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O 6º distrito de Pelotas — Santa Silvana — encontra-se localizado na parte norte do município, considerado como Serra dos Tapes, na divisa com o município de São Lourenço do Sul. Sua colonização teve início em 1888, composta, em sua maioria, por descendentes pomeranos, seguidos de alemães, italianos e portugueses. Atualmente, a maior parte dos habitantes é de origem alemã e se comunica usando o dialeto pomerano53.

Estima-se que no distrito encontram-se 700 pequenas propriedades rurais e cerca de 4107 habitantes, dentre estes 1700 são eleitores54.

No aspecto social55, o distrito possui duas escolas de ensino fundamental, sete comunidades religiosas (sobretudo Evangélica e Protestante), salões de baile, 14 casas comerciais, uma central telefônica e um posto de saúde56.

A intenção de realizar a pesquisa de campo em Santa Silvana, com base nas mudanças no trabalho e na produção da agricultura familiar, justifica-se pelas dificuldades encontradas pelos agricultores do distrito em continuar produzindo sua vida integrados à agroindústria na produção de determinada cultura, neste caso, o fumo. Tal situação, no entanto, não é somente

52 Em 2006, uruguaios e argentinos protestaram contra a instalação de uma empresa de beneficiamento de

celulose na fronteira entre ambos os países, fechando uma das principais vias de acesso que faz a fronteira entre os países, a ponte do rio Uruguai, onde seria instalada a empresa. Os manifestantes asseguraram que, além de explorar a produção de celulose, o beneficiamento do produto no local não gerará empregos; é uma das fontes de maior poluição, e através de acordos com o governo anterior do Uruguai, teria isenção de impostos podendo transformar-se em zona franca. Fonte: Noticiário Telesur Data: 03/05/06.

53 O fato da pesquisadora também dominar o dialeto pomerano, facilitou em muitos momentos a comunicação

durante a entrevista.

54 Dados do censo IBGE 2000. Logo, com a emancipação de dois distritos vizinhos, a estimativa é que com os

novos dados do recenseamento em 2007, o número exato de habitantes em Santa Silvana reduza em cerca de 50%.

55 Dados coletados na entrevista com o Sub-prefeito do 6º distrito de Pelotas, Santa Silvana. 3010/2006.

56 O médico que presta serviço à comunidade reside numa casa sediada pela subprefeitura, que seria destinada à

implantação de um museu, mas que não foi concluído devido a vários fatores, dentre os quais o péssimo estado de conservação da mesma. O museu estava a cargo da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), que desconhecia a precariedade do prédio, e por este motivo não queria destinar a casa para moradia do médico, mas como a população estava precisando de um profissional da saúde e não de um museu, representantes da comunidade formaram uma comissão e foram até a Reitoria da Universidade expor os anseios da comunidade, e após uma reunião foi proposto que a comunidade reformaria a casa e a cederia ao médico (PEREIRA, 2002, p. 44).

uma realidade vivenciada pelos agricultores do interior de Pelotas, mas se reflete em outros segmentos da sociedade, impelidos pelo movimento do capital.

Nesse sentido buscamos, a partir da realidade aparente, contraditória, do município, mecanismos que viabilizem compreender a atual conjuntura do contexto da agricultura familiar. Para tanto, foi preciso, num primeiro momento, levantar algumas fontes sobre a situação social do distrito em análise.

Segundo informações colhidas com o sub-prefeito, as estradas e pontes encontram-se em precárias condições, necessitando de alargamento para escoar a produção57. Destaca ainda, como aspecto favorável, o sistema de troca-troca de sementes de milho, fornecimento de mudas de batata-doce e alevinos de peixes, parceria mantida junto ao Sindicato Rural de Pelotas.

Na prestação de serviços à comunidade, pontua os serviços de retro-escavadeira na cavação de cacimbas, que entre os anos de 2005 e 2006, beneficiou em torno de 100 famílias de agricultores.

As casas residenciais, em sua maioria, são de alvenaria, com energia elétrica e antenas parabólicas, sendo que algumas possuem telefonia rural. As propriedades são constituídas de 10 a 20 hectares de terra, o que as caracteriza como agricultura familiar. Estas abasteciam as feiras da cidade com a produção de alimentos. Hoje, ao contrário, produzem para as grandes empresas multinacionais no processo de integração com a agroindústria na monocultura do fumo.

Tabela 04 - Produção em (Tonel) e área plantada em (ha) das principais lavouras no município de Pelotas - RS, 2005

Produtos Área plantada Área colhida Produção Total Arroz Fumo Milho Soja Cebola 10.000 4.942 8.500 6.000 300 8.217 4.942 8.500 6.000 300 35.333 9.998 8.160 6.300 1.800 Batata 300 300 1.500 Feijão 1.000 1.000 600

Fonte: IBGE/RS -SDDI58

57 Segundo o Sub-prefeito, a patrola encontra-se em péssimas condições.

No aspecto econômico a tabela 04 indica que além do cultivo do arroz que é produzido principalmente pelos latifundiários, a monocultura do fumo59 é a economia que se destaca no município de Pelotas, principalmente no 6º distrito em Santa Silvana, já que veio em substituição à produção de policulturas, como indica o relato abaixo:

Antes de plantar fumo, se plantava aspargo, morango, milho, batata doce, abóbora, cebola, batata inglesa, pimenta, soja, repolho, tomate, se vendia leite, ou seja, se plantava de tudo um pouco. (Hilda Scherverske, 82 anos, moradora do distrito).

Segundo Salamoni, a região era dedicada ao plantio de produtos destinados ao consumo familiar, no entanto:

Na década de 1950 começou a reverter o quadro de uma agricultura colonial que se baseava na consolidação de uma estrutura produtiva capaz de assegurar, acima de tudo, a subsistência dos membros da família (através da apropriação direta dos frutos do seu trabalho), vem ocorrendo em Santa Silvana uma tendência crescente em direção à especialização produtiva voltada para o mercado industrial (2001, p. 220).

Com base nesse contexto, passamos a apresentar aspectos da história de vida e trabalho de famílias hoje integradas à agroindústria de fumo do município em estudo.

2.3 As trajetórias de trabalho de famílias integradas à agroindústria na produção do