a

sugerir a pessoa indicada, tendo o critério de escolha recaído, no médico com mais tem- po de exercício profissional no serviço.

O acesso ao “médico-chefe” foi facilitado por um enfermeiro da equipa que, após o investigador ter falado telefónicamente com o primeiro, negociou com este o “tempo” para a entrevista, visto o médico acumular as funções de Director Clínico 2 e passar períodos curtos de trabalho na unidade de internamento.

O acesso aos enfermeiros foi através da enfermeira-chefe, tendo-se-lhe solicitado que nos indicasse quatro enfermeiros, da equipa que:

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1 Médico-chefe, é o director do serviço

2 Director clínico, é o médico que integra o Conselho de Administração do Hospital

− Estejam há mais tempo no serviço

− Dois diplomados pela Escola Superior de Enfermagem da Sub-Região de Saúde onde o hospital se encontra e dois diplomados por outra Escola.

A enfermeira chefe indicou-nos também as três auxiliares de acção médica que entrevis- tamos, sendo aqui o critério – a maior estabilidade das três auxiliares de acção médica inquiridas, na unidade.

Nos contactos aos diversos níveis, procurámos descrever o estudo que pretendíamos realizar, de forma a que seja plausível a decisão em participar.

Na continuidade da pesquisa de terreno, preparámos a observação, sendo que para este momento considerámos oportuno desenvolver os contactos de forma adequada a cada grupo profissional.

Assim, com os enfermeiros participámos numa reunião de equipa de enfermagem onde nos foi atribuído um tempo de cerca de 15 minutos para apresentação do objecto de estudo, dos objectivos e da forma como planeámos desenvolver a investigação. Foi dado um tempo para colocação de questões ou dúvidas. Os enfermeiros presentes mani- festaram a satisfação por poderem participar numa investigação que, pensam poderá

ajudar a clarificar o seu campo autónomo, manifestando apenas o desejo de que os resultados lhe sejam facultados, tal como o foram na experiência anterior.

O contacto com o director do serviço foi realizado com o objectivo duplo de informar sobre o estudo que está em desenvolvimento e a necessidade de que os restantes médi- cos estejam informados do referido estudo. A receptividade foi grande, referindo que quando teve conhecimento do despacho do Conselho de Administração ficou motivado para participar no estudo, pois considera que a “Sociologia da Saúde” necessita desen- volver-se, podendo ser bastante útil à melhoria da compreensão dos fenómenos cada vez mais complexos neste campo. Garantiu-nos todo o apoio necessário não só em termos individuais como relativamente ao grupo de médicos que trabalham no serviço. Em relação às auxiliares de acção médica, não foi possível falar com todo o grupo em simultâneo, pela razão de que é uma equipa com grande mobilidade no serviço e não houve nenhuma reunião programada, não querendo nós impor nenhum momento especí- fico para trabalhar esta informação. Nesta conformidade, optámos por conversar indivi- dualmente com cada uma das auxiliares que íamos encontrando no nosso período de observação.

A cada um destes “grupos” apresentamos a previsão do desenvolvimento do trabalho mediante cronograma elaborado para o efeito.

Esta estratégia, procurou valorizar os aspectos que Burgess (1994, p.41) aponta como imprescindíveis e de que destacamos:

1. Necessidade de negociar aos vários níveis, e não apenas com os actores do topo da hierarquia. 2. Ser claro no desenho do estudo que se apresenta, para que os participantes percebam qual o seu papel

e o que se lhes solicita.

3. Definir claramente o papel do investigador.

4. O investigador necessita controlar as suas próprias actividades, de modo a garantir a qualidade dos dados.

Nesta sequência não pretendemos tornar-nos um “nativo” nem imitar qualquer um des- tes actores com quem nos propomos trabalhar, sendo que os aspectos metodológicos de etnografia ajudaram-nos a identificar os etnocentrismos, o “nosso” e o dos “locais”, e que em seguida evolui para as comparações das diferenças que são obstáculo às zonas parcelares de entendimento mútuo.

Ela (a etnografia) permite um conhecimento não sobre a diferença, mas sim um conhe- cimento na relação intercultural entre diferentes (Caria, 1997, p.132). Esta é uma postu-

ra que nos parece consubstanciar e reforçar a nossa intenção de investigar o que “está no intervalo” da formação teórica e da formação prática.

Uma das particularidades do nosso estudo é que pela primeira vez se estuda a forma- ção/socialização dos enfermeiros, através do estudo das relações sociais entre os dife- rentes actores que produzem o processo de cuidados.

Pensamos que o termos partido deste pressuposto é alicerçado no facto de possuirmos um conhecimento construído o que nos facilita a abordagem deste fenómeno, conside- rando-o como um “contexto totalidade” tal como referido por Caria (133) quando diz “a ideia de contexto-totalidade relaciona-se com a necessidade de saber se ao irmos estudar uma cultura local ela poderia ser confinada aos membros do grupo profissional (no nos- so caso os enfermeiros), ou se para a compreendermos, mais total e completamente, não teríamos também que entender as outras culturas que com (os enfermeiros) coexistem no mesmo local: compreender a rede de interacções locais que os “enfermeiros” man- têm com, médicos, doentes, auxiliares, etc.”.

A nossa intenção é desenvolver a investigação no local seleccionado, não sendo o mais importante referenciá-lo apenas enquanto local de investigação, mas sim pelo que este local permite na compreensão através das questões colocadas pela investigação.